Oi, escritores. Espero que
estejam bem e escrevendo bastante.
Antes de continuarmos no tema de
hoje, vou convidar você a conferir as postagens anteriores, caso tenha acabado
de chegar por estas bandas. Já falamos sobre o que é um planejamento; o método Snowflake; o método dos sete pontos, que
foi dividido em parte um e dois; uma dobradinha com o método dos três pontos e o
de outline de capítulos; mais uma dobradinha com os métodos flashlight e
fluxograma; o método dos cinco pontos; a estrutura dos
três atos, em parte um e parte dois; Beat Sheet, ou Beat by Beat; a Abordagem por Sequências e agora falaremos
de outra que é bem popular: a escaleta.
É mais uma das que foram
pensadas, originalmente, para roteiros de cinema e teatro, mas que também pode
ajudar escritores na tarefa complicada de planejarem uma boa história em prosa.
A Escaleta não tem muito
mistério. É basicamente a esquematização e transformação de suas ideias em
cenas. O pulo do gato é:
a) Entender o que é uma cena; e
b) Perceber que há três formas
diferentes de construir a escaleta.
O que é uma cena, afinal?
A Wikipedia
traz a definição do dicionário Houaiss, que conceitua a cena como, para o
teatro: “cada uma das unidades de ação de uma peça, que se destacam como tal
pela entrada e saída, no palco, dos intérpretes, alterando-se ou não os
cenários”. Já na literatura, temos “cada uma das situações ou momentos
da evolução de um enredo”.
Precisamos unir as duas
definições para chegar à mais aceita atualmente: a cena é o momento em que o
personagem desenvolve uma ação em determinado espaço e tempo. Sempre que
tivermos uma brusca mudança de espaço ou tempo, teremos uma nova cena.
“Ué? Como assim? E quando o
personagem sai de um lugar e vai para o outro?”
Dizemos que quando o personagem
muda gradativamente de lugar ou de espaço temporal, permanecemos na mesma cena.
Mas quando a mudança for ~brusca~, mudamos de cena. Exemplificando, para
facilitar:
“Ana acordou cedo e começou a
se arrumar para ir para a escola. Pegou o uniforme, a toalha e caminhou
sonolenta até o banheiro, onde escovou os dentes e tomou um banho”.
Aqui, a Ana sai de um espaço de
sua casa e vai a outro, mas temos uma mudança de espaço progressiva. Ou seja,
acompanhamos a mudança. Estamos na mesma cena.
“Ana terminou de tomar café e
olhou para o relógio, constatando com um susto que perderia o começo da
primeira aula.
Ao chegar na escola, como já
esperava, o sinal já havia tocado e ela precisou se esconder em um corredor
para não cruzar com a inspetora Lins no caminho para a sala de aula”.
Aqui, mesmo que as cenas não
estejam separadas por um marcador ou espaço, percebemos que ela estava em um
lugar, depois já estava em outro. Não acompanhamos a mudança de espaço,
portanto temos duas cenas. Não à toa, estão em parágrafos diferentes.
Compreendendo isto, podemos
seguir adiante.
O que é a Escaleta?
É, basicamente, uma lista de
cenas em que podemos (ou não) incluir alguns detalhes para facilitar na hora da
escrita. Podemos incluir o local onde a cena se passa, a época, se é ambientada
em um lugar fechado ou aberto, resumir alguns diálogos...
É tão simples quanto parece. Mas
ela pode ter diferentes níveis de detalhes, razão pela qual encontramos três
diferentes formatos de escaleta: a de uma página (utilizada geralmente por
roteiristas americanos para terem o norte da história e terem uma noção de toda
a trama de forma fácil de visualizar), a no estilo lista de cenas e a detalhada
(que é, basicamente, um roteiro propriamente dito, quando nos referimos ao
modelo usado no cinema e TV).
Veremos com mais detalhes cada um
deles a seguir.
A Escaleta de Uma Página
É, ao mesmo tempo, um modelo
simples e complexo. Simples, porque é algum muito resumido, normalmente em uma
frase, e complexo porque exigirá do autor ou roteirista uma grande capacidade
de síntese para dizer em poucas palavras sobre o que se trata cada cena ou
bloco dramático.
É algo tão reduzido que, por
vezes, nem escrevemos o nome dos personagens, usando apenas as iniciais.
Exemplo na imagem abaixo, retirada do site “Tertúlia
Narrativa”:
Escaleta Detalhada no Modo Lista
de Cenas
Agora já podemos ser um pouco
mais descritivos e não temos “limite” de páginas, podendo usar quantas forem
necessárias. O nível de detalhes utilizado também varia muito de autor para
autor, podendo resumir toda a cena em uma frase pequena, parágrafo ou mais
linhas que isso.
Aqui, sempre observando aquela conceituação
de cena sobre tempo e espaço que vimos lá no início do post, vamos simplesmente
listando as cenas, uma por uma, e contando o que acontece em cada uma delas. O
site Design
Educacional nos traz um ótimo exemplo:
Cena 1 – O explorador Antônio
se aproxima da entrada da caverna. Ele foi atraído pelo rastro de fumaça que
subia alguns metros.
Cena 2 – Antônio chega à
entrada da caverna e encontra o naufrago Fernando, o tutor do curso. Fernando
explica para Antônio como foi parar ali e deixa claro que a aventura de Antônio
começará assim que ele entrar na caverna, sem poder retornar.
Cena 3 – Antônio entra na caverna e se depara com o primeiro desafio.
Segundo um dos inúmeros cursos de
escrita que já fiz de 2015 para cá, estima-se que um livro de 300 páginas tenha
em torno de 100 cenas, então já dá para ter uma noção do tamanho da história,
em média.
Escaleta Detalhada no Estilo
Script
Apesar de esse formato ser o
utilizado pelo cinema e pela TV, é interessante de pensar a história nesse
formato porque permite escrever a história enquanto a planeja.
Ficou confuso?
Vamos a um exemplo, dessa vez do
site Sala
dos Roteiristas:
INT.
PORTO/GALPÃO – DIA
O HERÓI
chega esbaforido correndo e se depara com o VILÃO que tem a MOCINHA algemada a
ele.
“Você nunca vai nos pegar, Herói!” – diz o Vilão, que logo sai correndo e joga
uma granada pra cima do Herói.
EXT. PORTO/DOCAS – CONTINUOUS
O VILÃO
vem correndo arrastando a MOCINHA pelas algemas quando... BOOM! A MOCINHA
sofre, bate no VILÃO e maldiz ele por ter matado seu amor. O VILÃO diz que
agora ela vai aprender a amá-lo e ela diz algo como “Eu nunca vou sentir por
você o que eu sentia pelo Herói!”.
É quando o Vilão avista um vulto... O HERÓI sobreviveu!!! Ele sai do meio da
fumaça que nem o Exterminador do Futuro. Boladão. O VILÃO pula com a MOCINHA
num JETSKI e dá partida.
EXT. MAR ABERTO – CONTINUOUS
O VILÃO
comenta que agora não tem como eles serem pegos, pois só havia aquele JETSKI no
Porto. É quando a MOCINHA aponta para o seu Herói, que vem sendo trazido por
DOIS GOLFINHOS.
“Come on! GOLFINHOS?! Sério?!” – um incrédulo VILÃO, que tem o Herói já se
aproximando perigosamente.
Aqui, podemos adicionar os
detalhes que falei lá em cima, indicando onde a cena se passa, se está dia ou
noite, se é em espaço aberto ou fechado, destacar os personagens que aparecem
em cada cena, objetos importantes utilizados bem como podemos colocar falas
chave para a cena ou mesmo escrever todo o diálogo que temos em mente.
Esse formato é interessante para
quem acha um pouco chata a fase de planejamento justamente por passar a
impressão de estarmos construindo mais um primeiro rascunho do que fazendo um
plot propriamente dito. Ao planejar no formato de escaleta, podemos simplesmente
despejar no papel cada cena tal como temos na cabeça sem precisarmos nos ater a
detalhes supérfluos. Depois, na escrita, preenchemos as lacunas com descrições,
detalhando ações, adicionando sentimentos e dando personalidade ao texto.
Em todo caso, improvisadores
podem se beneficiar do método não só por ter uma versão mais simplificada e
direta da escaleta, como também por esse caráter mais dinâmico mesmo no formato
detalhado, podendo escrever as cenas de forma mais crua para ter uma visão
geral de eventuais falhas e problemas no enredo e depois, na escrita
propriamente dita, fechar lacunas e corrigir os erros.
Os planejadores também vão amar
porque é uma ótima alternativa a métodos detalhados e mais entediantes, já que
mesmo quando gostamos do planejamento, podemos achar esta fase chata e sem maiores
atrativos. Ver a história tomando forma, ainda que com detalhes faltando, pode
ser um ótimo incentivo para colocá-la no papel de fato.
E por hoje é só, pessoal. Nos
vemos em uma próxima oportunidade, em que vamos abordar mais desses métodos
diferentões que muitos de nós nem sabia que existia: o Cube Creator.
Beijos e até logo.
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