Planeje sua história com a gente 10: Escaleta

domingo, 15 de novembro de 2020

 

Por: Michele Bran

 

Oi, escritores. Espero que estejam bem e escrevendo bastante.

Antes de continuarmos no tema de hoje, vou convidar você a conferir as postagens anteriores, caso tenha acabado de chegar por estas bandas. Já falamos sobre o que é um planejamento; o método Snowflake; o método dos sete pontos, que foi dividido em parte um e dois; uma dobradinha com o método dos três pontos e o de outline de capítulos; mais uma dobradinha com os métodos flashlight e fluxograma; o método dos cinco pontos; a estrutura dos três atos, em parte um e parte dois; Beat Sheet, ou Beat by Beat; a Abordagem por Sequências e agora falaremos de outra que é bem popular: a escaleta.

É mais uma das que foram pensadas, originalmente, para roteiros de cinema e teatro, mas que também pode ajudar escritores na tarefa complicada de planejarem uma boa história em prosa.

A Escaleta não tem muito mistério. É basicamente a esquematização e transformação de suas ideias em cenas. O pulo do gato é:

a) Entender o que é uma cena; e

b) Perceber que há três formas diferentes de construir a escaleta.

 

O que é uma cena, afinal?

A Wikipedia traz a definição do dicionário Houaiss, que conceitua a cena como, para o teatro: “cada uma das unidades de ação de uma peça, que se destacam como tal pela entrada e saída, no palco, dos intérpretes, alterando-se ou não os cenários”. Já na literatura, temos “cada uma das situações ou momentos da evolução de um enredo”.

Precisamos unir as duas definições para chegar à mais aceita atualmente: a cena é o momento em que o personagem desenvolve uma ação em determinado espaço e tempo. Sempre que tivermos uma brusca mudança de espaço ou tempo, teremos uma nova cena.


“Ué? Como assim? E quando o personagem sai de um lugar e vai para o outro?”

Dizemos que quando o personagem muda gradativamente de lugar ou de espaço temporal, permanecemos na mesma cena. Mas quando a mudança for ~brusca~, mudamos de cena. Exemplificando, para facilitar:

“Ana acordou cedo e começou a se arrumar para ir para a escola. Pegou o uniforme, a toalha e caminhou sonolenta até o banheiro, onde escovou os dentes e tomou um banho”.

Aqui, a Ana sai de um espaço de sua casa e vai a outro, mas temos uma mudança de espaço progressiva. Ou seja, acompanhamos a mudança. Estamos na mesma cena.

“Ana terminou de tomar café e olhou para o relógio, constatando com um susto que perderia o começo da primeira aula.

Ao chegar na escola, como já esperava, o sinal já havia tocado e ela precisou se esconder em um corredor para não cruzar com a inspetora Lins no caminho para a sala de aula”.

Aqui, mesmo que as cenas não estejam separadas por um marcador ou espaço, percebemos que ela estava em um lugar, depois já estava em outro. Não acompanhamos a mudança de espaço, portanto temos duas cenas. Não à toa, estão em parágrafos diferentes.

Compreendendo isto, podemos seguir adiante.

 

O que é a Escaleta?

É, basicamente, uma lista de cenas em que podemos (ou não) incluir alguns detalhes para facilitar na hora da escrita. Podemos incluir o local onde a cena se passa, a época, se é ambientada em um lugar fechado ou aberto, resumir alguns diálogos...

É tão simples quanto parece. Mas ela pode ter diferentes níveis de detalhes, razão pela qual encontramos três diferentes formatos de escaleta: a de uma página (utilizada geralmente por roteiristas americanos para terem o norte da história e terem uma noção de toda a trama de forma fácil de visualizar), a no estilo lista de cenas e a detalhada (que é, basicamente, um roteiro propriamente dito, quando nos referimos ao modelo usado no cinema e TV).

Veremos com mais detalhes cada um deles a seguir.

 

A Escaleta de Uma Página

É, ao mesmo tempo, um modelo simples e complexo. Simples, porque é algum muito resumido, normalmente em uma frase, e complexo porque exigirá do autor ou roteirista uma grande capacidade de síntese para dizer em poucas palavras sobre o que se trata cada cena ou bloco dramático.

É algo tão reduzido que, por vezes, nem escrevemos o nome dos personagens, usando apenas as iniciais. Exemplo na imagem abaixo, retirada do site “Tertúlia Narrativa”:

 


 

Escaleta Detalhada no Modo Lista de Cenas

Agora já podemos ser um pouco mais descritivos e não temos “limite” de páginas, podendo usar quantas forem necessárias. O nível de detalhes utilizado também varia muito de autor para autor, podendo resumir toda a cena em uma frase pequena, parágrafo ou mais linhas que isso.

Aqui, sempre observando aquela conceituação de cena sobre tempo e espaço que vimos lá no início do post, vamos simplesmente listando as cenas, uma por uma, e contando o que acontece em cada uma delas. O site Design Educacional nos traz um ótimo exemplo:


Cena 1 – O explorador Antônio se aproxima da entrada da caverna. Ele foi atraído pelo rastro de fumaça que subia alguns metros.

Cena 2 – Antônio chega à entrada da caverna e encontra o naufrago Fernando, o tutor do curso. Fernando explica para Antônio como foi parar ali e deixa claro que a aventura de Antônio começará assim que ele entrar na caverna, sem poder retornar.

Cena 3 – Antônio entra na caverna e se depara com o primeiro desafio.

Segundo um dos inúmeros cursos de escrita que já fiz de 2015 para cá, estima-se que um livro de 300 páginas tenha em torno de 100 cenas, então já dá para ter uma noção do tamanho da história, em média.

 

Escaleta Detalhada no Estilo Script

Apesar de esse formato ser o utilizado pelo cinema e pela TV, é interessante de pensar a história nesse formato porque permite escrever a história enquanto a planeja.

Ficou confuso?

Vamos a um exemplo, dessa vez do site Sala dos Roteiristas:

INT. PORTO/GALPÃO – DIA

O HERÓI chega esbaforido correndo e se depara com o VILÃO que tem a MOCINHA algemada a ele.
“Você nunca vai nos pegar, Herói!” – diz o Vilão, que logo sai correndo e joga uma granada pra cima do Herói.


EXT. PORTO/DOCAS – CONTINUOUS

O VILÃO vem correndo arrastando a MOCINHA pelas algemas quando... BOOM! A MOCINHA sofre, bate no VILÃO e maldiz ele por ter matado seu amor. O VILÃO diz que agora ela vai aprender a amá-lo e ela diz algo como “Eu nunca vou sentir por você o que eu sentia pelo Herói!”.

É quando o Vilão avista um vulto... O HERÓI sobreviveu!!! Ele sai do meio da fumaça que nem o Exterminador do Futuro. Boladão. O VILÃO pula com a MOCINHA num JETSKI e dá partida.

EXT. MAR ABERTO – CONTINUOUS

O VILÃO comenta que agora não tem como eles serem pegos, pois só havia aquele JETSKI no Porto. É quando a MOCINHA aponta para o seu Herói, que vem sendo trazido por DOIS GOLFINHOS.
“Come on! GOLFINHOS?! Sério?!” – um incrédulo VILÃO, que tem o Herói já se aproximando perigosamente.

 

Aqui, podemos adicionar os detalhes que falei lá em cima, indicando onde a cena se passa, se está dia ou noite, se é em espaço aberto ou fechado, destacar os personagens que aparecem em cada cena, objetos importantes utilizados bem como podemos colocar falas chave para a cena ou mesmo escrever todo o diálogo que temos em mente.

Esse formato é interessante para quem acha um pouco chata a fase de planejamento justamente por passar a impressão de estarmos construindo mais um primeiro rascunho do que fazendo um plot propriamente dito. Ao planejar no formato de escaleta, podemos simplesmente despejar no papel cada cena tal como temos na cabeça sem precisarmos nos ater a detalhes supérfluos. Depois, na escrita, preenchemos as lacunas com descrições, detalhando ações, adicionando sentimentos e dando personalidade ao texto.

 

Em todo caso, improvisadores podem se beneficiar do método não só por ter uma versão mais simplificada e direta da escaleta, como também por esse caráter mais dinâmico mesmo no formato detalhado, podendo escrever as cenas de forma mais crua para ter uma visão geral de eventuais falhas e problemas no enredo e depois, na escrita propriamente dita, fechar lacunas e corrigir os erros.

Os planejadores também vão amar porque é uma ótima alternativa a métodos detalhados e mais entediantes, já que mesmo quando gostamos do planejamento, podemos achar esta fase chata e sem maiores atrativos. Ver a história tomando forma, ainda que com detalhes faltando, pode ser um ótimo incentivo para colocá-la no papel de fato.

E por hoje é só, pessoal. Nos vemos em uma próxima oportunidade, em que vamos abordar mais desses métodos diferentões que muitos de nós nem sabia que existia: o Cube Creator.

Beijos e até logo.

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