Olá, pessoal.
Aqui estou eu de novo com mais um
post de nossa série sobre planejamento e outline e hoje vamos falar sobre
aquela que é, talvez, a estrutura mais utilizada ever, em obras literárias ou
audiovisuais.
A estrutura dos Três Atos é, provavelmente,
a mais fácil de reconhecer, contudo, não é assim tão simples de aplicar porque
embora seja meio instintivo pensar em uma história com início, meio e fim, cada
uma dessas partes tem etapas para serem construídas. Ao longo do post,
falaremos de cada uma delas.
Mas, antes, não deixe de conferir
os outros posts dessa série. Já conversamos em geral sobre o que é um planejamento, o que deve ter e
as principais características; o método Snowflake; o método dos sete pontos, que
foi dividido em parte um e dois; uma dobradinha com o método dos três pontos e o
de outline de capítulos; mais uma dobradinha com os métodos flashlight e
fluxograma; e o método dos cinco pontos.
Iniciando, o método dos Três Atos
é, ao mesmo tempo, um método para prosa e roteiro, por isso é usado tanto em livros
quanto em seriados e filmes. Cada um dos atos possui um nome (embora muitos
chamem simplesmente de começo, meio e fim), os mais comuns usados são:
Preparação, Confronto e Resolução.
Como os próprios nomes sugerem,
no primeiro (Preparação) vemos uma série de eventos que servem para nos
apresentar o personagem, onde vive e como ele entra no principal problema a ser
resolvido; no segundo (Confronto) ele precisa passar por situações que
compliquem essa situação inicial, levando-o a precisar passar por todo um
processo de crescimento e amadurecimento para resolvê-la; e chegamos ao fim
(Resolução), em que as escolhas e ações do personagem o levarão a determinado
resultado: se ele conseguiu se sair bem nas tarefas e ações com as quais foi
confrontado, podemos ter um final positivo. Caso contrário, podemos ter toda a
jornada culminando para sofrimento e perdas do personagem. Ainda podemos ter
finais agridoces, em que o personagem ganha algo e perde outra coisa
importante; tudo depende do seu gênero e estilo de escrita.
Cada ato deve ser visto como uma
estrutura independente, ou seja, não apenas serem partes de um todo. É esperado
que eles tenham começo, meio e fim; com o fim dos dois primeiros lançando ao
começo do seguinte e o último fechando, amarrando tudo. Cada “ponto de contato”
chamamos de Ponto de Enredo ou “Plot Point”, como já vimos em postagens
anteriores.
Costumeiramente, vemos essa
estrutura sendo analisada juntamente com duas abordagens que já vimos: a dos
cinco pontos e a dos sete pontos (se ainda não sabe sobre elas, sugiro ler os
posts que linkei lá em cima). Isso acontece justamente porque, a depender do
teórico, a soma dos principais pontos de enredo ou de virada pode dar cinco ou
sete. Depende.
Tudo ainda está meio nublado? Calma,
vamos por partes.
Ou por Ato.
1) Preparação
Aqui, temos o personagem, em
geral, vivendo em seu cotidiano. Somos apresentados a quem esse protagonista é
e como é sua vida. Por isso, precisamos responder a determinadas perguntas:
a) Quem é o personagem (em termos
físicos e psicológicos)?
b) Como é o ambiente em que ele
vive (em termos de espaço físico, mas também de crenças, valores, ideologias,
sociedade, etc.)?
c) Quem são as pessoas que cercam
o protagonista e como são seus relacionamentos com ele (familiares, amigos,
inimigos, conhecidos, colegas de sala ou de trabalho, cônjuge ou namorado(a),
etc.)?
d) Como o personagem se insere
nesse mundo (ele está satisfeito ou insatisfeito?)?
e) Qual o principal problema a
ser abordado ao longo da história e como ele cai no colo do protagonista?
Para isso, você terá, em torno de
um quarto da história para desenvolver (os primeiros 25%). Não é necessário
fazer uma medição exata (até porque não temos muito bem como prever a
quantidade final de páginas do capítulo para saber onde fazer os marcos
certinho) e os valores devem ser usados apenas como referência.
Obviamente, não é para passar
todo esse tipo de informação já de cara. Pretendo escrever sobre como dosar e
evitar o infodumping (sobrecarga de informação, que acaba sendo muito comum no
meu gênero preferido, a fantasia), mas o que você precisa ter em mente é que:
I) Muita coisa pode ser passada
das entrelinhas; e
II) Nem sempre tudo isso vai ser
necessário para a história que você está escrevendo (ora, se o protagonista é
uma criança órfã, não teremos como falar da família próxima e ainda não é o
momento de abordar relacionamentos românticos).
Bom senso é a chave: foque apenas
no essencial. Não é necessário descrever detalhadamente o físico de todos os
personagens se muitos deles nem terão maior importância. Calma.
Um exemplo clássico utilizado
para ilustrar é o do filme Star Wars: no primeiro ato, Luke Skywalker está
levando sua vida tranquila como fazendeiro até que sua família é morta pelo
Império (primeiro desastre). A mensagem da princesa, a fuga dos dróides, o
ataque do povo da areia são apenas situações que o conduzem a esse momento
crucial.
A finalização do primeiro ato e a
passagem dele para o segundo é marcada pelo Incidente Incitante, quando um evento
ou descoberta leva o protagonista a se deparar com o conflito que precisará
solucionar ao longo da trama. Também pode ser chamado de “gancho” e é onde o
personagem normalmente precisa lidar com uma perda externa (por exemplo, ver os
pais morrerem ou perder um amor) ou interna (passar por uma intensa humilhação
que o leve a se sentir desonrado).
Uma pista para decidir qual o
melhor gancho depende de como o seu personagem se sente em relação a seu “mundo
comum”. Ele está satisfeito e feliz? Talvez a única forma de levá-lo a agir
seja uma perda externa (seja algo drástico como a morte de alguém) ou menos
definitivo (como perder um emprego do qual se gostava muito).
Ele está feliz, mas se depara com
uma situação que o deixa infeliz? Pode ser uma mudança interna, que o leve a
usar seus recursos para recuperar esse status de felicidade inicial.
Ele está infeliz? Pode encontrar
uma oportunidade de mudar de vida (externa) ou perceber que precisa mudar algo
dentro de si, sua forma de ver o mundo ou valores, para alcançar a satisfação
pessoal.
De novo, tudo vai depender de seu
estilo de escrita e gênero literário.
Com o surgimento do conflito, seu
protagonista precisa fazer uma escolha: ou ele vai aceitar o desafio e levar
sua história a um novo nível ou vai precisar de tempo para digerir o que houve
para só então prosseguir e fazer sua história chegar ao primeiro ponto de
enredo para fechar o primeiro ato.
O ideal é que, nessa fase de
tomada de decisão, seu personagem não seja passivo, ou seja, não uma mera vítima
das circunstâncias. Para que seu enredo tenha mais força e cumpra o objetivo de
tocar e inspirar leitores, é fundamental que ele chame a responsabilidade para
si, mostrando sua coragem, determinação e força.
Mesmo que o problema seja dele,
mesmo que ele esteja fadado a resolver a questão (como nos clássicos em que
temos um “Escolhido”), o leitor se sente mais aberto para embarcar junto se
sente que o personagem é ativo em relação ao enredo e faz escolhas por si
mesmo.
Ainda que você queria mostrar um
personagem que é manipulável e tem sua vida regida por outras pessoas, em certo
ponto ele precisará passar por uma ruptura e tomar as rédeas de sua vida para
si — e esse pode até ser o ponto de virada para finalizar o primeiro ato.
Afinal, não tem a menor graça acompanhar uma pessoa meio “morna” o tempo todo,
que nunca faz nada por si, não é mesmo?
E como detalhar esta estrutura
leva tempo, achei por bem dividir para facilitar a leitura de vocês. Assim,
voltem no próximo domingo para continuarem comigo nessa jornada.
Beijinhos e até mais ver :D
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