Por: Michele Bran
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Olá, escritores. Como vão? Espero
que bem e escrevendo bastante.
Dando continuidade a nossa série
(se você ainda não viu as partes um e dois, só clicar nos links), hoje vamos
conversar sobre uma estrutura que, pelo visto, é mais famosa na gringa. Sério,
foi uma dificuldade encontrar posts em português sobre (só achei esse do Thiago
Lee, que acabou sendo a principal referência), mas vamos lá.
O Método ou a Técnica dos Sete
Pontos (como também é conhecida) foi criada pelo escritor norte-americano Dan
Wells e tem por princípio mapear os sete pontos principais da trama e
estabelecer os maiores conflitos a serem resolvidos. Podemos registrar como cenas
inteiras, capítulos, diálogos ou um parágrafo.
Curiosos? Então vamos lá ver cada
pontinho um por um. Todos os exemplos listados aqui são os que encontrei no
post do Thiago. Resolvi manter por estarem bem mais claros e simples do que
aqueles que eu colocaria originalmente (hehe).
1. Gancho
O primeiro ponto tem este nome
porque é ele quem deve fisgar a atenção de seu leitor, preferencialmente já nas
primeiras linhas. Aqui, você deve se preocupar em despertar dúvidas na mente do
seu leitor, fazê-lo pensar “agora preciso continuar lendo para saber no que
isso vai dar”. Pode ser uma reviravolta, um acontecimento inesperado ou mesmo
chocante, a entrada de um personagem cativante ou misterioso... Tudo vai
depender de seu estilo de escrita e do gênero que você escreve.
Algo que eu sempre gosto de fazer
é começar já no meio de algo. Por isso, um dos meus começos recentes que mais
gostei de ter feito foi o de “Depois da Guerra”, uma alta fantasia que não
postei em lugar nenhum ainda. Basicamente, estamos no meio da floresta,
cercados pela neve branca e há uma tensão no ar, tão forte que a gente quase
consegue cortar com as espadas que logo os protagonistas precisam levantar para
se defender... E quando a gente se dá conta de não é uma luta comum e logo eles
estão cercados por criaturas selvagens e famintas, já estamos curiosos para
saber onde eles estão, para onde estavam indo e o que está acontecendo.
Pena que vou ter que reescrever
tudo só com o que lembro, porque esta foi uma das histórias que perdi junto com
o HD anterior. RIP.
É importante que você tenha em
mente que quanto mais cedo o gancho aparecer na história, melhor para você.
Mais os leitores vão querer continuar lendo, então parou aquela conversa de
“ah, mas depois do capítulo 10 minha história melhora”. A menos que você ache
legal ter leitores desistindo logo na página dois.
Outro alerta importante é nos
dado pelo Thiago Lee:
“O
gancho não é necessariamente o acontecimento que conduz sua trama (veremos mais
sobre isso depois no Chamado), ele serve apenas para criar interesse na
história.
Se
sua história é sobre um detetive que investiga um assassinato,
seu gancho pode ser a própria cena do crime,
um flashback do passado do detetive em que ele vê a mãe ser morta, ou
até mesmo uma cena do fim do livro em que ele está à beira da morte,
encurralado pelo assassino (mas sem deixar claro ao leitor quem é o criminoso).
Nesse último caso, você voltaria no tempo para contar o início da trama,
deixando o leitor ávido por saber como o detetive foi parar naquela situação”.
E como o gancho também pode vir
em forma de prólogo, ele também cita dois exemplos que podemos usar para que
este tipo de capítulo sirva a seu propósito, evitando que ele seja entediante
e/ou confuso: “Prólogo do Monstro de Gelo” e “Prólogo In Media Res”.
Prólogo do Monstro de Gelo
Quem já leu “Guerra dos Tronos”
sabe, mas quem ainda não, o livro é simplesmente um calhamaço que, se você atirar
contra alguém que não gosta, pode ser preso por tentativa de homicídio.
Nada mais natural que em meio a
tanta trama e personagem para desenvolver, alguns temas só fossem aparecer
quilômetros depois da primeira linha; e é o caso da magia. Porém, para que o
leitor não pensasse se tratar de mais um livro de política de um mundo que não
existe, o Martin criou um prólogo em que alguns personagens se deparam com
ameaças sobrenaturais.
É, reservadas as devidas
proporções, um pouco do que fiz em “Inverno na Cidade do Sol”, em que para não
deixar o leitor pensando que se trata de mais um suspense policial, incluí o
elemento de fantasia urbana já no começo.
Prólogo In Media Res
“In Media Res” quer dizer “no
meio das coisas” em latim. Usamos esse nome porque, aqui, a história começa
pelo meio, com o intuito de conseguir aquele efeito que mencionei ali em cima
de “começar com as coisas acontecendo”.
Ao invés de explicar quem são os
personagens envolvidos de um por um, com inúmeras páginas de background, e descrição
maciça de cenários e situação política da história (que é, aliás, um erro bem
comum em histórias de fantasia), optei por começar com uma cena de ação e
deixar todos esses fatores para mais tarde; ocasião em que, por já saber um
pouco dos personagens pelas ações e se importar com eles o suficiente para tal,
podemos começar a investigar seus passados e mentes sem ficar chato e
repetitivo.
E agora minha parte preferida. Os
exemplos. Nas palavras do autor que usei como referência:
“Peter
Pan: o Gancho (não, não é o Capitão) está logo na primeira frase: todas
as pessoas crescem, menos uma.
Quem é essa pessoa que não
cresce? Por que não?
Senhor dos Anéis: um mago
poderoso pede a ajuda de um jovem e pacato hobbit para uma aventura.
Que habilidades esse
inofensivo hobbit tem a oferecer? Que perigos eles encontrarão no
caminho?
Réquiem para a
Liberdade (livro de minha autoria): um ex-escravo é capturado por
criminosos, e escapa com a ajuda de uma marca hedionda que carrega no peito.
Qual
o segredo por trás dessa misteriosa marca? Quem fez isso com ele? Como ele foi
parar nas mãos desses criminosos?”.
Ganchos “Prólogo do monstro
Gigante”
“Harry Potter: Dois bruxos
abandonam um bebê misterioso na porta de uma casa no meio da noite. (logo de início
fica evidente que há magia no mundo)
O que há de tão especial nesse
bebê? Que poderes esses bruxos possuem?
Star Wars: um poderoso vilão
mascarado usa habilidades sobrenaturais e captura uma princesa.
Quem está por trás da máscara
desse vilão? Qual a fonte do seu poder? Quem salvará a princesa?”
Ganchos com “Prólogo In
Media Res”
“A Odisseia: Atena
manda Telêmaco buscar seu pai Odisseu, que está sumido há dez anos. A
história, então, começa a contar o que Odisseu tem feito nesses anos”.
2. O
Chamado
Passando para o ponto seguinte
(sim, já conto três páginas do Word escrevendo em fonte Calibri tamanho 11 e só
vimos o primeiro ponto. A PROLIXIDADE, MEU PAI), veremos que, já fisgamos a
atenção do leitor e agora podemos prosseguir com nossa trama.
Mas não é porque o leitor já foi
conquistado que vamos descuidar e entregar uma história parada e monótona. Não!
Precisamos continuar mantendo as expectativas em alta, investindo em
desenvolver os mistérios e aprofundar os conflitos, entrelaçando-os entre si.
Precisaremos parar para respirar
e se refazer das lutas, descansar da cena de perseguição, tomar uma água depois
de conhecer o crush na pista de dança daquela festa badalada, é claro. Mas cedo
ou tarde precisaremos colocar nossos xuxus para passar por algum perrengue,
aquela situação em que eles recebem o Chamado para que a trama engrene de vez.
Estabelecendo um paralelo com a
famosa Jornada do Herói, da qual também trataremos no futuro, podemos dizer que
é aqui que o personagem tem o primeiro empurrão em direção ao fluxo que o
levará até o fim da trama, é aquele “sacode” do destino, uma situação
imprevista que o força a agir em determinada direção. E atenção: é um ponto de
não-retorno. Uma vez que ele parta em uma jornada inesperada, não há mais como
largar mão, dar as costas para comitiva e se enfiar de novo em sua casinha no
Condado (sei que você pescou a referência). Começou, termina. Ajoelhou, tem que
rezar.
Acredita-se que o Chamado deve
aparecer antes do primeiro quarto da trama. Ou seja, se sua história tem 100
páginas, esse momento precisa acontecer até a página 25, aproximadamente.
Mas é aquelas: “Bem-vindo ao mundo da escrita. Regras: não há
regras”. Então ele pode acontecer a qualquer momento. O que se
recomenda é que seja cedo, para seu leitor manter em alta o interesse e
expectativa.
A melhor forma de introduzir o
chamado é trazendo um conflito, algo que transforme a história em algo novo e
faça o personagem seguir um rumo bem diferente do que ele planejava
Horinha dos exemplos:
“Jogos
Vorazes: A irmã mais nova de Katniss é escolhida para participar dos jogos, e
Katniss se voluntaria para ir no lugar dela.
Senhor dos Anéis: Gandalf
conta a Frodo que as forças do mal sabem que ele possui o Um Anel, e que eles
devem deixar o Condado imediatamente.
Réquiem para a Liberdade:
Marko chega à Ravina e confronta o tirano Dom.
Harry Potter: Harry descobre
que é um bruxo e que irá estudar na Escola de Magia de Hogwarts.
Star
Wars: Luke descobre que seus tios estão mortos e resolve se juntar a Obi-Wan
Kenobi”.
3. Catalisador
Seu personagem já fisgou o leitor
e começou sua jornada. Agora é hora de quê? Dar a ele uns longos capítulos de
paz?
Nada disso! É hora de colocar
esse coitado (não tem melhor definição hehe) com ainda mais problemas para
resolver, para tomar decisões difíceis, para fazê-lo se confrontar com as
forças contra as quais ele luta. O catalisador é aquele momento (ou momentos,
podemos ter mais de um) em que o protagonista sente aumentar o senso de
urgência da questão que o atormenta e percebe a necessidade imperiosa de agir
(claro que ele vai agir para ferrar tudo, porque se fosse para dar tudo certo,
a história acabaria).
O que pode ser um bom
catalisador? O surgimento de um vilão, o rapto de um aliado, descobrir um esconderijo,
revelar um traidor, a descoberta de que terá que se separar da pessoa amada,
etc. Aqui é um excelente momento para mostrar mais do mundo interno do
protagonista ao leitor: suas escolhas dependem de forma crucial de seu caráter,
valores, moral e visão de mundo — sobretudo se você está escrevendo fantasia em
que um herói precisa salvar o mundo e, portanto, as vidas de muitos inocentes
estão em suas mãos, mesmo que nem saibam.
Exemplos:
“O Iluminado: Danny começa a
ter alucinações e a perceber atividades sobrenaturais pela primeira vez.
Senhor dos Anéis: Frodo e seus
companheiros são atacados pelos cavaleiros negros. Frodo é esfaqueado.
Harry Potter: Um trasgo ataca
Hogwarts.
Star Wars: Os stormtroopers atacam a Millennium Falcon
enquanto Luke e Ben Kenobi tentam alcançar a Aliança Rebelde”.
E termina aqui essa primeira parte porque o post ficou
gigantesco, mas semana que vem, tem mais.
Até lá :D
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