Planeje sua História com a Gente 3 - Método dos Sete Pontos [1/2]

domingo, 1 de março de 2020

estrutura dos sete pontos


Por: Michele Bran
Link no Nyah: https://fanfiction.com.br/u/5389/

Olá, escritores. Como vão? Espero que bem e escrevendo bastante.
Dando continuidade a nossa série (se você ainda não viu as partes um e dois, só clicar nos links), hoje vamos conversar sobre uma estrutura que, pelo visto, é mais famosa na gringa. Sério, foi uma dificuldade encontrar posts em português sobre (só achei esse do Thiago Lee, que acabou sendo a principal referência), mas vamos lá.
O Método ou a Técnica dos Sete Pontos (como também é conhecida) foi criada pelo escritor norte-americano Dan Wells e tem por princípio mapear os sete pontos principais da trama e estabelecer os maiores conflitos a serem resolvidos. Podemos registrar como cenas inteiras, capítulos, diálogos ou um parágrafo.
Curiosos? Então vamos lá ver cada pontinho um por um. Todos os exemplos listados aqui são os que encontrei no post do Thiago. Resolvi manter por estarem bem mais claros e simples do que aqueles que eu colocaria originalmente (hehe).


1.       Gancho

O primeiro ponto tem este nome porque é ele quem deve fisgar a atenção de seu leitor, preferencialmente já nas primeiras linhas. Aqui, você deve se preocupar em despertar dúvidas na mente do seu leitor, fazê-lo pensar “agora preciso continuar lendo para saber no que isso vai dar”. Pode ser uma reviravolta, um acontecimento inesperado ou mesmo chocante, a entrada de um personagem cativante ou misterioso... Tudo vai depender de seu estilo de escrita e do gênero que você escreve.
Algo que eu sempre gosto de fazer é começar já no meio de algo. Por isso, um dos meus começos recentes que mais gostei de ter feito foi o de “Depois da Guerra”, uma alta fantasia que não postei em lugar nenhum ainda. Basicamente, estamos no meio da floresta, cercados pela neve branca e há uma tensão no ar, tão forte que a gente quase consegue cortar com as espadas que logo os protagonistas precisam levantar para se defender... E quando a gente se dá conta de não é uma luta comum e logo eles estão cercados por criaturas selvagens e famintas, já estamos curiosos para saber onde eles estão, para onde estavam indo e o que está acontecendo.
Pena que vou ter que reescrever tudo só com o que lembro, porque esta foi uma das histórias que perdi junto com o HD anterior. RIP.
É importante que você tenha em mente que quanto mais cedo o gancho aparecer na história, melhor para você. Mais os leitores vão querer continuar lendo, então parou aquela conversa de “ah, mas depois do capítulo 10 minha história melhora”. A menos que você ache legal ter leitores desistindo logo na página dois.
Outro alerta importante é nos dado pelo Thiago Lee:
O gancho não é necessariamente o acontecimento que conduz sua trama (veremos mais sobre isso depois no Chamado), ele serve apenas para criar interesse na história.
Se sua história é sobre um detetive que investiga um assassinato, seu gancho pode ser a própria cena do crime, um flashback do passado do detetive em que ele vê a mãe ser morta, ou até mesmo uma cena do fim do livro em que ele está à beira da morte, encurralado pelo assassino (mas sem deixar claro ao leitor quem é o criminoso). Nesse último caso, você voltaria no tempo para contar o início da trama, deixando o leitor ávido por saber como o detetive foi parar naquela situação”.
E como o gancho também pode vir em forma de prólogo, ele também cita dois exemplos que podemos usar para que este tipo de capítulo sirva a seu propósito, evitando que ele seja entediante e/ou confuso: “Prólogo do Monstro de Gelo” e “Prólogo In Media Res”.

Prólogo do Monstro de Gelo
Quem já leu “Guerra dos Tronos” sabe, mas quem ainda não, o livro é simplesmente um calhamaço que, se você atirar contra alguém que não gosta, pode ser preso por tentativa de homicídio.
Nada mais natural que em meio a tanta trama e personagem para desenvolver, alguns temas só fossem aparecer quilômetros depois da primeira linha; e é o caso da magia. Porém, para que o leitor não pensasse se tratar de mais um livro de política de um mundo que não existe, o Martin criou um prólogo em que alguns personagens se deparam com ameaças sobrenaturais.
É, reservadas as devidas proporções, um pouco do que fiz em “Inverno na Cidade do Sol”, em que para não deixar o leitor pensando que se trata de mais um suspense policial, incluí o elemento de fantasia urbana já no começo.

Prólogo In Media Res
“In Media Res” quer dizer “no meio das coisas” em latim. Usamos esse nome porque, aqui, a história começa pelo meio, com o intuito de conseguir aquele efeito que mencionei ali em cima de “começar com as coisas acontecendo”.
Ao invés de explicar quem são os personagens envolvidos de um por um, com inúmeras páginas de background, e descrição maciça de cenários e situação política da história (que é, aliás, um erro bem comum em histórias de fantasia), optei por começar com uma cena de ação e deixar todos esses fatores para mais tarde; ocasião em que, por já saber um pouco dos personagens pelas ações e se importar com eles o suficiente para tal, podemos começar a investigar seus passados e mentes sem ficar chato e repetitivo.

E agora minha parte preferida. Os exemplos. Nas palavras do autor que usei como referência:
Peter Pan: o Gancho (não, não é o Capitão) está logo na primeira frase: todas as pessoas crescem, menos uma.
Quem é essa pessoa que não cresce? Por que não?
Senhor dos Anéis: um mago poderoso pede a ajuda de um jovem e pacato hobbit para uma aventura.
Que habilidades esse inofensivo hobbit tem a oferecer? Que perigos eles encontrarão no caminho?
Réquiem para a Liberdade (livro de minha autoria): um ex-escravo é capturado por criminosos, e escapa com a ajuda de uma marca hedionda que carrega no peito.
Qual o segredo por trás dessa misteriosa marca? Quem fez isso com ele? Como ele foi parar nas mãos desses criminosos?”.

Ganchos “Prólogo do monstro Gigante”
“Harry Potter: Dois bruxos abandonam um bebê misterioso na porta de uma casa no meio da noite. (logo de início fica evidente que há magia no mundo)
O que há de tão especial nesse bebê? Que poderes esses bruxos possuem?
Star Wars: um poderoso vilão mascarado usa habilidades sobrenaturais e captura uma princesa.
Quem está por trás da máscara desse vilão? Qual a fonte do seu poder? Quem salvará a princesa?”

Ganchos com “Prólogo In Media Res”
“A Odisseia: Atena manda Telêmaco buscar seu pai Odisseu, que está sumido há dez anos. A história, então, começa a contar o que Odisseu tem feito nesses anos”.


2.       O Chamado

Passando para o ponto seguinte (sim, já conto três páginas do Word escrevendo em fonte Calibri tamanho 11 e só vimos o primeiro ponto. A PROLIXIDADE, MEU PAI), veremos que, já fisgamos a atenção do leitor e agora podemos prosseguir com nossa trama.
Mas não é porque o leitor já foi conquistado que vamos descuidar e entregar uma história parada e monótona. Não! Precisamos continuar mantendo as expectativas em alta, investindo em desenvolver os mistérios e aprofundar os conflitos, entrelaçando-os entre si.
Precisaremos parar para respirar e se refazer das lutas, descansar da cena de perseguição, tomar uma água depois de conhecer o crush na pista de dança daquela festa badalada, é claro. Mas cedo ou tarde precisaremos colocar nossos xuxus para passar por algum perrengue, aquela situação em que eles recebem o Chamado para que a trama engrene de vez.
Estabelecendo um paralelo com a famosa Jornada do Herói, da qual também trataremos no futuro, podemos dizer que é aqui que o personagem tem o primeiro empurrão em direção ao fluxo que o levará até o fim da trama, é aquele “sacode” do destino, uma situação imprevista que o força a agir em determinada direção. E atenção: é um ponto de não-retorno. Uma vez que ele parta em uma jornada inesperada, não há mais como largar mão, dar as costas para comitiva e se enfiar de novo em sua casinha no Condado (sei que você pescou a referência). Começou, termina. Ajoelhou, tem que rezar.
Acredita-se que o Chamado deve aparecer antes do primeiro quarto da trama. Ou seja, se sua história tem 100 páginas, esse momento precisa acontecer até a página 25, aproximadamente.
Mas é aquelas: “Bem-vindo ao mundo da escrita. Regras: não há regras”. Então ele pode acontecer a qualquer momento. O que se recomenda é que seja cedo, para seu leitor manter em alta o interesse e expectativa.
A melhor forma de introduzir o chamado é trazendo um conflito, algo que transforme a história em algo novo e faça o personagem seguir um rumo bem diferente do que ele planejava
Horinha dos exemplos:
Jogos Vorazes: A irmã mais nova de Katniss é escolhida para participar dos jogos, e Katniss se voluntaria para ir no lugar dela.
Senhor dos Anéis: Gandalf conta a Frodo que as forças do mal sabem que ele possui o Um Anel, e que eles devem deixar o Condado imediatamente.
Réquiem para a Liberdade: Marko chega à Ravina e confronta o tirano Dom.
Harry Potter: Harry descobre que é um bruxo e que irá estudar na Escola de Magia de Hogwarts.
Star Wars: Luke descobre que seus tios estão mortos e resolve se juntar a Obi-Wan Kenobi”.


3.       Catalisador

Seu personagem já fisgou o leitor e começou sua jornada. Agora é hora de quê? Dar a ele uns longos capítulos de paz?
Nada disso! É hora de colocar esse coitado (não tem melhor definição hehe) com ainda mais problemas para resolver, para tomar decisões difíceis, para fazê-lo se confrontar com as forças contra as quais ele luta. O catalisador é aquele momento (ou momentos, podemos ter mais de um) em que o protagonista sente aumentar o senso de urgência da questão que o atormenta e percebe a necessidade imperiosa de agir (claro que ele vai agir para ferrar tudo, porque se fosse para dar tudo certo, a história acabaria).
O que pode ser um bom catalisador? O surgimento de um vilão, o rapto de um aliado, descobrir um esconderijo, revelar um traidor, a descoberta de que terá que se separar da pessoa amada, etc. Aqui é um excelente momento para mostrar mais do mundo interno do protagonista ao leitor: suas escolhas dependem de forma crucial de seu caráter, valores, moral e visão de mundo — sobretudo se você está escrevendo fantasia em que um herói precisa salvar o mundo e, portanto, as vidas de muitos inocentes estão em suas mãos, mesmo que nem saibam.
Exemplos:
O Iluminado: Danny começa a ter alucinações e a perceber atividades sobrenaturais pela primeira vez.
Senhor dos Anéis: Frodo e seus companheiros são atacados pelos cavaleiros negros. Frodo é esfaqueado.
Harry Potter: Um trasgo ataca Hogwarts.
Star Wars: Os stormtroopers atacam a Millennium Falcon enquanto Luke e Ben Kenobi tentam alcançar a Aliança Rebelde”.


E termina aqui essa primeira parte porque o post ficou gigantesco, mas semana que vem, tem mais.
Até lá :D

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