O retorno! A tradução nossa de cada dia - parte 1

domingo, 22 de novembro de 2020

 

Tradução: um assassinato, oba!

Por: Rebel Princess

Pois bem, como o assunto é gigante, nada mais justo do que um post gigante. Porém não se preocupem, caros leitores, porque será dividido em duas partes e terá um foco maior em uma certa história de detetive.

 

“Elementar, meu caro Watson”

Está aí uma frase que você provavelmente nunca lerá no livro, mas certamente já ouviu em um filme. Como boa fã/amante de romance policial, tia Rebel não poderia deixar de dedicar um post a tudo com o que entrei em contato a respeito desse detetive consultor, o primeiro no ramo e que inventou o cargo também.

Ilustração de Sidney Page para a Strand Magazine

Tá, e o que tudo isso vai ter a ver com tradução?

Tudo a seu tempo, mumuahahaha. Na verdade, meu post será dividido em duas partes justamente por isso. Nos estudos da tradução, temos uma variedade de abordagens possíveis, aquela pela qual sou mais apaixonada é a tradução intersemiótica, ou entre meios, que trata da tradução de um livro para um filme ou vice-versa, de um filme para um jogo, de um jogo para um parque temático... as possibilidades são bem variadas.

Infelizmente, em se tratando de dedicação de programas acadêmicos, esse ramo ainda é o “primo pobre”, como se servisse apenas de “pretexto” para se chegar a outro campo, um mero detalhezinho ali nas ciências humanas.

Massss como bons apreciadores das artes, temos que ter em mente que esse negócio de tradução é complicado, requer tempo para se entender e, principalmente, reconhecimento de que o campo interfere de um jeito gigante nos produtos que chegam até nós!

Para que falar disso e Sherlock Holmes juntos? (Sim, o post é sobre Xeroque Romes!)

Pelo “simples” fato de que é uma das histórias mais traduzidas, adaptadas, transmidiadas de todos os tempos. Dê uma pausa aqui e conte quantos Sherlocks você já conheceu na vida.

Cada um desses moços pode ser entendido como uma tradução diferente daquela história publicada na Strand Magazine, a qual podemos tomar como o “texto de partida” para tantas outras interpretações do detetive que vieram depois.

Feitas essas explicações, no post de hoje, vamos nos deter mais em compreender um pouco do Xeroque de partida. No post seguinte, vou falar um pouquinho das muitas traduções dele para as telonas e telinhas de TV.


Warning! Muitas infâncias podem ser destruídas com o que se segue.

Sherlock Holmes (SH) foi criação de Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930), médico e escritor britânico, nascido na Escócia, que falava sobre assuntos muito diversificados, até ficção científica, e conseguiu se destacar com o detetive mais peculiar já criado e que conquistou uma legião de fãs. E sim, caros leitores, Sherlock é criação de Conan Doyle, não foi alguém que realmente existiu.

*Pausa para o choro da infância destruída*

Com base na edição definitiva comentada e ilustrada – maravilhosa! – da editora Zahar, temos 56 contos e 4 romances protagonizados por Holmes e escritos por seu fiel companheiro de investigação Dr. John Watson, que serviu no Afeganistão e, no tempo em que se passam as histórias com Holmes, trabalhava por conta, quase como um médico aposentado; afinal, para acompanhar grande parte das investigações e se meter nas confusões que as tais criavam, ele precisava de muito tempo!

Os contos eram escritos a fim de serem publicados em revistas, a que mais expandiu a leitura foi a Strand Magazine, e o primeiro romance a ser publicado foi Um Estudo em Vermelho em 1887; ainda existem divergências entre os pesquisadores, que, por sinal, são muitos, sobre a ordem cronológica dos eventos relatados em todos os contos.

O cânone – sim, Holmes possui um cânone próprio! – é composto pelos conjuntos de contos intitulados As Aventuras de Sherlock Holmes, As Memórias de Sherlock Holmes, A Volta de SH, O Último Adeus de SH e Histórias de SH; e pelos romances Um Estudo em Vermelho, O Signo dos Quatro, O Cão dos Baskerville e O Vale do Medo. O leitor pode partir de qualquer ponto para se aventurar junto ao detetive, não importando a ordem de leitura, já que cada história tem uma contextualização – muitas vezes turva e quase impossível de se relacionar a uma época real da história do mundo – logo no início e algumas pistas de casos anteriores também estão perdidas no meio do texto.


Em Baker Street – os livros e o personagem

Atual 221b – Baker Street e o Museu SH ao lado

Quanto aos aspectos da história, um cenário constante é 221B Baker Street, um número que se tornou bem famoso e ainda existe em Londres, local do apartamento que Holmes e Watson dividiam; fora este, múltiplos espaços aparecem, cada um com uma peculiaridade a se arrastar pelo caso, como em O cão dos Baskerville , onde a fazenda de Henry Baskerville tem todas as características – e também pessoas – dispostas a criar a ilusão de um cão demônio gigantesco que procura vingança.

Também temos personagens recorrentes além dos protagonistas, como a Sra. Hudson, que é a senhoria do apartamento e governanta de Holmes e Watson; Mycroft Holmes, irmão mais velho de Sherlock, com um cargo influente que nunca é especificado e que se envolve em alguns dos crimes também sem nunca declarar a quem está disposto a ajudar.

O professor James Moriarty é o grande antagonista, não tendo muito espaço nos livros (sua única aparição direta é no conto O problema final), mas ganhando importância nas adaptações cinematográficas como “o vilão com o gênio do herói” e [SPOILER] sendo o responsável pela aparente morte do detetive, a qual nos livros justifica seu sumiço de alguns anos – para depois realizar seu triunfante retorno no volume 3 dos contos – e na vida real de Conan Doyle representa o tempo em que este deixou de lado as histórias de SH para se dedicar a outros gêneros de escrita.

Irene Adler também é uma personagem que ganhou notoriedade, mesmo aparecendo apenas no conto Escândalo na Boêmia, sendo referida por Holmes como A Mulher, já que foi a personagem que frustrou os planos de Sherlock, ou seja, foi a vilã que conseguiu escapar do detetive. Temos também Lestrade, inspetor da Scotland Yard, que recorre a SH quando seus casos estão em um nível impossível de resolução, e também possui um acordo mútuo que Sherlock o ajuda, mas nunca leva o crédito pela resolução do mistério.

Como detetive consultor, os casos de Holmes são selecionados e a clientela vem até ele na “surdina”, sendo o pedido de sigilo sempre uma das características. O próprio Holmes tem vários meios, alguns ilícitos, de conseguir informações e impedir de tragédias ocorram, como a rede dos meninos de rua que servem a ele como informantes dos fatos que nem mesmo os clientes tem coragem para lhe contar.


O pavio curto

Holmes geralmente é descrito como uma pessoa arrogante e sem muitos sentimentos para com alguma coisa. Frequentemente nas histórias, ele age friamente com os clientes, mesmo as mulheres que ainda na época, infelizmente, eram bastante submissas e vinham lhe pedir ajuda para livrar os maridos de problemas. Ainda assim, sua capacidade de raciocínio é incrível e qualquer problema, mesmo que de aspecto sobrenatural, é resolvido por um simples encadeamento causal; seus conhecimentos de Química e das ruas e lugares de Londres é extraordinário. Toca violino e se gaba por ter um Stradivarius, em muitos casos tem comportamentos estranhos como ficar sem dormir, apenas fumando seu cachimbo e pensando, além de algumas vezes Watson mencionar seu vício em cocaína.

Mesmo Watson também o julgando como egoísta, a preocupação e cuidado de Sherlock para com o doutor é notável, sutilmente. Os dois passam por vários episódios de conflito emocional, e Watson em muitas histórias diz que está morando por conta própria ou está casado – os pesquisadores também adoram tentar descobrir as identidades das esposas do doutor, sendo a mais recorrentemente citada a tutora Mary Morstan.

Na edição da Zahar, as notas ao final dos contos mostram esses aspectos curiosos e que são pesquisados, bem como clubes e sociedades sherlockianas que cruzam referências e por muito pouco não conseguem provar de vez que o Dr. Watson realmente foi um amigo de Conan Doyle e a veracidade da vida de Holmes. Esta edição é ótima para adentrar profundamente no mundo de Sherlock no final do século XIX, mesmo você ainda não conhecendo nada do detetive, eu mesma não conhecia muita coisa até obter os livros, e foi amor à primeira vista. <3

Por hoje é isto, amados! Não percam a próxima parte que iremos falar das adaptações e traduções, espero que tenham gostado até aqui! ^^


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