Planeje sua história com a gente 7: Três Atos - Parte 2

domingo, 9 de agosto de 2020

Por: Michele Bran

Olar, como vão? Preparados para continuarmos discutindo sobre a tão conhecida estrutura dos três atos?

Se você caiu aqui de paraquedas e está mais perdido do que eu tentando me organizar na bagunça que meu próprio computador virou (rs), não se esqueça de ler a parte um (e checar os outros posts da série que estão linkados lá).

Não deixe de conferir os outros posts dessa série. Já conversamos em geral sobre o que é um planejamento, o que deve ter e as principais características; o método Snowflake; o método dos sete pontos, que foi dividido em parte um e dois; uma dobradinha com o método dos três pontos e o de outline de capítulos; mais uma dobradinha com os métodos flashlight e fluxograma; e o método dos cinco pontos.

 Agora, prosseguindo de onde paramos...

 

2) Preparação

Agora vamos acompanhar seu personagem pelo maior trecho do livro, os próximos 50% seguintes. A palavra-chave daqui em diante é: progressividade. Ou seja: apresente os conflitos de forma gradativa e progressiva, fazendo com que o protagonista se depare com problemas e situações que o farão amadurecer e conhecer novas pessoas para ajudá-lo na resolução do problema.

É aqui que desenvolvemos subtramas, acrescentamos novos personagens e aprofundamos os personagens (bem como seus relacionamentos entre si). Vamos lançando mão de pistas falsas e escondendo as verdadeiras para que o leitor tenha a impressão de “peças se encaixando” conforme tudo caminha para o final. Aliás, podemos dizer que um bom final é resultado de um bom meio, o que é o motivo pelo qual essa parte é tão complicada de escrever.

Mas paciência, com calma vamos desatando os nós.

Para fins de aumentar o suspense (mesmo que sua história não seja de suspense) e instigar o leitor a prosseguir na leitura, é interessante alternar nos resultados das ações do protagonista. Se ele apenas ganha, não temos muito interesse em continuar lendo porque já antevemos o final. Se é só derrota, perdemos as esperanças de que algo vai dar certo e fechamos o livro porque também já vemos como acaba. Alterne!

Se ele ora ganha e ora perde, fica mais difícil perceber como a história realmente caminha. Não tenha medo de tirar coisas do seu personagem, de fazê-lo perder coisas ou pessoas, tampouco de fazê-lo errar. Tudo isso vai melhorar a empatia do público em relação a ele, aumentar o interesse e a curiosidade do leitor, favorecer essas mudanças que tanto são necessárias para ele e tornar sua história mais verossímil.

Para orientar melhor esse caminho, podemos voltar aos pontos de enredo visto nos posts anteriores. É no segundo ato que acontecem:

a) O primeiro Pinch Point (quando o protagonista abraça o conflito, sai do mundo comum e vemos o conflito se agravar, provavelmente com surgimento da força do antagonista);

b) O Mid Point (ponto central, normalmente com uma grande virada causada por uma falha do protagonista; até então, apesar das dificuldades, tudo caminhava para uma vitória do protagonista, mas há um revés que o faz perder o que tinha conseguido até então, o lança em uma nova situação mais complicada ainda ou até mostra que ele não tinha visto o problema por completo ainda, que é muito maior do que sua projeção inicial);

c) O segundo Pitch Point (quando temos um novo evento adverso pra relembrar ao protagonista os riscos, o que está em jogo, tudo o que pode ser perdido se ele falhar novamente; é quando temos a sensação de que tudo está perdido, o clássico “agora f*deu tudo de vez”).

Todos esses conflitos, idas e vindas, falhas e recomeços servirão pra levar o seu protagonista ao segundo ponto do enredo e fechar o segundo ato quando ele faz a segunda grande escolha da trama: ao perceber que é tudo ou nada, o protagonista resolve arriscar tudo o que tem e parte para a parte mais perigosa e arriscada de conseguir seus objetivos.

É aqui que o detetive vi atrás pessoalmente do assassino disposto a confrontá-lo cara a cara e sair na mão se for preciso; que o mocinho larga tudo e vai atrás de seu amor que está indo para o aeroporto sumir de sua vida de vez; que o Escolhido reúne o que sobrou de seu exército para a última batalha épica contra o poderio do mal; que a criança abandonada resolve confrontar seus pais sobre o motivo de ter sido deixada para trás; que o esportista recém recuperado de uma lesão grave resolve competir na prova de sua vida mesmo sabendo que pode se machucar de novo.

E é aqui que a gente fica que não passa nem wi-fi ~em certas partes~: se estamos lendo, ficamos extremamente ansiosos em saber no que isso vai dar; se estamos escrevendo, só nos resta torcer para ter feito tudo direitinho e não ter nenhum leitor com tochas e forcados na porta quando o último capítulo sair.

Apenas lembrando que, assim como no final do primeiro ato, o personagem PRECISA tomar atitude. A responsabilidade recai sobre seus ombros e ele age de forma ativa, não apenas reagindo às circunstâncias.

Agora podemos ir para o terceiro e último ato.

3) Resolução

Daqui por diante, não teremos mais nenhuma trama ou personagem novo, apenas a resolução de todos os conflitos e situações que foram desenvolvidas até o momento. É importante ter isso em mente porque, mesmo quando estamos falando de séries de livros, por exemplo, tendemos a achar que já precisamos meter todos os ganchos do livro seguinte no fim do primeiro.

Não, vamos com calma.

Primeiro precisamos fechar a trama principal da primeira história para lançar as bases da seguinte. Nessa fase de resolução, temos o protagonista sentindo o peso do mundo nos ombros se encaminhando para o momento mais importante de toda sua trajetória indo para o tudo ou nada contra seu antagonista ou contra a situação/evento que ocupa esta função.

O embate acontece e chegamos ao clímax. A luta final do bem contra o mal, o reencontro do casal protagonista para decidirem se ficam juntos ou não, o detetive chegando para tentar salvar a mais nova vítima das garras do assassino e se tornando o alvo, enfim... Toda a sua história caminha para chegar a este momento, então ele vai exigir que você se dedique muito a ele para que o leitor tenha a sensação de que todas as páginas passadas até o momento valeram a pena.

Por isso, podemos dizer que o autor sente o peso de toda a história nos ombros aqui também.

A resolução do conflito final pode seguir três caminhos, como já vimos. Vitória, derrota e meio-termo; e assim chegamos ao desfecho, em que tudo pelo que o protagonista passou o leva a uma nova forma de ver as coisas, que muda de forma permanente o seu “ser e estar” no mundo comum anterior.

Se sua história é um livro único, deve se encerrar aqui (com o retorno do protagonista para seu lugar de origem, mas completamente transformado; ou aceitando as mudanças permanentes e reconstruindo sua vida de outra maneira).

Se é uma série com história(s) subsequente(s), podemos já introduzir quais os problemas que ele irá se defrontar na história seguinte. Falaremos sobre como planejar séries mais na frente. Por hora, lembre-se (independentemente de quantas histórias você quer escrever) que a forma mais rápida de matar sua história e fazer com o que os leitores passem longe de tudo o que você venha a escrever no futuro é fazer um final apressado.

Tire seu próprio tempo para desenvolver o terceiro ato e tenha calma. Compreenda como se faz cada etapa e revise quantas vezes achar necessário para ter certeza de que tudo está caminhando bem e em um bom ritmo. Se precisar de alguma ajuda, nós, betas, estamos aqui justamente para isso.

 

Esta estrutura é ótima para quem gosta de planejar tudo certinho porque nos ajuda a pensar na história por etapas e nos permite detalhá-las a nosso gosto.

Mas os improvisadores também podem se beneficiar de duas formas: ou escrevendo primeiro e verificando se está seguindo cada etapa na revisão (claro, fazendo eventuais ajustes par evitar pontas soltas e personagens ou pontos da trama mal desenvolvidos), ou ainda fazendo apenas um esboço geral e deixar para detalhar tudo direitinho quando passa para a fase de escrita.

Por hoje é só (?), mas logo voltaremos para mais uma parte de nossa série, dessa vez abordando uma estrutura que eu nem conhecia até começar a pesquisar (a “Beat by Beat”). E lembrando que, para construir todo esse texto, usei vários sites e guias como base, mas sobretudo o post sobre o tema do site Ficcionados, os exemplos do site Dicas de Escrita e a série sobre a estrutura dos três atos feita pela escritora Karina Heid.

Então é isso e até a próxima parte. 

Vão escrever! Hahaha


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