Por: Michele Bran
Olar, como vão? Preparados
para continuarmos discutindo sobre a tão conhecida estrutura dos três atos?
Se você caiu aqui de paraquedas e está mais perdido do que eu tentando me organizar na bagunça que meu próprio computador virou (rs), não se esqueça de ler a parte um (e checar os outros posts da série que estão linkados lá).
Não deixe de conferir
os outros posts dessa série. Já conversamos em geral sobre o que é um planejamento, o que deve ter e
as principais características; o método Snowflake; o método dos sete pontos, que
foi dividido em parte um e dois; uma dobradinha com o método dos três pontos e o
de outline de capítulos; mais uma dobradinha com os métodos flashlight e
fluxograma; e o método dos cinco pontos.
2)
Preparação
Agora
vamos acompanhar seu personagem pelo maior trecho do livro, os próximos 50%
seguintes. A palavra-chave daqui em diante é: progressividade. Ou seja:
apresente os conflitos de forma gradativa e progressiva, fazendo com que o
protagonista se depare com problemas e situações que o farão amadurecer e
conhecer novas pessoas para ajudá-lo na resolução do problema.
É aqui
que desenvolvemos subtramas, acrescentamos novos personagens e aprofundamos os
personagens (bem como seus relacionamentos entre si). Vamos lançando mão de
pistas falsas e escondendo as verdadeiras para que o leitor tenha a impressão
de “peças se encaixando” conforme tudo caminha para o final. Aliás, podemos
dizer que um bom final é resultado de um bom meio, o que é o motivo pelo qual
essa parte é tão complicada de escrever.
Mas
paciência, com calma vamos desatando os nós.
Para fins
de aumentar o suspense (mesmo que sua história não seja de suspense) e instigar
o leitor a prosseguir na leitura, é interessante alternar nos resultados das
ações do protagonista. Se ele apenas ganha, não temos muito interesse em
continuar lendo porque já antevemos o final. Se é só derrota, perdemos as
esperanças de que algo vai dar certo e fechamos o livro porque também já vemos
como acaba. Alterne!
Se ele
ora ganha e ora perde, fica mais difícil perceber como a história realmente
caminha. Não tenha medo de tirar coisas do seu personagem, de fazê-lo perder
coisas ou pessoas, tampouco de fazê-lo errar. Tudo isso vai melhorar a empatia
do público em relação a ele, aumentar o interesse e a curiosidade do leitor,
favorecer essas mudanças que tanto são necessárias para ele e tornar sua
história mais verossímil.
Para
orientar melhor esse caminho, podemos voltar aos pontos de enredo visto nos
posts anteriores. É no segundo ato que acontecem:
a) O
primeiro Pinch Point (quando o protagonista abraça o conflito, sai do mundo
comum e vemos o conflito se agravar, provavelmente com surgimento da força do
antagonista);
b) O Mid
Point (ponto central, normalmente com uma grande virada causada por uma falha
do protagonista; até então, apesar das dificuldades, tudo caminhava para uma
vitória do protagonista, mas há um revés que o faz perder o que tinha
conseguido até então, o lança em uma nova situação mais complicada ainda ou até
mostra que ele não tinha visto o problema por completo ainda, que é muito maior
do que sua projeção inicial);
c) O
segundo Pitch Point (quando temos um novo evento adverso pra relembrar ao
protagonista os riscos, o que está em jogo, tudo o que pode ser perdido se ele
falhar novamente; é quando temos a sensação de que tudo está perdido, o
clássico “agora f*deu tudo de vez”).
Todos
esses conflitos, idas e vindas, falhas e recomeços servirão pra levar o seu
protagonista ao segundo ponto do enredo e fechar o segundo ato quando ele faz a
segunda grande escolha da trama: ao perceber que é tudo ou nada, o protagonista
resolve arriscar tudo o que tem e parte para a parte mais perigosa e arriscada
de conseguir seus objetivos.
É aqui
que o detetive vi atrás pessoalmente do assassino disposto a confrontá-lo cara
a cara e sair na mão se for preciso; que o mocinho larga tudo e vai atrás de
seu amor que está indo para o aeroporto sumir de sua vida de vez; que o
Escolhido reúne o que sobrou de seu exército para a última batalha épica contra
o poderio do mal; que a criança abandonada resolve confrontar seus pais sobre o
motivo de ter sido deixada para trás; que o esportista recém recuperado de uma
lesão grave resolve competir na prova de sua vida mesmo sabendo que pode se
machucar de novo.
E é aqui
que a gente fica que não passa nem wi-fi ~em certas partes~: se estamos lendo,
ficamos extremamente ansiosos em saber no que isso vai dar; se estamos
escrevendo, só nos resta torcer para ter feito tudo direitinho e não ter nenhum
leitor com tochas e forcados na porta quando o último capítulo sair.
Apenas
lembrando que, assim como no final do primeiro ato, o personagem PRECISA tomar
atitude. A responsabilidade recai sobre seus ombros e ele age de forma ativa,
não apenas reagindo às circunstâncias.
Agora
podemos ir para o terceiro e último ato.
3)
Resolução
Daqui por
diante, não teremos mais nenhuma trama ou personagem novo, apenas a resolução
de todos os conflitos e situações que foram desenvolvidas até o momento. É
importante ter isso em mente porque, mesmo quando estamos falando de séries de
livros, por exemplo, tendemos a achar que já precisamos meter todos os ganchos
do livro seguinte no fim do primeiro.
Não,
vamos com calma.
Primeiro
precisamos fechar a trama principal da primeira história para lançar as bases
da seguinte. Nessa fase de resolução, temos o protagonista sentindo o peso do
mundo nos ombros se encaminhando para o momento mais importante de toda sua
trajetória indo para o tudo ou nada contra seu antagonista ou contra a situação/evento
que ocupa esta função.
O embate
acontece e chegamos ao clímax. A luta final do bem contra o mal, o reencontro
do casal protagonista para decidirem se ficam juntos ou não, o detetive
chegando para tentar salvar a mais nova vítima das garras do assassino e se
tornando o alvo, enfim... Toda a sua história caminha para chegar a este
momento, então ele vai exigir que você se dedique muito a ele para que o leitor
tenha a sensação de que todas as páginas passadas até o momento valeram a pena.
Por isso,
podemos dizer que o autor sente o peso de toda a história nos ombros aqui
também.
A
resolução do conflito final pode seguir três caminhos, como já vimos. Vitória,
derrota e meio-termo; e assim chegamos ao desfecho, em que tudo pelo que o
protagonista passou o leva a uma nova forma de ver as coisas, que muda de forma
permanente o seu “ser e estar” no mundo comum anterior.
Se sua
história é um livro único, deve se encerrar aqui (com o retorno do protagonista
para seu lugar de origem, mas completamente transformado; ou aceitando as
mudanças permanentes e reconstruindo sua vida de outra maneira).
Se é uma
série com história(s) subsequente(s), podemos já introduzir quais os problemas
que ele irá se defrontar na história seguinte. Falaremos sobre como planejar
séries mais na frente. Por hora, lembre-se (independentemente de quantas
histórias você quer escrever) que a forma mais rápida de matar sua história e
fazer com o que os leitores passem longe de tudo o que você venha a escrever no
futuro é fazer um final apressado.
Tire seu
próprio tempo para desenvolver o terceiro ato e tenha calma. Compreenda como se
faz cada etapa e revise quantas vezes achar necessário para ter certeza de que
tudo está caminhando bem e em um bom ritmo. Se precisar de alguma ajuda, nós,
betas, estamos aqui justamente para isso.
Esta
estrutura é ótima para quem gosta de planejar tudo certinho porque nos ajuda a
pensar na história por etapas e nos permite detalhá-las a nosso gosto.
Mas os
improvisadores também podem se beneficiar de duas formas: ou escrevendo
primeiro e verificando se está seguindo cada etapa na revisão (claro, fazendo
eventuais ajustes par evitar pontas soltas e personagens ou pontos da trama mal
desenvolvidos), ou ainda fazendo apenas um esboço geral e deixar para detalhar
tudo direitinho quando passa para a fase de escrita.
Por hoje
é só (?), mas logo voltaremos para mais uma parte de nossa série, dessa vez
abordando uma estrutura que eu nem conhecia até começar a pesquisar (a “Beat by
Beat”). E lembrando que, para construir todo esse texto, usei vários sites e
guias como base, mas sobretudo o post sobre o tema do site Ficcionados, os exemplos do site Dicas de
Escrita e a série sobre a estrutura
dos três atos feita pela escritora Karina Heid.
Então é isso e até a próxima parte.
Vão escrever! Hahaha
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