Planeje sua história com a gente 6: Método dos Cinco Pontos

domingo, 14 de junho de 2020

Por: Michele Bran

Olá, pessoas. Tudo bem? Espero que sim.

Como o prometido na última postagem da série, hoje vamos conversar um pouco sobre o Método dos Cinco Pontos (ou Estrutura dos Cinco Pontos).

Antes, caso você tenha acabado de chegar, não deixe de ler o restante dos posts: a introdução, o Método Snowflake, Método dos Sete Pontos parte 1 e parte 2, Método dos Três Pontos e Outline de Capítulos e os Métodos Flashlight e Fluxograma. Espero que goste e agora vamos ao post de hoje.

O Método dos Cinco Pontos é bastante usado no cinema, junto com a Jornada do Herói (da qual trataremos em post futuro), mas ambas também são bastante usadas na prosa, embora os Cinco Pontos sejam encontrados apenas mais recentemente.

Ao longo das minhas pesquisas, acabei encontrando três versões da mesma estrutura, então vou tentar abordar todas elas aqui. Let’s go!

 

Método dos Cinco Pontos-Chave

A primeira versão da estrutura é bastante semelhante aos métodos dos Três e Sete Pontos, ficando quase que no meio do caminho mesmo entre os dois. Aqui, vamos pensar a história em cinco momentos fundamentais para a trama, o que serve inclusive para você marcar o ritmo do enredo e ter certo controle de sua progressão. Começamos com o…

Evento Incitante (Inciting Event)

Aqui, temos o começo da história (ou a vida cotidiana de seu protagonista) alterada de uma forma considerável por algum acontecimento ou descoberta chocante. Como o próprio nome sugere, é o evento incitante que vai dar o “pontapé inicial” na rede de conflitos e problemas em que o coitado do seu personagem principal vai se meter.

Em um filme, normalmente acontece nos primeiros quinze minutos. Ele nos levará ao…

Primeiro Ponto da Trama

Ou Plot Point I em gringo language (rs).

O personagem percebe que precisa de fato agir para recuperar a normalidade de sua vida e começa a definir estratégias para isso, fazer seu “plano de ação”, podendo contar ou não com aliados para isso. Em um script para o cinema, é esperado que ele apareça em torno na vigésima quinta página e dele nós seguimos para o…

Ponto do Meio (Midpoint)

O personagem começa a agir de acordo com o que tinha planejado para resolver seu problema, mas um evento negativo maior ainda acontece, forçando-o a mudar de estratégia, conseguir mais aliados, buscar um novo caminho, etc. O personagem é confrontado com o fracasso de suas ações ou com um novo desastre e precisa mudar sua forma de agir. Daqui, chegamos ao…

Segundo Ponto da Trama (Plot Point II)

A crise se intensifica e o personagem chega ao ponto em que pensa que tudo pode estar perdido. Ele, certamente, estará triste pelas perdas que teve que enfrentar no meio do caminho, tenso, confuso, com medo ou cheio de raiva; mas mesmo assim há uma grande responsabilidade pesando sobre seus ombros e forçando-o para frente, uma vez que não há mais ponto de retorno. A decisão que ele toma a seguir nos faz alcançar o…

Clímax

É o ponto de maior tensão na trama: o personagem age e consegue um resultado, que pode ser positivo (resolvendo seu problema por completo), negativo (tudo dá errado de fato) ou até agridoce (quando ele ganha algo e perde outra coisa importante também).

É o ponto pelo qual os leitores esperaram toda a história, portanto é fundamental que a trama seja resolvida por completo (a menos que seja seu objetivo deixar um final aberto ou a história tenha continuação).

 

 

Agora vamos para a primeira variação da estrutura.

Cinco Pontos de Virada da Trama

Aqui o foco são nos famosos “plot twists”, quando um evento inesperado acontece e leva trama para um lugar diferente do que planejamos. Entre cada um dos pontos, teríamos os “estágios”. Na prática, temos bem mais de cinco pontos, uma vez que contamos com os estágios, mas o foco aqui está nos pontos de virada, não nos pontos de desenvolvimento da trama em si (embora alguns sites também chamem essa versão de “Estrutura dos Seis Estágios”). Abaixo, uma imagem que representa melhor esta estrutura:

 

Estágio 1: Configuração Inicial (ou Setup)

Corresponde aos primeiros 10% da história (do livro ou do filme) e, como já vimos, deve mostrar seu personagem em seu cotidiano, seu dia-a-dia, mostrando para nós um pouco de sua personalidade e dos outros personagens mais próximos dele (família, amigos, etc), bem como seu objetivo de vida. Vemos o que, afinal, ele quer conseguir.

Ponto de Virada 1: A Oportunidade

Aqui aparece para o personagem uma chance de conseguir realizar esse desejo, que pode dar certo ou errado. Isso nos leva ao estágio seguinte.

Estágio 2: Nova Situação

Após o personagem aproveitar ou não a oportunidade recebida, ele acaba precisando se acostumar com uma nova realidade que surge em sua vida. Novos personagens surgem (para ajudar ou atrapalhar) e as mudanças podem ser positivas ou negativas. Ao final do segundo estágio, já alcançamos os primeiros 25% da trama.

Ponto de Virada 2: Mudança de Planos

No segundo ponto de virada, temos o personagem diante de uma situação inesperada que o fará perceber a necessidade de mudar seu caminho para atingir seu objetivo. Espera-se que o personagem, nesse período, passe por algumas “turbulências” emocionais, que aprofundarão sua personalidade e farão o leitor sentir mais ainda seus dramas, medos e conflitos internos.

Seu “mundo interior” o levará a uma decisão e, então, entramos no próximo estágio.

Estágio 3: Progresso

Nos próximos 25% da história, vemos o personagem trabalhando para alcançar sua meta, reunindo recursos, conseguindo aliados, adquirindo habilidades e formulando estratégias. A despeito do nome, não quer dizer que ele não enfrentará obstáculos, mas sim que ele será capaz de superá-los, dando-lhe uma falsa impressão de que alcançará com facilidade seu objetivo.

Ponto de Virada 3: Ponto de Não-Retorno

Até então, o protagonista poderia simplesmente deixar para lá seu objetivo inicial, voltar a viver sua vida simples (ou talvez não tão simples assim) e deixar para trás todos os conflitos que precisou resolver.

É no exato meio da história que ele será confrontado com algum evento que o fará perceber que desistir não é mais uma opção. Ele já progrediu tanto em sua busca que, a certa altura, está tudo completamente mudado e ele não pode mais simplesmente deixar tudo e voltar ao que era. Nada mais será como antes, e ele não tem escolha: precisa seguir até o fim.

Estágio 4: Complicações e Alto Risco

Se até o momento o personagem achava que as coisas estavam complicadas e ele tinha chegado ao fundo do poço no terceiro ponto de virada, daqui em diante ele vai continuar cavando, coitado.

Pelos próximos 25% da história, ele terá que lidar com obstáculos ainda maiores e mais frequentes. Ele tem muito mais a perder se falhar, e essa alternativa parece mais real a cada capítulo (ou minuto do filme).

Ponto de Virada 4: O Grande Revés

O que parecia inevitável acontece e algo deve acontecer para levar seu leitor a pensar que f*deu tudo e o personagem está verdadeiramente encrencado. Se havia alguma chance de vitória antes, aqui ela deve parecer por completo perdida e fora do alcance do protagonista.

Estágio 5: O Empurrão Final

O personagem resolve arriscar tudo o que tem confrontando o vilão, antagonista ou situação adversa que atravessou seu caminho. Aqui, o objetivo do personagem normalmente é alcançado, restando ainda o conflito da história no meio do caminho.

Basicamente, teremos duas metas caminhando em paralelo por toda a trama: a demanda interna do protagonista e a externa, que dirige todo o plot. Por exemplo, se o protagonista quer salvar o mundo e conquistar a pessoa amada, a primeira meta é a geral, da história, e a segunda, sua meta particular. E essa meta particular, geralmente, é resolvida aqui.

Ponto de Virada 5: Clímax

Aqui, vemos se desenrolar o confronto final, a grande batalha, a revelação de uma grande verdade, enfim, o grande evento do livro, pelo qual nós esperamos todo o tempo. A grande treta do livro ou filme é, finalmente, resolvida e o resultado pode ser, como já vimos, feliz, triste ou um meio-termo para o protagonista. Depende do seu tipo de história, estilo de escrita etc.

(Eu, particularmente, sou a louca dos finais felizes ou agridoces mais positivos. Se sei que o personagem lutou a vida toda para morrer ou se ferrar no final, nem começo a ler. Leio para me iludir mesmo. Se quisesse realidade, ia ver jornal, não é mesmo?).

Estágio 6: O Resultado

Obviamente, a história não pode simplesmente acabar depois do fim da grande batalha entre o bem e o mal, não é mesmo?

Aqui vemos o que acontece depois do clímax, que normalmente envolve o personagem voltando para casa totalmente transformado depois dessa jornada, o que dificilmente o fará ter uma vida “normal” de novo.

Esses dois últimos pontos variam em relação à porcentagem do livro. O Clímax pode ocorrer nos 90% da trama e deixar o Resultado nos últimos 10%. Ou podemos também ter o clímax nos 99% e um pouco espaço para as consequências. Depende de quão grandiosa foi a trama, de quantas transformações aconteceram e do que ainda será necessário mostrar depois.

 

E agora, para encerrar, vamos à última variação dessa estrutura.

Cinco Pontos 2.0

Essa variação é também denominada de Pirâmide de Freytag, por ter sido formulada por Gustav Freytag ao analisar histórias contadas desde a antiguidade, incluindo diversas mitologias. Segundo sua formulação, temos a estrutura a seguir:

 

Para não ficarmos repetindo as palavras e esticando demais o post desnecessariamente, resumamos: começamos com a Exposição, onde mostramos o personagem e seu cotidiano, até que acontece o evento incitante que nos leva a uma Ação Crescente, em que temos um crescente na tensão. O personagem se depara os com obstáculos e, aos poucos, tem cada vez mais o que perder.

As complicações nos levam ao Clímax, onde a tensão atinge seu ponto máximo e o conflito principal se resolve. Aos poucos, o personagem volta à normalidade (ou ao mais perto disso que lhe é possível) em uma Ação Decrescente, em que ele colhe os frutos de suas ações até o momento.

Por fim, chegamos ao Desfecho, em que o conflito já está resolvido e o personagem pode descansar (nem que seja só até o próximo livro).


O método (em qualquer versão) é excelente para planejadores porque, assim como o de sete pontos, permite que se tenha uma visão geral do esqueleto da história, permitindo pensar com cuidado os pontos principais e saber exatamente que rumo a história deve seguir, bem como nos deixa pensar com carinho em cada ponto de virada para saber onde vamos quebrar a expectativa e surpreender nosso leitor.

Para improvisadores e pessoas que ficam no meio do caminho, também é importante porque dá para ter essa visão geral de forma resumida, ou pensar nos pontos conforme a história avança, sendo também bastante flexível e útil. Temos um esqueleto geral e podemos improvisar a partir dali.

 

Por hoje é só, pessoal. Espero que tenham gostado e nos vemos no próximo post com a tão conhecida Estrutura dos Três Atos, que deve ser uma das mais famosas junto com o Snowflake e o Outline (que falaremos depois).

Beijinhos e até lá.



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