Olá, gente.
Mais uma vez estamos aqui para
desvendar os segredos de uma nova forma de estruturar e planejar sua história.
Mas antes, como já é de praxe por estas bandas, não deixe de ler os outros
posts da série: o que é um planejamento; o método Snowflake; o método dos sete pontos, que
foi dividido em parte um e dois; uma dobradinha com o método dos três pontos e o
de outline de capítulos; mais uma dobradinha com os métodos flashlight e fluxograma;
o método dos cinco pontos; a estrutura dos
três atos, também dividido em parte
um e dois;
Beat
Sheet, ou Beat by Beat; e agora vamos tratar de uma que, até então, eu nem
fazia ideia de que existia (hehe).
A Abordagem Por Sequências (ou
Sequence Approach) foi proposta pelo roteirista Frank Daniel em seu livro “The
Tools of Screenwriting”. É mais uma forma de planejar pensada,
originalmente, para o cinema, mas que podemos adaptar perfeitamente para
estruturar e organizar nossos enredos.
No cinema, chamamos de
“sequência” conjuntos de cenas com uma unidade de ação dramática.
“Oi?”
Calma, vamos por partes. Aqui,
vamos voltar um pouco (COF) no tempo para falar do teatro grego (olha só como
hoje estamos cultos!). Para Aristóteles, a unidade dramática aponta para o
senso de unidade. A trama precisa formar um todo coeso, do qual se eu tirar
qualquer uma dessas unidades, não teremos o mesmo resultado. Cada unidade,
portanto, é importante e serve ao conjunto.
Citando a diretora e roteirista Renata
Martins, “a unidade dramática seria a unidade vinda do fato de que todas
as vontades do personagem são movidas em direção a um objetivo único, em ações
encadeadas de causa e efeito, sendo que o fim é atrelado ao meio e o meio
ao começo” (grifos meus).
Agora, o conceito de abordagem por sequências fica
mais claro: a estrutura trata de construir a história levando em conta essas
ações encadeadas de causa e consequência, ação e reação, de modo que tudo
esteja interligado e fluindo em direção a um único objetivo.
Tudo isso no teatro, como é no
cinema?
Bem semelhante em termos de
conceito, mas aqui temos uma particularidade: lá atrás, no início do cinema, as
produções cinematográficas mais longas precisavam ser divididas em sequências
menores com começo, meio e fim de forma que pudessem caber nos rolos. Como a
maioria das salas de exibição da época não tinha mais de um projetor, era
frequência uma pausa para troca dos rolos; bem como perdas de rolos durante o
transporte ou até mesmo os responsáveis pela sala decidindo não exibir determinado
rolo.
Esta situação levou os cineastas
a começarem um processo de adaptação e alguns se especializaram em fazer filmes
através dessas sequências. Diz-se que em um filme de duas horas existem oito
minifilmes de 15 minutos, todos com a mesma estrutura: apresentação de um
objetivo, conflito que impede de alcançar essa meta e resolução. Foi dessas
primeiras reflexões que surgiu o embrião dessa forma de estrutura: a 8
Sequence Aproach (Abordagem de Oito Sequências), formulada por Cris Soth.
Uma proposição bem semelhante também foi feita por Paul Joseph Gulino.
Para entender a Abordagem por
Sequências, vamos usar conceitos destes três postuladores, ok? Mas antes vamos
relembrar alguns dos posts anteriores. Lembram do que discutimos na estrutura
de três atos? Como as estruturas, em geral, estão interligadas entre si,
normalmente usamos conceitos de uma das outras. Assim como cada ato mesmo sendo
considerado começo, meio e fim do todo da trama, cada um deles também deve ter
começo meio e fim.
Aqui é parecido. Vamos dividir a
sequência do todo em sequências menores (as unidades dramáticas) que também
devem ter começo, meio e fim (se eu tiver que escrever isso mais uma vez, vou
começar a copiar e colar, porque, né? Hehe). Aqui não temos, exatamente, pontos
de enredo ou beats, o que deixa a estrutura bem flexível e capaz de ser
utilizada em diferentes gêneros.
Vamos a ela, finalmente!
1ª Sequência:
É o começo do primeiro ato,
aquele pedaço que já conhecemos responsável por apresentar o personagem para o
leitor e como é sua vida estabelecida antes do surgimento do problema ou
conflito que ele precisa resolver.
Esta sequência termina no
Incidente Incitante, que é a introdução desse conflito no mundo comum.
2ª Sequência:
Há uma expansão dos elementos
apresentados na sequência anterior com mais detalhes e explicações sobre o
mundo do personagem, apresentação de aliados e inimigos e o surgimento do tema
que norteará a trama.
Também podemos inserir subtramas
e mostrar para o personagem que o problema não se resolverá sozinho, demandando
uma ação ativa por parte dele; que até então podia estar pensando que sua
intervenção não é necessária (herói relutante). Aparece o que está em jogo e o
fará enfrentar os obstáculos.
3ª Sequência:
O protagonista tenta resolver o conflito
de uma forma simples porque, até então, o problema parece ser muito simples. No
entanto, ele começa a perceber que falhou porque suas tentativas dão errado e
acabam piorando a situação inicial ou trazendo problemas novos.
O importante aqui é que essas
tentativas sejam lógicas, mas construídas de forma que não resolvam a situação
de cara. Essa parte da lógica é importante porque sem ela, o público corre o
risco de ficar o resto da história pensando “mas não era mais simples o
protagonista arrumar outra casa para morar que não uma abandonada e velha no
meio do nada que tem fama de ser assombrada?”; que é algo até pelo qual nós
todos já passamos em algum livro, seriado ou filme.
4ª Sequência:
Aqui, começamos o segundo ato.
O personagem fez tudo o que estava
ao seu alcance e, mesmo assim, não obteve o resultado esperado, levando-o a
perceber que será necessário um maior esforço de sua parte.
O protagonista precisa, então, de
outro plano e começa a formulá-lo para depois testá-lo. Contudo, mesmo assim ainda
falha e se frustra — seja por não conseguir executar sua ideia ou por ela ainda
não resolver o conflito.
Aqui, ele não tem todas as
informações necessárias, não tem alguma habilidade suficientemente desenvolvida
ou o poder do antagonista é muito maior do que ele tinha percebido a princípio.
Podem até surgir novos personagens para ajudá-lo ou atrapalhá-lo no meio do
caminho.
Esta sequência termina com a
Primeira Culminação, que aumenta os riscos e leva a história em uma direção
ainda mais complexa; o que chamamos em outras estruturas de Ponto do Meio
(Midpoint).
5ª Sequência:
O plano formulado na sequência
anterior volta a falhar, fazendo o personagem ter uma necessidade ainda maior
de reagrupar e traçar um novo plano de ação. É aqui que ele percebe a necessidade
de mudar e corrigir seus erros, que tem a revelação do motivo de todas as suas
tentativas até então terem sido fracassadas.
Ele se reaproxima dos aliados
(familiares, amigos, interesse romântico) e parte para reunir o que é
necessário para os desafios que ainda precisará vencer (recursos, aliados ou
meramente sua força interna para prosseguir).
Ao fim da sequência, o personagem
deve ter um caminho para triunfar.
6ª Sequência:
O personagem decide trilhar o
caminho e chega ao pior obstáculo. A tensão principal chega ao ponto máximo e
executar o plano traçado quase destrói o protagonista.
7ª Sequência:
Começamos o terceiro e último
ato, o que constitui, segundo o próprio Frank
Daniel, uma diferença dramática na tensão que vivenciamos no segundo ato.
Isto é perceptível quando usamos o recurso de fazer perguntas ao enredo. Em um
filme de suspense policial, a pergunta do segundo ato, normalmente é “conseguiremos
descobrir quem matou a vítima?” enquanto a do terceiro é “nós
conseguiremos pegar o assassino?”.
A pergunta dramática deixa de ser
sobre o que o personagem vai fazer para se tornar “ele vai conseguir fazer
isso?”.
Na sétima sequência, temos então
uma falsa resolução. Parece que sim, tudo vai se resolver.
Até que temos uma reviravolta
final.
8ª Sequência:
Agora começa a resolução
verdadeira da trama, que expande o tema central e traz a moral da história, a
verdadeira lição a ser aprendida pelo protagonista.
Se a ideia aqui é fazer seu
personagem vencer, temos o triunfo. Se o final é negativo, ele fracassa. Ou
temos o final agridoce.
O ponto fundamental é que ele
deve ter aprendido algo e mudado internamente, e toda esta transformação deve
estar clara para o leitor, não importando o resultado alcançado por ele (se um
final feliz, médio ou triste).
E aí, pessoas, curtiram?
Eu não fazia ideia da existência
deste método, mas gostei bastante. Não creio que ele seja assim tão útil para
improvisadores (uma vez que falamos de sequências, onde a seguinte é
diretamente afetada pela anterior), mas quem quiser testar colocando apenas
poucos detalhes ou primeiro ir escrevendo e depois preenchendo as lacunas, pode
ser interessante.
Já os planejadores vão se
deleitar com mais uma estrutura que nos permite ver com clareza o quanto nosso
personagem pode evoluir e mudar ao longo da trama, acompanhando todo o
processo.
Até mais e no próximo post,
falaremos sobre a Escaleta.
Beijos :*
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