Planeje sua história com a gente 8: Beat Sheet

domingo, 13 de setembro de 2020

 


Por: Michele Bran

Oi, pessoal. Espero que vocês estejam bem e escrevendo bastante porque hoje vamos embarcar em mais um post sobre nossa jornada para aprender como se planeja uma história.

Se você acabou de chegar, não deixe de acompanhar meus outros posts com esta temática aqui no blog. Já falei um pouco sobre o que é um planejamento; o método Snowflake; o método dos sete pontos, que foi dividido em parte um e dois; o método dos três pontos e o de outline de capítulos; os métodos flashlight e fluxograma; o método dos cinco pontos; a estrutura dos três atos também em partes um e dois e hoje vamos com mais uma que é bem famosa no mundo do cinema, ainda que a gente quase não ouça falar dela.

A primeira coisa que achei interessante sobre esse método é que ele possui, pelo menos, três nomes conhecidos: Beat Sheet, Beat by Beat ou Método Blake Snyder. Este último se refere ao seu criador, o famoso roteirista americano Blake Snyder. Mas o conceito de “Beat” foi formulado por outro estudioso da área, o Robert McKee, que o definiu como o menor elemento da estrutura dentro da cena, um casamento de ação e reação por parte do personagem, cujo comportamento é o que vai levando aos pontos de virada da trama.

Sim, lá vamos nós falar de pontos de virada de novo. Aliás, o próprio Snyder diz que seu método é como a Estrutura dos Três Atos com “menos vazios” entre cada ato. Assim, não trataremos de três atos; três, cinco ou sete pontos. Aqui vamos mais além e colocamos mais etapas para o desenvolvimento do personagem e para aprofundar a história: falaremos de 15 beats.

Como o método é mais voltado para roteiro, o autor define até em que página cada beat deve aparecer em um roteiro. Como o tamanho de sua história pode variar, vou me focar no conceito de cada beat e usar o número de páginas apenas para uma melhor referência. Então pense sempre em um roteiro padrão de 110 páginas quando eu falar sobre isso ao longo dos beats, okay?

Vamos lá que a estrada é longa.

 

1) Imagem de Abertura (Opening Image)

É, como o próprio nome já diz, a primeira imagem que aparece para o leitor ao abrir sua história; o ponto que deve fisgar a atenção dele. Pode-se até já começar com o problema principal que o personagem precisará enfrentar ao longo da trama.

Aqui, a primeira impressão é a que fica. Justamente nas primeiras linhas é que deve estar claro para o leitor a que sua história veio e se ele deve investir seu tempo na história. Busque fazer começos instigantes, que prendam o leitor e o façam crer que não deve largar sua história até o final.

Em um roteiro, aparece na primeira página (duh!).

 

2) Tema Declarado (Theme Stated)

Qual o tema de sua história? O que ela quer abordar? Qual o tom da escrita? Qual o principal problema a ser resolvido?

É sobre o que trata este ponto. Aqui você vai passar para seu leitor a temática central da trama, que deve relacioná-la a seu gênero literário. Ou seja, se estamos falando de uma história do terror, devemos ter elementos que passem essa aura para o leitor. Ou romance, suspense, comédia, etc. No roteiro, está na quinta página.

 

3) Apresentação (Set Up)

Neste beat (que deve abarcar as 10 primeiras páginas do roteiro), deve-se apresentar o personagem, seu cotidiano, a situação inicial dele, o problema a ser resolvido ao longo do roteiro e até as primeiras falhas, se sobrar tempo.

 

4) Catalisador (Catalyst)

O catalisador pode ser interpretado como o gatilho que dispara a torrente de problemas na cabeça do personagem, aquele evento que começa a transformação de sua realidade em algo totalmente diferente. Espera-se que apareça em torno da 12ª página.

 

5) Debate

É o intervalo entre o catalisador e o fim desse primeiro ato em que o protagonista reflete sobre os eventos e decide como vai agir. Deve aparecer entre as páginas 12 e 25.

 

6) Quebra Para o Segundo (Break Into Two)

Aqui, podemos dizer que entramos no segundo ato, no ponto em que o personagem entra de vez em um mundo totalmente novo após tomar sua decisão no beat anterior. Aparece na página 25.

 

7) Trama B (Story B)

Como eu já tinha mencionado na estrutura dos três atos, é no segundo deles que começamos a desenvolver as subtramas, inserir novos elementos, adicionar novos personagens. O tema principal ainda deve aparecer, obviamente, mas podemos abordar outras linhas na história. Aqui, desenvolvemos relacionamentos e aprofundamos o enredo.

Começa por volta da página 30.

 

8) Diversão e Jogos (Fun and Games)

O personagem explora o novo mundo em que está inserido e interage com os personagens. Aqui, as apostas e os riscos envolvidos ainda não são tão altos, tanto que o personagem se permite estes momentos mais alegres. Porém suas ações se encaminham cada vez mais para mais um ponto de virada na trama.

Espera-se que aconteça entre as páginas 30 e 55.

 

9) Meio (Midpoint)

Aqui, temos o fim da primeira metade do roteiro, bem no meio do segundo ato, e início da segunda metade.

Os problemas se fazem presentes com mais força para o protagonista, acabando com a aura de diversão em que o personagem vinha distraído até o momento. O conflito se torna mais sério, importante, urgente, os riscos aparecem e a trama pode seguir por dois caminhos: ou o personagem está vencendo, o que o leva a uma falsa impressão de que a vitória será alcançada facilmente, ou já perdeu muita coisa e tem uma visão muito negativa do que está acontecendo.

De qualquer forma, isso muda a trama por completo e deve aparecer por volta da página 55.

 

10) Os Caras Maus se Aproximam (Bad Guys Close In)

Com a ilusão de vitória do personagem, o leitor (e até o protagonista) pensa que pode relaxar. É aqui que o antagonista (que pode ser o vilão, um mero antagonista mesmo, algum evento adverso, enfim, as forças contrárias ao protagonista que existam na sua história) e os que estão do seu lado se reagrupam para se replanejarem e atacarem com mais força.

A equipe do protagonista, por outro lado, começa a derreter com inveja, dúvidas, medo, brigas e discordâncias internas. Deve acontecer entre as páginas 55 e 75.

 

11) Tudo Está Perdido (All is Lost)

Como o nome sugere, é o ponto em que a gente pensa que “lascou tudo” (como a gente diz aqui no meu país nordeste). O mal não desiste de vencer, o protagonista está acuado e com seu time em frangalhos. Tudo para ele parece estar mais difícil e ele sente a morte ou a perda de algo/alguém nos calcanhares.

Esse processo pode ser físico ou emocional e deve aparecer na página 75.

 

12) Noite Escura da Alma (Dark Night of the Soul)

É o momento de maior crise do personagem, em que acontece uma morte, uma perda ou uma grande ruptura em seus sonhos e metas.

Mas isso não deve significar que tudo, será de fato perdido, a menos que você queria fazer um final negativo para o personagem. Caso contrário, ele deve chegar ao fundo do poço para buscar impulso e voltar a subir. É mais um momento de escolha do personagem, e é a partir de suas ações que fechamos o segundo ato e podemos ir para o próximo beat.

Deve aparecer entre as páginas 75 e 85.

 

13) Quebra Para O Terceiro (Break Into Three)

Chegar no ponto mais crítico fará o personagem ver a situação por outro lado, decidir que caminho seguir e levá-lo a, de fato, começar a agir no sentido de sua decisão, conseguindo o conhecimento e/ou as habilidades necessárias para resolver tanto a trama A quanto a B.

Normalmente, é aqui que trama principal e subtramas se encontram e o protagonista formula um novo plano, preparando-se para se colocar em ação. Deve aparecer na página 85.

 

14) Final (Finale)

Todas as lições aprendidas e as habilidades adquiridas são colocadas em prática e o tema estabelecido lá no começo, finalmente, faz sentido para o personagem (e também para o leitor). Ele encontra as respostas para o conflito e age de forma a resolvê-lo. Aqui, ele — normalmente — triunfa, mas dependendo de sua intenção ou estilo de história, pode fracassar ou ficar no meio do caminho.

Agora podemos passar para o último beat, e este acontece da página 85 a página 110.

 

15) Imagem Final (Final Image)

Depois de tudo pelo que o protagonista passou, ainda que ele volte para seu “mundo comum”, estará completamente transformado, deixando seu “eu” antigo para trás e, se for o caso, erguendo um novo mundo. Por isso, dizemos que a imagem final deve ser o espelho da imagem inicial, tornando-se o oposto.

É a prova perceptível da mudança interna pela qual o protagonista passou ao longo de toda a trama e deve aparecer na página 110.


Assim como muitas das estruturas estudadas até o momento, o Beat Sheet é ótimo para improvisadores porque ajuda a ter uma imagem geral da história antes de começar a escrever enquanto, por outro lado, você pode ir decidindo os beats conforme a história avança de acordo com as reações de seu personagem aos eventos apresentados.

Já os planejadores também podem se beneficiar bastante porque é uma estrutura que permite pensar em todas as partes da trama, levando a uma crescente na tensão e a uma jornada de mudança efetiva e perceptível no interior do personagem; que é o que gostamos de ver na história.

Por hoje é só, pessoal.

Beijos e espero que estejam gostando da série. No próximo post, trataremos do método “Abordagem por Sequências”, que é mais um dos que eu nem sabia que existia até começar a pesquisar as estruturas de forma mais aprofundada (hehe). Fui :*

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