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As 10 Melhores Dicas de Grandes Autores

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Por Michele Bran 
Nyah: https://fanfiction.com.br/u/5389/

Olá, pessoal.
Como estão? Espero que escrevendo bastante!
E por falar em escrita, vamos pegar umas diquinhas hoje com quem manja da coisa? Em minhas muitas andanças pelo mundo da interwebz, cavando links para me ajudar a escrever melhor, encontrei uma coleção de posts com dicas de gente grande no meio que me foram muito úteis, desde as questões mais complicadas até as mais simples (cujas soluções, muitas vezes, estão na nossa cara e não conseguimos enxergar).
Pensando que tais pensamentos poderiam ajudar outras pessoas tanto quanto me ajudaram, fiz um post a respeito com o melhor do melhor das dicas que encontrei.
Pega o bloquinho de notas pra registrar tudo e não esquecer, e vem comigo!

1) Aceite críticas:
Em uma carta ao seu editor, Tolkien mencionou alguns comentários que C. S. Lewis fez sobre “O Senhor dos Anéis”. Nas palavras do próprio:
“Quando ele dizia, ‘Você pode fazer melhor do que isso. Melhor, Tolkien, por favor!’, eu tentava fazer. Eu sentava e escrevia a seção repetidas vezes. Isso aconteceu com a cena que acho que é a melhor do livro: o confronto entre Gandalf e seu mago rival, Saruman, na cidade destruída de Isengard”.
Há críticas que são necessárias para melhorarmos nossa forma de escrever. Alguém que está de fora pode ver seu trabalho com outros olhos e encontrar as mínimas falhas, que não conseguimos ver por estamos tão acostumados com o texto.
Saber ouvir essas sugestões e, sobretudo, separar as que vão ajudar das que não vão é fundamental. Saiba ouvir seus leitores, seus amigos, seu(s) beta(s).
E, por favor, chega de espalhar que críticos são necessariamente haters, frustrados ou invejosos. Se até o Tolkien aceitava críticas de boas, quem somos nós, pobres mortais, pra fazer mimimi?

2) Leia bastante:
Parece óbvio, mas ainda vejo pessoas internet a fora que mal terminal a leitura de um conto curto e querem ser os próximos pica das galáxias quando o assunto é escrever. Sobre isso, temos opiniões de peso.
G. R. R. Martin (juro que o “opinião de peso” e o Martin no mesmo post não foi piadoca de mal gosto rs) já nos diz “eu acho que, a coisa mais importante para qualquer aspirante a escritor, é ler. (...) Você precisa ler de tudo. Leia a história, ficção histórica, biografias, leia novelas de mistério, fantasia, ficção cientifica, horror, os sucessos, literatura clássica, erótica, aventura, sátira. Cada escritor vai ter algo para ensinar a você (...)”.
Ray Bradbury também recomenda que os autores leiam bastante para melhorar seu lado intelectual, desde histórias curtas e poemas a textos de política, biologia, filosofia, entre outros. O mais interessante é que ele recomenda que se faça isso antes de dormir: “no final de mil noites, você estará cheio de material”.
Por último, temos Stephen King e seu conselho curto e grosso: “se você não tem tempo para ler, você não tem tempo ou as ferramentas [necessárias] para escrever”.

3) Escreva:
De nada adianta querer ser escritor sem escrever porra nenhuma (preciso tatuar isso, pra ver se aprendo). O Martin aconselha escrever todos os dias, ainda que uma ou duas páginas, pois é apenas praticando que você pode melhorar sua forma de escrever.
Mas escritores de fanfics, atenção: “Mas não escreva no meu universo, no de Tolkien, no universo Marvel, de Star Trek ou em qualquer outro que você pegue emprestado. Cada escritor precisa aprender a criar seus próprios personagens, mundos e configurações. Usar o mundo de outro é o método preguiçoso. Se você não exercitar esses “músculos literários”, você nunca vai desenvolvê-los”.
Claro que se você não quer ser um escritor profissional um dia, pode ficar feliz escrevendo somente suas fanfics. Então registre a ferro e fogo apenas mais essa dica do Stephen King e elimine qualquer coisa que possa distrair você da atividade de escrever, como telefone/celular, TV ou videogame.

4) Descanse:
Como toda atividade, física ou intelectual, escrever também cansa e, para não desistir, você precisa de uma pausa. Refrescar a mente com outras atividades, seja leitura, exercícios físicos, ou atividades domésticas é sempre uma boa pedida.
O autor Chuck Palahniuk recomenda: “Alternar entre o trabalho cerebral de escrever com o trabalho não-pensante da máquina de lavar roupas ou pratos te dará os intervalos que você precisa para que novas ideias e epifanias ocorram. Se você não sabe o que vem a seguir na estória… limpe seu banheiro. Troque os lençóis. Pelo amor de Cristo, tire a poeira do computador. Uma ideia melhor surgirá”.
Mas também não vale parar de qualquer jeito. Hemingway dizia que o melhor é parar quando você está indo bem na escrita e sabe o que virá nas cenas seguintes. Assim, sua mente estará sempre trabalhando no texto ativamente, o que pode evitar o tão temido bloqueio criativo.

5) Comece devagar:
Se você começou a escrever há pouco tempo, talvez não conseguirá fazer um bom trabalho se já começar de cara fazendo séries gigantes. Sobre isso, Martin e Bradbury pensam o mesmo: é como querer aprender a escalar começando pelo Everest e leva tempo demais. Comece com histórias curtas e contos, que não apenas vão ajudá-lo a aprender como desenvolver personagens e enredo, como podem ser o pontapé inicial para você se tornar mais conhecido, caso resolva participar de antologias.
Trabalhe com calma e lembre, como já sugere King, que você deve escrever uma palavra de cada vez. Dificuldades vão surgir sempre, seja por você não curtir algumas coisas em sua escrita ou por problemas pessoais, mas não se apresse.
Faça como Tolkien e mantenha-se firme. Se ele conseguiu lidar com doenças, problemas pessoais e um filho na Guerra enquanto escrevia obras fodas como “O Senhor dos Aneis” e “O Hobbit”, nós também podemos. É só manter o foco e não parar. 

6) Pense sobre suas cenas e personagens:
Como nós sabemos, as histórias precisam ter uma razão de ser e os personagens, de um objetivo. Antes de começar cada história, é interessante que o autor já tenha pensado em tudo isso. Já falei em inúmeros outros posts do meu blog sobre a importância de planejar sua história, mas é algo tão fundamental que não custa bater de novo na tecla em qualquer lugar onde eu ponha os pés.
Nas palavras de Chuck Palahniuk: “Antes de sentar e escrever uma cena, pondere sobre ela em sua mente e saiba o propósito daquela cena. Para quais tramas anteriores esta cena vai ser vantajosa? O que isso criará para as cenas seguintes? Como esta cena levará seu enredo adiante? Conforme você trabalha, dirige, se exercita, tenha apenas esta questão em sua mente. Tome algumas notas conforme tiver ideias. E apenas quando você decidiu a ‘coluna vertebral’ daquela cena – então, sente e escreva-a. Não vá até aquele computador chato e empoeirado sem algo em mente. E não faça seu [personagem] se esforçar ao longo de uma cena na qual pouco ou nada acontece”.
Já sobre os objetivos dos personagens, todos eles precisam ter algo que os motive, que mova para frente eles e a história. Como já dizia Kurt Vonnegut, “todo personagem deve querer alguma coisa, nem que seja só um copo de água”.
Mas claro, preocupe-se também em passar os sentimentos e modos de ver o mundo daquele personagem da forma mais verdadeira que puder. Para Hemingway, escrever bem é escrever com sinceridade.

7) Não poupe ninguém, nem você:
Escrever tem ótimos momentos, como criar um universo, criar personagens críveis, divertir os leitores... Mas também tem as partes sofridas. Como por exemplo, ter que se livrar de personagens, cenas ou tramas que a gente aprendeu a gostar tanto ao longo do processo de escrita.
Vários autores falam sobre a importância desse desapego literário, mas selecionei minhas três citações preferidas. John Steinbeck já alertava “Cuidado com cenas que se tornam muito queridas para você, mais do que as outras”. Pode ser que elas se mostrem supérfluas e você precise retirá-las em algum momento. Então não se apegue. 
Também não se apegue a personagens. Kurt Vonnegut já recomendava que os autores fossem sádicos e fizessem coisas terríveis acontecerem aos personagens se fosse necessário, não importando quão doces ou inocentes eles fossem.
Stephen King é ainda mais drástico: “mate seus queridinhos, mesmo que isso destrua seu coraçãozinho egocêntrico”.
Desnecessário dizer que o Martin segue isso à risca e eu ainda preciso aprender muito com esses caras, não é?

8) Não escreva somente pensando no público:
Outra dica fundamental é não escrever apenas pensando no que os outros querem ler, em como conseguir leitores ou fazer sucesso. Menos ainda pensando no que os outros vão pensar de mal do seu texto ou que os outros irão criticar.
Simplesmente escreva.
Para John Steinbeck, o autor deve esquecer o público generalizado. “Em primeiro lugar, o público sem rosto e sem nome vai assustá-lo. Em segundo lugar, a menos que você esteja num teatro, ele não existe. Na escrita, o público é um único leitor. Eu descobri que às vezes ajuda escolher uma pessoa ― alguém que você conhece ou que imaginou ― e escrever para ela”.
Já para King e Palahniuk, o fundamental é você escrever para si mesmo, o que você deseja ler. Só então você deve se preocupar com os leitores.

9) Primeiro escreva, depois edite:
Essa é uma dica que sempre dou a quem me pergunta. Escreva. Coloque a ideia no papel. Depois você se preocupa com repetições, erros, clichês, etc. Ao fazer isso e respeitar seu fluxo de ideias, você tem menos chances de ter bloqueios e, em geral, termina de escrever mais rápido e de forma mais natural.
Mas como vocês não estão aqui para minhas dicas, fiquem com esse trecho excelente do John Steinbeck: “escreva o mais livre e rápido possível e coloque tudo no papel. Nunca corrija ou reescreva até que tenha terminado. Reescrever é um processo geralmente usado como desculpa para não seguir adiante”.
Stephen King, apesar de aconselhar o não uso de advérbios, recomenda que você não deve se preocupar exageradamente com a gramática perfeita, porque o objeto da escrita não é a correção gramatical, e sim contar uma história.
Por mais que a língua seja importante, não perca o foco: escreva primeiro. Corrija depois.

10) Escreva com alegria:
E por último, mas não menos importante (pelo contrário), vem a que é outra de minhas dicas preferidas. Remonta ao conselho de escrever primeiro pensando no que você gostaria de ler e no que vai deixá-lo confortável.
Para ser um bom escritor, você precisa de fato gostar do que faz. É um trabalho árduo por si só, então precisamos nos lembrar do que nos deixa feliz em fazê-lo e seguir em frente com isso na cabeça. Ray Bradbury já dizia a seu público: “eu quero que você inveje minha alegria”.
King também arremata dizendo que escrever não é sobre fazer sucesso, ficar rico, conseguir encontros ou fazer amigos. Menos ainda sobre fazer os outros felizes. É sobre ser feliz fazendo arte.
Mantenha isso em mente. Escreva muito, faça sua arte e seja feliz com ela! 

E aí? Curtiram? Espero que tenham gostado e se motivado a continuar escrevendo.

Vejo vocês em outros posts. :*

Fontes e Dicas Adicionais:

Em português:

- Aprenda a escrever ficção de verdade com Ernest Hemingway – 7 dicas de escrita: http://homoliteratus.com/aprenda-escrever-ficcao-de-verdade-com-ernest-hemingway-7-dicas-de-escrita/

- 12 dicas para escritores iniciantes por George R. R. Martin: http://www.gameofthronesbr.com/2014/02/12-dicas-para-escritores-iniciantes-por-george-r-r-martin.html

- A rotina diária de 13 grandes escritores e o que eles fazem para continuar escrevendo: http://papodehomem.com.br/a-rotina-diaria-de-13-grandes-escritores-e-o-que-eles-fazem-para-continuar-escrevendo/

- 10 regras para escrever ficção do escritor e roteirista Elmore Leonard: http://ficcao.emtopicos.com/2013/08/escrever-ficcao-escritor-elmore-leonard/

- Conheça 13 conselhos do transgressor Chuck Palahniuk sobre escrever: http://literatortura.com/2013/05/13-conselhos-de-chuck-palahniuk-sobre-escrever/

- Conselhos de Escrita de Ray Bradbury: http://dicasderoteiro.com/2012/09/25/conselhos-de-escrita-de-ray-bradbury/

- 6 Segredos Que Escritores Experientes Não Admitem: http://corrosiva.com.br/como-escrever-um-livro/6-segredos-que-escritores-experientes-nao-admitem/

- Dicas para novos escritores de outros autores: http://www.youtube.com/watch?v=SdtM3gjNkvs&list=UUNTBIwGaMcImg4C8R3Gq6eQ

- 9 dicas de George R.R. Martin para quem deseja escrever: http://narrativaberta.com.br/9-dicas-de-george-r-r-martin-para-quem-deseja-escrever/

- 22 Conselhos de Stephen King para escritores(as): http://homoliteratus.com/22-conselhos-de-stephen-king-para-escritoresas/



Em inglês:

- 6 Of The Best Pieces of Advice From Successful Writers: http://www.huffingtonpost.com/belle-beth-cooper/6-of-the-best-pieces-of-a_b_4628690.html

- Stephen King top 20 rules for writers: http://www.openculture.com/2014/03/stephen-kings-top-20-rules-for-writers.html

- 7 Kick-Ass Writing Tips from 7 Best Selling YA Authors: http://tomiadeyemi.com/writing-tips-from-7-best-selling-ya-authors/

- We Asked 8 Famous Authors For The Most Important Advice They’d Give To Young Writers: http://www.clickhole.com/article/we-asked-8-famous-authors-most-important-advice-th-2562?

- Ten Rules of Writing from Famous Writers: https://curious.com/lyracommunications/ten-rules-of-writing-from-famous-writers

- Neil Gaiman’s 8 Rules of Writing: http://maxkirin.tumblr.com/post/92478828861/neil-gaimans-8-rules-of-writing-a-remake-of-this

- 27 Pieces Of Advice For Writers From Famous Authors: http://www.buzzfeed.com/ellievhall/27-pieces-of-advice-for-writers-from-famous-authors
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20 Regras Para Escrever Histórias De Detetives

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Por: Estrela de Rubi


Olá pessoal! Este é o meu terceiro artigo aqui. Para mim é uma honra ajudar a enriquecer este blog, que tem vindo a ser um grande apoio a quem pretende iniciar-se na longa caminhada de escrever uma história. 

Mas deixemos de lamechices e passemos ao que interessa, né?

Este artigo é um complemento ao da NamelessChick, que elaborou um post sobre o tema “Como escrever um bom enredo policial”. Nas próximas linhas irei expor as vinte regras criadas por S. Van Dine, um escritor de grande renome na literatura policial norte-americana dos anos 20 e 30.   

Para S. Van Dine, um enredo policial é uma espécie de jogo intelectual. O autor deve jogar de uma forma justa com o leitor. Não pode recorrer a truques e a enganos e continuar a manter a sua honestidade como se estivesse a fazer trapaça num jogo de cartas. Deve ser mais sagaz que o leitor e manter o interesse dele através de uma ingenuidade pura. Ao escrever-se uma história policial há leis muito definidas – não escritas, talvez, mas nenhuma delas menos obrigatória; e todos os criadores de ficção policial que se auto-respeitem devem observá-las fielmente.

Eis, então, uma espécie de “Credo” de Van Dine, baseado na sua prática como escritor de histórias policiais:

1- “O leitor deve ter as mesmas oportunidades que o detetive em resolver o mistério.”
Todas as pistas devem ser claramente referidas e descritas.

2- “Não se deve jogar com nenhum truque ou engano voluntário, para além daqueles desempenhados legitimamente pelo próprio criminoso ou detetive.”

3- “Não deve haver interesses amorosos na história.”
Introduzir o amor é misturar uma experiência puramente intelectual com sentimentos irrelevantes. O assunto em mão é levar o criminoso à barra da justiça, não levar um casal de apaixonados ao altar do matrimônio.

4- “O próprio detetive, como um dos investigadores oficiais, nunca deve ser o culpado.”
Esse é um truque sujo, equivalente a trocar ouro por prata.

5- “O culpado deve ser descoberto pela dedução lógica”
Não deve ser pelo acaso, pela coincidência ou por uma confissão imotivada. Resolver um problema policial assim é o mesmo que enviar o leitor caçar gansos selvagens e dizer-lhe, depois de haver falhado, que durante todo o tempo tínhamos conosco o objeto da sua procura. Um autor assim não passa de um charlatão barato.

6- “O romance policial deve incluir um detetive; e um detetive só o é se detectar, se descobrir.”
A função de um detetive é reunir pistas que eventualmente conduzam à pessoa que realizou o trabalho sujo; e se o detetive não chegar às suas conclusões através de uma análise dessas pistas, resolveu tanto o problema como o estudante que chega a uma resposta através de uma cábula(cola).

7- “Numa história policial tem de haver um cadáver”
Para Van Dine, não há crime como o assassinato. Trezentas páginas é carga de mais para um crime que não seja homicídio. Afinal, deve-se recompensar a perda de tempo e de energia do leitor. Os leitores são essencialmente humanos e, portanto, um crime de homicídio desperta o seu sentido de vingança e de horror. Eles desejam levar o criminoso à justiça; e quando “o crime mais horrendo” tiver sido cometido, inicia-se a caça com todo o entusiasmo justiceiro de que é capaz o leitor mais cavalheiresco.

8- “O problema do crime deve ser resolvido por meios estritamente naturais.” Esses métodos de descobrir a verdade através de processos ocultos, como sessões espíritas, leitura da mente, quiromancia e outros, são tabu. O leitor deve estar em pé de igualdade com um detetive racional, mas se tem de competir com o mundo dos espíritos e percorrer à quarta dimensão da metafísica, é derrotado.

9- “Só pode haver um único detetive – isto é, um protagonista da dedução.” Arranjar três ou quatro, ou por vezes um grupo de detetives, para resolver um problema é somente dispersar o interesse e interromper o fio direto da lógica, como tirar vantagem injusta do leitor que, desde o início, entra em competição com o detetive numa batalha mental. Se houver mais do que um detetive, o leitor não sabe quem é o seu co-dedutor. É o mesmo que colocar o leitor a correr sozinho contra uma equipa de estafetas.

10- “O culpado deve ser uma pessoa que desempenhou um papel mais ou menos proeminente na história”
Isto é, uma pessoa com quem o leitor esteja familiarizado e por quem se interesse. Atribuir o crime, no capítulo final, a um estranho ou a uma pessoa que desempenhou um papel sem importância na história é confessar a incapacidade de competir com o leitor.

11- “Criados – como mordomos, empregados de mesa, copeiros, cozinheiros, etc… não devem ser escolhidos pelo autor como os culpados.”
Seria uma solução demasiado fácil. É insatisfatório e leva o leitor a sentir que esteve a perder o seu tempo. O culpado deve ser uma pessoa de bem – alguém de quem em geral não se suspeita; é que se o crime foi a obra sórdida de um demente, o autor estaria a perder o seu tempo a descrevê-la na forma de livro.

12- “Tem de haver um culpado, por muitos crimes que tenham sido cometidos.” O culpado pode, naturalmente, ter um ajudante ou cúmplice menor; mas o ônus completo deve cair sobre um único par de ombros: toda a indignação do leitor deve concentrar-se numa única figura negra.

13- “Sociedades secretas, camorras, máfias, etc… não têm lugar numa história policial.”
Aqui, o autor entra na ficção e no romance de serviço secreto. Um crime fascinante e verdadeiramente interessante fica irremediavelmente estragado com um tal culpado. Uma história policial deve dar ao criminoso uma boa oportunidade, mas é ir demasiado longe envolvê-lo numa sociedade secreta (com os seus ubíquos santuários de proteção). Nenhum criminoso de classe e estilo iria aceitar tais ajudas na sua luta com a polícia.

14- “O método do crime e os meios para o detectar devem ser racionais e científicos.”
Isto é, a pseudociência e instrumentos puramente imaginativos e especulativos não devem ser tolerados num romance policial. Por exemplo, a morte de uma vítima por um elemento recém-descoberto, um super-rádio, por exemplo, não é um problema legítimo, nem tão pouco deve intervir numa droga rara e desconhecida, que apenas existe na imaginação do autor. Um escritor de histórias policiais deve limitar-se, toxicologicamente falando, à farmacopéia. Uma vez mergulhado no mundo da fantasia, ultrapassou as fronteiras da ficção policial, aventurando-se por caminhos desconhecidos.

15- “A verdade do problema deve ser sempre evidente – desde que o leitor seja suficientemente sagaz para a detectar.”
Com isto, Van Dine quer dizer que se o leitor, depois de conhecer a explicação do crime, reler o livro, deve verificar que a solução afinal tinha estado patente desde o princípio – que todas as pistas realmente apontavam para esse culpado – e que, se tivesse sido tão esperto como o detetive, teria sido capaz de resolver sozinho o mistério sem chegar ao último capítulo. É evidente que o leitor esperto frequentemente resolve o problema. E uma das teorias básicas de ficção policial é que se uma história policial é estruturada como deve ser, é impossível ocultar a solução a todos os leitores. Haverá inevitavelmente um certo número deles tão perspicazes como o autor; e se o autor manifesta o adequado desportivismo e honestidade na sua declaração e projeção do crime e das suas pistas, estes leitores perspicazes, pela análise, eliminação de hipóteses e lógica, serão capazes de apontar o dedo ao culpado tão depressa quanto o detetive. E aqui jaz o gozo do jogo. Aqui temos uma explicação para o fato de leitores que repelem um romance popular vulgar serem capazes de devorar um romance policial.

16- “Uma história policial não deve conter grandes passagens descritivas”
Não deve demorar-se em questões secundárias, em análises subtilmente elaboradas da personalidade, nem deve ter preocupações de “atmosfera”. Tais questões não desempenham nenhum papel vital no relato do crime e das deduções. Suspendem a ação e apresentam questões irrelevantes para o alvo fundamental que é apresentar um problema, analisá-lo e conduzi-lo a uma conclusão bem sucedida. É claro que tem de haver descrição suficiente e um delinear das personagens a fim de dar verossimilhança ao romance; mas quando um autor de uma história policial atinge aquele ponto literário em que cria uma sensação dominante de realidade e atrai o interesse e a simpatia do leitor pelas personagens e pelo problema, então foi demasiado longe na técnica puramente “literária” relativamente ao que é legítimo e compatível face às necessidades de um documento de um problema criminoso. Uma história policial é um assunto sinistro e o leitor entra nela não pelo valor literário e estilo ou pelas lindas descrições e projeção das personalidades, mas pelo estímulo mental e pela atividade intelectual – tal como se vai assistir a um jogo de futebol ou como quando se resolve um problema de palavras cruzadas. A descrição da beleza do campo dificilmente aumenta o interesse pela luta entre duas equipes adversárias; e dissertações sobre etimologia e ortografia intercaladas nas definições de um problema de palavras cruzadas tendem apenas a irritar a pessoa interessada na correta resolução do problema.

17- “Um criminoso profissional nunca deve sofrer o ônus da culpa de um crime numa história policial.”
Os crimes cometidos por arrombadores e bandidos são do foro do Departamento da Polícia – não de autores e de brilhantes detetives amadores. Tais crimes pertencem ao trabalho rotineiro das Brigadas de Homicídios. Um crime realmente fascinante é aquele cometido por um pilar de uma igreja ou por uma solteirona conhecida pelas suas obras de caridade.

18- “Um crime numa história policial nunca deve transformar-se num acidente   ou num suicídio.”
Terminar uma odisséia de pesquisa intensa com um tal anticlímax é pregar uma partida imperdoável ao leitor. Se quem compra um livro exigisse a devolução do dinheiro com a alegação de que o crime foi uma farsa, qualquer tribunal com um mínimo de sentido de justiça decidiria em seu favor e repreenderia severamente o autor que assim teria enganado um leitor cheio de boas intenções.

19- “Os motivos de todos os crimes de uma história policial devem ser pessoais.”
Tramas internacionais e políticas bélicas pertencem a uma categoria diferente de ficção – as histórias de serviços secretos, por exemplo. Mas uma história de um crime deve refletir as experiências diárias do leitor e dar-lhe uma certa saída para os seus próprios desejos e emoções reprimidas.

20- Os próximos pontos são alguns dos instrumentos que nenhum autor policial, que se preze, utilizará nas suas histórias. Para Van Dine, as seguintes alíneas têm sido usadas com demasiada frequência e são conhecidas por todos os verdadeiros amantes da literatura do crime. Utilizá-las é confessar a incapacidade do autor e a sua falta de originalidade.
a) “Determinar a identidade do culpado pela comparação da “bituca” deixada na cena do crime com o cigarro recentemente fumado pelo suspeito.”
b) “A sessão espírita para assustar o culpado, levando-o a ceder.”
c) “Impressões digitais forjadas.”
d) “O álibi da pessoa parva.”
e) “O cão que não ladra e, portanto, revela o fato de o intruso ser familiar.”
f) “A descoberta final do crime num gêmeo ou num parente muito parecido com a pessoa suspeita mas inocente.”
g) “A seringa hipodérmica e o remédio em gotas”
h) “A entrada do criminoso numa sala trancada depois de, eventualmente, a polícia ter lá estado.”
i)“O teste da associação de palavras para a detecção do culpado.”
j) “A carta cifrada ou codificada que é eventualmente descoberta pelo investigador.”      

E aqui termino, desejando a todos os futuros romancistas policiais muita sorte para conseguir escrever uma história seguindo com rigor cada regra descrita por Van Dine.  ;)



BIBLIOGRAFIA:
S.S. Van Dine; “The Winter Murder Case”; Clube do Crime; 1995; Publicações Europa-América; pág 89
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Desejo-lhes Arrependimentos

segunda-feira, 22 de junho de 2015


Por: Rodrigo Caetano
Já faz algum tempo que venho querendo compartilhar com vocês aqui um pequeno tesouro que eu achei na internet, em inglês. É muito comum que em dez regras, ou menos, muitos autores renomados, reconhecidos pela crítica e premiados, compartilhem as suas visões sobre o ato de escrever um livro e como fazer isso.

Compartilho um desses sets de regras aqui pois acho que é para isso que este espaço serve. Toda semana temos um dos betas aqui lhes ajudando a entender esse processo e compartilhando com vocês dicas, sugestões e instruções. É para isso que o blog serve, não é? É para isso que estamos aqui. Então por que não trazer alguém com ainda mais experiência e reconhecimento do que nós, humildes leitores testes?

Assim sendo, o cara da vez é o Geoff Dyer. Ele é um autor britânico já com seus 57 anos, autor de livros de ficção e não-ficção, entre outros trabalhos. Em termos de descrição, isso é basicamente o que se pode dizer dele.  Normalmente ele é definido como “incategorizável”. Ele é pública e radicalmente contra uma fronteira bem definida e policiada entre a realidade e a ficção e, em um de seus livros, chega a dizer que “tudo que está escrito aqui realmente aconteceu, mas algumas das coisas aconteceram apenas na minha cabeça”.

O texto a seguir é a tradução de uma matéria do jornal The Guardian. Inspirados pelas regras ditadas por Elmore Leonard (também já traduzidas aqui), o jornal resolveu perguntar a Geoff e outros escritores que regras eles ditariam para alguém que quisesse escrever um livro.
Espero que encontrem aqui algo que lhes provoque, ou que lhes inspire. Que te faça pensar, ou que fique gravado na sua cabeça, nem precisar de esforço. Ou, no mínimo, que encontre pelo menos algum arrependimento. Como ele bem diz, todos nós precisamos deles...


“1 – Nunca se preocupe com as possibilidades comerciais de um projeto. Isso é uma coisa para enlouquecer os agentes e editores — ou não. Conversa com meu editor americano. Eu: “Eu estou escrevendo um livro tão chato, de tão pouco apelo comercial, que se você resolver publicar, provavelmente vai ser demitido.” Editor: “É exatamente isso que me faz querer continuar no meu trabalho.”
2 – Não escreva em locais públicos. No começo dos anos noventa eu fui morar em Paris. As razões normais de um escritor: naquela época, se você fosse achado escrevendo em um pub na Inglaterra, você levaria uma porrada na cabeça, enquanto, em Paris dansles cafés... Desde então eu desenvolvi uma aversão a escrever em público. Agora acredito que deva ser feito exclusivamente em particular, como qualquer outra atividade de excreção.
3 – Não seja um daqueles escritores que se sentenciam a uma vida inteira de puxa-saquismo ao Nabokov.
4 – Se você usar um computador, constantemente refine e expanda o seu corretor automático. O único motivo de eu me manter leal ao meu computado horrível é que eu investi muito da minha inventividade para construir um dos melhores arquivos de autocorreção da história da literatura. Palavras perfeitamente digitadas surgem de alguns pequenos toques no teclado. “Niet” vira “Nietzsche”, “phoy” vira “fotografia” e assim por diante. Genial!
5 – Mantenha um diário. O maior arrependimento da minha vida literária é não ter mantido um registro ou um diário.
6 – Tenha arrependimentos. Eles são combustíveis. Na página eles se inflamam em desejo.
7 – Tenha mais de uma ideia para escrever ao mesmo tempo. Se a escolha for entre escrever um livro e fazer nada, eu vou sempre escolher a ultima opção. É só quando eu tenho ideias para dois livros que eu escolho um ou outro. Eu tenho sempre que sentir que estou deixando alguma coisa de lado.
8 – Cuidado com os clichês. Não apenas os clichês com quem o Martin Amis está em guerra. Tem clichês de reação e também de expressão. Tem clichês de observação e clichês de pensamento — até mesmo de concepção. Muitos livros, até mesmo alguns bem escritos, são clichês de forma, o que necessariamente leva a clichês de expectativas.
9 – Faça isso todo dia. Se habitue a botar as suas observações no papel e gradualmente isso vai se tornando instintivo. Essa é a regra mais importante de todas e, naturalmente, eu não a sigo.
10 – Nunca pedale uma bicicleta com os freios apertados. Se alguma coisa está se provando difícil demais, desista e faça outra coisa. Tente viver sem ter que recorrer à perseverança. Mas escrever é basicamente pura perseverança. Você tem que se prender a isso. Nos meus trinta anos eu costumava ir à academia apesar de odiar isso. Eu ia para academia com o único motivo de adiar o dia em que eu iria parar de ir à academia. É isso que a escrita é para mim: um modo de adiar o dia em que eu vou parar de escrever, o dia em que eu vou me afundar em uma depressão tão profunda que esta será indistinguível do mais puro êxtase.”



Fontes:
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Cometa Erros Interessantes

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Por: Hairo-Rodrigo

“Como que se faz para escrever bem?"

Eu sempre gostei de saber o que os escritores profissionais faziam para escrever. De que modo eles trabalhavam. Qual o caminho que eles escolheram para isso. Talvez porque um dia eu queira me tornar um escritor profissional também, mas há aquela parte de mim que simplesmente faz aquela pergunta: “O que faz o trabalho deles tão diferente do meu?”.

Mas sempre que eu procuro saber o que um escritor profissional tem de tão especial, eu encontro a mesma resposta: ele escreve.

Nossa, mas que raiva que isso me dá... Eu sei que ele escreve, oras. Eu sei que o que ele faz é escrever, afinal, o cara é um escritor! Eu quero saber como ele escreve. O que ele faz para escrever, e ninguém nunca entende isso. Todos eles sempre têm a mesma resposta: “Simplesmente escreva”.

Até que outro dia, sentado em um bar, conversando sobre uma ideia de história com uns amigos que nunca escreveram nada, eles me fizeram exatamente a pergunta que eu sempre fiz aos outros: “Como você escreve isso, cara?”.

Aquilo era uma conversa inocente de bar, em meio a copos e aperitivos, e eu não estava pensando muito. Estava relaxado e encarei a pergunta justamente como ela me foi apresentada, sem pretensões e cheio de inocência. Mastiguei um punhado de amendoins enquanto pensava em uma resposta e, quando terminei, não tinha chegado a qualquer conclusão. Respondi então, dando de ombros: “Sei lá, pô... Eu só escrevo”.

A realidade do que eu disse só foi me atingir quando cheguei em casa e relembrei o bate-papo. A primeira reação foi a de me sentir estúpido por ter feito exatamente o que eu sempre reclamei que faziam. A segunda foi até falta de modéstia, pois não me contive em pensar: “Será que eu estou me tornando um daqueles autores para quem eu sempre quis fazer aquela pergunta?”. Fez bem para o ego, admito, mas passou.

Por último, porém, veio um misto de aceitação e compreensão. Não é que a resposta que eu sempre odiei seja insuficiente. Eu apenas nunca a entendi direito. Ela podia não ser aquilo que eu queria ouvir, mas isso não faz dela menos verdadeira. Entendem?

Com isso em mente, trago para vocês um cara muito bem-sucedido, daqueles para quem eu sempre quis perguntar o que ele fez para chegar onde está e que, mais do que ser um escritor profissional, faz exatamente o que eu disse: ele escreve.

Seja na série de quadrinhos “Sandman”, nos scripts de “A Lenda de Beowulf” ou nas páginas de “Stardust” (esse mesmo, que virou filme há alguns anos), Neil Gaiman está sempre escrevendo. Mais do que autor, roteirista ou cartunista, ele é um escritor, no sentido mais amplo da palavra. O que ele sempre quis fazer era escrever, por tanto, ele escrevia. E escreve muito.

Aqui estão as respostas dele para aquela minha pergunta lá do início e, no fim, o vídeo de um discurso espetacular que ele fez na formatura da Faculdade das Artes, em 2007, na Filadélfia. O discurso ficou tão legal que, posteriormente, foi transcrito e vendido na forma de livro, intitulado “Make Good Art”. Talvez ele, com um pouco mais de propriedade, seja mais capaz de ajudar vocês a entenderem aquela resposta do que eu. Cada palavra vale a pena. Aproveitem. 

As regras para escrever de Neil Gaiman:

1 – Escreva;
2 – Bote uma palavra após a outra. Escolha a palavra certa e escreva;
3 – Termine o que você estiver escrevendo. O que quer que você precise fazer para terminar, termine;
4 – Coloque o livro de lado. Leia como se você nunca tivesse lido antes. Mostre a amigos que tenham uma opinião que você respeite e que gostem do tipo de história que você escreveu;
5 – Lembre-se: Quando as pessoas dizem que tem alguma coisa errada ou que alguma coisa não funcionou para elas, elas quase sempre têm razão. Quando elas te dizem exatamente o que está errado e como consertar, elas quase sempre estão erradas;
6 – Conserte. Lembre-se de que cedo ou tarde, antes que aquilo atinja a perfeição, você vai ter que deixar aquilo de lado e começar a escrever a próxima coisa. Alcançar a perfeição é como alcançar o horizonte. Siga em frente;
7 – Ria das suas próprias piadas;
8 – A principal regra sobre a escrita é que, se você fizer isso com segurança e confiança o suficiente, você pode fazer o que você quiser (isso pode ser uma regra para a vida também, mas definitivamente é verdade para a escrita). Então escreva sua história como ela precisa ser escrita. Escreva honestamente e conte-a da melhor maneira que você puder. Não tenho certeza se existem outras regras. Pelo menos não regras que importem... ”.


O vídeo:
Caso as legendas não apareçam de primeira, basta ativá-las na barra de controle do vídeo, ao lado da engrenagem das configurações, próxima à opção de colocar em tela cheia.

Fontes:
GAIMAN, Neil; “Neil Gaiman’s Rule for Writers; Publicado em 22 de fevereiro de 2010, disponível em: http://www.theguardian.com/books/2010/feb/22/roddy-doyle-rules-for-writers

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O Professor da Terra dos Duendes

quinta-feira, 27 de março de 2014

Por: Hairo-Rodrigo

“ ‘Fuck’ era a melhor palavra. A palavra mais perigosa. Você não podia sequer sussurrá-la. ‘Fuck’ era sempre muito alto, explodia no ar sobre você e caía devagar sobre a sua cabeça, tarde demais para ser impedida. E então vinha o silêncio total, nada além do ‘Fuck’ flutuando para baixo...”

Esse é Roddy Doyle, um escritor irlandês conhecido por seu bom-humor, sua careca lisa, seu par de óculos redondos, além de, é claro, seus diversos livros de sucesso, entre eles “Paddy Clarke Ha Ha Ha” e “The Commitments”, adaptado para o cinema em 1991 e atualmente sendo adaptado para os palcos dos teatros, como um grande musical.

 “Eu não sou tão reconhecido assim. Sou apenas um cara careca que usa óculos, e tem um monte desses em Dublin. Seria diferente se eu usasse um moicano...”

Ah, não vem com essa, Roddy! Sem falsa modéstia, que você não é disso. Se bem que um moicano não chamaria lá tanta atenção, principalmente em Dublin, um lugar tão divertido e cheio de vida...

“Isso é tudo uma grande farsa. Nós vendemos o mito de Dublin como um lugar sexy muitíssimo bem; porque é um porcaria de um lixão, na maioria do tempo.”

Espera aí, como assim?! Os seus personagens são tão vivos, tão divertidos e tão charmosos! E a maioria vive aí! Como é que você consegue fazer isso se o lugar é uma “porcaria de um lixão”?

“Eu vejo as pessoas em termos de diálogo e acredito que elas são o que elas falam. A melhor maneira de se revelar o caráter de uma pessoa é fazer com que ela abra a boca.”

É um modo interessante de ver o mundo, com certeza. Mas posso voltar para a sua apresentação? Então... Como eu estava dizendo, esse cara abandonou a antiga carreira para escrever, já publicou diversos livros para públicos de todas as idades e é internacionalmente reconhecido por seu trabalho, tendo vencido diversos prêmios literários e fazendo parte da Sociedade Real da Literatura, uma organização britânica fundada em 1820, pelo Rei George IV.

“Eu não trabalho por comissões. Eu apenas faço o que quero fazer. Meus romances vêm de dentro. São coisas que eu sinto que quero fazer.”

Eu sei, Roddy. Não era isso que eu estava querendo dizer... Só queria que o pessoal entendesse que você é um tipo de autoridade no assunto, antes de falar sobre as regras de ouro que você segue para escrever seus livros. É bem melhor do que simplesmente dizer que você era um professor de colégio, que passava grande parte do dia falando com crianças, entendeu?

“Algumas vezes os adultos parecem ter cortado a ligação com o seu lado infantil.” 
“É ótimo conhecer as crianças, porque você nunca sabe o que elas vão dizer”
“Algumas das pessoas que mais parecem normais são, provavelmente, as pessoas mais piradas tentando parecer normais.”

É o que eu percebi hoje... Diz logo as suas regras então, antes que todo mundo aqui acredite que você é maluco.

1. Não coloque uma foto do seu autor favorito na sua mesa, especialmente se o autor é um daqueles famosos que se suicidou;
2. Você pode ser generoso com você mesmo. Encha as páginas o mais rápido possível; use o dobro de espaços ou então escreva pulando linhas. Considere cada nova página como um pequeno sucesso...
3. ...Até você chegar à página 50. Então se acalme e comece a se preocupar com a qualidade. É normal se sentir ansioso. São ossos do ofício;
4. Dê um nome ao seu trabalho o mais rápido possível. Seja dono dele, o visualize. (Charles) Dickens sabia que “Bleak House” (Casa abandonada) iria se chamar “Bleak House” antes de começar a escrever. O resto deve ter sido fácil;
5. Você vai ter que restringir a sua navegação à alguns sites por dia. Não chegue perto das casas de apostas online – a não ser que seja pesquisa;
6. Tenha sempre um thesaurus, mas na estante, nos fundos do jardim, ou então atrás da geladeira. Algum lugar que exija esforço, locomoção. Na maioria das vezes a palavra que lhe vier à cabeça vai servir perfeitamente bem, como “cavalo”, “correu” ou “disse”;
7. Você pode, ocasionalmente, cair em tentação. Lave a cozinha, pendure as roupas lavadas... É tudo pesquisa;
8. Mude de ideia. Boas ideias são constantemente assassinadas por ideias melhores. Eu estava trabalhando em um romance sobre uma banda chamada “The Partitions”. E então eu decidi chamá-los de “The Commitments”;
9. Não procure no Amazon pelo livro que você ainda não escreveu; e
10. Gaste alguns minutos do seu dia trabalhando na biografia de capa – “Ele divide seu tempo entre o Kabul e Tierra del Fuego.” Mas depois volte ao trabalho.
Fontes consultadas:

DOYLE, Roddy; “Roddy Doyle’s Rule for Writers; Publicado em 22 de fevereiro de 2010, disponível em: “http://www.theguardian.com/books/2010/feb/22/roddy-doyle-rules-for-writers"
BROWN, Mark; “The Commitments to be turned into West End Musical”, Publicado em 23 de Abril de 2013; Disponível em: http://www.theguardian.com/stage/2013/apr/23/the-commitments-west-end-musical
FIRETOG, Emily; Interview with Roddy Doyle; Publicado em maio de 2012; Disponível em: http://columbiajournal.org/wp-content/uploads/2012/05/doyle.pdf
???; Roddy Doyle Quotes; Disponível em: http://www.brainyquote.com/quotes/authors/r/roddy_doyle.html
???; Roddy Doyle Quotes; Disponível em: http://www.goodreads.com/author/quotes/10108.Roddy_Doyle
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Conselhos do autor de Clube da Luta

quinta-feira, 6 de março de 2014

Por Deathless Nokas


Queres enriquecer a tua escrita, aprendendo a usar os verbos a teu favor e aprendendo a envolver mais o leitor nas tuas palavras?

Então não podes perder este artigo de Chuck Palahniuk, o autor de “Clube da Luta” e de inúmeros artigos sobre escrita muito aclamados. Aqui ele ensinar-te-á a deixar de usar verbos como “pensar”, “saber”, “compreender”, “entender” e “considerar”, por acreditar que eles te impedem de passar a mensagem que queres com a intensidade que desejas. Ah, e “acreditar” também é outro desses verbos...

A tradução foi feita por mim e, no final, ficará o link onde poderás encontrar o original e uma tabela que também compus, com alguns dos “verbos de pensamentos” que o autor recomenda que deixes de usar. 


“Daqui a seis segundos, vais odiar-me.
Mas daqui a seis meses serás um melhor escritor.”

De agora em diante ― pelo menos por meio ano ― tu não poderás usar verbos “de pensamentos”. Estes incluem: Pensar, Saber, Compreender, Perceber, Acreditar, Querer, Recordar, Desejar e centenas de outros que tu adoras usar.

Esta lista também deve incluir Amar e Odiar.

E deve incluir Ser e Ter, mas vamos falar desses mais tarde.

Até passarem esses seis meses, não poderás escrever “Kenny pensou se Monica não gostava que ele saísse de noite...

Em vez de isso, terás de desmembrar a ideia: “Nas manhãs seguintes às noites em que Kenny ficava na rua até depois do último autocarro/ônibus passar, até ele ter de cobrar uma boleia/carona ou pagar por uma viagem de táxi para casa onde encontrava Monica a fingir que dormia, a fingir porque, ela nunca dormia assim tão silenciosamente, nessa manhãs, ela punha apenas a sua chávena de café no microondas. Nunca a dele.

Em vez de teres os personagens a saber alguma coisa, tu agora terás de apresentar os detalhes que permitirão ao teu leitor ficar a saber essa coisa. Em vez de teres uma personagem a querer alguma coisa, agora terás de descrever essa coisa para que seja o teu leitor a querê-la.

Ao invés de dizeres “Adam sabia que Gwen gostava dele”, terás de dizer:

No intervalo entre as aulas, Gwen encostava-se sempre ao seu cacifo/armário quando ele o tinha de abrir. Ela reviraria os olhos e ir-se-ia embora ganhando impulso com um pé, deixando uma marca negra no metal pintado com o seu calcanhar, mas deixando também o seu perfume para trás. A fechadura ainda estaria quente pelo toque do seu traseiro. E no intervalo seguinte, Gwen estaria lá novamente.

Resumindo, nada de resumires as coisas. Deixa ficar apenas os detalhes específicos absorvidos pelos sentidos: ações vistas e cheiros, sabores, sons e texturas. 

Normalmente, os escritores usam estes verbos “de pensamento” no início de um parágrafo (desta forma, podemos chamar-lhes “Frases de Teses” e manifestar-me-ei contra elas mais tarde). De certa maneira, a frase de tese expõe a intenção do parágrafo. O que se segue, serve para a ilustrar.

Por exemplo:

Brenda sabia que não conseguiria cumprir com o prazo. O tráfego acumulava-se desde a ponte, até depois das seguintes oito ou nove saídas da estrada. A bateria do seu telemóvel/celular tinha morrido. Em casa, os cães precisariam de um passeio, ou haveria uma sujeira para limpar depois. Para além disso, ela tinha prometido que regaria as plantas do vizinho...

Vês como o começo com uma “frase de tese” roubou a importância ao que se seguiu? Não faças isto.
Senão tiveres mais nenhuma alternativa, corta a frase do início e coloca-a depois de todas as outras. Ou, melhor ainda, move-a e muda-a para “Brenda jamais cumpriria com o prazo.

Pensar é algo abstrato. Saber e acreditar são coisas intangíveis e intocáveis. A tua história será sempre mais forte se tu apenas mostrares as ações físicas e os detalhes das tuas personagens e permitires ao teu leitor que seja ele a pensar e a saber. E a amar e a odiar.

Não digas ao teu leitor “Lisa odiava Tom”.

Em vez disso, constrói o teu caso como um advogado num tribunal, detalhe a detalhe. Apresenta cada pedacinho das provas. Por exemplo:

Durante a chamada na aula, no instante a seguir ao professor dizer o nome de Tom, no momento anterior à sua resposta, nessa altura, Lisa iria sussurrar-gritar ‘Otário’, mesmo antes de Tom dizer ‘Estou aqui’."

Um dos erros mais comuns que os escritores iniciantes fazem é deixar as suas personagens sozinhas. Ao escrever, podes estar sozinho. Ao ler, os teus leitores podem estar sozinhos. Mas as tuas personagens devem passar muito, muito pouco tempo sozinhas. Porque uma personagem solitária começa a pensar, a preocupar-se ou a considerar.

Por exemplo: “Enquanto esperava pelo autocarro/ônibus, Mark começou a preocupar-se com o quanto a viagem iria demorar.

Um bom desmembramento dessa ideia poderia ser: “O horário dizia que o autocarro/ônibus chegaria ao meio-dia, mas o relógio de Mark dizia que já eram onze e cinquenta e sete. Podia ver-se a estrada toda até ao centro comercial, e não se via nenhum autocarro. Sem dúvida que o condutor estaria parado numa rua ali ao lado, a dormir uma sesta. O condutor estaria recostado, adormecido, e Mark chegaria atrasado. Ou pior, o condutor estaria a beber, pararia ali bêbado e cobraria a Mark o bilhete para a sua morte num grandioso acidente...

Uma personagem sozinha deve submergir em fantasias ou memórias, mas mesmo assim não poderás usar verbos “de pensamento” ou nenhum dos seus parentes abstratos.

Oh, e podes começar a esquecer o uso dos verbos esquecer e lembrar.

Não haverá mais passagens como “Wanda lembrou-se de como Nelson costumava escovar-lhe o cabelo.”

Em vez disso: “Na altura do segundo ano de universidade deles, Nelson costumava escovar o cabelo dela com longos e suaves movimentos da sua mão.”

Novamente: desmembra. Não aceites atalhos.

Melhor ainda, junta a tua personagem a outra personagem, depressa. Coloca-os juntos e faz com que se inicie a ação. Deixa que as suas ações e palavras mostrem os seus pensamentos. Tu ― fica fora das suas cabeças!

E enquanto andas a evitar os verbos “de pensamento”, toma cuidado ao usar os verbos sem sal “ser” e “ter”.

Por exemplo:

Os olhos de Ann são azuis.
Ann tem olhos azuis.”

Ao invés, usa:

Ann tossiu e passou uma mão sobre a face, limpando o fumo de cigarro dos olhos, olhos azuis, antes de sorrir...

Em vez das desinteressantes frases com “é” e “tem”, tenta enterrar os detalhes de o que as personagens têm ou são em ações ou gestos. Na sua forma mais básica, isto será mostrar a tua história, em vez de a contares.

E para todo o sempre, depois de também teres aprendido a desmembrar as tuas personagens, tu odiarás o escritor preguiçoso que se deixar ficar por “Jim sentou-se ao lado do telefone, pensando sobre o porquê de Amanda ainda não ter ligado.”

Por favor. Por agora, odeia-me o quanto tu quiseres, mas não uses verbos “de pensamento”. Daqui a seis meses, podes até endoidecer de tanto os usares, mas aposto o meu dinheiro em como não vais querer fazer isso.

Os teus trabalhos de casa serão passares os olhos pelos teus textos e circular todos os verbos “de pensamento”. Depois, encontra alguma forma de os eliminares. Aniquila-os desmembrando-os.

A seguir podes passar os teus olhos por livros publicados e fazer o mesmo. Sê implacável.

Marty imaginou peixes saltando à luz da lua...
Nancy recordou a forma como o vinho sabia...”
Larry sabia que era um homem morto...

Encontra-os. Depois disso, encontra uma forma de os reescreveres. Torna-os mais fortes.”


Achar­­­
Conceber
Desejar
Interpretar
Perceber
Relembrar
Acreditar
Concentrar-se em
Especular
Lembrar
Perguntar-se
Reparar em
Adivinhar
Concluir
Esquecer
Memorizar
Preocupar-se
Saber
Aperceber-se
Concluir
Fantasiar
Notar
Querer
Sonhar
Calcular
Considerar
Imaginar
Opinar
Reconhecer
Supor
Compreender
Deduzir
Inferir
Pensar
Recordar
Teorizar
Amar
Odiar


Não te esqueças que vários destes verbos podem ter mais do que uma função ou sentido, está bem? Tem em consideração que o CONTEXTO é que determina se um verbo é ou não “de pensar”. Não deves abulir estes verbos da tabela do teu vocabulário ou da tua história. O CONTEXTO é que determina essa necessidade. Se uma personagem disser “Eu penso que deverias cortar o cabelo,” isso não terá de ser desmembrado. Se algum verbo que não estiver nesta lista tiver a função de resumir o que se passa na mente da tua personagem, então também deve ser riscado do texto.


Publicação original por Chuck Palahniuck, “Nuts and Bolts: ‘Thought’ Verbs”, consultado a 22 de Janeiro de 2014. Disponível em: http://litreactor.com/essays/chuck-palahniuk/nuts-and-bolts-%E2%80%9Cthought%E2%80%9D-verbs

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