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20 Regras Para Escrever Histórias De Detetives

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Por: Estrela de Rubi


Olá pessoal! Este é o meu terceiro artigo aqui. Para mim é uma honra ajudar a enriquecer este blog, que tem vindo a ser um grande apoio a quem pretende iniciar-se na longa caminhada de escrever uma história. 

Mas deixemos de lamechices e passemos ao que interessa, né?

Este artigo é um complemento ao da NamelessChick, que elaborou um post sobre o tema “Como escrever um bom enredo policial”. Nas próximas linhas irei expor as vinte regras criadas por S. Van Dine, um escritor de grande renome na literatura policial norte-americana dos anos 20 e 30.   

Para S. Van Dine, um enredo policial é uma espécie de jogo intelectual. O autor deve jogar de uma forma justa com o leitor. Não pode recorrer a truques e a enganos e continuar a manter a sua honestidade como se estivesse a fazer trapaça num jogo de cartas. Deve ser mais sagaz que o leitor e manter o interesse dele através de uma ingenuidade pura. Ao escrever-se uma história policial há leis muito definidas – não escritas, talvez, mas nenhuma delas menos obrigatória; e todos os criadores de ficção policial que se auto-respeitem devem observá-las fielmente.

Eis, então, uma espécie de “Credo” de Van Dine, baseado na sua prática como escritor de histórias policiais:

1- “O leitor deve ter as mesmas oportunidades que o detetive em resolver o mistério.”
Todas as pistas devem ser claramente referidas e descritas.

2- “Não se deve jogar com nenhum truque ou engano voluntário, para além daqueles desempenhados legitimamente pelo próprio criminoso ou detetive.”

3- “Não deve haver interesses amorosos na história.”
Introduzir o amor é misturar uma experiência puramente intelectual com sentimentos irrelevantes. O assunto em mão é levar o criminoso à barra da justiça, não levar um casal de apaixonados ao altar do matrimônio.

4- “O próprio detetive, como um dos investigadores oficiais, nunca deve ser o culpado.”
Esse é um truque sujo, equivalente a trocar ouro por prata.

5- “O culpado deve ser descoberto pela dedução lógica”
Não deve ser pelo acaso, pela coincidência ou por uma confissão imotivada. Resolver um problema policial assim é o mesmo que enviar o leitor caçar gansos selvagens e dizer-lhe, depois de haver falhado, que durante todo o tempo tínhamos conosco o objeto da sua procura. Um autor assim não passa de um charlatão barato.

6- “O romance policial deve incluir um detetive; e um detetive só o é se detectar, se descobrir.”
A função de um detetive é reunir pistas que eventualmente conduzam à pessoa que realizou o trabalho sujo; e se o detetive não chegar às suas conclusões através de uma análise dessas pistas, resolveu tanto o problema como o estudante que chega a uma resposta através de uma cábula(cola).

7- “Numa história policial tem de haver um cadáver”
Para Van Dine, não há crime como o assassinato. Trezentas páginas é carga de mais para um crime que não seja homicídio. Afinal, deve-se recompensar a perda de tempo e de energia do leitor. Os leitores são essencialmente humanos e, portanto, um crime de homicídio desperta o seu sentido de vingança e de horror. Eles desejam levar o criminoso à justiça; e quando “o crime mais horrendo” tiver sido cometido, inicia-se a caça com todo o entusiasmo justiceiro de que é capaz o leitor mais cavalheiresco.

8- “O problema do crime deve ser resolvido por meios estritamente naturais.” Esses métodos de descobrir a verdade através de processos ocultos, como sessões espíritas, leitura da mente, quiromancia e outros, são tabu. O leitor deve estar em pé de igualdade com um detetive racional, mas se tem de competir com o mundo dos espíritos e percorrer à quarta dimensão da metafísica, é derrotado.

9- “Só pode haver um único detetive – isto é, um protagonista da dedução.” Arranjar três ou quatro, ou por vezes um grupo de detetives, para resolver um problema é somente dispersar o interesse e interromper o fio direto da lógica, como tirar vantagem injusta do leitor que, desde o início, entra em competição com o detetive numa batalha mental. Se houver mais do que um detetive, o leitor não sabe quem é o seu co-dedutor. É o mesmo que colocar o leitor a correr sozinho contra uma equipa de estafetas.

10- “O culpado deve ser uma pessoa que desempenhou um papel mais ou menos proeminente na história”
Isto é, uma pessoa com quem o leitor esteja familiarizado e por quem se interesse. Atribuir o crime, no capítulo final, a um estranho ou a uma pessoa que desempenhou um papel sem importância na história é confessar a incapacidade de competir com o leitor.

11- “Criados – como mordomos, empregados de mesa, copeiros, cozinheiros, etc… não devem ser escolhidos pelo autor como os culpados.”
Seria uma solução demasiado fácil. É insatisfatório e leva o leitor a sentir que esteve a perder o seu tempo. O culpado deve ser uma pessoa de bem – alguém de quem em geral não se suspeita; é que se o crime foi a obra sórdida de um demente, o autor estaria a perder o seu tempo a descrevê-la na forma de livro.

12- “Tem de haver um culpado, por muitos crimes que tenham sido cometidos.” O culpado pode, naturalmente, ter um ajudante ou cúmplice menor; mas o ônus completo deve cair sobre um único par de ombros: toda a indignação do leitor deve concentrar-se numa única figura negra.

13- “Sociedades secretas, camorras, máfias, etc… não têm lugar numa história policial.”
Aqui, o autor entra na ficção e no romance de serviço secreto. Um crime fascinante e verdadeiramente interessante fica irremediavelmente estragado com um tal culpado. Uma história policial deve dar ao criminoso uma boa oportunidade, mas é ir demasiado longe envolvê-lo numa sociedade secreta (com os seus ubíquos santuários de proteção). Nenhum criminoso de classe e estilo iria aceitar tais ajudas na sua luta com a polícia.

14- “O método do crime e os meios para o detectar devem ser racionais e científicos.”
Isto é, a pseudociência e instrumentos puramente imaginativos e especulativos não devem ser tolerados num romance policial. Por exemplo, a morte de uma vítima por um elemento recém-descoberto, um super-rádio, por exemplo, não é um problema legítimo, nem tão pouco deve intervir numa droga rara e desconhecida, que apenas existe na imaginação do autor. Um escritor de histórias policiais deve limitar-se, toxicologicamente falando, à farmacopéia. Uma vez mergulhado no mundo da fantasia, ultrapassou as fronteiras da ficção policial, aventurando-se por caminhos desconhecidos.

15- “A verdade do problema deve ser sempre evidente – desde que o leitor seja suficientemente sagaz para a detectar.”
Com isto, Van Dine quer dizer que se o leitor, depois de conhecer a explicação do crime, reler o livro, deve verificar que a solução afinal tinha estado patente desde o princípio – que todas as pistas realmente apontavam para esse culpado – e que, se tivesse sido tão esperto como o detetive, teria sido capaz de resolver sozinho o mistério sem chegar ao último capítulo. É evidente que o leitor esperto frequentemente resolve o problema. E uma das teorias básicas de ficção policial é que se uma história policial é estruturada como deve ser, é impossível ocultar a solução a todos os leitores. Haverá inevitavelmente um certo número deles tão perspicazes como o autor; e se o autor manifesta o adequado desportivismo e honestidade na sua declaração e projeção do crime e das suas pistas, estes leitores perspicazes, pela análise, eliminação de hipóteses e lógica, serão capazes de apontar o dedo ao culpado tão depressa quanto o detetive. E aqui jaz o gozo do jogo. Aqui temos uma explicação para o fato de leitores que repelem um romance popular vulgar serem capazes de devorar um romance policial.

16- “Uma história policial não deve conter grandes passagens descritivas”
Não deve demorar-se em questões secundárias, em análises subtilmente elaboradas da personalidade, nem deve ter preocupações de “atmosfera”. Tais questões não desempenham nenhum papel vital no relato do crime e das deduções. Suspendem a ação e apresentam questões irrelevantes para o alvo fundamental que é apresentar um problema, analisá-lo e conduzi-lo a uma conclusão bem sucedida. É claro que tem de haver descrição suficiente e um delinear das personagens a fim de dar verossimilhança ao romance; mas quando um autor de uma história policial atinge aquele ponto literário em que cria uma sensação dominante de realidade e atrai o interesse e a simpatia do leitor pelas personagens e pelo problema, então foi demasiado longe na técnica puramente “literária” relativamente ao que é legítimo e compatível face às necessidades de um documento de um problema criminoso. Uma história policial é um assunto sinistro e o leitor entra nela não pelo valor literário e estilo ou pelas lindas descrições e projeção das personalidades, mas pelo estímulo mental e pela atividade intelectual – tal como se vai assistir a um jogo de futebol ou como quando se resolve um problema de palavras cruzadas. A descrição da beleza do campo dificilmente aumenta o interesse pela luta entre duas equipes adversárias; e dissertações sobre etimologia e ortografia intercaladas nas definições de um problema de palavras cruzadas tendem apenas a irritar a pessoa interessada na correta resolução do problema.

17- “Um criminoso profissional nunca deve sofrer o ônus da culpa de um crime numa história policial.”
Os crimes cometidos por arrombadores e bandidos são do foro do Departamento da Polícia – não de autores e de brilhantes detetives amadores. Tais crimes pertencem ao trabalho rotineiro das Brigadas de Homicídios. Um crime realmente fascinante é aquele cometido por um pilar de uma igreja ou por uma solteirona conhecida pelas suas obras de caridade.

18- “Um crime numa história policial nunca deve transformar-se num acidente   ou num suicídio.”
Terminar uma odisséia de pesquisa intensa com um tal anticlímax é pregar uma partida imperdoável ao leitor. Se quem compra um livro exigisse a devolução do dinheiro com a alegação de que o crime foi uma farsa, qualquer tribunal com um mínimo de sentido de justiça decidiria em seu favor e repreenderia severamente o autor que assim teria enganado um leitor cheio de boas intenções.

19- “Os motivos de todos os crimes de uma história policial devem ser pessoais.”
Tramas internacionais e políticas bélicas pertencem a uma categoria diferente de ficção – as histórias de serviços secretos, por exemplo. Mas uma história de um crime deve refletir as experiências diárias do leitor e dar-lhe uma certa saída para os seus próprios desejos e emoções reprimidas.

20- Os próximos pontos são alguns dos instrumentos que nenhum autor policial, que se preze, utilizará nas suas histórias. Para Van Dine, as seguintes alíneas têm sido usadas com demasiada frequência e são conhecidas por todos os verdadeiros amantes da literatura do crime. Utilizá-las é confessar a incapacidade do autor e a sua falta de originalidade.
a) “Determinar a identidade do culpado pela comparação da “bituca” deixada na cena do crime com o cigarro recentemente fumado pelo suspeito.”
b) “A sessão espírita para assustar o culpado, levando-o a ceder.”
c) “Impressões digitais forjadas.”
d) “O álibi da pessoa parva.”
e) “O cão que não ladra e, portanto, revela o fato de o intruso ser familiar.”
f) “A descoberta final do crime num gêmeo ou num parente muito parecido com a pessoa suspeita mas inocente.”
g) “A seringa hipodérmica e o remédio em gotas”
h) “A entrada do criminoso numa sala trancada depois de, eventualmente, a polícia ter lá estado.”
i)“O teste da associação de palavras para a detecção do culpado.”
j) “A carta cifrada ou codificada que é eventualmente descoberta pelo investigador.”      

E aqui termino, desejando a todos os futuros romancistas policiais muita sorte para conseguir escrever uma história seguindo com rigor cada regra descrita por Van Dine.  ;)



BIBLIOGRAFIA:
S.S. Van Dine; “The Winter Murder Case”; Clube do Crime; 1995; Publicações Europa-América; pág 89
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Como escrever um romance histórico

terça-feira, 3 de maio de 2016

Por: Estrela de Rubi

Olá, meus caros! 

Novo artigo que estou postando aqui, e desta vez é destinado a todos os autores que estão de saco cheio de escrever uma simples ficção.

Querem escrever algo diferente, complexo e desafiante? Então, eu sugiro um romance histórico. 

O que é? É um gênero literário em que a narrativa ficcional se relaciona com os fatos históricos. 

E agora vocês me perguntam:

Cara, tenho que estudar História para escrever esse romance? 

É claro que sim! Não se faz omelete sem partir ovos, meus caros. Um bom romance histórico deve ser documentado de maneira metódica, consultando primeiro as fontes, entre elas a História. 

Mas calma, não precisam bater com a cabeça na parede por causa disso. Hoje em dia é muito fácil e divertido estudar História. Temos um manancial de livros à disposição, filmes, artigos, documentários, programas, crônicas, séries, novelas, teatro e até músicas.

Como começar?

Simples, primeiro vocês terão de escolher a época e o país que desejam retratar. Depois é necessário conhecer toda a realidade dessa época, estar profundamente integrado no seu conjunto e nos seus pormenores, criar um retrato verídico dos costumes e das características desse país. É necessário ter um bom conhecimento de aspectos como a cultura, sociedade, economia, filosofia, política, religião, arte, literatura, etc… Aconselho vocês a fazerem uma planificação sobre todos esses aspectos para que não haja erro na ambientação do enredo. 

Segundo, vocês terão de escolher uma figura pública, ou seja, uma figura histórica que realmente existiu nessa época. Vocês terão de encontrar arquivos, documentos, biografias que descrevam essa pessoa (nomeadamente o que ela fez, como se destacou na História) para que consigam estudar a sua personalidade a fundo. 

Com todo esse estudo realizado, passaremos então para o terceiro e último ponto: prencher os espaços em branco deixados pela História com a nossa imaginação. É isso aí! Para mim, esta é a melhor parte, mas também a mais complexa de todas, porque não podemos simplesmente divagar na nossa imaginação, temos de ter uma linha de orientação cingida aos fatos reais com grande disciplina, seguindo o guião traçado pelas mãos da História. Temos de nos adaptar à personagem que não foi criada por nós e através da coordenação das pesquisas, construir um enredo lógico, credível e susceptível de criar dramatismo e suspense. 

Difícil, não é? Mas não é impossível, gente!

Só temos de ser capazes de retroceder no tempo, trazer os mortos para a vida e, de quebra, preencher esses fatos históricos com a nossa imaginação. Tudo isso para criar uma obra que tenha verosimilhança com uma pessoa e uma época que não existem mais. 

E agora vocês me perguntam:

Cara, e todas as outras personagens também têm de ser reais? 

É aqui que vem a boa notícia! Não, as outras personagens poderão ser inventadas por vocês, mas atenção, elas têm de estar em concordância com os padrões da época retratada. Não se esqueçam que a linguagem das personagens é muito importante e varia de época para época. Não diverge apenas do vocabulário ou da sintaxe, mas também do modo como articulam as ideias, raciocínios ou da forma como expressam as emoções. A dificuldade de um romance histórico é a do chamado “anacronismo”, o erro de atribuir algo (uma ideia, um preconceito, um fato) a uma época que não corresponde. Em tempos diferentes, as ideias variam muito a respeito das mesmas ações, por exemplo, as ações dos homens do séc. XVI não devem ser julgadas à luz das nossas ideias do séc. XXI, entenderam?

Ah, e, por favor, não pensem que um romance histórico é aquele velho cliché que contempla apenas castelos rodeados de fossos, pontes-levadiças, uma espécie de natureza clássica ou lordes. Não, este gênero literário vai muito além disso, ele retrata e contextualiza ambientes verídicos com personagens que viveram neste mundo real. Nós só temos que fazê-los renascer, dar-lhes vida com o poder da nossa imaginação. O romace histórico completa e dá colorido às secas linhas das crônicas, e a ficção, ao animar o tema, ajuda o leitor a formar uma ideia mais clara dos costumes, dos usos, dos hábitos e do espírito que constituem a fisionomia da idade em que se desenrola a ação. 

E é isso aí, gente! Concluindo, para se escrever um romance histórico é necessário vocês terem um passo firme para descer às profundezas da História, terem uma voz imperiosa para interrogar os fantasmas e possuirem uma mão que não trema na hora de escrever as palavras que eles ditam. 

Referências:
NASCIMENTO, N.; PINTO, Castro J. – “A dinâmica da escrita: como escrever com êxito” [4ºedição], Plátano, 2005.
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Como desencalhar fanfics de uma cena chata

terça-feira, 5 de abril de 2016


Escrito por: Estrela de Rubi 



Eufóricas saudações! 



É a minha primeira contribuição no blogue, me desejem sorte.

Este post é para aqueles que estão destruindo o computador de pancada ou jogando folhas repletas de palavras vãs no lixo só porque sua história está encalhada numa cena chata. 

Pois é, caros autores, uma história é um labirinto que nós próprios criamos e que, se não tivermos cuidado, podemos acabar nos perdendo nele. Hoje estou aqui para ajudá-los a encontrar o melhor caminho para sair desse labirinto.

Acabaram de escrever uma cena chata e não sabem o que fazer?

Bom, primeiro vamos à solução mais simples:


Eliminá-la! 


Sim, estou falando sério. Por mais que vocês tenham imaginado essa cena há décadas, por mais que tenham partido a cabeça tentando elaborá-la, digam-lhe adeus. Mas esperem! Não façam isso de forma leviana. Primeiro, vocês têm que responder a estas três perguntinhas básicas: 


— A cena apresenta uma nova perspectiva sobre o personagem, isto é, revela algum caracter inédito de um dos personagens?
— A cena faz avançar a história para o cerne do enredo principal?
— A cena transmite alguma emoção cômica ou dramática? 


Se vocês responderam “Não!” a pelo menos duas dessas três perguntas, então gente, lamento, mas essa cena não vai sobreviver ao ânimo dos seus leitores. Sim, eles morrerão de tédio. É chegada a hora de vocês eliminarem essa parte, porque mais vale matarmos uma cena do que matarmos a história inteira. 

Se, pelo contrário, vocês responderam “Sim!” a duas dessas três questões, então parabéns, estão no caminho certo! É tempo de arregaçarmos as mangas e encararmos o problema de frente. Pois é, vamos fazer magia para tornar a cena chata numa cena dinâmica. Ela demonstra ser fundamental para a história e vocês terão de a manter viva. 

É necessário imprimir transformação na cena para dinamizá-la e fortalecê-la.



Mas como fazer isso sem arrancar os cabelos? 



Simples, nós, os autores, temos a faca e o queijo na mão. Podemos mexer com as emoções dos leitores apenas com poucas palavras, que, bem colocadas, fazem uma cena parecer viva, palpável, quase real.

Antes de mais, devemos planejar a cena antes de escrevê-la, esquematizando-a por passos, onde deverão ter em conta:



— o objetivo de cada personagem;
— o que o personagem obterá no final;
— estado de espírito do personagem no início e no final;
— quais as pequenas revelações na história;
— avaliar o nível de tensão antes e depois da cena.


Toda a cena deve conter esses pontos para que fique com lógica e se insira convenientemente no enredo. Com estes objetivos delineados, a nossa tarefa fica muito mais facilitada. 

Então, chegou a hora de acorrentarmos os nossos leitores à cena “chata” para que eles, no final de cada página, sintam uma vontade irresistível de ler a seguinte. Chegou o momento de lançarmos a nossa teia de palavras, o nosso labirinto de emoções para que eles se percam no vício da leitura. 


E isso é muito fácil! 



Primeiro, vocês terão de decidir se querem que a cena cause impacto ou suspense



— Para causar impacto, escrevam o cerne da cena logo de início, isto é, escrevam o ponto alto da cena e só depois explorem a tomada de abertura, o cenário, a reação e as consequências desse ponto alto. Por exemplo, “— Pai, eu estou grávida! — revelou com voz trêmula. Louise estava de pé, de frente para o senhor Laércio que lia o jornal sentado no sofá.” 

— Para causar suspense, explorem primeiro o fluxo emocional da cena, descrevam o cenário, os sentimentos do personagem, os seus gestos e só depois, lancem o ponto alto da cena, ou seja, preparem o leitor antes de jogar o ponto alto em cima dele. “Louise, torcendo as mãos de nervosismo, deteve-se de frente para o senhor Laércio que lia o jornal sentado no sofá. — Pai, eu estou grávida — revelou com voz trêmula.” 



Para mim, tanto o suspense quanto o impacto são excelentes formas de cativar o leitor, mas só vocês poderão escolher o que se adapta melhor à sua cena. 

Independentemente da forma como querem expô-la, o fundamental é torná-la dinâmica e para isso devem ter em conta:



Abreviar a cena o mais possível. Não mastiguem muito a cena, mas também não a lancem numa só tacada. Encontrem um meio-termo. 

Fujam das cenas planas, previsíveis. Nunca se esqueçam, as surpresas são as suas melhores amigas.

— Descrevam a cena numa perspectiva mais ampla, de maior importância para o enredo. Tentem não descrever todos os detalhes para não cansar o leitor.

— Adicionem algum ruído para além dos diálogos, por exemplo “escutam-se passos”, “o vento uiva”. Isto ajuda a transportar o leitor para dentro da história.

— Deem cor às cenas para enfatizar as emoções. Por exemplo, se for uma cena de conflito, utilizem frases como “o lugar estava envolvido na penumbra”; se for uma cena de felicidade, paz, conforto, usem frases como “o sol brilhava quente naquela manhã”. 

— Adicionem pequenas ações entre os diálogos, por exemplo, “O chefe, irado, inclina-se sobre o empregado que o olha assustado — Você está despedido!” 

Descrevam o ambiente, o cenário da cena. Expliquem brevemente onde os personagens se encontram, por exemplo “Estava frio naquele porão coberto de pó e de teias de aranha”. 

Nunca comecem nem terminem o capítulo/história com uma cena que vocês considerem secundária ao enredo.

Não utilizem muitos adjetivos nem muitos diálogos filosóficos. 

— Se for possível, intercalem a cena com outra mais emotiva, mais tensa.

Transmitam as emoções/sensações dos personagens, por exemplo “Um calafrio percorreu todo o seu corpo”. 




Estas são algumas características que devem dominar para que a cena deixe de ser chata e passe a ser uma das mais fortes, intensas e dinâmicas da história. E nunca se esqueçam, revisem o texto várias vezes para cortar qualquer coisa que não contribua diretamente para a evolução da trama.



Mais vale matar uma cena do que matar a história inteira.




*****


Biblio/webgrafia:

NASCIMENTO, N.; PINTO, Castro J. – “A dinâmica da escrita: como escrever com êxito” [4ºedição], Plátano, 2005

Agradecimentos: 

Um agradecimento especial a Mya Zurck que me auxiliou a desenvolver este artigo. 



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As imagens que servem de ilustração para o posts do blog foram encontradas mediante pesquisa no google.com e não visamos nenhum fim comercial com suas respectivas veiculações. Ainda assim, se estamos usando indevidamente uma imagem sua, envie-nos um e-mail que a retiraremos no mesmo instante. Feito com ♥ Lariz Santana