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A costureira e o cangaceiro - Resenha

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Por: Rodrigo Caetano
Perfil:  http://fanfiction.com.br/u/82481/

E aí, povo do Nyah! Tudo certo com vocês?
Voltei nesse mês de junho com uma resenha fresquinha pra vocês. E, no espirito das festas juninas, escolhi um livro nacional que conta uma história do interior do nosso Brasil.
Mergulhando fundo na história e na cultura do nordeste e, ao mesmo tempo, abordando aspectos modernos do nosso dia-a-dia e nos trazendo uma trama de família, amor e ação dignas de Hollywood. Não é a toa que o filme baseado no livro deve ser lançado ainda esse ano aqui no Brasil.
Sem mais delongas, vamos ao que interessa:

Autora: Frances Pontes Peebles
Editora: Nova Fronteira
Sinopse: Na pequena Taquaritinga do Norte, Emília e Luzia aprendem desde cedo o ofício da tia, a melhor costureira da região. Em meio a moldes, fazendas, linhas e agulhas, as moças vão tecendo caminhos inesperadamente opostos. Luzia é incorporada a um bando de temíveis cangaceiros e vai viver com eles no sertão. Emília encontra no casamento a sua passagem para a tão sonhada vida na capital, o Recife. Sertão e cidade desafiam as irmãs a se transformarem, mas o laço que as une não se abala com as mudanças, e elas farão de tudo para tentar proteger uma à outra.

Resenha:
A costureira e o cangaceiro foi um dos melhores livros que li este ano. Um livro que me pegou de surpresa e que, pela primeira vez na vida, me deixou ansioso para ver um filme do nosso tão subestimado cinema nacional.
O livro conta a história de duas irmãs do interior do Recife que crescem pobres nas décadas de 20 e 30. Além de retratar muito bem a situação da época, a autora conseguiu modernizar o conto ao tratar de maneira tão madura e inteligente o papel da mulher na sociedade precária em que as duas personagens principais estavam inseridas.
Sempre sonhando alto, mas com objetivos e modos de pensar diametralmente opostos, as duas irmãs, Emília e Luzia, são levadas por suas escolhas a dois caminhos distintos, separando-se quando jovens e retratando ambos os lados da sociedade recifense da época: a burguesia que ganhava força na capital, subindo de classe, e o povo esquecido do interior, assombrados e, ao mesmo tempo, devotos do cangaço.
O contexto histórico da alçada de Getúlio Vargas ao poder e da modernização que o país enfrentou à época, no período entre a primeira e a segunda guerra, são o pano de fundo perfeito para esse romance, servindo como um atrativo extra nos momentos em que a trama, por sua própria necessidade, precisa diminuir o ritmo.
Enquanto isso, os momentos de ambas Luzia e Emília roubam a cena, mostrando tanto a intriga moderna da alta sociedade recifense quanto a vida dura e os momentos de ação vividos por aqueles que vivam livres em grupos de cangaceiros — que cometiam atrocidades e salvavam vidas, sempre no limite da capacidade humana.
Uma história cativante, emocionante e que, por vezes, chega a tirar o fôlego — isso sem contar na riqueza de detalhes e na precisão da caracterização histórica de um período tão interessante da sociedade brasileira, que, por vezes, chega a pulsar nas páginas.
Uma leitura fortemente recomendada, que merece a atenção de todos. O filme deve sair até o final do ano — talvez entre setembro e outubro — e nos resta torcer para que ele faça jus ao livro.
Por hoje é isso, galera! Um abraço e até a próxima!
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Deuses Americanos: Resenha

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Por: Rodrigo Caetano

E aí, galera? Pois é, estive sumido, não é? Desculpem-me por isso. Agora estou de volta com novidades e uma resenha fresquinha, de um dos melhores livros que li nos últimos dois anos.
Primeiro, à novidade. A linda e maravilhosa Raven Hraesvelg aceitou me ajudar nessa linda missão que é continuar trazendo resenhas legais para vocês. Como vocês perceberam nos últimos meses, nem sempre essa missão é fácil. Assim, a partir de agora, eu e ela vamos revezar para conseguir trazer para vocês resenhas cada vez melhores e mais interessantes. Mês que vem ela já vem aqui e se apresenta para vocês! Tratem-na bem, ok?
Agora, ao que interessa. Vocês conhecem o Neil Gaiman? Eu já falei dele aqui antes. O cara é um Gênio. E essa é uma das suas principais obras literárias. E está virando uma série para TV que estreia lá nos EUA no dia 30 desse mês! A série promete e tem tudo para ser uma grande produção, porque, amigos, devo adiantar que o livro é o máximo. Deixarei aqui o link para o trailer oficial da série, para quem se interessar, e vamos direto ao assunto!

Autor: Neil Gaiman
Título Original: American Gods
Tradução: 576
Editora: Intrínseca
Sinopse: Uma tempestade está a caminho…
Na cadeia por três anos, Shadow (Sombra) cumpriu sua pena, esperando silenciosamente pelo mágico dia em que poderia voltar a Eagle Point, Indiana. Agora um homem sem medo do que o amanhã traria, tudo o que ele queria era estar com Laura, a mulher que ele amava profundamente, e começar uma nova vida.
Porém, dias antes de sua libertação, Laura e o melhor amigo de Shadow são mortos em um acidente. Com sua vida em pedaços e nada para prendê-lo, Shadow aceita um emprego de um intrigante estranho que ele conhece a caminho de casa, um homem enigmático que chama a si mesmo de Sr. Quarta-Feira. Um vigarista e trapaceiro, Quarta-Feira parece saber mais sobre Shadow do que ele mesmo.
A vida como guarda-costas, motorista e garoto dos recados de Quarta-Feira é bem mais interessante e perigosa do que Shadow poderia ter imaginado — é um trabalho que o leva em uma viagem sombria e estranha e o apresenta a uma lista de personagens excêntricos cujos destinos são misteriosamente ligados ao seu próprio. Pelo caminho, Shadow aprenderá que o passado não morre; que todos, inclusive sua amada Laura, guarda segredos, totens, lendas e mitos são mais reais do que sabemos. Ele irá descobrir que por baixo da superfície frágil do dia-a-dia uma tempestade está se formando — uma guerra épica pela alma dos Estados Unidos — e que ele está parado bem no meio do caminho.
Resenha:
Neil Gaiman é um gênio. Tendo isso estabelecido, o resto é fácil de falar.
Deuses Americanos nada mais é do que mais uma prova de sua genialidade. Outra prova de sua genialidade é que, como todo bom gênio, ele não é universalmente aceito como tal. Algumas pessoas não gostam tanto assim de seus trabalhos, incluindo este. Dizem que é uma leitura pesada, às vezes confusa, às vezes vaga. Eu respeito essas pessoas.
Por vezes a leitura seria mesmo pesada, não fosse a habilidade de Gaiman brincar com as palavras e utilizá-las, cada uma, com seu propósito específico, muitas vezes inesperado. Por vezes, a leitura poderia mesmo ser vaga, não fosse a habilidade de Gaiman fantasiar e criar universos paralelos tão vagos quanto a nossa vida real. Fato é que a obra é tão vasta que de um livro pode-se facilmente fazer várias temporadas de uma série de TV – como o pessoal não tardou a perceber.
Toda a premissa dessa história é meio maluca. Ela parte do princípio de que as crenças dos seres humanos são mais poderosas do que nós tomamos ciência. De que, ao acreditarmos em uma entidade, essa entidade passa assim a existir. E quanto mais acreditamos nelas, mais poderosas elas se tornam.
Por isso, os Deuses que todos os imigrantes levaram à América na sua eterna migração para a terra desconhecida lá vivem até hoje, sejam eles nórdicos, hindus, católicos ou africanos. Porém todos eles vem perdendo força, poder, a medida que o povo perde a fé que os deu a vida. Surgem, então, novos deuses, os deuses da tecnologia, os deuses americanos. Entidades como a Mídia e a Internet são apenas alguns desses novos deuses que entram em guerra contra os Deuses antigos, brigando não apenas por espaço, mas pelo poder das crenças das pessoas.
Seguindo o personagem Shadow (Sombra), viajamos por todos os Estados Unidos, explorando sua geografia e sua história, conhecendo diversas entidades religiosas que vivem escondidas em plena vista na nossa sociedade, além dos novos deuses que, cada vez mais, crescem no mundo moderno.
Gaiman dá uma nova cor à nossa realidade ao criar todo um universo novo e vasto, dando uma aula de criatividade e de literatura. Quando você pensa que não está entendendo nada, ele vai lá e joga tudo na sua cada de uma só vez, lhe mostrando como tudo estava claro o tempo inteiro.
Um grande livro de um grande autor. Uma leitura obrigatória para os fãs da fantasia moderna. Não poderia deixar de recomendar. Tomara que a série consiga capturar toda a escuridão e mágica que os livros transmitem. Se tudo correr bem, teremos uma tempestade à caminho...
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Resenha: Alice no País das Maravilhas

terça-feira, 16 de agosto de 2016


Por: Rodrigo Caetano


Oi, galera! Lá venho eu aqui novamente fazer mais uma resenha. Vamos resenhar a incrível e imortal obra de Lewis Caroll, com o primeiro e mais famoso livro da duologia de Alice — Alice no país das maravilhas!

Isso mesmo! Hoje vamos primeiro ao País das Maravilhas conhecer pessoas como o Chapeleiro Maluco, o gato de Cheshire e o Coelho branco — se é que esses últimos podem ser chamados de pessoas. Assim, vamos ver o que há de tão especial nesse clássico atemporal que encanta não apenas crianças, seu público primário, como também adultos e estudiosos da literatura.

Para começar, primeiro vale dizer que Lewis Caroll é, na verdade, um pseudônimo de Charles Lutwidge Dadgson, um — acreditem se quiserem — professor de matemática (!) britânico que viveu no século XIX. 

A história desse clássico da literatura infantil nasceu de maneira inusitada. Charles estava em um passeio de barco no rio Tâmisa, em Londres, com as três filhas do reitor da Universidade em que lecionava, quando resolveu contar uma história para uma das meninas, Alice Liddel, de 10 anos à época. A menina gostou tanto da história que pediu para que ele a escrevesse e, assim, depois de muito trabalho no texto, o autor resolveu lançar o livro sob seu pseudônimo, Lewis Caroll.

Incrível, não?! Imagina se ela tivesse de mau humor naquele dia?!

Sem mais enrolação, vamos ao livro!


Título original: Alice’s adventures in wonderland.

Título traduzido: Alice no país das maravilhas.

Autor: Lewis Caroll

Disponível no domínio público em: 


Resenha:

Devo confessar que precisei ler esse livro mais de uma vez, o que parece ser vergonhoso em se tratando de um livro infantil. Porém, como vocês verão, esse não é um livro infantil qualquer. Alice não é tão especial sem motivos.

Na primeira leitura, encarei o livro de maneira inocente, despreparado para o que iria encontrar ali. Encarei o livro sem, primeiro, ter lido uma resenha como essa. Por isso, depois de alguns capítulos, estava mais perdido que a pobre coitada da Alice.

O livro é curto, pequeno, como devem ser os livros infantis, e, se você é um leitor mais velho e experiente, conseguirá lê-lo de maneira bem rápida. Se puder dar-lhes uma dica é: não o façam. Tomem seu tempo, leiam apenas alguns capítulos de uma vez, e deixem a história e ficar na sua mente nos intervalos de leitura.

Lewis Caroll, apesar de professor de matemática, é um escritor tremendamente habilidoso, e foi isso que descobri quando resolvi, recentemente, dar-lhe outra chance. Li com calma, prestando atenção nos detalhes, nas brincadeiras com a linguagem e, principalmente, com a simbologia que ele usa.

E me descobri encantado. Não se enganem; o País das Maravilhas continua sem fazer o menor sentido para mim, mas esse é mesmo o objetivo. Com uma fábula tão bem trabalhada, o autor consegue usar a lógica (ou falta dela) desse mundo mágico justamente para desconstruir e questionar diversas das lógicas básicas, que tomamos como certas no nosso mundo.

E é assim que, através dessa intensa e constante quebra de padrões — sejam físicos, com o crescimento e a diminuição do tamanho de Alice, sejam intelectuais, com questionamentos sobre etiqueta e o papel das coisas — que o autor consegue retratar com maestria os desafios que uma criança enfrenta ao crescer e se inserir aos poucos no mundo adulto.

E é esse o tema central do livro. Os processos e desafios que uma criança, um ser que pouco sabe sobre as regras sociais e físicas do mundo em que vivemos, enfrente ao ter que aprendê-los e absorvê-los de maneira tão profunda quanto nós, adultos, já o fizemos.

O constante crescimento e diminuição de Alice, os conselhos que ela recebe tanto da lagarta quanto do famoso gato de Cheshire, até mesmo o chapeleiro, são todos ao mesmo tempo metáforas e instrumentos que auxiliam no amadurecimento de Alice, que começa o livro como uma menina perdida e chorona, e termina como uma menina muito mais madura e dona de si, capaz de enfrentar seus medos e questionar a sua própria realidade. 

E isso é algo que todos nós devemos sempre nos lembrar. Ao mesmo tempo, saber que as pessoas não necessariamente absorvem e aprendem as regras sociais — básicas para nós — da mesma maneira, e que, por mais profundas que sejam as lógicas que nós assimilamos quando crianças, nenhuma delas está livre de um justo questionamento e reavaliação.

Espero, assim, ter ajudado vocês a se encontrarem um pouco mais nesse mundo mágico que é o País das Maravilhas. Em breve, ainda este ano, espero poder voltar para vermos as coisas através do espelho!

Um abraço e até a próxima!
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Resenha: O Teorema de Katherine

terça-feira, 19 de julho de 2016


Por: Rodrigo Caetano

Nerdfighters, olha o livro que apareceu aqui esse mês! Para quem não sabe o que é um Nerdfighter, não tema, pois vou explicar.

Você talvez conheça o nome John Green (ou João Verde, fique à vontade) como o autor daquele livro que virou filme, sobre a menina e o menino com câncer. Aquele chamado “A culpa é das estrelas”. Então, antes disso, ele escreveu um monte de outros livros, incluindo esse aqui. E, além disso, ele começou, em 2007, um canal no youtube com seu irmão, o Hank Green (ou Hank Verde), chamado vlogbrothers.

Juntos, nesse canal, eles construíram uma comunidade e são dois dos principais expoentes do youtube americano, com diversos canais e milhões de seguidores, incluindo o canal “Crash Course” — um canal educativo que dá aulas online de maneira bem simples e acessível sobre diversos temas, como biologia, história mundial, economia, física, filosofia e até propriedade intelectual.

Essa comunidade passou a ser chamada de Nerdfighters, mas não são pessoas que lutam contra os nerds. São nerds autoproclamados que lutam contra a crescente presença das coisas que são um saco (the word “suck”).

Então eu achei interessante trazer o último livro que li do John Green, justamente sobre um nerd assumido, e apresentar para vocês essa comunidade. Já deixei os links pelo texto, e, por fim, vou deixar uma pequena seleção de vídeos recentes e interessantes do canal original deles, e, se vocês quiserem, recomendo seguir pelo youtube. Sempre vale a pena.

Agora, vamos à resenha!E DFTBA (Don’tforgettobeawesome)!


Título Original: An abundance of Katherines

Título Brasileiro/Português: O Teorema Katherine

Autor: John Green

Editora: Intrínseca

Tradutora: Renata Pettengill


Sinopse: Se o assunto é relacionamento, o tipo de garota de Colin Singleton tem nome: Katherine. E em se tratando de Colin e Katherines, o desfecho é sempre o mesmo: ele leva o fora. Já aconteceu muito. Dezenove vezes, para ser exato.

Depois do mais recente e traumático término, ele resolve cair na estrada. Dirigindo o Rabecão de Satã, com seu caderninho de anotações no bolso e um melhor amigo bem fora de forma no banco do carona, o ex-garoto prodígio, viciado em anagramas e PhD em levar pés na bunda, descobre sua verdadeira missão: elaborar e comprovar o Teorema Fundamental da Previsibilidade das Katherines, que tornará possível antever, através da linguagem universal da matemática, o desfecho de qualquer relacionamento antes mesmo que as duas pessoas se conheçam.

Uma descoberta que vai mudar para sempre a história amorosa do mundo, vai vingar séculos de injusta vantagem entre Terminantes e Terminados e, enfim, elevará Colin Singleton diretamente ao distinto posto de gênio da humanidade. Também, é claro, vai ajudá-lo a reconquistar sua garota. Ou, pelo menos, é isso o que ele espera.


Resenha:

Essa é (mais) uma história sobre corações partidos, mas é sobre tantas outras coisas também... Colin Singleton é um adolescente que, como tantos outros, acha que tudo gira em torno de sua vida amorosa, e, quando esta vai por água abaixo, ele passa a questionar toda a sua vida e todas as decisões que toma.

E é isso que torna a coisa mais interessante. Porque apesar dessa coisa de corações partidos soar clichê, é justamente essa capacidade de um coração partido tem de levantar tantas questões diferentes que torna essas histórias tão interessantes. E, nesse caso, o coração partido pertence a um garoto bastante inteligente, que passou a vida sendo considerado um garoto prodígio, até que, de repente, percebeu que, como estava crescendo e não era mais um “garoto”, isso significava que ele não continuaria a ser um “garoto prodígio”.

Assim, buscando a grande ideia que o transformaria de prodígio em gênio de fato, ele observa parte em uma aventura para conseguir transformar todos os relacionamentos em que já esteve em uma única equação matemática, que preverá quando e quem irá por fim a qualquer relacionamento que você queira estudar.

Eu não vou dizer se ele consegue ou não, mas eu vou dizer que, apesar do tema, a matemática do livro é muito pouca, e você não precisa nem saber somar dois mais dois para entender.

Tá, talvez dois mais dois você precise saber para entender, mas você também precisa saber para viver...

O livro é interessante e, apesar de não ser surpreendente — como é “A culpa é das estrelas” —, esse livro é extremamente bem construído, e John Green com certeza sabe usar bem a linguagem na hora de escrever.

É interessante observar a simplicidade com que ele incorpora um sotaque diferente em palavras escritas e como isso é eficaz em ambientar a história em uma pequena cidade do interior. E é incrível como ele consegue brincar com anagramas — nosso protagonista é fascinado por eles — e com fatos históricos aleatórios — nesse caso, o autor é fascinado por eles —, sem torná-los chatos ou deixar o livro pesado.

Por sinal, uma crítica comum ao livro é como ele pode fazer com que você se canse de anagramas ou fatos históricos, ou como Collin pode ser irritante às vezes. Mas a verdade é que os anagramas e a personalidade fechada e específica do Collin são partes tão importantes do livro quanto às cenas mais agitadas e românticas. A brincadeira que eles têm em julgar o que é ou não é interessante é uma das questões mais importantes do livro, que nos ajuda a ver como o relacionamento que temos com um grupo ou uma comunidade, muitas vezes, é radicalmente mais complexa do que julgamos, e muitas vezes o fato de não nos darmos bem não é culpa nossa ou culpa dos outros. 

O fato de sermos considerados ou não interessantes pelos outros não necessariamente significa que você não é interessante para alguém, ou para outras pessoas; e, ainda assim, o fato de que aquelas pessoas que lhe acham desinteressantes não é necessariamente culpa delas. Na verdade, melhor dizendo, você não pode ser interessante ou desinteressante, mas as coisas são interessantes ou desinteressantes para pessoas diferentes. E você pode ter amigos e se dar bem com todo mundo mesmo que você goste de muitas coisas consideradas desinteressantes.

Apesar disso, o livro é relativamente lento, em comparação a outros livros que já li, e algumas das viradas da trama me pareceram mais convenientes do que naturais. E, pessoalmente, achei que o final ficou um tanto quanto desnecessário. Acho que o livro teria mais impacto caso Collin tivesse voltado à sua rotina no final.

Talvez seja uma questão minha, mas, apesar de concordar que a jornada do herói clássico está repetitiva, ela foi estudada justamente porque ela é repetitiva. Há milênios. Em culturas diferentes. E ela o é por um motivo.

Eu senti falta do retorno de Collin, da fase em que ele, após passar pelas fases, retorna ao ponto de partida, já evoluído e tendo vencido todas as suas batalhas.

Porém, ainda gostei muito do livro, e ainda o recomendo. Dos três livros que li de John Green, esse é o que menos gostei, mas ele ainda é um ótimo livro, e eu gostei tanto que fiz questão de vir contar a vocês sobre ele. 

Por enquanto é só! Até a próxima, galera!

P.S.: Não posso deixar de reconhecer aqui o lindo trabalho de tradução desse livro. Um livro cheio de anagramas e brincadeiras linguísticas que deve ter sido bem complicado de traduzir, e o resultado ficou muito legal. Quando lerem, prestem atenção nesse detalhe e vocês vão entender como esse trabalho é importante!
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Resenha: O Guia do Mochileiro das Galáxias

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Por: Rodrigo Caetano

Não entre em pânico! Sério, galera, está tudo bem. Eu sei que hoje não é dia de postagem, mas tem resenha hoje mesmo assim. Sabe porquê? Por que hoje é dia 25 de maio, o dia de homenagear ninguém menos que Douglas Adams.

Gente, de verdade, se vocês não sabem quem ele é, deem uma olhada. Esse cara era um gênio!

E o dia 25 de maio foi o dia escolhido pelos seus fãs para honrar esse grande escritor, e passou a ser conhecido como dia internacional da toalha. Sim! Da toalha! Hoje é o International Towel Day, e não é porque Douglas Adams foi o cara que inventou a toalha (eu juro que, se você ler o livro, isso tudo vai fazer sentido — talvez). Na verdade, o que ele fez foi escrever um livro.

Um não, uma trilogia. Uma das trilogias mais sensacionais que eu já li. A única que tem cinco (!!!)livros.

Então, sem mais delongas, venho aqui apresentar para vocês a resenha de O Guia do Mochileiro das Galáxias, o “volume um de uma trilogia de cinco”, que é seguido por “O restaurante no fim do universo”’; “A vida, o universo e tudo o mais”; “Até mais e obrigado pelos peixes”; e “Praticamente inofensiva”.

Título em Português: O Guia do Mochileiro das Galáxias

Título Original: The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy

Editora: Arqueiro

Sinopse: “Considerado um dos maiores clássicos da literatura de ficção científica, O Guia do Mochileiro das Galáxias vem encantando gerações de leitores ao redor do mundo com seu humor afiado.

Este é o primeiro título da famosa série escrita por Douglas Adams, que conta as aventuras espaciais do inglês Arthur Dent e de seu amigo Ford Prefect.

A dupla escapa da destruição da Terra pegando carona numa nave alienígena, graças aos conhecimentos de Prefect, um E.T., que vivia disfarçado de ator desempregado enquanto fazia pesquisa de campo para a nova edição do Guia do Mochileiro das Galáxias, o melhor guia de viagem interplanetário.

Mestre da sátira, Douglas Adams cria personagens inesquecíveis e situações mirabolantes para debochar da burocracia, dos políticos, da “alta cultura” e de diversas instituições atuais. Seu livro, que trata em última instância da busca do sentido da vida, não só diverte como também faz pensar”.


Resenha:


Gente, deixa eu começar dizendo que, apesar de ser uma ficção cientifica, esse é um livro, primordialmente, de comédia. E, tendo dito que é uma comédia, devo alertar que é o livro de filosofia mais engraçado que eu já li. Sem brincadeira, como a sinopse bem diz, ele busca descobrir o sentido da vida, e, se pode apresentar uma conclusão, ela vem escrita, de cara, na capa: “não entre em pânico”.

Nosso protagonista se chama Arthur Dent, um inglês que, como todo bom inglês, tem um apego a suas tradições e a seus costumes — como, por exemplo, a hora do chá. Seu melhor amigo se chama Ford Prefect — o nome de um carro muito popular há algumas décadas na Inglaterra. Arthur nem desconfia, mas seu amigo é, na verdade, um alienígena que trabalha para o Guia do Mochileiro das Galáxias, um repositório de conhecimento intergaláctico.

O Guia é, talvez, a coisa mais difícil de explicar dessa história inteira. Mas, de maneira simples, podemos dizer que ele é um livro, em forma de tablet— é até difícil acreditar que Douglas Adamsfoi publicado na década de 1970 — que funciona como uma Wikipédia de todo o universo conhecido — só que o universo conhecido é mesmo muito, muito grande. Nem dizer que é infinito ajuda a entender o quão grande ele é. Não se trata apenas do sistema solar e da nossa galáxia.

Ponto é que, em uma bela quinta-feira, Arthur percebe que — para sua surpresa — estão prestes a demolir sua recatada casa para construir uma estrada. E, pouco depois, seu amigo Ford o encontra discutindo com o pessoal da obra, e avisa que ele não tem porque se preocupar com sua casa, pois o planeta inteiro está prestes a ser destruído para a construção de uma hipervia espacial. E ele fala assim, como se não fosse nada demais, apenas mais uma típica quinta-feira.

Ford consegue fugir da terra com Arthur antes da destruição do planeta, e isso dá início a mais maravilhosa saga espacial já contada.

Misturando o absurdo com o comum, o autor brinca com política, com burocratas, com todas as instituições que conhecemos, e faz graça de tudo o que você possa imaginar, sem sequer te contar que está fazendo graça. É assim que ele te faz questionar o quão importante realmente são as coisas que você acha que são importantes. Você ri de tão absurdas que são as situações, e, quando percebe, chega à conclusão de que, na verdade, a vida não está nem um pouquinho — mas nem um “pouquinhozinho” mesmo — sob o seu controle.

Sem querer, quase em um passe de mágica, você percebe que está rindo dos próprios planos que fez para a sua vida, e é aí que entra a graça de tudo — justamente quando você para de rir. É aí que nós descobrimos o verdadeiro sentido da vida, e que o aviso que vem impresso na capa — na grande maioria delas, pelo menos — do livro vem bem a calhar: não entre em pânico!

O livro é tão sensacional e tão reconhecido que já inspirou muitas das coisas com as quais estamos acostumados. O tradutor oficial do Yahoo, durante muito tempo, tinha o símbolo de um peixinho amarelo, que é uma clara referência ao peixe-babel, um animal que Ford apresenta a Arthur nos primeiros capítulos do livro, capaz de fazer você entender qualquer idioma falado já inventado ou que possa ser inventado no futuro.

É o tipo de livro que você pode ler com dez anos ou com cinquenta, e você vai continuar aproveitando tudo que ele tem para dar. E você vai curtir mais ainda se ler aos dez anos e, de novo, aos cinquenta. E você pode ser astrofísico ou sociólogo, professor de jardim de infância ou de Harvard, o livro vai continuar despertando risadas das mais sinceras e pensamentos dos mais assustadores e revolucionários que você já teve. É, literalmente, um guia para o resto da sua vida. Afinal, o que somos nós, se não mochileiros das galáxias?

Não percam tempo. Vocês não têm ideia da maravilha que esse livro é. E ele é curto, tem menos de duzentas páginas, e costuma ser vendido em qualquer lugar da internet, por preços bem acessíveis. Você pode até comprar os cinco livros da trilogia, juntos, normalmente pelo mesmo preço de um livro comum.

Garanto que vocês não vão se arrepender, é só prestarem bastante atenção em onde guardam suas toalhas, e não entrar em pânico.

Um abraço e até a próxima! Feliz dia da toalha!
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Resenha: Perdido em Marte

segunda-feira, 21 de março de 2016

Por: Rodrigo Caetano

E aí, galera, tudo bem? Hoje vim aqui falar de um livro que me surpreendeu muito, e positivamente. “Perdido em Marte” foi o livro que mais gostei de ler em 2015, e olha que li alguns que realmente gostei.

Porém, eu tenho um motivo especial para trazer essa resenha para vocês, que vai além do quão especial esse livro é ou do quão legal ficou a sua adaptação para o cinema (nomeado para nada mais nada menos do que 7 Oscars). Essa razão é o autor.

Andy Weir era um programador de computador formado na década de 90 que cresceu lendo ficção científica. Como muitos aqui, ele também gostava muito de escrever, mas tinha medo de perseguir a carreira. A instabilidade o assustava, e ele gostava de seu outro trabalho, que lhe permitia viver bem, mesmo que sem luxos. Isso acabou fazendo com que a escrita ficasse em segundo plano, como um hobby.

Para manter esse hobby, ele criou um blog, onde ele escrevia sobre várias coisas. Não apenas ficção, mas sobre assuntos de seu interesse, como ciência e programação. As histórias que ele escrevia por diversão eram apenas uma das coisas postadas lá. Foi então que ele começou a escrever e postar, capítulo a capítulo, a história de Mark Watney. Como todos nós, ele se demorava, e tinha de lidar com os leitores (no começo, não muitos) pedindo atualizações e reclamando das demoras.

Apenas anos depois de começar, Andy finalmente conseguiu escrever o último capítulo, e, enquanto isso, a história ia ganhando popularidade. Logo os leitores começaram a pedir para que ele facilitasse a leitura. Não queriam mais acessar o blog, queria poder ler em seus e-readers. Andy, então, disponibilizou gratuitamente o arquivo inteiro para download.

Porém, graças a alguns problemas de compatibilidade do arquivo com alguns leitores digitais populares (como o Kindle), Andy sofria com inúmeros pedidos para resolver o problema. Foi aí que ele resolveu postar o livro na loja virtual da Amazon, pelo preço mínimo que a loja permite: U$ 0,99 (Andy diz que gostaria de ter colocado gratuitamente, como no blog, mas a loja o obrigava a cobrar esse valor).

Aqui, gostaria de abrir um parêntese nessa história: quantos de vocês já reclamaram de seus leitores por diversos motivos? Porque o Andy, com certeza, reclamou. Depois de anos escrevendo, a galera o perturbava para criar um arquivo único, muitos por preguiça de entrar no site. Depois, ele teve o trabalho de compilar e disponibilizar o arquivo gratuitamente no blog, e a galera ainda não ficou satisfeita. Eles não queriam converter o arquivo para seus respectivos e-readers (existem locais na internet que você consegue fazer essa conversão gratuitamente em questão de minutos). O cara teve de aprender a lidar com a Amazon para conseguir atender o gosto dos leitores “preguiçosos”...

Só que, aí, o livro estourou. Foi lançar na Amazon que, sem explicação, as pessoas preferiam pagar 1 dólar do que baixar de graça no site dele (o arquivo continuava disponível, igualzinho). E a popularidade subiu tanto que ele chegou no Top 10 de ficção cientifica do site inteiro. O resto, é história. Ele assinou contrato com a editora e com a empresa para fazer o filme, tudo na mesma semana, e, em um ano, tudo já tinha sido preparado. Livro nas prateleiras, filme em processo de produção, e a vida inteira dele de cabeça para baixo.

Eu não sei vocês, mas a história do Andy me faz sorrir. Não apenas por ele e por ele ter realizado um sonho. Ela me dá esperanças. Não existe diferença nenhuma entre uma fanfic original e o que Andy Weir escreveu. Ele só postou no seu próprio blog, e nós postamos no Nyah! Andy é um de nós, que conseguiu o que sonhamos ter. O fato de a história que ele escreveu ser incrível é só a cereja do bolo.

Título Original: The Martian
Título Brasileiro: Perdido em Marte
Autor: Andy Weir
Editora: Arqueiro
Tradução: Fernanda Abreu

Sinopse: Há seis dias, o astronauta Mark Watney se tornou a décima sétima pessoa a pisar em Marte. E, provavelmente, será a primeira a morrer no planeta vermelho. Depois de uma forte tempestade de areia, a missão Ares 3 é abortada e a tripulação vai embora, certa de que Mark morreu em um terrível acidente. Ao despertar, ele se vê completamente sozinho, ferido e sem ter como avisar às pessoas na Terra que está vivo. E, mesmo que conseguisse se comunicar, seus mantimentos terminariam anos antes da chegada de um possível resgate.

Ainda assim, Mark não está disposto a desistir. Munido de nada além de curiosidade e de suas habilidades de engenheiro e botânico — e um senso de humor inabalável —, ele embarca numa luta obstinada pela sobrevivência. Para isso, será o primeiro homem a plantar batatas em Marte e, usando uma genial mistura de cálculos e fita adesiva, vai elaborar um plano para entrar em contato com a Nasa e, quem sabe, sair vivo de lá.

Com um forte embasamento científico real e moderno, “Perdido em Marte” é um suspense memorável e divertido, impulsionado por uma trama que não para de surpreender o leitor.

Resenha:
Definitivamente um dos livros mais divertidos e interessantes que eu já li. “Perdido em Marte” é uma leitura rápida, com uma história simples e, ao mesmo tempo, terrivelmente complexa, capaz de te fazer rir e tremer ao mesmo tempo, com uma simples mudança de parágrafo. E Mark Watney é um dos protagonistas mais carismáticos que já conheci. Uma personalidade magnética, de uma pessoa extremamente inteligente e divertida.

Em um ritmo acelerado, com alternâncias narrativas e um senso de humor impecável, Mark alcança umas das maiores façanhas da história da humanidade sendo nada mais do que um homem comum, de boa formação e treinamento. É fácil de se identificar e de se relacionar com um personagem tão simples, o que faz dessa leitura — praticamente um relato de seu isolamento — algo muito mais prazeroso do que o esperado.

Sim, existem explicações cientificas o tempo todo, e talvez você tenha dificuldades para absorver ou compreender totalmente algumas delas, mas a linguagem e o as artimanhas do autor fazem com que tudo fique razoavelmente compreensível, principalmente para uma pessoa com boa formação do ensino médio. E me sinto seguro ao falar isso por saber que toda minha base de conhecimento científico veio de lá. Vou até além: se você ainda estiver no ensino médio, mergulhe fundo nesse livro. Procure entender as explicações científicas com detalhes e pergunte aos seus professores. O livro pode te ajudar a entender conceitos complexo e difíceis com muito mais facilidade do que uma aula qualquer.

Apesar de ter gostado muito, encontrei uma série de defeitos no livro, que, na verdade, pouco prejudicaram no que senti ao lê-lo. Vou me explicar: em alguns momentos, sinto que faltou ao autor de primeira viagem uma experiência em construir ou desconstruir expectativa, ou de revelar ou não revelar certas informações, que poderiam ter potencializado os momentos de mistério e tensão. De certa forma, também uma falha do editor, já que são pontos que podem ser indicados na revisão e preparação para publicação.

Em alguns pontos, também achei que as formas narrativas (uma constante alternância entre diários de bordo, narrações em terceira pessoa da Terra, narrações em terceira pessoa da Nave espacial e narrações em terceira pessoa mais distante) ficaram mal organizadas e poderiam ter sido justapostas de maneira mais eficiente, para fazer com que a transição ficasse mais fácil, ou, em alguns momentos, para aumentar a tensão e a expectativa. Se você se interessa por organização textual, vale a pena ler o livro prestando atenção nesses aspectos e aprender um pouco com seus erros.

Por último, pessoalmente gosto de finais que se desenrolem um pouco após o clímax. E fiquei um pouco decepcionado ao ver o livro terminar imediatamente após a resolução da trama principal. Para mim, cabia um último capítulo curto de fechamento, até para terminar de amarrar todos os laços secundários e menos centrais da trama.

Porém, isso não me impede de reafirmar que foi um dos livros mais interessantes e divertidos que já li. Além disso, ao saber da história de publicação independente que contei lá em cima, e considerando que Andy é um autor de primeira viagem, consigo compreender melhor como algumas dificuldades editoriais possam ter causado alguns dos problemas que apontei. Afinal, o editor teve de correr para editar e preparar o livro para postagem, enquanto muitos já tinham tido acesso a uma certa organização pessoal do autor na Amazon e o roteiro do filme era preparado.

No geral, é um livro que recomendo fortemente, e a qualquer pessoa, de qualquer idade. Leiam o livro (de preferência, antes de ver o filme). Vale muito a pena.
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Resenha: Sr. Holmes

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016


Por: Rodrigo Caetano

Esse é um livro um pouco mais pessoal, pelo menos para mim. Não pela história em si, ou pelo meu gosto por este ou qualquer outro trabalho do autor, mas pela personagem. Sherlock Holmes sempre foi um dos meus heróis favoritos, mesmo antes de eu saber disso.
É que, direta ou indiretamente, esse detetive mitológico inspirou diversos personagens. O famoso Dr. House, por exemplo, é um deles. Assim como grande parte dos detetives detalhistas e altamente perceptivos de filmes e séries de TV (The Mentalist, para citar ao menos uma). Foi apenas há pouco tempo que comecei a me familiarizar com as obras originais escritas por Sir Arthur Conan Doyle.
Já nesse livro em análise, vemos um retrato feito por outra pessoa do famoso detetive. Mas esse assume o seu nome e o seu papel, ao contrário dos personagens que são apenas inspirados por ele. E é isso que me motiva a escrever essa resenha, principalmente para o Blog da Liga.
Essa é uma história publicada, sim. Até virou filme, com ator famoso (Sir Ian Mckellen – O Gandalf e o Magneto) no papel principal. Mas o simples fato de ter o selo de uma editora e servir de base para um roteiro não a descaracteriza como fanfic. Vamosaela:

Título Original: A slight trick of the mind
Título Traduzido: Sr. Holmes
Editora: Intrínseca
Autor: MitchCullins

Sinopse: Aposentado há décadas, Sherlock Holmes mora numa fazenda em Sussex, onde cria abelhas com a ajuda de Roger, o filho da empregada. Além do apiário, o velho detetive gosta de passar o tempo relembrando casos memoráveis, que ele registra diligentemente em um diário. Com isso, tenta juntar os fragmentos remotos de uma de suas aventuras mais marcantes, ocorrida há mais de cinquenta anos.
Empenhado nessa empreitada, Holmes embarca em uma viagem rumo ao Japão do pós-guerra e acaba se deparando com um novo mistério: descobrir o destino do pai de seu anfitrião no país, Sr. Umezaki. Enquanto isso, na Inglaterra, Roger explora o escritório do ilustre detetive e lê avidamente seu diário, na tentativa de entender a mente e o coração de um homem tão único.
Intercalando lembranças de relacionamentos importantes que Holmes teve ao longo da vida, seus casos de amor, as amizades e um inesperado sentimento paternal, o romance de MitchCullin explora o lado humano de um Sherlock Holmes colocado diante dos surpreendentes mistérios da vida e da morte, sobre os quais ele ainda não tem a menor pista. Reflexões que, na voz de Holmes, mostram o efeito indelével que o envelhecimento exerce sobre o modo como enxergamos o mundo. 

Resenha: Esse livro é o resultado de uma empreitada ousada e corajosa. Sherlock Holmes sempre teve uma qualidade etérea, muito difícil de replicar, apesar das inúmeras tentativas de muita gente. Não se pode dizer que nunca lhe tenham feito justiça, mas há de se reconhecer que a maioria das suas representações foram, no máximo, medianas. Ainda assim, Sherlock Holmes vive no imaginário do povo, e todos tem uma ideia relativamente clara de quem ele é.
Aqui, porém, o autor explora o futuro desse personagem da cultura popular mundial em uma idade avançada, 93 anos, quando o tempo está lhe alcançando e furtando as habilidades mentais que sempre lhe foram características. Então, em essência, MitchCullins se propõe a contar uma história de Sherlock Holmes quando ele deixa de ser Sherlock Holmes.
Alguns podem considerar uma estratégia inteligente, afinal, isso lhe dá liberdade de ir além do imaginário popular, e justificar qualquer mudança com o avanço da idade, alémda clássica desculpa de todo escritor de que John Watson não lhe fazia justiça nos livros que escrevia dentro de seu universo fictício. Porém, eu acredito que seja uma desculpa para fugir da difícil missão a que o próprio autor se propôs no início do livro.
Apesar disso, o livro não peca tanto quanto algumas outras obras fizeram ao retratar Holmes. Apesar da grave, porém compreensível, omissão do conhecido gosto do personagem por cocaína, Cullins retrata um ser humano perturbado por finalmente, depois de mais de 90 anos, ser forçado a se comunicar com a sua própria humanidade, quando perde aquilo que ele achava que o definia. É um desenvolvimento psicológico bem interessante e bem construído no texto.
A estrutura da história é complexa. O livro viaja entre três períodos diferentes da vida de Holmes. O passado distante, em Londres; o passado mais próximo, no Japão; e o presente, em sua nova casa em Sussex (Inglaterra). Em cada um deles, nosso detetive é apresentado a um caso diferente. Apesar de nenhum dos casos serem tão interessantes quanto os famosos mistérios dos livros originais, eles servem bem aos seus propósitos definidos, cada um deles demonstrando o desenvolvimento do personagem.
Assim, o livro viaja no tempo de maneira intercalada, não se mantendo tempo demais e história nenhuma. E isso o prejudica, pois além de dificultar a leitura, faz com que o trabalho perca em estrutura e organização. Em um ponto importante, me peguei tendo que voltar a capítulos anteriores, para ter certeza de que não estava perdido. 
A linguagem também foi um problema. Não porque foi difícil, mas porque ao se adaptar a um estilo de história mais lento e vagaroso, com menos intensidade e mais espaço para desenvolvimento psicológico, o livro se afastou muito da linguagem clara e simples do trabalho original. Tanto que atrapalhou inclusive na identificação do personagem. Os livros de Sir. Doyle, mesmo que ficcionalmente escritos pelo Dr. John Watson, trabalham a linguagem de uma maneira esplêndida, transformando o complicado (aos olhos do narrador) em simples (aos olhos do personagem), e brincando com a o realismo e o misticismo de Holmes. Aqui, Cullins perde esse tom, em parte por tratar de temas mais delicados, e em parte por querer impor ao personagem uma voz que não combina com ele.
Contudo, a trama conseguiu me manter interessado e até me surpreendeu em alguns momentos. E cada uma das histórias que são contadas nesse livro tem uma clara representação na construção do personagem de Holmes. Ao final, é um livro interessante, mesmo que melancólico, sobre o poder da passagem do tempo e os seus efeitos mesmo nos mais icônicos homens. Não seria a melhor leitura que eu fiz esse ano, mas definitivamente não me arrependo dela. E verei o filme — afinal, eu quero muito ver o Gandalf e o Magneto como Sherlock Holmes. 

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Resenha: Star Wars – Marcas da Guerra

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Por: Rodrigo Caetano



E aí, galera? Tudo bem? Hoje venho aqui falar de modinha. Sim, modinha. Mas não é qualquer modinha não. Vim falar de Star Wars, a maior modinha de todos os tempos, a modinha das modinhas. E, por que não (?), talvez a melhor de todas elas.

Aos fãs de carteirinha e longa data, deixem-me explicar. Deixem-me esclarecer que não há nada de pejorativo quando digo que Star Wars é modinha. Nem quando digo que Star Wars foi feito para ser modinha. Ele foi a primeira saga de filmes feita para ser viral, antes mesmo do conceito de “viralizar” existir. Foi o primeiro filme a ser lançado acompanhado de jogos (não necessariamente de videogame), bonecos, propaganda de massa, livros e histórias secundárias.

Star Wars foi a primeira saga a tentar buscar fãs de todos os modos, em todas as mídias, de todas as idades, no mundo inteiro. Boba Fett é um personagem icônico e um líder de venda de bonecos, e tem apenas poucas falas nos filmes. Seu personagem foi inteiramente construído de maneira secundária na época da trilogia original, e hoje ele é conhecido mundialmente. Ele serve como exemplo de como Star Wars foi o primeiro filme a virar febre mundial e conquistar todos os públicos.

Star Wars foi feito para ser modinha, conseguiu e o é até hoje. Nenhuma saga, de livros, de TV ou de cinema, conseguiu atingir o que Star Wars conseguiu. Não discuto aqui qualidade, mas sim tamanho, proporção, poder de venda e apelo com o público. E é por isso que hoje, quase quatro décadas após o lançamento do primeiro e original filme, ainda estamos aqui, sentindo novamente a febre com o lançamento de um novo, vendo o filme quebrar recordes e mais recordes de bilheteria no mundo todo.

Goste ou não, Star Wars já é fato há muito tempo e faz parte da nossa vida de muitas e muitas formas. Já é referência cultural do mundo. Seja impresso no cereal que você vê no mercado, no livro que acabou de lançar na livraria, no pôster de cinema, no desenho de TV para as crianças ou no novo game lançado. No Youtube e no cinema, na loja de brinquedos e no supermercado.


E, agora, também no blog da Liga dos Betas.


Dessa vez a resenha é sobre o novo livro da saga Star Wars, o primeiro de uma trilogia que pretende preencher um pouco do vazio de história entre o sexto filme, O retorno de Jedi, e o novo, O despertar da Força. O livro faz parte de um esforço de publicação com o selo: Jornada para o Despertar da Força, que inclui quadrinhos, livros infanto-juvenis e livros adultos, como é o livro que será analisado aqui: Marcas da Guerra.

Um último comentário, antes de entrarmos na ficha do livro: já pensaram que máximo seria ser contratado para fazer a representação literária de uma obra do cinema da qual você é fã? Esse autor, assim como muitos outros, literalmente foi contratado para escrever e publicar uma fanfiction de Star Wars. E essa fanfiction entra para o Canon da saga! Que máximo!


Título Original: Star Wars – Aftermath
Título Traduzido: Star Wars – Marcas da Guerra
Autor: Chuck Wendig
Editora: Aleph
Ano: 2015

Sinopse: 

O que aconteceu depois da destruição da segunda Estrela da Morte? Qual o destino dos remanescentes do Império Galáctico e dos antigos Rebeldes, agora responsáveis pela fundação da Nova República? Marcas da guerra é o primeiro livro do cânone oficial a mostrar o que acontece depois do clássico Episódio VI: O retorno de Jedi, dando pistas sobre o que podemos esperar da nova trilogia que se inicia com O despertar da Força, a ser lançado nos cinemas em dezembro.
Nesse novo panorama galáctico, vamos descobrir que a guerra ainda não chegou ao fim... e que os traumas deixados por ela ainda serão sentidos por muitos e muitos ciclos. Capitão Wedge Antilles, almirante Ackbar, almirante Sloane, o garoto Temmin e a mãe, Norra Wexley, a caçadora de recompensas Jas Emari, o antigo agente imperial Sinjir: novos personagens e velhos conhecidos dos amantes da saga, que sempre estiveram envolvidos na luta, agora devem escolher o lado a que deverão jurar lealdade. Deverão colocar-se ao lado da Nova República, procurando estabelecer um novo governo democrático na galáxia? Ou juntar-se às fileiras imperiais, na tentativa de voltar ao poder absoluto depois das mortes dos lordes Sith Palpatine e Darth Vader?

Resenha:

Antes mesmo de comprar o livro, li algumas opiniões divergentes sobre Marcas da Guerra. Alguns diziam que era um livro terrível, feito única e exclusivamente para capitalizar em cima do lançamento do novo filme. Outros diziam que era uma ótima leitura, que lhe entregava exatamente aquilo que prometia entregar, e que apesar de não ser o melhor livro do mundo, era uma leitura prazerosa que valia a pena.

Como normalmente ocorre comigo nesses casos, minha opinião sobre o livro acabou recaindo em algum lugar entre uma posição e outra. Porém, provavelmente mais para o lado positivo.

Marcas da Guerra não me pareceu entregar tudo aquilo que se propunha. Algumas coisas ali dentro não foram bem construídas e soaram genéricas. Pareciam ter sidocolocadas ali apenas para explorar o universo e fazer referências aos filmes. Alguns fan-services não foram feitos com tanto bom gosto quanto o novo filme demonstrou ter, e, de modo geral, o livro demora um pouco demais para engrenar.

Na tentativa – correta, na teoria– de apresentar todos os seus personagens no primeiro arco do livro, o autor acaba sofrendo por ter tantos novos personagens principais a apresentar.Desse modo, o início, apesar de bem povoado de cenas emocionantes de ação, se arrasta. As cenas de ação — nem todas perfeitas, mas bem construídas — acabam sofrendo, por que não estamos envolvidos com os personagens.

É apenas mais próximo à metade do livro que conseguimos começar a criar laços mais fortes e a nos importar mais com aquilo que nos é apresentado. E, por tanto, é apenas a partir daí que o livro começa a crescer e cumprir mais com as suas promessas, de entreter e nos gerar interesse. Uma vez engajado, o leitor com certeza se divertirá e encontrará nele uma boa fonte de entretenimento.

O livro brinca com uma estrutura de narrativa complicada. Ele corta muitas cenas, sempre mudando o personagem-foco, em uma tentativa de deixar o ritmo acelerado, de forma similar ao novo filme. O problema é que, na mídia literária, isso acaba sendo um desafio maior do que na tela de cinema. E, com tantos personagens a serem a apresentados, isso se prova um desafio ainda maior. Por tanto, enquanto ainda não estamos engajados, esse ritmo acelerado mais atrapalha do que ajuda a narrativa. Apenas quando já estamos bem situados, esse ritmo começa a dar frutos.

Um dos melhores pontos do livro são os interlúdios. Apesar de numerosos e desconexos da história principal, é através deles que conseguimos ter uma noção maior do estado em que a galáxia se encontra, nesse período tão caótico, de troca de governo e últimos estágios da guerra. Vemos paisagens familiares e novas, conhecendo pequenos contos que nos servem de quadros para os diferentes pontos da galáxia, e como cada um deles está lidando com o período após os feitos da batalha de Endor. É aqui onde o livro mais brilha, ao cumprir a promessa de nos dar um bom entendimento sobre a queda do império e a ascensão da Nova República. Acredito que, se isso continuar durante toda a trilogia, os livros serão um material sem igual para retratar a mudança política na galáxia e, quem sabe, a criação da Primeira Ordem e da Resistência.

É, por sinal, em um desses interlúdios que o livro cumpre sua promessa de nos mostrar um dos personagens favoritos dos fãs. E, incrivelmente, esse foi um dos interlúdios que menos gostei.Ele me pareceu ter sido escrito única e exclusivamente para colocar esse personagem no livro, e poder dizer para o público que existe ali uma participação de alguém que eles gostam. Se você comprar o livro para ver um dos personagens mais queridos dos filmes, saiba que apenas o verá em algumas poucas páginas, e que elas não serão assim tão importantes para a história em geral, pelo menos por enquanto.

Apesar disso, o livro apresenta personagens interessantes e bem construídos, que fazem valer o esforço da leitura e o esforço de conhecê-los. Existem alguns momentos bastante animados e que me fizeram prender a respiração, e, no fim, me peguei roendo as unhas e torcendo para mais de um personagem, de ambos os lados da luta. Uma leitura de que não me arrependo e que me dá razões suficientes para indicá-la para qualquer fã da saga, principalmente um que se interesse pela construção de mundo e pelos por menores da história maior.


Eu aprovo, e com certeza porei as minhas mãos nos próximos volumes da trilogia.


Acho é isso. Espero que tenham curtido e até a próxima!
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Resenha: A Droga da Amizade

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Por: Rodrigo Caetano

E aí, galera? Tudo bem? Hoje venho aqui falar de um livro que me pegou de surpresa na Bienal do Rio de Janeiro esse ano. Eu estava lá passeando, distraído com tanta maravilha quando, de repente, percebo uma fila para pegar autógrafos com ninguém menos que Pedro Bandeira.
Para quem não o conhece, Pedro é um grande autor brasileiro, principalmente quando se trata de histórias infanto-juvenis. E, ainda no colégio, eu fui apresentado ao trabalho dele através da sua série de livros sobre “os Karas”. Apesar de ter sido iniciada nos anos oitenta, a série ainda mantinha, nos anos 2000, todo o seu apelo pela aventura fascinante, os esquemas inteligentes, seus códigos secretos que passavam a ser usados especialmente pelos fãs para comunicações com seu próprio grupo de amigos, e os personagens relacionáveis que ele nos ensinou a amar.
Há muito tempo venho ouvindo a história de um último livro da série a ser lançado, mas confesso que a medida que cresci, fui deixando a história dos Karas de lado. Até que, com vinte e quatro anos, descubro que finalmente o livro que eu esperava quando era mais novo estava sendo publicado.
Então, achei que seria legal trazer essa resenha para o blog, tanto para falar com aqueles que, como eu, tem uma conexão antiga com a série, tanto para aqueles novos que nunca ouviram falar, e podem ter a chance de acessar todos os livros da série, que foram impressos novamente junto ao novo lançamento.

Título Original: A Droga da Amizade
Editora: Moderna
Sinopse: Como Miguel começou a turma dos Karas? Como conheceu e por que escolheu Magrí, Crânio, Calu, Chumbinho e a Americana Peggy para formar essa turma tão especial? E por que Andrade era um policial diferente, melhor do que qualquer outro? Como cada um deles demonstrou ao líder dos Karas que era uma pessoa especial, tanto pela coragem quanto pela honestidade, pelo caráter e pelo desejo de mudar o mundo para melhor? E o que terá acontecido com eles depois de todas as aventuras que estes sete heróis viveram? Em que terão se transformado todos eles depois de adultos?

Resenha:
Se você não conhece os Karas, você não sabe o que está perdendo. Se você conhece, esse livro foi feito única e exclusivamente para você. Esse livro foi feito para te fazer reviver tudo aquilo que você amava de um jeito totalmente diferente!
Eu sei, eu também fiquei um tanto quanto decepcionado ao saber que esse não é um livro como os outros, mas eu aprendi a gostar desse novo estilo, percebendo que o autor não tentou fazer uma repetição daquilo que fez da série o que ela é, pois o público da série já cresceu.
Por tanto, se você quer conhecer esse incrível grupo de amigos, eu sugiro que comece do início, com “A Droga da Obediência” (1984); “Pântano de Sangue” (1987); ”Anjo da Morte” (1981); “A Droga do Amor” (1994); e “A Droga de Americana” (2001), todos da editora Moderna.
Mas, se você já leu esses livros, então pode pegar a Droga da Amizade sem medo. Por que esse é o primeiro livro que conheçocapaz de, com sucesso, servir como prólogo, epilogo e ainda apresentar uma nova história, tudo em pouco mais de 150 páginas.
Não se engane, aqui veremos nosso líder já adulto, separado de seus amigos, relembrando e recontando ao mesmo tempo como os conheceu e tudo o que aconteceu com eles depois de deixarem o prestigiado e tão amado colégio Elite. Ao mesmo tempo que ele alude à mitologia do nosso grande pequeno grupo de aventureiros, ele também nos deixa mais presos ao chão, agradando tambémàqueles que prezam por uma abordagem mais realista e verossímil, que acaba nos atingindo a todos, em diferentes níveis, com a idade.
Mas, apesar dessa estrutura surpreendentemente fluida e bem organizada de memórias e de futuro, o livro ainda consegue nos apresentar a uma nova aventura, posterior àquelas do último livro, que mantém o nível de suspense e demonstra muito bem todo o grupo em ação da maneira que nós mais gostamos de ver, e que nos remete aos melhores tempos com esses amigos espiões e agentes secretos.
A narrativa tem falhas, sim, e, apesar de mirar tanto em novos públicos e velhos conhecidos, o estilo ainda é rápido e sem muito preocupações com detalhes, como é recorrente em muitos dos livros infanto-juvenis, principalmente baseados em histórias dos anos oitenta. Ele corre o risco de, ao tentar agradar a todos, não agradar ninguém,mas, na minha opinião, o livro consegue capturar tanto a imaginação dos novos leitores quanto o sentimento nostálgico dos fãs de longa data.
Dessa forma, Pedro Bandeira conseguiu dar o fim que essa saga merece e que ele ficou devendo durante mais de três décadas, e ainda mostra que é capaz de atingir os leitores, trazendo a várias gerações essa grande história de amizade, amor, aventura e, acima de tudo, esperança.

Recomendo essa leitura a todos os fãs, e, àqueles que não o são, recomendo fortemente que comecem a leitura da série. Vocês não sabem o que estão perdendo. Que sejamos todos Karas! O avesso dos coroas, o contrário dos caretas!
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Resenha: O Vilarejo

domingo, 27 de setembro de 2015


Por: Rodrigo Caetano

E aí, galera, tudo bem? A resenha de hoje é de um livro novo de um autor nacional que vem chamando a atenção por aí. Conhecem o Raphael Montes? O cara é um escritor de 24 anos, formado em direito, que publicou seu terceiro livro, chamado “O Vilarejo”, na bienal deste ano. Além disso, ele tem também dois livros policiais: “Suicidas” e “Dias Perfeitos”, ambos na minha lista.
O livro que vim comentar é o último que ele lançou e o escolhi por diversos motivos, mas o principal é que ele é um livro diferente dos que normalmente costumam ganhar resenhas aqui. Um livro violento, classificado como de terror, e, além disso, um livro curto de contos. Achei que poderia dar uma variada no que normalmente vemos aqui.
Sem enrolação, vamos lá:
Título Original: O Vilarejo
Autor: Raphael Montes
Editora: Suma das Letras
Sinopse: No vilarejo, falar que o pecado mora ao lado é mais do que um dito popular: é uma verdade ameaçadora da qual os moradores se dão conta pouco a pouco. E, para alguns, é tarde demais. Como resistir ao mal? À luxúria, à ganância, à ira? Como não ceder aos pecados da carne quando a guerra chega e o inverno castiga, quando o frio e a fome tomam conta, quando uma força maior parece conspirar e rodear os moradores para que eles se entreguem a seus piores instintos?
A cada conto, conheça a história de um habitante e como todas elas se entrelaçam para formar uma narrativa perturbadora e fascinante sobre nossa infinita capacidade de crueldade e compaixão.
Resenha: O Vilarejo é um livro que me surpreendeu de muitas maneiras e pode não ter sido a melhor escolha para uma resenha, pois é um livro misterioso e eu não sou fã de spoilers. Porém, há muito o que se analisar aqui, acredito eu, sem de fato estragar a diversão para ninguém.
Contando várias histórias sobre um lugar em épocas diferentes, Raphael nos faz embarcar para um local que ele não diz o nome, no meio de um país que ele não diz qual é, numa época que ele não nos conta qual é.
O livro consiste de prefácio, posfácio (ambos importantes) e sete contos separados, cada um com um título, cada um com seus personagens principais, mas conseguimos perceber que envolvem o mesmo local em diferentes épocas, relatando bastante bem a suposta última geração a viver no lugar que desapareceu.
Claramente fazendo homenagem aos sete pecados capitais, vemos um a um os habitantes desse lugar distante e misterioso sucumbindo a seus próprios desejos, defeitos, psicoses e tentações, enquanto somos levados a explorar até que ponto uma pessoa pode ir. É triste o quão surpreendente é a resposta para essa pergunta.
Além disso, a ordem dos contos faz com que o leitor tenha de se esforçar um pouco para acompanhar a ordem dos acontecimentos no tempo, e ligar os pontos pouco a pouco até que consiga desenhar a verdadeira história por trás dos acontecimentos terríveis desse lugar.
Tudo isso, combinado a um estilo de narrativa dinâmico, com contos curtos e histórias contadas no tempo presente que fazem com que a linha entre ficção e realidade fique um pouco borrada, nos levando a crer que talvez, apenas talvez, um lugar como aquele pudesse realmente ter existido em algum momento. E é um tanto quanto inquietante perceber isso, depois de ter se surpreendido e se chocado tanto.
Tendo dito isso, apesar do livro ser classificado como um livro de terror, ele não me deixou temeroso, nem me deu grandes sustos. Mas me chocou bastante algumas vezes, e me fez refletir, como todo bom livro deve fazer, acredito eu. Um ponto extra: o livro ilustrado é bem divertido, e as ilustrações são um tanto quanto fortes, ajudando a passar a exata sensação que o livro busca gerar.
No todo, um trabalho bem feito pelo nosso escritor e uma boa leitura para qualquer um que tenha estomago.
Valeu, galera! Até a próxima.

P.S.: Sobre não ter ficado com medo, isso era verdade antes de perceber que essa resenha tinha exatas 666 palavras antes do P.S. Espero sinceramente que entendam a minha decisão de escrever um pouco mais aqui...
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Por que quebrar as regras

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Por: Rodrigo Caetano

Quem me conhece e já leu os meus artigos sabe muito bem que eu sempre trago algumas regras ditadas por autores famosos e consagrados na literatura, para servirem de dicas a quem se interessar. Outros betas também trouxeram dicas interessantes para o blog, e sempre somos muito bem recebidos. Já trouxemos dicas de Elmore Leonard, Margaret Atwood, Roddy Doyle, Geoff Dyer, e até mesmo de Neil Gaiman, George Orwell e Chuck Palahniuk, traduzindo-as para a nossa língua materna e deixando aqui para serem consultados a hora que vocês quiserem.

Acho um processo natural para nós, autores iniciantes, sendo amadores ou com aspirações profissionais, olhar para cima e observar aqueles que já alcançaram algo similar ao que almejamos. Assim, sempre vi as regras como um tipo de guia para nos ajudar a conseguir o que queremos alcançar.
Porém, a medida que fui lendo e estudando as diversas regras dos mais diferentes autores ao redor do mundo, percebi que nem sempre podemos segui-las. Na verdade, nunca podemos segui-las todas.
Sim, muitas vezes podemos usá-las como guias, mas, mesmo assim, com alguma reticência. Escrever é um processo muito pessoal, assim como qualquer tipo de arte. Arte que seja limitada por regras é justamente isso: limitada. A sua voz no papel é o que faz a literatura, e não um texto dentro dos conformes que quem veio antes ditou, quando fazia justamente o que você está tentando fazer.
Eles acharam o caminho deles, e por mais sucesso que tenham obtido, não podemos seguir atrás. Temos que achar um caminho próprio.
Foi lendo um artigo de autoria de Andrew Blackman, um autor britânico de menor expressão, que encontrei expresso em um estudo mais detalhado o que eu havia percebido inicialmente. “Escrever é, por natureza, um processo anarquista” diz ele. “Ele sobrevive de surpresas, quebra de regras, novos modos de ver as coisas. Se todos seguissem as mesmas regras, seguissem os mesmos caminhos, a literatura morreria rapidamente”.
Ele estudou as mesmas regras que eu estudei, todas baseadas em um artigo publicado pelo jornal “The Guardian”, chamado The Ten Rules of Writing Fiction (As Dez Regras para Escrever Ficção), que serviu de base para as minhas traduções. O que ele percebeu e provou foi a dificuldade imensa que alguém teria ao tentar seguir as regras ditadas pelos autores. Vou deixar aqui para vocês a minha tradução do que ele muito inteligentemente selecionou, desmontando as regras que, desde sempre, eu guardei com tanto carinho:

  • Roddy Doyle disse para “Encher as páginas o mais rápido possível – utilize espaços duplos, ou escreva pulando linhas”. Michael Morpurgo diz para “Escrever em letras muito pequenas, para que você evite acabar a página e ter que encarar a próxima em branco”;
  • Neil Gaiman te fala para ler o seu trabalho fingindo que você nunca o leu antes. Margaret Atwood diz que “você nunca vai conseguir ler o seu próprio livro como alguém que nunca o leu antes, logo, mostre para outra pessoa”;
  • Ian Rankin diz: “Seja persistente. Não desista”. Geoff Dyer diz: “Se algo se provar muito difícil, desista e faça alguma outra coisa”;
  • Geoff Dyer recomenda escrever em um computador com um auto-corretor bem refinado, para poupar tempo digitando. Zadie Smith fala para não usar um computador que seja conectado à internet. Annie Proulx lhe diria para escrever apenas à mão;
  • Richard Ford diz: “Não tenha filhos”. Helen Dunmore diz “Se você teme que cuidar da sua casa e dos seus filhos vai prejudicar a sua escrita, lembre-se de JG Ballard” (três filhos e vários prêmios na literatura);
  • Jonathan Frazen diz para “escrever na terceira pessoa, a menos que uma voz em primeira pessoa muito especial se ofereça de maneira irresistível”. Anne Enright diz “Escreva da maneira que bem entender”;
  • Margaret Atwood alerta que você precisará de um Thesaurus. Roddy Doyle manda deixar o Thesaurus numa prateleira no fim do jardim, pois “provavelmente as palavras que lhe vierem à cabeça servem”;
  • Michael Moorcock diz “Leia tudo em que você possa por as mãos... de Bunyan a Byatt”. Já Will Self diz: “Não leia ficção. É tudo mentira, de qualquer jeito”;
  • Andrew Motion lhe fala para “decidir quando no dia ou na noite você se sente melhor escrevendo”. Hilary Mantel fala que escrever pela manhã pode “ser a melhor coisa que você faz por você mesmo”;
  • PD James diz: “Quanto maior seu vocabulário, mas efetiva é a sua escrita”. Joyce Carol Oates prefere “usar palavras familiares e simples em vez de palavras polissilábicas e grandes”;
  • AL Kennedy diz: “as melhores coisas lhe farão lembrar delas, então você não precisa tomar notas”. Will Self diz para “sempre carregar um caderno... A memória de curto prazo apenas retém informações por cerca de três minutos”;
  • Jeanette Winterson diz: “Nunca pare quando você ficar preso”. Hillary Mantel diz que “se você está preso, pare e saia da sua mesa – dê uma volta, tome um banho, vá dormir; o que quer que você faça, não fique lá remoendo o problema”;
  • A única constância é conselho de cortar as coisas. Jonathan Fraze diz para evitar usar “então” como uma conjunção, e para ficar atento aos “verbos interessantes”. Sarah Waters aconselha cortar “frases redundantes, adjetivos distrativos, os advérbios desnecessários.” Elmore Leonard diz para cortar prólogos, descrições sobre o clima, qualquer verbo que não seja “disse” para diálogos, cortar advérbios, pontos de exclamação, dialeto regional e o termo “de repente”. Hilary Mantel diz para cortar o seu primeiro parágrafo. Esther Freud diz para cortar todas as metáforas e sorrisos. Não sei direito o que sobra, depois que cortamos isso tudo – talvez alguns substantivos.

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As imagens que servem de ilustração para o posts do blog foram encontradas mediante pesquisa no google.com e não visamos nenhum fim comercial com suas respectivas veiculações. Ainda assim, se estamos usando indevidamente uma imagem sua, envie-nos um e-mail que a retiraremos no mesmo instante. Feito com ♥ Lariz Santana