Desejo-lhes Arrependimentos

segunda-feira, 22 de junho de 2015


Por: Rodrigo Caetano
Já faz algum tempo que venho querendo compartilhar com vocês aqui um pequeno tesouro que eu achei na internet, em inglês. É muito comum que em dez regras, ou menos, muitos autores renomados, reconhecidos pela crítica e premiados, compartilhem as suas visões sobre o ato de escrever um livro e como fazer isso.

Compartilho um desses sets de regras aqui pois acho que é para isso que este espaço serve. Toda semana temos um dos betas aqui lhes ajudando a entender esse processo e compartilhando com vocês dicas, sugestões e instruções. É para isso que o blog serve, não é? É para isso que estamos aqui. Então por que não trazer alguém com ainda mais experiência e reconhecimento do que nós, humildes leitores testes?

Assim sendo, o cara da vez é o Geoff Dyer. Ele é um autor britânico já com seus 57 anos, autor de livros de ficção e não-ficção, entre outros trabalhos. Em termos de descrição, isso é basicamente o que se pode dizer dele.  Normalmente ele é definido como “incategorizável”. Ele é pública e radicalmente contra uma fronteira bem definida e policiada entre a realidade e a ficção e, em um de seus livros, chega a dizer que “tudo que está escrito aqui realmente aconteceu, mas algumas das coisas aconteceram apenas na minha cabeça”.

O texto a seguir é a tradução de uma matéria do jornal The Guardian. Inspirados pelas regras ditadas por Elmore Leonard (também já traduzidas aqui), o jornal resolveu perguntar a Geoff e outros escritores que regras eles ditariam para alguém que quisesse escrever um livro.
Espero que encontrem aqui algo que lhes provoque, ou que lhes inspire. Que te faça pensar, ou que fique gravado na sua cabeça, nem precisar de esforço. Ou, no mínimo, que encontre pelo menos algum arrependimento. Como ele bem diz, todos nós precisamos deles...


“1 – Nunca se preocupe com as possibilidades comerciais de um projeto. Isso é uma coisa para enlouquecer os agentes e editores — ou não. Conversa com meu editor americano. Eu: “Eu estou escrevendo um livro tão chato, de tão pouco apelo comercial, que se você resolver publicar, provavelmente vai ser demitido.” Editor: “É exatamente isso que me faz querer continuar no meu trabalho.”
2 – Não escreva em locais públicos. No começo dos anos noventa eu fui morar em Paris. As razões normais de um escritor: naquela época, se você fosse achado escrevendo em um pub na Inglaterra, você levaria uma porrada na cabeça, enquanto, em Paris dansles cafés... Desde então eu desenvolvi uma aversão a escrever em público. Agora acredito que deva ser feito exclusivamente em particular, como qualquer outra atividade de excreção.
3 – Não seja um daqueles escritores que se sentenciam a uma vida inteira de puxa-saquismo ao Nabokov.
4 – Se você usar um computador, constantemente refine e expanda o seu corretor automático. O único motivo de eu me manter leal ao meu computado horrível é que eu investi muito da minha inventividade para construir um dos melhores arquivos de autocorreção da história da literatura. Palavras perfeitamente digitadas surgem de alguns pequenos toques no teclado. “Niet” vira “Nietzsche”, “phoy” vira “fotografia” e assim por diante. Genial!
5 – Mantenha um diário. O maior arrependimento da minha vida literária é não ter mantido um registro ou um diário.
6 – Tenha arrependimentos. Eles são combustíveis. Na página eles se inflamam em desejo.
7 – Tenha mais de uma ideia para escrever ao mesmo tempo. Se a escolha for entre escrever um livro e fazer nada, eu vou sempre escolher a ultima opção. É só quando eu tenho ideias para dois livros que eu escolho um ou outro. Eu tenho sempre que sentir que estou deixando alguma coisa de lado.
8 – Cuidado com os clichês. Não apenas os clichês com quem o Martin Amis está em guerra. Tem clichês de reação e também de expressão. Tem clichês de observação e clichês de pensamento — até mesmo de concepção. Muitos livros, até mesmo alguns bem escritos, são clichês de forma, o que necessariamente leva a clichês de expectativas.
9 – Faça isso todo dia. Se habitue a botar as suas observações no papel e gradualmente isso vai se tornando instintivo. Essa é a regra mais importante de todas e, naturalmente, eu não a sigo.
10 – Nunca pedale uma bicicleta com os freios apertados. Se alguma coisa está se provando difícil demais, desista e faça outra coisa. Tente viver sem ter que recorrer à perseverança. Mas escrever é basicamente pura perseverança. Você tem que se prender a isso. Nos meus trinta anos eu costumava ir à academia apesar de odiar isso. Eu ia para academia com o único motivo de adiar o dia em que eu iria parar de ir à academia. É isso que a escrita é para mim: um modo de adiar o dia em que eu vou parar de escrever, o dia em que eu vou me afundar em uma depressão tão profunda que esta será indistinguível do mais puro êxtase.”



Fontes:

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