Já faz algum tempo que venho querendo
compartilhar com vocês aqui um pequeno tesouro que eu achei na internet, em
inglês. É muito comum que em dez regras, ou menos, muitos autores renomados,
reconhecidos pela crítica e premiados, compartilhem as suas visões sobre o ato
de escrever um livro e como fazer isso.
Compartilho um desses sets de regras aqui pois acho que é para
isso que este espaço serve. Toda semana temos um dos betas aqui lhes ajudando a
entender esse processo e compartilhando com vocês dicas, sugestões e
instruções. É para isso que o blog serve, não é? É para isso que estamos aqui.
Então por que não trazer alguém com ainda mais experiência e reconhecimento do
que nós, humildes leitores testes?
Assim sendo, o cara da vez é o
Geoff Dyer. Ele é um autor britânico já com seus 57 anos, autor de livros de
ficção e não-ficção, entre outros trabalhos. Em termos de descrição, isso é
basicamente o que se pode dizer dele.
Normalmente ele é definido como “incategorizável”. Ele é pública e
radicalmente contra uma fronteira bem definida e policiada entre a realidade e
a ficção e, em um de seus livros, chega a dizer que “tudo que está escrito aqui
realmente aconteceu, mas algumas das coisas aconteceram apenas na minha
cabeça”.
O texto a seguir é a tradução de
uma matéria do jornal The Guardian. Inspirados pelas regras ditadas por Elmore
Leonard (também já traduzidas aqui), o jornal resolveu perguntar a Geoff e
outros escritores que regras eles ditariam para alguém que quisesse escrever um
livro.
Espero que encontrem aqui algo
que lhes provoque, ou que lhes inspire. Que te faça pensar, ou que fique
gravado na sua cabeça, nem precisar de esforço. Ou, no mínimo, que encontre
pelo menos algum arrependimento. Como ele bem diz, todos nós precisamos
deles...
“1 – Nunca se preocupe com as
possibilidades comerciais de um projeto. Isso é uma coisa para enlouquecer os
agentes e editores — ou não. Conversa com meu editor americano. Eu: “Eu estou
escrevendo um livro tão chato, de tão pouco apelo comercial, que se você
resolver publicar, provavelmente vai ser demitido.” Editor: “É exatamente isso
que me faz querer continuar no meu trabalho.”
2 – Não escreva em locais
públicos. No começo dos anos noventa eu fui morar em Paris. As razões normais
de um escritor: naquela época, se você fosse achado escrevendo em um pub na
Inglaterra, você levaria uma porrada na cabeça, enquanto, em Paris dansles cafés... Desde então eu
desenvolvi uma aversão a escrever em público. Agora acredito que deva ser feito
exclusivamente em particular, como qualquer outra atividade de excreção.
3 – Não seja um daqueles
escritores que se sentenciam a uma vida inteira de puxa-saquismo ao Nabokov.
4 – Se você usar um computador,
constantemente refine e expanda o seu corretor automático. O único motivo de eu
me manter leal ao meu computado horrível é que eu investi muito da minha
inventividade para construir um dos melhores arquivos de autocorreção da
história da literatura. Palavras perfeitamente digitadas surgem de alguns
pequenos toques no teclado. “Niet” vira “Nietzsche”, “phoy” vira “fotografia” e
assim por diante. Genial!
5 – Mantenha um diário. O maior
arrependimento da minha vida literária é não ter mantido um registro ou um
diário.
6 – Tenha arrependimentos. Eles
são combustíveis. Na página eles se inflamam em desejo.
7 – Tenha mais de uma ideia para
escrever ao mesmo tempo. Se a escolha for entre escrever um livro e fazer nada,
eu vou sempre escolher a ultima opção. É só quando eu tenho ideias para dois
livros que eu escolho um ou outro. Eu tenho sempre que sentir que estou
deixando alguma coisa de lado.
8 – Cuidado com os clichês. Não
apenas os clichês com quem o Martin Amis está em guerra. Tem clichês de reação
e também de expressão. Tem clichês de observação e clichês de pensamento — até
mesmo de concepção. Muitos livros, até mesmo alguns bem escritos, são clichês
de forma, o que necessariamente leva a clichês de expectativas.
9 – Faça isso todo dia. Se
habitue a botar as suas observações no papel e gradualmente isso vai se
tornando instintivo. Essa é a regra mais importante de todas e, naturalmente,
eu não a sigo.
10 – Nunca pedale uma bicicleta
com os freios apertados. Se alguma coisa está se provando difícil demais,
desista e faça outra coisa. Tente viver sem ter que recorrer à perseverança.
Mas escrever é basicamente pura perseverança. Você tem que se prender a isso.
Nos meus trinta anos eu costumava ir à academia apesar de odiar isso. Eu ia
para academia com o único motivo de adiar o dia em que eu iria parar de ir à
academia. É isso que a escrita é para mim: um modo de adiar o dia em que eu vou
parar de escrever, o dia em que eu vou me afundar em uma depressão tão profunda
que esta será indistinguível do mais puro êxtase.”
Fontes:
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