Tradução: Eu quando alguém expressa o
menor interesse no veganismo
Hello, little loafs!
Voltei neste quarto e último post sobre o vegetarianismo e
veganismo! Já aprendemos sobre o vocabulário
e a transição para o vegetarianismo; sobre o veganismo
enquanto estilo de vida; e sobre alguns
dos conflitos mais comuns criados quando se é vegano no meio de pessoas que
comem carne. Hoje vamos ver os estereótipos mais comuns entre os veganos
e/ou atribuídos aos veganos.
Só lembrando, mais uma vez, que não pretendo convencer
ninguém a se tornar vegano, mas que essa série de posts são apenas algumas
ideias sobre o veganismo reunidas para ajudar escritores. Essa lista não segue
nenhuma ordem em particular.
Tradução: “Vocês vegans fingem que
são melhores do que todo mundo”. Falso. Eu não estou fingindo.
Quem ele é:
É aquela pessoa essencialmente boa, que realiza trabalhos
voluntários, ajuda todos que encontra, é a verdadeira encarnação de Madre
Tereza de Calcutá e o veganismo é apenas a cereja no bolo desse anjo de candura
(*sente a ironia~). Também conhecida como uma das muitas facetas dos nossos
queridos Mary Sue e Gary Stu.
Como evitá-lo:
Não é porque uma pessoa é vegana que ela é um “anjo”, ou
seja, que fará apenas coisas boas e corretas. Um vegano pode fazer coisas ruins
de propósito, pode ter pensamentos equivocados, pode cometer erros. O vilão da
sua história pode ser vegan! Não dizem que o Hitler era vegetariano (ou que só
comia carne de frango)? E olha só o que ele fez!
Da mesma forma que pessoas que comem carne não consideram a
vida do animal, um vegano pode fazer essa mesma dissociação com relação às
pessoas. Por isso é importante considerar até que ponto o veganismo integra na
vida desse personagem; o que ele compreende por abuso e exploração; como ele
compreende abuso e exploração de animais; como o personagem separa humanos e
animais.
2. O vegano revoltado:
Tradução: “Mas você precisa de
proteínas dos animais”. De acordo com a minha pesquisa você é cheio de merda.
Quem ele é:
É aquele que não respeita as escolhas e opiniões de outras
pessoas, diz coisas que machucam apenas para provar que estão certos em suas
escolhas, briga com qualquer um que ouse discordar de sua opinião.
Como evitá-lo:
É certo considerar que todos nós (não apenas veganos) temos
nossos momentos revoltados, que discutimos com as pessoas com opiniões
diferentes da nossa e eventualmente dizemos coisas que machucam. Faz parte de
ser um ser humano passível de falhas e erros. Mas ninguém é revoltado o tempo
todo.
Veganos têm seus momentos de revolta e depressão
relacionados a inúmeros fatores da sociedade, principalmente porque têm consciência
de que muitos problemas ambientais e sociais graves poderiam facilmente ser
resolvidos se as pessoas parassem de consumir produtos de origem animal; mas um
ponto importante a considerar é que queremos que mais pessoas se tornem veganas
e sabemos que não é através da revolta e da violência que isso será alcançado.
Permita que seu personagem se sinta frustrado, triste,
alegre, e toda uma gama de emoções humanas, pois antes de ele ser vegano, ele é
um ser humano.
3. O vegano que gosta de (deitar e rolar com todos os)
animais:
Tradução: Vacas sentando como cachorros é oficialmente a coisa mais importante.
Quem ele é:
Seu segundo nome deveria ser Dolittle, porque se entende com
todos os animais, desde os domésticos até os mais selvagens. Pássaros pousam em
seus dedos, animais super ariscos se aproximam com confiança, mesmo os mais
violentos se tornam dóceis como filhotes de gatinhos quando próximos dessa
pessoa. Só falta começar a cantar como a Branca de Neve na floresta, e fazer os
animais limparem a casa para ela (o que, aliás, vai contra tudo o que o
veganismo prega).
Como evitá-lo:
Enquanto muitos veganos são apaixonados pelos animais, se
dão bem com eles, dedicam suas vidas inteiras ao ativismo e a santuários, animais
continuam sendo animais e agindo como animais. Os ariscos continuarão
ariscos, os violentos continuarão violentos, os dóceis continuarão dóceis.
Isso sem falar que, apesar de o veganismo ser sobre o fim da
exploração animal, muitos veganos não se sentem particularmente comovidos pelo
sofrimento animal, apenas decidiram fazer sua parte para parar com a indústria de
criação e matança de animais (pode ser pela sua própria saúde ou pelo planeta).
Também é importante ter em mente que se o seu personagem é
ovo-lacto-vegetariano sem a ambição de se tornar vegano um dia (ou seja, se o
seu personagem não está em transição para o veganismo), ele não pode sê-lo pelos
animais, uma vez que a indústria leiteira e de avicultura apenas adiciona uma
etapa de exploração antes de matar os animais da mesma forma que seriam mortos
se fizessem parte da indústria da carne.
4. O vegano ultra-master-super-hiper-mega saudável e
perfeito:
Tradução: Eles: Ah, você é vegan!
Você deve comer de forma tão saudável e fresca!
Eu: Uh... Sim.
Quem ele é:
É aquela pessoa que não apenas é vegana, mas cozinha sem
óleo, corre uma maratona, puxa ferro na academia, segue uma dieta paleo (é
possível! Não me pergunte como, porque eu também não sei), sem glúten e sem
soja. Se bobear também segue a política do zero-lixo, minimalista, neutraliza
suas pegadas de carbono, só anda de bicicleta. Só falta a capa vermelha, porque
essa pessoa é um verdadeiro herói.
Como evitá-lo:
Todos nós queremos ser assim um dia, mas sabemos que
alcançar esse nível de proeza na vida é praticamente impossível. Se já é
difícil ser apenas vegano, imagina ser tudo isso?! Chega até a ser meio
assustador.
Permita que seu personagem tenha falhas e coloque uma ou
duas dessas políticas como objetivos a serem alcançados. Por exemplo, sou
vegana, tento (e falho miseravelmente) ser minimalista, mas praticamente não
faço exercício nenhum e morro de preguiça de procurar receitas sem glúten,
independente do que as pessoas falem sobre ser mais saudável ou não.
5. O vegano fraquinho e mirradinho:
Tradução: Nenhuma carne? Você tem certeza de que está pegando proteínas o suficiente?
Quem ele é:
É aquela pessoa que se tornou anêmica depois da transição
para o vegetarianismo/veganismo.
Como evitá-lo:
Olha, em oito anos de ovo-lacto-vegetarianismo e dois de
veganismo, nunca conheci uma pessoa sequer que tenha se tornado estritamente
vegetariana e se tornado anêmica. Aliás, todas as pessoas anêmicas que conheci
se alimentavam com carne diariamente. Deficiência de proteína?! Nunca ouvi
falar de tal condição e não faço a menor ideia de como seria uma pessoa com
esse problema de saúde.
Claro, vegetarianos estritos precisam fazer reposição de
vitamina B12, mas isso também vale para cerca de um terço de toda a população
que come carne (e acham que só porque comem carne também repõem suas
necessidades diárias dessa vitamina e de ferro).
É muito mais comum que uma pessoa que se torna vegana tenha
suas condições de saúde melhoradas e existem até relatos de pessoas que
reverteram alguns tipos de câncer e problemas cardíacos graves apenas com essa
mudança na dieta. O mesmo deve acontecer com o seu personagem.
6. O vegano sem noção que não sabe cozinhar:
Tradução: Acabei de fazer meu famoso
cheeseburger vegano, sem laticínios e sem glúten!
Quem ele é:
É aquele cara que leva no churrasco da empresa uma lasanha
de alface e tomate (lê-se: alface e tomate dispostos em camadas) e que só se
alimenta de salada verde.
Como evitá-lo:
Lembre-se que os veganos querem mostrar que não vivem apenas
de salada e esse é um estereótipo que o público vegano quer quebrar! Um vegano
se alimenta, muitas vezes, com maior variedade do que uma pessoa que
come carne, pois inclui em sua alimentação sementes, grãos, vegetais variados,
frutas variadas etc.
Além do mais, se os veganos querem mostrar que comem tão bem
quanto qualquer pessoa, eles não irão levar para o churrasco da empresa uma
salada verde. Ao invés disso, farão questão de levar um prato bem saboroso que
irá agradar a todos os paladares.
7. O vegano que virou vegano do dia para a noite e nunca
mais olhou para trás:
Tradução: Quando alguém diz que nunca
experimentou nada vegano. Você nunca comeu uma maçã?
Quem ele é:
Aquele que todo vegano deseja ser, mas dá para contar na mão
os que são realmente assim (eu não conheço nenhum).
A verdade é que normalmente a transição para o veganismo é
feita aos poucos, por exemplo, primeiro para-se com as carnes vermelhas, depois
as brancas, depois o ovo, depois leite; e muitas vezes esse caminho é feito em
zigue-zague, ou seja, a pessoa volta a comer produtos de origem animal em algum
momento, depois para novamente e depois volta e então para e assim por diante
até finalmente parar de vez.
Como evitá-lo:
Como já falei antes: permita que seu personagem possua
falhas. Sucumbir a um desejo por um produto de origem animal, especialmente se
for algo que o personagem realmente goste, como um queijo ou um doce ainda não
“veganizado” ou cuja versão vegana simplesmente não é tão gostosa assim,
é perfeitamente normal.
A filosofia e o modo de vida veganos são “normas” que a
gente procura colocar sobre nossos corpos, mas resistir à tentação,
principalmente nos dias de hoje, não é exatamente fácil. Nem sempre a mente
vence a matéria.
Tem um youtuber vegano que em todo natal se permite comer um
doce que a avó faz que possui ingredientes de origem animal, para não deixar a
avó triste (mas principalmente porque o doce, segundo ele, é divino). Comer ou
não o doce não o faz menos ou mais vegano. Isso também vale para o seu
personagem.
8. O vegano hippie/natureba:
Tradução: Trols são tipo: “vai
abraçar uma árvore, seu vegano estúpido.” E eu sou tipo “não se importe se eu
for”.
Quem é:
É aquele vegano paz e amor, que usa roupas tingidas com
casca de alho e cebola, nada sintético jamais tocou seu corpo e poderia muito
bem estar em Woodstock.
Como evitá-lo:
Não é porque uma pessoa se tornou vegana e se importa com os
ingredientes dos produtos que usa que irá voltar aos anos 1960. Claro, ser
hippie ou natureba pode ser uma característica do seu personagem, mas ele não o
será única e exclusivamente por causa do veganismo.
Lembre-se de respeitar as características do seu personagem
e de dar um tempo de transição caso ele decida mudar. E tenha em mente que seu
personagem está inserido na comunidade da sua história, ou seja, que ele irá se
importar com a opinião daqueles mais importantes.
Dessa forma, seu personagem pode ser hippie e/ou natureba e
ser vegano. Mas um não é a causa do outro e seu personagem não irá se tornar
hippie e natureba da noite para o dia. Se seu personagem tiver essas
características anteriores à escolha pelo veganismo, ótimo! Se ele se torna
hippie e natureba, isso deverá incluir um período de transição para manter a
congruência do seu personagem.
9. O vegano socialista/anticapitalista/comunista:
Tradução: Passando pela seção de
carne tipo...
Quem é:
O título é autoexplicativo.
Como evitá-lo:
Veganos normalmente tentam trabalhar dentro do
capitalismo para tornar a sociedade vegana. Isso inclui: comprar produtos
veganos de grandes corporações, sempre que puder, independente do preço; e comprar
produtos com selos veganos de multinacionais, sempre que puder, independente do
preço. Como já expliquei nesse
post, a ideia é incentivar a produção de opções veganas que sejam do agrado
da maior parte da população, uma vez que a agropecuária está literalmente
matando nosso planeta.
Claro, muitos veganos, além da consciência ambiental e
política, também têm uma maior consciência econômica e de classe e conhecem os
principais problemas do capitalismo. Também é importante ter em mente que
alguns veganos também são socialistas ou anticapitalistas ou comunistas.
Seu personagem pode ser socialista ou anticapitalista ou
comunista, mas ele não o será por causa do veganismo. Como eu já disse: um não
é a causa do outro. Lembre-se que o veganismo é sobre a não exploração e não
massacre de animais, mas não é sobre política ou economia (apesar de usá-los em
seu favor, quando necessário).
Da mesma forma que seu personagem tem uma razão forte para ser vegano no meio de uma sociedade carnista, ele também deverá ter uma razão forte para defender o socialismo/comunismo/anticapitalismo numa sociedade que praticamente tem fobia dessas teorias. E lembre-se de pesquisar sobre esses movimentos antes de usá-los, para não cair no erro de criar uma história superficial e preconceituosa.
E é isso, pessoal!
Espero ter ajudado os autores com esses pontos de partida
sobre o movimento vegano e a introduzir o mundo vegano para aqueles curiosos. E,
lembre-se, você não precisa usar tudo o que coloquei na série de posts na sua
história; use apenas o que for importante para compreender seu personagem e
para o seu plot.
Também não fique confortável com as informações que coloquei
aqui. Esse assunto está longe de estar acabado. Pesquise mais, entre nos links
que coloquei nos posts, assista aos documentários, especialmente se você não
for vegano. Mas, acima de tudo, respeite seus personagens, suas histórias e
seus modos de pensar.
Boa pesquisa!
Boa escrita!
See ya!
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