Criando um personagem vegetariano/vegano — Entendendo o vegetarianismo

domingo, 6 de setembro de 2020

 

Tradução: “Mas, tipo, o que você sequer pode comer?”

Por: Thalita Gonçalves

Hello, little loafs!

Aqui quem fala é a Thalita, autora nova no blog, mas pretendo aparecer por aqui mais vezes! Vamos conversar sobre os detalhes da construção de um personagem vegetariano e/ou vegano! Mas é importante deixar claro que esse post não tem a intenção de te convencer a se tornar vegetariano/vegano ou a incluir personagens vegetarianos/veganos nas suas histórias. São apenas algumas ideias reunidas para ajudar os escritores que querem incluir personagens vegetarianos e veganos em suas produções.

Vamos lá?!

Hoje em dia o movimento vegetariano/vegano está crescendo exponencialmente e podemos perceber isso com o aumento de opções veganas em restaurantes e supermercados por todo o mundo, inclusive no Brasil!

Com isso em mente, vários autores podem estar querendo incorporar personagens vegetarianos e veganos em suas histórias e, sendo eu vegana, pensei em escrever esse post para te ajudar a montar personagens realistas. Será uma série quinzenal com quatro posts com várias informações sobre o vegetarianismo e o veganismo com links e referências para te dar um ponto de partida na sua pesquisa e criação. Para finalizar, o último post será sobre estereótipos veganos para evitar, ok?

Hoje vamos desbravar o mundo das dietas à base de plantas, conhecer suas principais consequências para o dia-a-dia e o corpo e, principalmente, vamos entender alguns termos que deixam todo mundo confuso.

Em primeiro lugar, quero avisar que não sou nutricionista. Se você está pensando em criar um personagem que, além de vegetariano também precisa seguir uma dieta especial, está grávido, tem um filho pequeno que está sendo criado vegan, entre outras possibilidades, talvez seja interessante procurar algum profissional mais qualificado e entrevistá-lo, porque podem existir diferenças importantes na alimentação, ok?

Vamos começar com os termos — que não, não são sinônimos:

       Flexitariano: é a pessoa que não pretende se tornar vegetariana, mas consome menos carne e derivados de animais por consciência da própria saúde ou das consequências para o planeta.

       Semi-vegetariano: é a pessoa que segue uma dieta à base de plantas durante a maior parte do tempo, mas ocasionalmente ainda come carne e almeja o vegetarianismo. Também é conhecida como “em transição” para o vegetarianismo.

       Ovo-lacto-vegetariano: é a pessoa que não come carne e seus derivados, mas ainda come leite, ovos e derivados.

       Ovo-vegetariano: é a pessoa que não come carne e nem leite e derivados, mas ainda come ovo e seus derivados.

       Lacto-vegetariano: ao invés de manter o ovo, mantém o leite e seus derivados.

       Vegetariano: é a pessoa que está numa dieta inteiramente à base de plantas.

Como deu para perceber, existe muita incompreensão sobre dietas vegetarianas, já que esse termo é comumente usado para pessoas que ainda se alimentam de leite, ovos e derivados aqui no Brasil. Justamente por isso, mesmo sabendo do significado desses termos, muitos vegetarianos estritos se denominam vegans, enquanto ovo-lacto-vegetarianos dizem que são simplesmente vegetarianos. Portanto, seu personagem pode seguir a mesma linha e usar um termo “errôneo”, mas ele muito provavelmente saberá dessas diferenças — especialmente se tiver ido a um nutricionista antes de iniciar a transição.

Mas e o termo vegan? O que significa?

O termo vegan se refere a uma filosofia de vida focada em parar com todo e qualquer sofrimento animal, na medida do possível e do praticável. Portanto, enquanto vegetarianismo é um termo que se refere exclusivamente à dieta, o veganismo vai além da dieta, e é incorporado em todos os aspectos da vida.

Tradução: Eu: Você tem opções veganas? Garçonete: Pode ser comida vegetariana? Eu: Posso pagar com dinheiro do Monopoly?

Quando se começa a pesquisar mais sobre o assunto, descobre-se outro termo: Carnista. Diz-se que uma pessoa carnista não apenas come carne e defende seu consumo, como ataca vegetarianos e veganos. É diferente de apenas comer carne e não ter opinião sobre o assunto ou de ser simpatizante do movimento vegetariano e vegano.

Como falei antes, hoje vamos tentar entender melhor a transição para o vegetarianismo e o vegetarianismo enquanto dieta e suas principais consequências para a rotina e o corpo do ponto de vista de uma pessoa. Sobre análises acerca disso existem vários estudos e alguns documentários; particularmente recomendo Dieta de Gladiadores (The Game Changers), disponível no Netflix, com mais informações do ponto de vista científico.

Vou contar uma mistura do que aconteceu comigo com relatos que ouvi de outras pessoas acerca do período de transição de carnívora para vegetariana estrita, ok?

Em relação ao corpo, existe um mito de que uma pessoa vegetariana emagrece e de que ela é saudável. Gente, é possível ser vegetariana se alimentando exclusivamente de batata frita e Coca-cola. Obviamente, depende das escolhas que essa pessoa faz e o mesmo vale para nossos queridos personagens: se alguém se alimenta de muitos carboidratos e não faz exercício para queimá-los, vai engordar (o que é tendência para os novos vegetarianos, que substituem a carne por batata, macarrão, mandioca etc.). Se do nada começa a comer um monte de feijão, lentilha e grão-de-bico, claro que vai ter gases (e fedidos). Se só come essas comidas industrializadas, mesmo as veganas, que são cheias de condimentos, sal e ferro heme, é claro que estarão longe de serem saudáveis. Se começa a se alimentar só de saladas, é razoável concluir que vai sentir mais fome e mais frequentemente.

Tradução: Confeitaria vegana — porque você pode comer toda a porcaria de massa crua que quiser.

Mas vegetarianos não comem só salada? Claro que não, my little loaf. Eu, por exemplo, não sou chegada em saladas e odeio alface. E deixo você pegar essas características porque simplesmente adoro quebrar estereótipos (e ver a cara de espanto das pessoas quando digo isso). Existem n canais de receitas veganas no youtube, mas no final do post colocarei meus favoritos para você ter um ponto de partida com referências de receitas para seus personagens, caso isso apareça na sua história, ok?

Então vegetarianos, como a maior parte das pessoas, terão alguns pratos favoritos que fazem com uma grande frequência. Normalmente esses pratos são mais simples e práticos de fazer. Para você ter uma ideia, meus pratos curingas são: macarrão com brócolis ou abobrinha, homus de grão-de-bico, PTS (proteína texturizada de soja) refogada — às vezes com batata — acompanhado do tradicional arroz com feijão, e sopa de legumes. Todos são práticos, simples e rápidos de fazer, especialmente quando estou na correria. Quando quero fazer uma receita diferentona para impressionar, ou apenas para fazer algo diferente de vez em quando, procuro a receita na internet, como qualquer jovem que se preze.

Outra coisa que muda com a transição é que a gente se torna mais consciente do que está comendo, se organiza para preparar as próprias refeições, e muitas vezes deixa de comer algo porque não tem certeza se ali tem algum derivado de animal. Então, por exemplo, se vou a um restaurante não-vegetariano, é bem comum que eu não coma o feijão ou passe direto pelo buffet de sopas, porque é muito comum feijão com bacon ou cozido com a pele de porco e sopas de legumes feitas com caldo de galinha. Com isso em mente, uma pessoa vegetariana também passa a ler os rótulos dos alimentos industrializados que consome, para evitar ingredientes de origem animal. Já viu alguém no mercado lendo os rótulos dos produtos? É bem provável que seja um vegetariano/vegano se certificando de que não tem ingredientes de origem animal no produto que pretende comprar.


Com o tempo, conforme vai fazendo pesquisas, aprendendo mais sobre o mundo vegano e conversando com outros vegetarianos, uma pessoa descobre que gelatina e corante natural carmim (que também possui outros nomes em rótulos) são de origem animal, bem como vários outros ingredientes bem comuns. Se o seu personagem descobriu isso apenas mais tarde e continuou consumindo produtos com esses ingredientes, é capaz de ele ter algum impacto psicológico, dependendo de suas motivações para adotar a dieta ou o estilo de vida, especialmente se for a primeira vez dele se dando conta desses detalhes.

Isso também pode acontecer com eventuais acidentes. Por exemplo: eu tinha acabado de parar com qualquer tipo de carne, portanto era ovo-lacto-vegetariana. Numa viagem, fiquei com vontade de comer lasanha então fui ao mercado e comprei uma lasanha quatro queijos dessas congeladas. Esquentei seguindo as instruções e comecei a comer. Sozinha, entediada, comecei a ler o rótulo (quem nunca?) e, quando estava quase acabando com a lasanha, cheguei aos ingredientes e vi que tinha bacon na lasanha.

Foi triste. Chorei.

E entrei num dilema pessoal: jogava o resto da lasanha fora? Ela tinha sido cara e fui ensinada desde pequena a nunca — nunca — jogar comida fora. Ou ia contra meus novos princípios e terminava de comer a lasanha? Depois de alguns minutos conjecturando, resolvi terminar de comer. E foi uma experiência tão horrível para mim que nunca mais fiz isso (de terminar de comer algo com derivado de animal apenas para não jogar fora) e aprendi a sempre — sempre — ler os rótulos de produtos industrializados que compro.

Essa minha história não é a única. Todo vegetariano tem uma história dessas, com diferentes respostas ao dilema (que também é comum a todo vegetariano). E vegetarianos fazem piadas entre si com essas histórias, do tipo “ah, então você não é mais vegetariano há três anos, agora vai ter que zerar a contagem porque comeu carne/derivado de animal”.  É meio sem graça, eu sei, mas a ideia é tirar o peso e o foco da culpa.

Isso é uma impressão pessoal, mas as pessoas vegetarianas que conheci também concordaram comigo de que se sentiram mais leves e com mais energia depois da transição. Então, se você vai escrever sobre um personagem que passa pela transição de carnívora para vegetariana, talvez seja interessante mencionar isso para dar ainda mais realismo ao seu personagem: após a transição o personagem pode ter mais energia, mais disposição para realizar suas atividades.

Outro ponto importante é que, se o personagem for a uma festa e não tiver certeza se lá tem opções vegetarianas ou mesmo ovo-lacto-vegetarianas, ele vai precisar preparar sua própria comida ou vai passar fome. E, se for gostosa, vai precisar levar para todo mundo que também estará na festa ou será tachado de egoísta e mal-educado. Vou te contar um segredo dos vegetarianos: muitas vezes preparamos comidas vegetarianas e levamos para as festas com a intenção escusa de trazer as pessoas para o nosso lado (hehe). Normalmente isso só torna as pessoas simpatizantes ao vegetarianismo, mas é melhor que nada ¯\_()_/¯.

Tradução: Vantagem vegetariana nº 11 — Quando seus amigos que comem carne amam a comida vegetariana que você faz para eles.

Ah, sim, com relação aos preços e ao mito de que dieta vegetariana é mais cara do que uma dieta com derivados de animais. Novamente, depende das escolhas. Produtos vegetarianos estritos (ou veganos) industrializados são mais caros, mas legumes, leguminosas, grãos e sementes são mais baratos do que carne. Então, se o seu personagem decidir iniciar a transição para o vegetarianismo e decide começar fazendo diariamente sanduíches com o Futuro Burguer, é claro que vai começar a gastar mais, já que esse troço custa o olho da cara. Mas se ele decidir por focar em legumes, frutas e grãos, na verdade vai gastar menos do que gastava quando se alimentava de derivados de animais.

Mas atenção! Esse foi um post compreensivo, procurando ver a rotina e os personagens como um todo e procurando abordar todos os aspectos da vida que são afetados pela dieta vegetariana. Você não precisa abordar todos os aspectos incluídos nesse post na sua história. Use apenas o que for necessário para o plot e aproveite essas observações para compreender melhor seu personagem.

De resto, a vida de uma pessoa vegetariana é bem igual a de qualquer outra na mesma faixa etária e nas mesmas condições socioeconômicas, lembrando, é claro, que o vegetarianismo se refere apenas à dieta. No próximo post vamos aprender mais sobre o veganismo e como ele impacta na rotina.

Espero ter ajudado!

 

Referências e links para consulta:

Sociedade Vegetariana Brasileira: https://www.svb.org.br/

Vista-se: https://www.vista-se.com.br/

The Vegan Society: https://www.vegansociety.com/

VegetariRango (canal de receitas): https://www.youtube.com/user/vegetarirango

Pick Up Limes (canal de receitas): https://www.youtube.com/channel/UCq2E1mIwUKMWzCA4liA_XGQ

Documentário Dieta de Gladiadores (disponível no Netflix): https://www.netflix.com/br/title/81157840


2 comentários:

  1. Amei muito, com certeza fiquei com vontade de criar um personagem vegano haha, suas dicas e sua experiência dá pano pra manga pra muita história legal =D. Já quero o resto da série =)

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