Por:
Rodrigo Caetano
Acho
um processo natural para nós, autores iniciantes, sendo amadores ou
com aspirações profissionais, olhar para cima e observar aqueles
que já alcançaram algo similar ao que almejamos. Assim, sempre vi
as regras como um tipo de guia para nos ajudar a conseguir o que
queremos alcançar.
Porém,
a medida que fui lendo e estudando as diversas regras dos mais
diferentes autores ao redor do mundo, percebi que nem sempre podemos
segui-las. Na verdade, nunca podemos segui-las todas.
Sim,
muitas vezes podemos usá-las como guias, mas, mesmo assim, com
alguma reticência. Escrever é um processo muito pessoal, assim como
qualquer tipo de arte. Arte que seja limitada por regras é
justamente isso: limitada. A sua voz no papel é o que faz a
literatura, e não um texto dentro dos conformes que quem veio antes
ditou, quando fazia justamente o que você está tentando fazer.
Eles
acharam o caminho deles, e por mais sucesso que tenham obtido, não
podemos seguir atrás. Temos que achar um caminho próprio.
Foi
lendo um artigo de autoria de Andrew Blackman, um autor britânico de
menor expressão, que encontrei expresso em um estudo mais detalhado
o que eu havia percebido inicialmente. “Escrever é, por
natureza, um processo anarquista” diz ele. “Ele sobrevive
de surpresas, quebra de regras, novos modos de ver as coisas. Se
todos seguissem as mesmas regras, seguissem os mesmos caminhos, a
literatura morreria rapidamente”.
Ele
estudou as mesmas regras que eu estudei, todas baseadas em um artigo
publicado pelo jornal “The Guardian”, chamado “The
Ten Rules of Writing Fiction” (As Dez Regras para Escrever
Ficção), que serviu de base para as minhas traduções. O que ele
percebeu e provou foi a dificuldade imensa que alguém teria ao
tentar seguir as regras ditadas pelos autores. Vou deixar aqui para
vocês a minha tradução do que ele muito inteligentemente
selecionou, desmontando as regras que, desde sempre, eu guardei com
tanto carinho:
- Roddy Doyle disse para “Encher as páginas o mais rápido possível – utilize espaços duplos, ou escreva pulando linhas”. Michael Morpurgo diz para “Escrever em letras muito pequenas, para que você evite acabar a página e ter que encarar a próxima em branco”;
- Neil Gaiman te fala para ler o seu trabalho fingindo que você nunca o leu antes. Margaret Atwood diz que “você nunca vai conseguir ler o seu próprio livro como alguém que nunca o leu antes, logo, mostre para outra pessoa”;
- Ian Rankin diz: “Seja persistente. Não desista”. Geoff Dyer diz: “Se algo se provar muito difícil, desista e faça alguma outra coisa”;
- Geoff Dyer recomenda escrever em um computador com um auto-corretor bem refinado, para poupar tempo digitando. Zadie Smith fala para não usar um computador que seja conectado à internet. Annie Proulx lhe diria para escrever apenas à mão;
- Richard Ford diz: “Não tenha filhos”. Helen Dunmore diz “Se você teme que cuidar da sua casa e dos seus filhos vai prejudicar a sua escrita, lembre-se de JG Ballard” (três filhos e vários prêmios na literatura);
- Jonathan Frazen diz para “escrever na terceira pessoa, a menos que uma voz em primeira pessoa muito especial se ofereça de maneira irresistível”. Anne Enright diz “Escreva da maneira que bem entender”;
- Margaret Atwood alerta que você precisará de um Thesaurus. Roddy Doyle manda deixar o Thesaurus numa prateleira no fim do jardim, pois “provavelmente as palavras que lhe vierem à cabeça servem”;
- Michael Moorcock diz “Leia tudo em que você possa por as mãos... de Bunyan a Byatt”. Já Will Self diz: “Não leia ficção. É tudo mentira, de qualquer jeito”;
- Andrew Motion lhe fala para “decidir quando no dia ou na noite você se sente melhor escrevendo”. Hilary Mantel fala que escrever pela manhã pode “ser a melhor coisa que você faz por você mesmo”;
- PD James diz: “Quanto maior seu vocabulário, mas efetiva é a sua escrita”. Joyce Carol Oates prefere “usar palavras familiares e simples em vez de palavras polissilábicas e grandes”;
- AL Kennedy diz: “as melhores coisas lhe farão lembrar delas, então você não precisa tomar notas”. Will Self diz para “sempre carregar um caderno... A memória de curto prazo apenas retém informações por cerca de três minutos”;
- Jeanette Winterson diz: “Nunca pare quando você ficar preso”. Hillary Mantel diz que “se você está preso, pare e saia da sua mesa – dê uma volta, tome um banho, vá dormir; o que quer que você faça, não fique lá remoendo o problema”;
- A única constância é conselho de cortar as coisas. Jonathan Fraze diz para evitar usar “então” como uma conjunção, e para ficar atento aos “verbos interessantes”. Sarah Waters aconselha cortar “frases redundantes, adjetivos distrativos, os advérbios desnecessários.” Elmore Leonard diz para cortar prólogos, descrições sobre o clima, qualquer verbo que não seja “disse” para diálogos, cortar advérbios, pontos de exclamação, dialeto regional e o termo “de repente”. Hilary Mantel diz para cortar o seu primeiro parágrafo. Esther Freud diz para cortar todas as metáforas e sorrisos. Não sei direito o que sobra, depois que cortamos isso tudo – talvez alguns substantivos.
ResponderExcluirOi ^-^, tudo bem?
Bem, atualmente estou escrevendo uma fic, e bem irá ter uma cena com Sadomasoquismo.
Não tenho a mínima idéia de como transferir as cenas que vejo para as palavras! Me ajudem!
Agradeço desde já. Beijos Júlia.
Olá! Vou adicionar o teu tema ao nosso banco de ideias. Fica atenta, uma vez que em breve alguém poderá escrever sobre ele :D
Excluir