Saramago, José. As
intermitências da morte. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
Senta aí, amados, que lá vem
história de suspense!
Hoje a tia Rebel veio trazer para
vocês um clássico, mas antes que virem a cara e digam “chatoooo”, deixa eu
soltar o spoiler que a morte tira umas férias!
Isso mesmo, senhorita Morte olhou
para a humanidade ingrata que tinha que atender e pensou “não sou obrigada”,
então nosso querido Saramago resolveu descrever o que aconteceu depois dessa
greve.
Comecemos do começo! 1º de
janeiro, um ano novo e vida nova, ou melhor, eterna.
“No dia seguinte, ninguém
morreu”
“... basta que nos lembremos
de que não havia notícia nos quarenta volumes da história universal, nem ao
menos um caso para amostra, de ter alguma vez ocorrido fenómeno semelhante,
passar-se um dia completo, com todas as suas pródigas vinte e quatro horas,
[...] sem que tivesse sucedido um falecimento por doença, uma queda mortal, um
suicídio levado a bom fim, nada de nada, pela palavra nada.” (Quarta capa da
edição em referência)
Se você está achando que ficou
tudo as mil maravilhas, com arco-íris e unicórnios pelo ar soltando glitter,
aguenta aí. Genialmente, o autor nos permite acompanhar várias histórias de
diferentes pessoas, de diferentes classes, com diferentes problemas, durante as
“férias” da Morte, essas tais que foram notadas a partir do momento que um
abençoado era atropelado e não batia as botas, ou outro cortava uma artéria
vital e estava melhor do que a gente depois que come fritura com suco de
pacotinho.
O fato é que primeiro a galera
comemora, uns nem tanto, mas todos estão admirados, cada um à sua maneira, por
essa aparente “benção” de não se perder mais os entes queridos.
Os problemas começam quando,
aparentemente, a morte ajuda na manutenção de muitas partes da sociedade.
Doentes hospitalizados estão atados à cama de hospital, agonizando em suas
doenças, mas não conseguem ir “pro lado de lá”, os donos de funerárias estão se
virando nos 30 para sobreviverem com a falta de mortes – alguns por meios
ilícitos -, primeiro-ministro também está sentindo o caos logo à porta... e por
que não incluirmos aí uma máphia para oferecer soluções rápidas e
milagrosas para a crise?
Quando seria afinal devolvido
“o supremo medo ao coração dos homens?” (Orelha da edição em referência)
Para descobrir, pode ir lá dar
aquela bisbilhotada no livro. Não se assuste com o tamanho dos parágrafos! Quem
já conhece chefe Saramago, sabe que ele adorava escrever bastante em poucos
parágrafos, mas isso não é nem um pouco prejudicial, já que não são apenas
descrições ou outros detalhes que acabam não sendo importantes para a trama;
não, senhor! O chefe descreve o que realmente vai acontecer e vai ser
pertinente, e mesmo a trama com várias histórias sendo contadas paralelamente,
mas em um mesmo contexto, é um detalhe que movimenta o enredo e te faz ansiar
cada vez mais pelo momento em que a grevista da história vai se manifestar.
Para muito além de um livro sobre
assassinato (ou falta dele) e outras cenas ditas “horrendas”, o cenário escrito
em As intermitências da morte traz questionamentos sobre muito do tido
como “certo X errado”, além de problematizações da ética que são incríveis de
serem lidas em um enredo de fantasia e nem por isso menos realista no que toca
ao ser humano.
Saramago é um escritor português,
mas não precisa torcer o nariz para o português europeu não! A versão da
Companhia das Letras é ótima e, em muitos casos, você consegue adquirir outros
dois títulos do mesmo autor em um combo (Ensaio sobre a Cegueira e O
Evangelho segundo Jesus Cristo); também tem versões disponíveis para Kindle
e na coleção de bolso da Companhia das Letras ^^
Espero que tenham gostado e
sentido uma pontinha de curiosidade sobre a greve da Morte. Conta pra gente
suas deduções e impressões (mesmo que já tenha lido ou não!)
See you!
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