Resenha: As Intermitências da Morte

domingo, 26 de julho de 2020
Por: Rebel Princess

Saramago, José. As intermitências da morte. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

 

Senta aí, amados, que lá vem história de suspense!

Hoje a tia Rebel veio trazer para vocês um clássico, mas antes que virem a cara e digam “chatoooo”, deixa eu soltar o spoiler que a morte tira umas férias!

Isso mesmo, senhorita Morte olhou para a humanidade ingrata que tinha que atender e pensou “não sou obrigada”, então nosso querido Saramago resolveu descrever o que aconteceu depois dessa greve.

Comecemos do começo! 1º de janeiro, um ano novo e vida nova, ou melhor, eterna.

 

“No dia seguinte, ninguém morreu”

“... basta que nos lembremos de que não havia notícia nos quarenta volumes da história universal, nem ao menos um caso para amostra, de ter alguma vez ocorrido fenómeno semelhante, passar-se um dia completo, com todas as suas pródigas vinte e quatro horas, [...] sem que tivesse sucedido um falecimento por doença, uma queda mortal, um suicídio levado a bom fim, nada de nada, pela palavra nada.” (Quarta capa da edição em referência)

Se você está achando que ficou tudo as mil maravilhas, com arco-íris e unicórnios pelo ar soltando glitter, aguenta aí. Genialmente, o autor nos permite acompanhar várias histórias de diferentes pessoas, de diferentes classes, com diferentes problemas, durante as “férias” da Morte, essas tais que foram notadas a partir do momento que um abençoado era atropelado e não batia as botas, ou outro cortava uma artéria vital e estava melhor do que a gente depois que come fritura com suco de pacotinho.

O fato é que primeiro a galera comemora, uns nem tanto, mas todos estão admirados, cada um à sua maneira, por essa aparente “benção” de não se perder mais os entes queridos.

Os problemas começam quando, aparentemente, a morte ajuda na manutenção de muitas partes da sociedade. Doentes hospitalizados estão atados à cama de hospital, agonizando em suas doenças, mas não conseguem ir “pro lado de lá”, os donos de funerárias estão se virando nos 30 para sobreviverem com a falta de mortes – alguns por meios ilícitos -, primeiro-ministro também está sentindo o caos logo à porta... e por que não incluirmos aí uma máphia para oferecer soluções rápidas e milagrosas para a crise?

 

Quando seria afinal devolvido “o supremo medo ao coração dos homens?” (Orelha da edição em referência)

Para descobrir, pode ir lá dar aquela bisbilhotada no livro. Não se assuste com o tamanho dos parágrafos! Quem já conhece chefe Saramago, sabe que ele adorava escrever bastante em poucos parágrafos, mas isso não é nem um pouco prejudicial, já que não são apenas descrições ou outros detalhes que acabam não sendo importantes para a trama; não, senhor! O chefe descreve o que realmente vai acontecer e vai ser pertinente, e mesmo a trama com várias histórias sendo contadas paralelamente, mas em um mesmo contexto, é um detalhe que movimenta o enredo e te faz ansiar cada vez mais pelo momento em que a grevista da história vai se manifestar.

Para muito além de um livro sobre assassinato (ou falta dele) e outras cenas ditas “horrendas”, o cenário escrito em As intermitências da morte traz questionamentos sobre muito do tido como “certo X errado”, além de problematizações da ética que são incríveis de serem lidas em um enredo de fantasia e nem por isso menos realista no que toca ao ser humano.

Saramago é um escritor português, mas não precisa torcer o nariz para o português europeu não! A versão da Companhia das Letras é ótima e, em muitos casos, você consegue adquirir outros dois títulos do mesmo autor em um combo (Ensaio sobre a Cegueira e O Evangelho segundo Jesus Cristo); também tem versões disponíveis para Kindle e na coleção de bolso da Companhia das Letras ^^

Espero que tenham gostado e sentido uma pontinha de curiosidade sobre a greve da Morte. Conta pra gente suas deduções e impressões (mesmo que já tenha lido ou não!)

See you!


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