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Criando um personagem vegetariano/vegano - Estereótipos de veganos

domingo, 18 de outubro de 2020

 

Tradução: Eu quando alguém expressa o menor interesse no veganismo

Por: Thalita Gonçalves

Hello, little loafs!

Voltei neste quarto e último post sobre o vegetarianismo e veganismo! Já aprendemos sobre o vocabulário e a transição para o vegetarianismo; sobre o veganismo enquanto estilo de vida; e sobre alguns dos conflitos mais comuns criados quando se é vegano no meio de pessoas que comem carne. Hoje vamos ver os estereótipos mais comuns entre os veganos e/ou atribuídos aos veganos.

Só lembrando, mais uma vez, que não pretendo convencer ninguém a se tornar vegano, mas que essa série de posts são apenas algumas ideias sobre o veganismo reunidas para ajudar escritores. Essa lista não segue nenhuma ordem em particular.

 1. O anjo vegano:

Tradução: “Vocês vegans fingem que são melhores do que todo mundo”. Falso. Eu não estou fingindo.

Quem ele é:

É aquela pessoa essencialmente boa, que realiza trabalhos voluntários, ajuda todos que encontra, é a verdadeira encarnação de Madre Tereza de Calcutá e o veganismo é apenas a cereja no bolo desse anjo de candura (*sente a ironia~). Também conhecida como uma das muitas facetas dos nossos queridos Mary Sue e Gary Stu.

Como evitá-lo:

Não é porque uma pessoa é vegana que ela é um “anjo”, ou seja, que fará apenas coisas boas e corretas. Um vegano pode fazer coisas ruins de propósito, pode ter pensamentos equivocados, pode cometer erros. O vilão da sua história pode ser vegan! Não dizem que o Hitler era vegetariano (ou que só comia carne de frango)? E olha só o que ele fez!

Da mesma forma que pessoas que comem carne não consideram a vida do animal, um vegano pode fazer essa mesma dissociação com relação às pessoas. Por isso é importante considerar até que ponto o veganismo integra na vida desse personagem; o que ele compreende por abuso e exploração; como ele compreende abuso e exploração de animais; como o personagem separa humanos e animais.

 

2. O vegano revoltado: 

Tradução: “Mas você precisa de proteínas dos animais”. De acordo com a minha pesquisa você é cheio de merda.

Quem ele é:

É aquele que não respeita as escolhas e opiniões de outras pessoas, diz coisas que machucam apenas para provar que estão certos em suas escolhas, briga com qualquer um que ouse discordar de sua opinião.

Como evitá-lo:

É certo considerar que todos nós (não apenas veganos) temos nossos momentos revoltados, que discutimos com as pessoas com opiniões diferentes da nossa e eventualmente dizemos coisas que machucam. Faz parte de ser um ser humano passível de falhas e erros. Mas ninguém é revoltado o tempo todo.

Veganos têm seus momentos de revolta e depressão relacionados a inúmeros fatores da sociedade, principalmente porque têm consciência de que muitos problemas ambientais e sociais graves poderiam facilmente ser resolvidos se as pessoas parassem de consumir produtos de origem animal; mas um ponto importante a considerar é que queremos que mais pessoas se tornem veganas e sabemos que não é através da revolta e da violência que isso será alcançado.

Permita que seu personagem se sinta frustrado, triste, alegre, e toda uma gama de emoções humanas, pois antes de ele ser vegano, ele é um ser humano.

 

3. O vegano que gosta de (deitar e rolar com todos os) animais:


Tradução: Vacas sentando como cachorros é oficialmente a coisa mais importante.

Quem ele é:

Seu segundo nome deveria ser Dolittle, porque se entende com todos os animais, desde os domésticos até os mais selvagens. Pássaros pousam em seus dedos, animais super ariscos se aproximam com confiança, mesmo os mais violentos se tornam dóceis como filhotes de gatinhos quando próximos dessa pessoa. Só falta começar a cantar como a Branca de Neve na floresta, e fazer os animais limparem a casa para ela (o que, aliás, vai contra tudo o que o veganismo prega).

Como evitá-lo:

Enquanto muitos veganos são apaixonados pelos animais, se dão bem com eles, dedicam suas vidas inteiras ao ativismo e a santuários, animais continuam sendo animais e agindo como animais. Os ariscos continuarão ariscos, os violentos continuarão violentos, os dóceis continuarão dóceis.

Isso sem falar que, apesar de o veganismo ser sobre o fim da exploração animal, muitos veganos não se sentem particularmente comovidos pelo sofrimento animal, apenas decidiram fazer sua parte para parar com a indústria de criação e matança de animais (pode ser pela sua própria saúde ou pelo planeta).

Também é importante ter em mente que se o seu personagem é ovo-lacto-vegetariano sem a ambição de se tornar vegano um dia (ou seja, se o seu personagem não está em transição para o veganismo), ele não pode sê-lo pelos animais, uma vez que a indústria leiteira e de avicultura apenas adiciona uma etapa de exploração antes de matar os animais da mesma forma que seriam mortos se fizessem parte da indústria da carne.

 

4. O vegano ultra-master-super-hiper-mega saudável e perfeito: 

Tradução: Eles: Ah, você é vegan! Você deve comer de forma tão saudável e fresca!

Eu: Uh... Sim.

Quem ele é:

É aquela pessoa que não apenas é vegana, mas cozinha sem óleo, corre uma maratona, puxa ferro na academia, segue uma dieta paleo (é possível! Não me pergunte como, porque eu também não sei), sem glúten e sem soja. Se bobear também segue a política do zero-lixo, minimalista, neutraliza suas pegadas de carbono, só anda de bicicleta. Só falta a capa vermelha, porque essa pessoa é um verdadeiro herói.

Como evitá-lo:

Todos nós queremos ser assim um dia, mas sabemos que alcançar esse nível de proeza na vida é praticamente impossível. Se já é difícil ser apenas vegano, imagina ser tudo isso?! Chega até a ser meio assustador.

Permita que seu personagem tenha falhas e coloque uma ou duas dessas políticas como objetivos a serem alcançados. Por exemplo, sou vegana, tento (e falho miseravelmente) ser minimalista, mas praticamente não faço exercício nenhum e morro de preguiça de procurar receitas sem glúten, independente do que as pessoas falem sobre ser mais saudável ou não.

 

5. O vegano fraquinho e mirradinho: 

Tradução: Nenhuma carne? Você tem certeza de que está pegando proteínas o suficiente?

Quem ele é:

É aquela pessoa que se tornou anêmica depois da transição para o vegetarianismo/veganismo.

Como evitá-lo:

Olha, em oito anos de ovo-lacto-vegetarianismo e dois de veganismo, nunca conheci uma pessoa sequer que tenha se tornado estritamente vegetariana e se tornado anêmica. Aliás, todas as pessoas anêmicas que conheci se alimentavam com carne diariamente. Deficiência de proteína?! Nunca ouvi falar de tal condição e não faço a menor ideia de como seria uma pessoa com esse problema de saúde.

Claro, vegetarianos estritos precisam fazer reposição de vitamina B12, mas isso também vale para cerca de um terço de toda a população que come carne (e acham que só porque comem carne também repõem suas necessidades diárias dessa vitamina e de ferro).

É muito mais comum que uma pessoa que se torna vegana tenha suas condições de saúde melhoradas e existem até relatos de pessoas que reverteram alguns tipos de câncer e problemas cardíacos graves apenas com essa mudança na dieta. O mesmo deve acontecer com o seu personagem.

 

6. O vegano sem noção que não sabe cozinhar:


Tradução: Acabei de fazer meu famoso cheeseburger vegano, sem laticínios e sem glúten!

Quem ele é:

É aquele cara que leva no churrasco da empresa uma lasanha de alface e tomate (lê-se: alface e tomate dispostos em camadas) e que só se alimenta de salada verde.

Como evitá-lo:

Lembre-se que os veganos querem mostrar que não vivem apenas de salada e esse é um estereótipo que o público vegano quer quebrar! Um vegano se alimenta, muitas vezes, com maior variedade do que uma pessoa que come carne, pois inclui em sua alimentação sementes, grãos, vegetais variados, frutas variadas etc.

Além do mais, se os veganos querem mostrar que comem tão bem quanto qualquer pessoa, eles não irão levar para o churrasco da empresa uma salada verde. Ao invés disso, farão questão de levar um prato bem saboroso que irá agradar a todos os paladares.

 

7. O vegano que virou vegano do dia para a noite e nunca mais olhou para trás:

Tradução: Quando alguém diz que nunca experimentou nada vegano. Você nunca comeu uma maçã?

Quem ele é:

Aquele que todo vegano deseja ser, mas dá para contar na mão os que são realmente assim (eu não conheço nenhum).

A verdade é que normalmente a transição para o veganismo é feita aos poucos, por exemplo, primeiro para-se com as carnes vermelhas, depois as brancas, depois o ovo, depois leite; e muitas vezes esse caminho é feito em zigue-zague, ou seja, a pessoa volta a comer produtos de origem animal em algum momento, depois para novamente e depois volta e então para e assim por diante até finalmente parar de vez.

Como evitá-lo:

Como já falei antes: permita que seu personagem possua falhas. Sucumbir a um desejo por um produto de origem animal, especialmente se for algo que o personagem realmente goste, como um queijo ou um doce ainda não “veganizado” ou cuja versão vegana simplesmente não é tão gostosa assim, é perfeitamente normal.

A filosofia e o modo de vida veganos são “normas” que a gente procura colocar sobre nossos corpos, mas resistir à tentação, principalmente nos dias de hoje, não é exatamente fácil. Nem sempre a mente vence a matéria.

Tem um youtuber vegano que em todo natal se permite comer um doce que a avó faz que possui ingredientes de origem animal, para não deixar a avó triste (mas principalmente porque o doce, segundo ele, é divino). Comer ou não o doce não o faz menos ou mais vegano. Isso também vale para o seu personagem.

 

8. O vegano hippie/natureba: 

Tradução: Trols são tipo: “vai abraçar uma árvore, seu vegano estúpido.” E eu sou tipo “não se importe se eu for”.

Quem é:

É aquele vegano paz e amor, que usa roupas tingidas com casca de alho e cebola, nada sintético jamais tocou seu corpo e poderia muito bem estar em Woodstock.

Como evitá-lo:

Não é porque uma pessoa se tornou vegana e se importa com os ingredientes dos produtos que usa que irá voltar aos anos 1960. Claro, ser hippie ou natureba pode ser uma característica do seu personagem, mas ele não o será única e exclusivamente por causa do veganismo.

Lembre-se de respeitar as características do seu personagem e de dar um tempo de transição caso ele decida mudar. E tenha em mente que seu personagem está inserido na comunidade da sua história, ou seja, que ele irá se importar com a opinião daqueles mais importantes.

Dessa forma, seu personagem pode ser hippie e/ou natureba e ser vegano. Mas um não é a causa do outro e seu personagem não irá se tornar hippie e natureba da noite para o dia. Se seu personagem tiver essas características anteriores à escolha pelo veganismo, ótimo! Se ele se torna hippie e natureba, isso deverá incluir um período de transição para manter a congruência do seu personagem.

 

9. O vegano socialista/anticapitalista/comunista:

Tradução: Passando pela seção de carne tipo...

Quem é:

O título é autoexplicativo.

Como evitá-lo:

Veganos normalmente tentam trabalhar dentro do capitalismo para tornar a sociedade vegana. Isso inclui: comprar produtos veganos de grandes corporações, sempre que puder, independente do preço; e comprar produtos com selos veganos de multinacionais, sempre que puder, independente do preço. Como já expliquei nesse post, a ideia é incentivar a produção de opções veganas que sejam do agrado da maior parte da população, uma vez que a agropecuária está literalmente matando nosso planeta.

Claro, muitos veganos, além da consciência ambiental e política, também têm uma maior consciência econômica e de classe e conhecem os principais problemas do capitalismo. Também é importante ter em mente que alguns veganos também são socialistas ou anticapitalistas ou comunistas.

Seu personagem pode ser socialista ou anticapitalista ou comunista, mas ele não o será por causa do veganismo. Como eu já disse: um não é a causa do outro. Lembre-se que o veganismo é sobre a não exploração e não massacre de animais, mas não é sobre política ou economia (apesar de usá-los em seu favor, quando necessário).

Da mesma forma que seu personagem tem uma razão forte para ser vegano no meio de uma sociedade carnista, ele também deverá ter uma razão forte para defender o socialismo/comunismo/anticapitalismo numa sociedade que praticamente tem fobia dessas teorias. E lembre-se de pesquisar sobre esses movimentos antes de usá-los, para não cair no erro de criar uma história superficial e preconceituosa.


E é isso, pessoal!

Espero ter ajudado os autores com esses pontos de partida sobre o movimento vegano e a introduzir o mundo vegano para aqueles curiosos. E, lembre-se, você não precisa usar tudo o que coloquei na série de posts na sua história; use apenas o que for importante para compreender seu personagem e para o seu plot.

Também não fique confortável com as informações que coloquei aqui. Esse assunto está longe de estar acabado. Pesquise mais, entre nos links que coloquei nos posts, assista aos documentários, especialmente se você não for vegano. Mas, acima de tudo, respeite seus personagens, suas histórias e seus modos de pensar.

Boa pesquisa!

Boa escrita!

See ya! 




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Criando um personagem vegetariano/vegano - O impacto de um personagem vegano no meio de carnívoros

domingo, 4 de outubro de 2020

 

Tradução: Mas de onde você tira sua proteína?

Por: Thalita Gonçalves

Hello, little loafs!

Aqui é novamente a Thalita, para continuar nossa discussão sobre como criar um personagem vegetariano/vegano que seja realista. Já entendemos o vegetarianismo e o veganismo e, se você leu os posts (e, caso não tenha lido, recomendo que os leia antes e depois volte aqui), deve estar pensando que ser vegano é fácil e tranquilo e smooth. Claro, até agora tratamos apenas do personagem enquanto indivíduo, sem estar inserido numa família, nas relações escolares e/ou de trabalho, amizades e inimizades etc.

Esse provavelmente será o menor post, mas também o mais interessante do ponto de vista dos leitores do blog (ou assim espero), já que vou tentar mostrar diversos pontos em que as relações entre pessoas que consomem derivados de animais e veganos podem gerar conflitos. E o que um bom escritor deseja, se não excelentes conflitos para seus personagens?

Antes, porém, todavia, contudo, você deve se lembrar do último post, em que expliquei rápida e superficialmente como funciona o capitalismo e a economia de livre comércio. Nesse post também coloquei que é necessário considerar, para uma análise mais completa, que existem alguns fatores que também influenciam a economia: os impostos; as leis regulatórias; os incentivos fiscais; e, por último, mas não menos importante, a cultura.

Nossa sociedade e cultura são baseadas em exploração animal: carne, couro, leite, ovos, lã, seda, para citar apenas alguns dos principais produtos. Produtores de agricultura têm incentivos fiscais, lobbying e a cultura ao seu favor. Mesmo entre os veganos, não são todos que têm noção das verdadeiras consequências de se consumir derivados de animais para a natureza, para a saúde e para a sociedade. Isso sem falar de toda uma indústria, mídia e propaganda que naturaliza e incentiva o consumo de derivados de animais.

Por isso, qualquer que seja o motivo do seu personagem para ser vegan, ele vai ter que lidar com resistência cultural, independente de classe social e econômica, gênero, religião. É como se fosse um choque cultural, porque enquanto estamos acostumados com uma cultura onde o consumo de derivados e exploração animal são naturais, o veganismo e a pessoa vegana contestam isso em seu cerne: simplesmente não há necessidade.

E esse choque vai se apresentar ao seu personagem mesmo que ele não o provoque. O simples ato de não se alimentar de produtos derivados de animais gera reações, desde as mais simpáticas e baseadas na falta de informação, até as mais ignorantes e baseadas em pura ignorância.

As mais comuns são (não necessariamente nessa ordem):

·         Nem frango?

·         Nem peixe?

·         Nem queijo?!

·         E se os ovos forem de galinhas do quintal do meu/minha *insere parente que tem uma chácara ou fazenda*? Ele/a não maltrata suas galinhas!

·         Então o que você come?

·         E as proteínas?

·         Eu nunca conseguiria! Só de pensar em desistir de *insere derivado de animal*... Não, eu nunca conseguiria.

·         Teve uma vez que fiquei sem comer *insere derivado de animal* por *insere determinado período de tempo*!

Tradução: Ninguém liga para o quanto de proteína que você consome até descobrirem que você é vegan.

Se o seu personagem for menor de idade e mora com a família, e a família não tem a mínima simpatia pelo vegetarianismo, teremos conflitos familiares! Se o seu personagem trabalha numa empresa onde os colegas estão mais ocupados com o salário no fim do mês do que com os amigos, teremos conflitos no trabalho! Se o seu personagem tem “amigos” sacanas, mais interessados na próxima piada ou no próprio umbigo, teremos conflitos na amizade! E assim por diante...

Claro, a vida de um vegano também não é amarga desse jeito e, ocasionalmente, encontramos pessoas que estão verdadeiramente interessadas no movimento ou são simpáticas e apenas querem diminuir seu consumo de derivados de animais, seja pela saúde ou pelo planeta. Na sua história, seu personagem vegano poderá ter uma vida um pouco menos amigável, com várias situações como as descritas acima, ou mais simpática — isso irá depender muito da idade do seu personagem e dos seus círculos de amigos.

Geralmente (apenas lembrando que geralmente não é sinônimo de via de regra), pessoas mais velhas têm um pouco mais de resistência ao movimento vegano e jovens não apenas são simpáticos, como muitas vezes têm uma pontinha de admiração por pessoas veganas. Mais uma vez, acho que não preciso ressaltar que existem inúmeras exceções a esse geralmente.

Se pararmos para pensar no movimento vegano, podemos perceber que seu objetivo envolve a sociedade como um todo: parar completamente com toda e qualquer exploração animal. Não basta apenas um grupo pequeno ser vegano, pois enquanto existir uma única pessoa que explora animais o objetivo do movimento não será alcançado. Claro que pensar desse jeito é ser idealista demais. Mas, como disse Sarah J. Maas “the world shall be saved and remade by the dreamers” (em tradução livre: “o mundo há de ser salvo e refeito pelos sonhadores) e, portanto, é pelo objetivo de um mundo sem exploração animal que muitos ativistas lutam, fazem protestos, criam documentários, questionam, esclarecem, fazem palestras, dão aulas etc.

Entretanto, vivendo num mundo humano, existe um grupo de pessoas chamadas “carnistas” que são os equivalentes para os veganos dos homofóbicos para os homossexuais, dos xenofóbicos para os imigrantes, dos antivacinas para o restante da sociedade, e assim por diante. Membros desse grupo têm diversos argumentos para a necessidade fulcral de derivados de animais para os humanos, alguns razoáveis, outros nem tanto (basicamente do mesmo modo que homofóbicos, xenofóbicos e antivacinas também têm seus “argumentos”, na minha opinião). E, é claro, não é como se a pessoa se rotulasse com esse termo: ela é descoberta, através de seus pensamentos, falas e atitudes. 

Tradução: - Por que você leva o veganismo de forma tão séria?

- Por que você leva exploração e massacre de forma tão leve?

Como se tudo isso não bastasse, dependendo dos motivos para o seu personagem ser vegano, as atitudes das pessoas à sua volta também podem trazer impactos. Usemos um clássico exemplo: digamos que seu personagem se tornou vegano por motivos ambientais, pelo planeta. Sabe-se que, por exemplo, deixar de usar papel por um ano salva cerca de oito árvores e meia. Deixar de comer carne pelo mesmo período salva 3.432 árvores. Seguindo essa linha de raciocínio, é possível que esse personagem conclua que é uma hipocrisia que as pessoas à sua volta parem de usar papel para salvar as árvores enquanto continuam comendo carne, por mais que seja muito melhor salvar oito árvores e meia do que nenhuma.

Esse raciocínio vale para diversos recursos naturais, como água doce, terreno próprio para o plantio, vida marinha e fluvial, florestas etc. Portanto, para esse personagem, todo aquele que continua se alimentando de derivados de animais também continua contribuindo para o esgotamento desses recursos. Da mesma forma que também contribui para a fome, poluição, crueldade contra os animais, desmatamento, destruição de ecossistemas inteiros e únicos, e diversos outros pontos.

Nesse vídeo (legendado!) tem bem explicado a parte mais difícil de ser vegan, e tem muito a ver com a discussão que coloquei aqui, especialmente a naturalização da exploração animal. Você pode usá-lo como inspiração para compreender melhor as lutas e conflitos pelos quais seu personagem passa.

Entretanto, também é importante considerar que existe o outro extremo: o vegano que faz um desfavor ao movimento sendo ignorante, chato, incapaz de ouvir os argumentos dos outros. Que está mais interessado em impor seu ponto de vista do que em compartilhá-lo. Que, apenas por sua filosofia de vida e visão de mundo, acredita ser superior aos seus pares. E é muito fácil, para qualquer vegano, cruzar essa linha.

Todos nós temos nossos momentos de raiva, dor, incompreensão e de erros. Isso é ainda mais real para os veganos, que também são julgados pela sociedade com argumentos: “mas plantas também são seres vivos! Você não sente dó delas?” ou “é impossível alguém ser verdadeiramente vegano, já que mesmo nas plantações insetos e larvas são mortos”. E, é claro, seu personagem vai ouvir esses argumentos brilhantes tantas vezes que vai chegar um momento de estafa emocional e do fim da paciência, resultando em mais conflito.

Tudo isso que mencionei soma-se aos conflitos que qualquer pessoa e/ou personagem passa, incluindo os amorosos, de relacionamentos, de trabalho. Por exemplo: seu personagem teria um relacionamento amoroso sério com uma pessoa que come carne? Com o/a proprietário/a de um matadouro, de um frigorífico, de um açougue? Seu personagem trabalharia numa churrascaria? Num supermercado que também possui fazendas de gado? Num zoológico, rodeio ou aquário? Seu personagem consumiria os ovos das galinhas da chácara da sogra do filho da vizinha, onde elas são criadas livremente e sem terem seus bicos cortados? Mesmo sendo a vizinha um amor de pessoa?

Qual seria o limite do aceitável para esse personagem, caso a resposta para qualquer uma dessas perguntas seja sim

Tradução: Nascido para ser selvagem.

Outro ponto a ser considerado, e agora deixo claro que é uma impressão inteiramente pessoal, é que os veganos sentem uma empatia maior pelos animais. Esse fato não é comum a todos os veganos, mas eu nunca vi uma pessoa que come carne chorando com a visão de corpos de vacas e bois pendurados, sem a pele, cortados pela metade e sem as tripas, já sem a cabeça, nada mais do que um grande pedaço de carne. Por conta dessa empatia maior, levar um vegano a um lugar com qualquer tipo de exploração animal, como zoológicos, rodeios, aquários, aqueles shows com as orcas, ou mesmo filmes em que foram usados animais de verdade e onde eles sofrem, pode ser uma escolha equivocada, com reações desde um simples dar de ombros até reações emocionais bem fortes. Não é à toa que usamos palavras como massacre, exploração e holocausto para nos referirmos à morte de trilhões de animais para satisfazer o apetite de sociedades mais desenvolvidas e ricas, enquanto milhões passam fome em sociedades pobres e não desenvolvidas (e enquanto nossas florestas são queimadas).

Mas é importante deixar claro que a empatia maior é, normalmente, pelos animais. Também existem muitos veganos sacanas, charlatães, violentos, babacas etc. O veganismo é uma filosofia de vida que procura acabar com toda e qualquer exploração animal, mas também não é um passe de “pessoa boa e confiável”. Seu personagem pode ser o vilão da sua história e ser vegano: será uma camada a mais de profundidade para ele e um novo desafio para você, que vai precisar entender como o personagem separa os animais das pessoas, o que é considerado exploração e o que não é, quais as principais consequências dessa exploração para o personagem e para a sociedade etc.

Bom, gente, é isso! Lembrando: não estou tentando te convencer a ser vegetariano ou vegano, nem a incluir personagens assim nas suas produções (mas fala sério, os dilemas morais e conflitos apresentados aqui valeriam bons plots!). Toda essa série de posts é apenas uma reunião de informações e questionamentos para ajudar os autores não veganos que querem incluir personagens veganos em suas histórias. Espero tê-los ajudado!

Daqui a quinze dias volto com o quarto — e último — post dessa série: Estereótipos veganos para se evitar.

Boa pesquisa e boa escrita!

See ya!

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Criando um personagem vegetariano/vegano - Entendendo o veganismo

domingo, 20 de setembro de 2020

 


Por: Thalita Gonçalves


Hello, little loafs!

Aqui quem fala é a Thalita e hoje vamos continuar nossa série sobre a criação de um personagem vegetariano/vegano! Mas, de novo, é importante deixar claro que esse post não tem a intenção de te convencer a se tornar vegetariano/vegano ou a incluir personagens vegetarianos/veganos nas suas histórias. São apenas algumas ideias reunidas para ajudar os escritores que querem incluir personagens vegetarianos e veganos em suas produções.

Vamos lá?!

No post passado nós discutimos sobre a transição para o vegetarianismo (ovo-lacto) e o vegetarianismo enquanto dieta. Hoje nós vamos entender melhor o veganismo e como ele aparece na rotina para que seu personagem, caso seja vegan, seja retratado de forma mais realista.

Antes, porém, todavia, contudo... Para compreender o veganismo em sua essência na sociedade em que vivemos, precisamos compreender um aspecto essencial da sociedade em que vivemos: economia de livre comércio (nada a ver, né? Calma, que já chego lá). Isso porque, hoje em dia, grande parte das relações entre as pessoas envolve a economia (em algum aspecto, pelo menos) e, basicamente, desde que esteja dentro das leis vigentes do país, uma pessoa pode vender e comprar qualquer coisa.

Agora, sejamos sinceros: todos nós queremos um lucro, alguma vantagem, algo que faça valer a pena todo o trabalho que realizamos por determinada relação. Claro que nem sempre esse “lucro” é em formato monetário (e temos como resultado, por exemplo, relações políticas). Nesse momento vamos focar nas relações econômicas — portanto, monetárias.

Suponhamos que você tenha uma vaca e sabe que seu vizinho não tem, mas que ele também quer ter leite para consumir. Dessa forma, ao ordenhar a vaca, você tira leite para si mesmo(a) e para vender ao seu vizinho. Claro que, sendo uma pessoa sensata, você vai incluir no preço de venda do leite, além do seu lucro pessoal, os custos de produção: ração para a vaca, água, limpeza, remédios, estrutura para abrigá-la e o seu próprio trabalho para cuidar da vaca e ordenhá-la. Dessa forma, no final do mês, você tem o seu lucro, que te ajuda a pagar as suas próprias contas e assim gira a economia.

Tudo muito básico, tudo muito bem.

Mas e se o seu vizinho não quiser mais o leite? Suponhamos que ele desenvolveu alergia a lactose e, ao invés de ficar tomando lactase, ele decidiu simplesmente parar de consumir leite e derivados. O que você faz para manter o lucro? Claro, pode vender leite para outros vizinhos. Mas seu vizinho, cliente fiel de muitos anos, agora começou a tomar leite de soja e está querendo comprar leite, desde que seja de soja.

Você pesquisou, viu que fazer leite de soja não é nenhum bicho de sete cabeças e já tem a soja, pois ela faz parte da ração que você dá para a sua vaca. Então você faz o leite de soja para seu vizinho e mantém a relação com ele, que amou seu leite de soja. Outros vizinhos vieram atrás do seu leite de soja e, de repente, não vale mais a pena manter a vaca, porque os custos para mantê-la são mais altos do que os de fabricar o leite de soja, o que também implica num pequeno boost nos seus lucros.

Outros empreendedores perceberam isso e viram o nicho de mercado: leite vegetal. Repentinamente existe leite de soja, de amêndoas, de amendoim, de coco, de arroz...

Claro, tudo isso é uma relação hipotética e extremamente simplificada, usada a título de exemplo da lei de oferta e procura: quanto mais determinado produto é procurado, mais valioso ele se torna, o que aumenta o número de pessoas querendo vendê-lo, o que faz aumentar sua oferta no mercado e faz cair o seu preço, tornando-o acessível. Na vida real ainda há os impostos a considerar, as leis regulatórias, os incentivos fiscais e, por último mas não menos importante, a cultura.

Agora, você se lembra que no post anterior dessa série, eu falei que o veganismo era uma filosofia de vida que procura acabar com toda e qualquer exploração e sofrimento animal? Um vegano tem consciência de que é apenas uma pessoa, mas cujo consumo é cuidadosamente estudado por grandes empresas que visam o lucro. E o movimento vegano está crescendo a ponto de gerar um impacto importante em grandes empresas, que cada vez mais estão investindo em criar opções veganas para seus produtos tradicionais.

Dessa forma, veganos em geral, e o seu personagem, têm consciência do que consomem, pois sabem o quanto isso impacta as empresas. Por isso, olham os ingredientes de todo e qualquer produto industrializado e checam se a empresa não realiza testes em animais ou faz qualquer tipo de exploração animal na linha de produção. Sabe-se mais de comida vegana porque seres humanos, comumente, transformam suas refeições em ocasiões sociais: almoço em família, jantar a dois, festa de aniversário, brunch para reunião de negócios, etc. E, bem, recusar-se a comer algo caseiro feito com muito carinho causa um impacto muito maior socialmente do que trocar a marca do sabão em pó para lavar roupas. 

Tradução: Quando você é a única vegana numa festa e precisa levar a sua própria comida.

Mas, como espero que esteja claro nesse momento, o veganismo vai muito além das opções alimentares de alguém. Trata-se de uma filosofia de vida que impacta como o indivíduo vai se relacionar com a sociedade, como irá consumir os produtos dessa sociedade, e do impacto que esse indivíduo traz de volta para a sociedade. É importante ter esse raciocínio em mente quando estiver criando seu personagem vegano (ou em transição), especialmente se o seu personagem estiver inserido na nossa sociedade, que é baseada numa economia capitalista, de oferta e procura.

É importante considerar, entretanto, que essas mudanças que falei com tanto otimismo até agora ainda são nascentes e é extremamente fácil para uma pessoa vegana deixar de ser vegana: é só consumir propositalmente qualquer produto que contenha exploração animal e que possua uma alternativa vegana. E, quando digo qualquer produto, é qualquer produto. Pode ser desde uma refeição com filé mignon até um simples xampu. Por isso considera-se que uma pessoa vegana escolhe a todo momento continuar vegana.

Então, na criação do seu personagem, você precisa pensar num motivo crucial e basilar para ele ou ela escolher esse estilo de vida, algo que seria como “a gota d’água” e que irá ajudá-lo/a a manter a escolha pelo veganismo. Eu, por exemplo, deixei de comer carne por causa da minha religião, mas conforme fui compreendendo o veganismo, eventualmente adotei outros argumentos como fulcrais para a minha decisão. Esse caminho é comum à maioria dos veganos, senão a todos (pelo menos aconteceu o mesmo com todos os que conheci, apesar de seus motivos “gota d’água” terem sido diferentes dos meus).

Motivos e razões existem vários e não vou perder tempo aqui detalhando cada um deles. Existem inúmeros documentários reunindo as principais razões e muito mais estudos científicos. Se você for incluir algum personagem vegano na sua história e não faz a menor ideia de por onde começar a procurar razões para seu personagem ser vegano, recomendo começar pelos documentários The Game Changers, What The Health, Cowspiracy, Forks Over Knifes, Live and Let Live, Earthlings, Dominion, Carne e Osso.

Resumindo, um personagem que gosta de usar maquiagem decidiu tornar-se vegan? Agora irá atrás de uma maquiagem (e todos os produtos de beleza que também usa) que não tenha exploração animal, seja nos ingredientes ou em qualquer etapa da produção. Claro que o personagem não precisa jogar tudo o que possui fora e comprar tudo novo de uma vez; ele pode ir trocando os produtos conforme vai sendo necessária a sua substituição. O personagem vai lavar roupa? O sabão em pó e amaciante precisam ser vegans. Vai lavar as mãos? O sabonete tem que ser vegan. Um personagem vegan também não usa roupa de couro e terá um pequeno dilema a cada peça de couro que tiver de antes da transição: mantém a peça? Joga fora? Doa? Claro, se a peça de couro tiver um valor sentimental importante, essa pessoa pode abrir uma exceção pelo sentimento atrelado à peça. Mas ainda terá o mesmo dilema com qualquer produto que possua algum ingrediente de origem animal que o personagem possui (ou possuía) de antes da transição.

É claro, entretanto, que vai chegar um momento em que esse personagem vai se acostumar com as escolhas entre manter e terminar de usar produtos com exploração animal já comprados ou doá-los/jogá-los fora. E vai ter uma espécie de política própria quando descobre que determinado ingrediente que tem no seu xampu favorito é de origem animal, por exemplo. Essas escolhas terão muito a ver com os motivos que levaram o personagem a tornar-se vegan: por exemplo, se o personagem decidiu pelo estilo de vida após assistir um documentário sobre ética animal, é bem provável que pare de usar algum produto que contenha exploração animal no mesmo instante em que descobre isso. Por outro lado, se o personagem decidiu pelo estilo de vida após assistir um documentário sobre saúde, é capaz de usar o produto com exploração animal até o fim para só depois trocar por um vegano.

Produtos com certificados veganos existem e são um pouco mais caros, mas também existem vários produtos que não têm certificação e não possuem ingredientes de origem animal. Então, o custo de vida do seu personagem também dependerá das escolhas que ele fizer. Se estiver disposto a pesquisar ou a fazer seus próprios produtos, poderá ter um custo de vida menor; mas se quiser comprar produtos com certificados e selos, irá pagar mais por isso. Dessa forma, do mesmo jeito que todos nós temos algumas marcas favoritas de produtos, uma pessoa vegana também tem as dela — a única diferença é que a pessoa vegana pesquisa com seriedade sobre aquela fabricante e sempre verifica se o produto continua sem ingredientes de origem animal. 

Tradução: Quando você se esquece de checar os ingredientes antes de comprar. Mas é tudo vegano. 

Ainda, existem alguns questionamentos que pessoas veganas fazem e que não existe uma resposta unificada do movimento vegano sobre elas (o raciocínio que dei ali em cima, apesar de ajudar a compreender a essência, não é muito útil para pequenos detalhes). Portanto, para construir seu personagem, mesmo que esses aspectos não apareçam na sua história, talvez seja interessante questioná-lo a fim de conhecê-lo melhor:

— Posso usar um produto marcado como vegano, mas de uma empresa que testa em animais?

— Posso usar um produto sem ingredientes de origem animal, mas cuja fabricante patrocina eventos de exploração animal, como rodeios?

— Um vegano pode trabalhar para uma churrascaria ou para uma empresa como a JBS? A JBS está entrando para o mercado de carnes de origem vegetal, será que um vegano não poderia trabalhar nesse setor?

Então, só para deixar absolutamente claro, esses questionamentos e as opiniões do seu personagem sobre essas perguntas só entrarão na sua história se forem necessários para o plot. Mas, mais uma vez, sugiro que, caso você esteja criando um personagem vegano, que procure responder essas questões para compreender melhor o caráter do seu personagem e como o veganismo se insere em sua vida.

Outro ponto importante a considerar é o que o personagem pensa de produtos obrigatoriamente testados em animais, como os remédios e procedimentos médicos. A Vegan Society coloca que o veganismo deve estar dentro do possível e do praticável, e a maior parte dos veganos segue essa filosofia. Mas para toda regra existe a sua exceção e, portanto, existem veganos que não seguem essas diretrizes e procurarão alternativas, como fitoterápicos e homeopatias, se acreditarem que elas funcionam.

Como se tudo isso não bastasse, veganos também procuram boicotar todo e qualquer evento e lugar que faça qualquer tipo de exploração animal, como rodeios, zoológicos, aquários, etc. Então, se você está escrevendo uma fanfic de um mangá shoujo que se passa no Japão, já deve ter percebido que um dos principais locais de encontros (aquário) é uma furada para veganos. Aliás, seria bem difícil de levar algum vegano num encontro na terra do sol nascente, já que são poucos os restaurantes que oferecem opções veganas por lá.

Agora, uma questão do cotidiano de qualquer pessoa vegana é: O que fazer com os bichos indesejados que entram na nossa casa, como mosquitos, pernilongos, baratas, ratos, aranhas, etc.? O dia em que entrou um camundongo dentro de casa foi uma verdadeira aventura, porque eu não queria matá-lo. O pobre não tinha culpa se o gato da vizinha o caçou e depois acabou deixando-o escapar e, no desespero da fuga, acabou entrando na minha casa. Foi um parto convencê-lo a sair da minha casa, mas consegui. Então, é importante considerar o que o seu personagem vai fazer com esses animais: vai matá-los? Vai procurar estratégias para espantá-los? Quais estratégias serão essas? Isso poderá aparecer na sua história, por exemplo, como o simples detalhe de uma vela de citronela durante um encontro ao ar livre entre o seu OTP; ou até mesmo como um capítulo dedicado exclusivamente a um relato de como o personagem lidou com um animal indesejado.

Ah, e com relação a animais domésticos: veganos têm, sim, animais domésticos. É claro, veganos se preocupam de nunca comprá-los, principalmente se vierem daquelas casas de procriação de animais. E sim, veganos vão procurar um jeito de tornar todos aqueles à sua volta veganos, incluindo seus animais de estimação. Existem rações veganas próprias para gatos e cachorros, tanto da úmida quanto da seca. E, é claro, com o acompanhamento de um bom veterinário é mais tranquilo para mantê-los saudáveis mesmo sendo veganos. 

Tradução: Quando o gato sabe que você é vegan: “Eu matei isso para você.”

Agora, sobre essa questão de tornar todos à sua volta veganos: vamos discutir melhor sobre esse assunto no próximo post dessa série: Criando um personagem vegetariano/vegano — O impacto de um personagem vegano entre carnívoros (esse vai ser polêmico!).

Antes de finalizarmos, saiba que ainda existem vários aspectos do veganismo para serem discutidos, mas foquei apenas nos pontos onde as mudanças de hábitos e de consumo são mais importantes e aparecem mais na rotina (a parte de alimentação foi tratada no post anterior). Você pode pesquisar melhor sobre o assunto usando alguns dos links que estarão aqui embaixo ou pode mandar a sua pergunta!

Mas atenção! Esse foi um post compreensivo, procurando ver a rotina e os personagens como um todo e procurando abordar todos os aspectos da vida que são afetados pelo veganismo. Você não precisa abordar todos os aspectos incluídos nesse post na sua história. Use apenas o que for necessário para o plot e aproveite essas observações para compreender melhor seu personagem.

Boa pesquisa e boa escrita!

See ya! 

Links:

Pessoas pelo tratamento ético de animais (PETA): https://www.peta.org/

Sociedade Vegetariana Brasileira: https://www.svb.org.br/

Vista-se: https://www.vista-se.com.br/

Canal no youtube do Vista-se: https://www.youtube.com/c/fabiochaves/featured

The Vegan Society: https://www.vegansociety.com/

Página da The Vegan Society sobre medicamentos: https://www.vegansociety.com/resources/nutrition-and-health/medications

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Criando um personagem vegetariano/vegano — Entendendo o vegetarianismo

domingo, 6 de setembro de 2020

 

Tradução: “Mas, tipo, o que você sequer pode comer?”

Por: Thalita Gonçalves

Hello, little loafs!

Aqui quem fala é a Thalita, autora nova no blog, mas pretendo aparecer por aqui mais vezes! Vamos conversar sobre os detalhes da construção de um personagem vegetariano e/ou vegano! Mas é importante deixar claro que esse post não tem a intenção de te convencer a se tornar vegetariano/vegano ou a incluir personagens vegetarianos/veganos nas suas histórias. São apenas algumas ideias reunidas para ajudar os escritores que querem incluir personagens vegetarianos e veganos em suas produções.

Vamos lá?!

Hoje em dia o movimento vegetariano/vegano está crescendo exponencialmente e podemos perceber isso com o aumento de opções veganas em restaurantes e supermercados por todo o mundo, inclusive no Brasil!

Com isso em mente, vários autores podem estar querendo incorporar personagens vegetarianos e veganos em suas histórias e, sendo eu vegana, pensei em escrever esse post para te ajudar a montar personagens realistas. Será uma série quinzenal com quatro posts com várias informações sobre o vegetarianismo e o veganismo com links e referências para te dar um ponto de partida na sua pesquisa e criação. Para finalizar, o último post será sobre estereótipos veganos para evitar, ok?

Hoje vamos desbravar o mundo das dietas à base de plantas, conhecer suas principais consequências para o dia-a-dia e o corpo e, principalmente, vamos entender alguns termos que deixam todo mundo confuso.

Em primeiro lugar, quero avisar que não sou nutricionista. Se você está pensando em criar um personagem que, além de vegetariano também precisa seguir uma dieta especial, está grávido, tem um filho pequeno que está sendo criado vegan, entre outras possibilidades, talvez seja interessante procurar algum profissional mais qualificado e entrevistá-lo, porque podem existir diferenças importantes na alimentação, ok?

Vamos começar com os termos — que não, não são sinônimos:

       Flexitariano: é a pessoa que não pretende se tornar vegetariana, mas consome menos carne e derivados de animais por consciência da própria saúde ou das consequências para o planeta.

       Semi-vegetariano: é a pessoa que segue uma dieta à base de plantas durante a maior parte do tempo, mas ocasionalmente ainda come carne e almeja o vegetarianismo. Também é conhecida como “em transição” para o vegetarianismo.

       Ovo-lacto-vegetariano: é a pessoa que não come carne e seus derivados, mas ainda come leite, ovos e derivados.

       Ovo-vegetariano: é a pessoa que não come carne e nem leite e derivados, mas ainda come ovo e seus derivados.

       Lacto-vegetariano: ao invés de manter o ovo, mantém o leite e seus derivados.

       Vegetariano: é a pessoa que está numa dieta inteiramente à base de plantas.

Como deu para perceber, existe muita incompreensão sobre dietas vegetarianas, já que esse termo é comumente usado para pessoas que ainda se alimentam de leite, ovos e derivados aqui no Brasil. Justamente por isso, mesmo sabendo do significado desses termos, muitos vegetarianos estritos se denominam vegans, enquanto ovo-lacto-vegetarianos dizem que são simplesmente vegetarianos. Portanto, seu personagem pode seguir a mesma linha e usar um termo “errôneo”, mas ele muito provavelmente saberá dessas diferenças — especialmente se tiver ido a um nutricionista antes de iniciar a transição.

Mas e o termo vegan? O que significa?

O termo vegan se refere a uma filosofia de vida focada em parar com todo e qualquer sofrimento animal, na medida do possível e do praticável. Portanto, enquanto vegetarianismo é um termo que se refere exclusivamente à dieta, o veganismo vai além da dieta, e é incorporado em todos os aspectos da vida.

Tradução: Eu: Você tem opções veganas? Garçonete: Pode ser comida vegetariana? Eu: Posso pagar com dinheiro do Monopoly?

Quando se começa a pesquisar mais sobre o assunto, descobre-se outro termo: Carnista. Diz-se que uma pessoa carnista não apenas come carne e defende seu consumo, como ataca vegetarianos e veganos. É diferente de apenas comer carne e não ter opinião sobre o assunto ou de ser simpatizante do movimento vegetariano e vegano.

Como falei antes, hoje vamos tentar entender melhor a transição para o vegetarianismo e o vegetarianismo enquanto dieta e suas principais consequências para a rotina e o corpo do ponto de vista de uma pessoa. Sobre análises acerca disso existem vários estudos e alguns documentários; particularmente recomendo Dieta de Gladiadores (The Game Changers), disponível no Netflix, com mais informações do ponto de vista científico.

Vou contar uma mistura do que aconteceu comigo com relatos que ouvi de outras pessoas acerca do período de transição de carnívora para vegetariana estrita, ok?

Em relação ao corpo, existe um mito de que uma pessoa vegetariana emagrece e de que ela é saudável. Gente, é possível ser vegetariana se alimentando exclusivamente de batata frita e Coca-cola. Obviamente, depende das escolhas que essa pessoa faz e o mesmo vale para nossos queridos personagens: se alguém se alimenta de muitos carboidratos e não faz exercício para queimá-los, vai engordar (o que é tendência para os novos vegetarianos, que substituem a carne por batata, macarrão, mandioca etc.). Se do nada começa a comer um monte de feijão, lentilha e grão-de-bico, claro que vai ter gases (e fedidos). Se só come essas comidas industrializadas, mesmo as veganas, que são cheias de condimentos, sal e ferro heme, é claro que estarão longe de serem saudáveis. Se começa a se alimentar só de saladas, é razoável concluir que vai sentir mais fome e mais frequentemente.

Tradução: Confeitaria vegana — porque você pode comer toda a porcaria de massa crua que quiser.

Mas vegetarianos não comem só salada? Claro que não, my little loaf. Eu, por exemplo, não sou chegada em saladas e odeio alface. E deixo você pegar essas características porque simplesmente adoro quebrar estereótipos (e ver a cara de espanto das pessoas quando digo isso). Existem n canais de receitas veganas no youtube, mas no final do post colocarei meus favoritos para você ter um ponto de partida com referências de receitas para seus personagens, caso isso apareça na sua história, ok?

Então vegetarianos, como a maior parte das pessoas, terão alguns pratos favoritos que fazem com uma grande frequência. Normalmente esses pratos são mais simples e práticos de fazer. Para você ter uma ideia, meus pratos curingas são: macarrão com brócolis ou abobrinha, homus de grão-de-bico, PTS (proteína texturizada de soja) refogada — às vezes com batata — acompanhado do tradicional arroz com feijão, e sopa de legumes. Todos são práticos, simples e rápidos de fazer, especialmente quando estou na correria. Quando quero fazer uma receita diferentona para impressionar, ou apenas para fazer algo diferente de vez em quando, procuro a receita na internet, como qualquer jovem que se preze.

Outra coisa que muda com a transição é que a gente se torna mais consciente do que está comendo, se organiza para preparar as próprias refeições, e muitas vezes deixa de comer algo porque não tem certeza se ali tem algum derivado de animal. Então, por exemplo, se vou a um restaurante não-vegetariano, é bem comum que eu não coma o feijão ou passe direto pelo buffet de sopas, porque é muito comum feijão com bacon ou cozido com a pele de porco e sopas de legumes feitas com caldo de galinha. Com isso em mente, uma pessoa vegetariana também passa a ler os rótulos dos alimentos industrializados que consome, para evitar ingredientes de origem animal. Já viu alguém no mercado lendo os rótulos dos produtos? É bem provável que seja um vegetariano/vegano se certificando de que não tem ingredientes de origem animal no produto que pretende comprar.


Com o tempo, conforme vai fazendo pesquisas, aprendendo mais sobre o mundo vegano e conversando com outros vegetarianos, uma pessoa descobre que gelatina e corante natural carmim (que também possui outros nomes em rótulos) são de origem animal, bem como vários outros ingredientes bem comuns. Se o seu personagem descobriu isso apenas mais tarde e continuou consumindo produtos com esses ingredientes, é capaz de ele ter algum impacto psicológico, dependendo de suas motivações para adotar a dieta ou o estilo de vida, especialmente se for a primeira vez dele se dando conta desses detalhes.

Isso também pode acontecer com eventuais acidentes. Por exemplo: eu tinha acabado de parar com qualquer tipo de carne, portanto era ovo-lacto-vegetariana. Numa viagem, fiquei com vontade de comer lasanha então fui ao mercado e comprei uma lasanha quatro queijos dessas congeladas. Esquentei seguindo as instruções e comecei a comer. Sozinha, entediada, comecei a ler o rótulo (quem nunca?) e, quando estava quase acabando com a lasanha, cheguei aos ingredientes e vi que tinha bacon na lasanha.

Foi triste. Chorei.

E entrei num dilema pessoal: jogava o resto da lasanha fora? Ela tinha sido cara e fui ensinada desde pequena a nunca — nunca — jogar comida fora. Ou ia contra meus novos princípios e terminava de comer a lasanha? Depois de alguns minutos conjecturando, resolvi terminar de comer. E foi uma experiência tão horrível para mim que nunca mais fiz isso (de terminar de comer algo com derivado de animal apenas para não jogar fora) e aprendi a sempre — sempre — ler os rótulos de produtos industrializados que compro.

Essa minha história não é a única. Todo vegetariano tem uma história dessas, com diferentes respostas ao dilema (que também é comum a todo vegetariano). E vegetarianos fazem piadas entre si com essas histórias, do tipo “ah, então você não é mais vegetariano há três anos, agora vai ter que zerar a contagem porque comeu carne/derivado de animal”.  É meio sem graça, eu sei, mas a ideia é tirar o peso e o foco da culpa.

Isso é uma impressão pessoal, mas as pessoas vegetarianas que conheci também concordaram comigo de que se sentiram mais leves e com mais energia depois da transição. Então, se você vai escrever sobre um personagem que passa pela transição de carnívora para vegetariana, talvez seja interessante mencionar isso para dar ainda mais realismo ao seu personagem: após a transição o personagem pode ter mais energia, mais disposição para realizar suas atividades.

Outro ponto importante é que, se o personagem for a uma festa e não tiver certeza se lá tem opções vegetarianas ou mesmo ovo-lacto-vegetarianas, ele vai precisar preparar sua própria comida ou vai passar fome. E, se for gostosa, vai precisar levar para todo mundo que também estará na festa ou será tachado de egoísta e mal-educado. Vou te contar um segredo dos vegetarianos: muitas vezes preparamos comidas vegetarianas e levamos para as festas com a intenção escusa de trazer as pessoas para o nosso lado (hehe). Normalmente isso só torna as pessoas simpatizantes ao vegetarianismo, mas é melhor que nada ¯\_()_/¯.

Tradução: Vantagem vegetariana nº 11 — Quando seus amigos que comem carne amam a comida vegetariana que você faz para eles.

Ah, sim, com relação aos preços e ao mito de que dieta vegetariana é mais cara do que uma dieta com derivados de animais. Novamente, depende das escolhas. Produtos vegetarianos estritos (ou veganos) industrializados são mais caros, mas legumes, leguminosas, grãos e sementes são mais baratos do que carne. Então, se o seu personagem decidir iniciar a transição para o vegetarianismo e decide começar fazendo diariamente sanduíches com o Futuro Burguer, é claro que vai começar a gastar mais, já que esse troço custa o olho da cara. Mas se ele decidir por focar em legumes, frutas e grãos, na verdade vai gastar menos do que gastava quando se alimentava de derivados de animais.

Mas atenção! Esse foi um post compreensivo, procurando ver a rotina e os personagens como um todo e procurando abordar todos os aspectos da vida que são afetados pela dieta vegetariana. Você não precisa abordar todos os aspectos incluídos nesse post na sua história. Use apenas o que for necessário para o plot e aproveite essas observações para compreender melhor seu personagem.

De resto, a vida de uma pessoa vegetariana é bem igual a de qualquer outra na mesma faixa etária e nas mesmas condições socioeconômicas, lembrando, é claro, que o vegetarianismo se refere apenas à dieta. No próximo post vamos aprender mais sobre o veganismo e como ele impacta na rotina.

Espero ter ajudado!

 

Referências e links para consulta:

Sociedade Vegetariana Brasileira: https://www.svb.org.br/

Vista-se: https://www.vista-se.com.br/

The Vegan Society: https://www.vegansociety.com/

VegetariRango (canal de receitas): https://www.youtube.com/user/vegetarirango

Pick Up Limes (canal de receitas): https://www.youtube.com/channel/UCq2E1mIwUKMWzCA4liA_XGQ

Documentário Dieta de Gladiadores (disponível no Netflix): https://www.netflix.com/br/title/81157840


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