Por: Edgar Varenberg
Às
vezes caímos numa daquelas situações em que precisamos de uma opinião ou,
equivalentemente, precisam da nossa. Muito além daquilo que o verbo “gostar”
tem a nos oferecer, às vezes tais opiniões pedidas vão muito além do quesito
pessoal, daí começa a se perceber uma diferença entre “opinar” e “criticar”;
enquanto o primeiro termo fala sobre falarmos de alguma coisa sob nosso ponto
de vista, o segundo abordar falar dessa mesma coisa sob o ponto de vista geral
da área a qual tal coisa se origina.
A
crítica, diferente da opinião, trata de aspectos universais de um determinado
material, ou seja, independente das opiniões, dos gostos, etc serão elementos
que terão aquele fundamento sempre. Neste post encontraremos formas de
identificar quais são esses aspectos e como percebê-los e aponta-los. No caso,
o foco será na crítica de textos.
Aprendendo a abandonar o
“eu”
A
primeira coisa a tentar é buscar ficar pouco apegado ao texto. Não apegado do
tipo “amar o texto”, mas sim abandonar certas ideias, como “Eu não faria assim”
ou “Ficou confuso para mim”. Isso porque a crítica parte de pressupostos
universais (ou o mais universal possível), então a partir do momento em que
você passa a reparar em algo porque isso TE incomodou, talvez você esteja se
distanciando do seu objetivo.
Tenha material teórico
sempre em mãos (ou em mente).
Saiba
o básico das coisas que compõem um texto narrativo. O que a gente precisa para
formar um? Personagens, ambientes, diálogos, situações, problemáticas, etc.
Agora pare e pense: “essas coisas realmente são obrigatórias?”. Pesquise tudo a
respeito das suas próprias perguntas que surgirão após esta. Mas por que isso?
Simples, textos literários possuem regras e fundamentos, o basicão; mas o que
os tornam realmente literários é a forma como eles usam (e às vezes abusam
dessas regras). Um texto mais seguro e menos ousado vai seguir todas as regras
fielmente (a crítica aí geralmente o aponta como comum), já outros vão querer
inovar ou se rebelar de alguma forma, seja abandonando diálogos, não descrevendo
coisas propositalmente, é aí que o papel da crítica começa a se formar, em
analisar se essas fugas funcionam ou não.
Linguagem de um crítico:
funcionar ou não funcionar.
Atentem-se,
a crítica nunca trabalha com “certo” e “errado”. Fica a dica: leia todo o texto
tentando defender o máximo possível de pontos positivos; aquilo que não tem
como defender de jeito nenhum, significa que faz parte daqueles quesitos
universais citados mais acima. Além disso, a linguagem crítica busca trabalhar
com “funciona” e “não funciona”. E, claro, acompanhadas do sagaz “porquê”.
Abordagem é a alma do
negócio.
Uma
crítica deve ser branda. O seu objetivo como crítico de um texto não é
questionar a habilidade literária de ninguém, nem o potencial da história, é
simplesmente apontar o direcionamento do texto, o quão ele está se aproximando
ou se afastando do conceito que o texto aparenta. Então não precisa vir com
pedras e facas; palavras objetivas e sugestões já bastam.
Entendendo os propósitos
do autor.
Criticar
um texto fica sempre mais fácil quando podemos simplesmente perguntar ao autor
seus objetivos em cada uma das situações. Entretanto, há momentos em que isso
não é possível e, além disso, antes de começarmos a questionar o autor, temos
que, claramente, preparar nossos questionamentos. E para isso acontecer, temos
que, às cegas, descobrir os propósitos do autor “intuitivamente”. É daí que
passamos a ler o texto com uma mentalidade alternativa. Isto é, ler as cenas e
se perguntando “por que x e não y?”; em seguida, com as informações que você
tem no próprio texto, você mesmo deve tentar responder essas questões. Por
exemplo, você viu que o personagem A se estressou por uma coisa boba, aí você
começa a pensar “Por que ele simplesmente não fez isso? Resolveria e ele não se
estressaria.”, mas aí você repara que em um momento da narração é citado sobre
a sua personalidade explosiva e irracional, então passa a fazer sentido; caso
tal descrição não esteja presente, pode ser que seja uma boa ideia apontar isso
e conversar com o autor a respeito.
Enxergando além do
autor.
Um
crítico não precisa, necessariamente, se prender a todos os conceitos do autor,
até porque a escrita costuma ser muito inconsciente, isto é, usamos certos
recursos literários, que cabem ali perfeitamente (e, por isso, usamos
inconscientemente), mas não fazemos ideia de que usamos, não foi proposital;
isso acontece muito. Então quando o crítico vai além daquele conceito já dado e
começa a enxergar essas coisas (e posteriormente leva-las ao autor), você pode estar
contribuindo para um maior entendimento do texto até para o próprio autor, seja
para dizer que está ou não funcionando. Se você acha que algo vale a pena ser
comentado, comente sem hesitar.
Por fim, aceite o
ultimato do autor.
Independentemente
do que você tenha encontrado ou comentado, a voz do autor sempre será a mais
poderosa no seu próprio texto, então não tente forçar ou insistir, por mais
forte que seja a sua convicção naquele fato, somente o autor sabe 100% sobre o
texto dele.
Conclusão
Os
elementos de uma crítica buscam analisar formas diferentes de usar aquilo que é
usual. Se a pessoa não foge do usual, dificilmente vai ter algo para analisar
ali, assim como dificilmente o texto dela será interessante (no sentido de ter
um algo a mais); um crítico deve sempre orientar o quanto o autor se aproxima
ou se afasta do seu próprio objetivo, através de seus próprios conhecimentos e
pesquisas (e também das inúmeras perguntas que ele tem que se fazer enquanto lê
texto em questão).
Na
segunda parte do post, veremos exemplos práticos de como estes elementos se
aplicam na crítica.
Adorei as dicas e levarei elas quando for criticar o texto de algum colega ou quando for fazer um comentário em textos online.
ResponderExcluirMas fiquei com uma dúvida: dá para levar essas dicas quando eu estiver lendo um livro para fazer uma resenha ou nop?
Olá! Antes de mais, obrigada pela leitura!
ExcluirRespondendo à tua pergunta, eu acredito que sim, embora vale ter em mente que a resenha é destinada a outros leitores, enquanto a crítica costuma ser dedicada ao autor. Acho que se adaptares ao contexto, as dicas são úteis :)
Este é sem dúvidas o melhor texto sobre críticas!
ResponderExcluirObrigada pelo comentário e pela leitura!
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