Como Abordar Temas Polêmicos de Forma Consciente

domingo, 16 de fevereiro de 2020
notebook, caderno, caneta, óculos


Por: queijo e uvas passas

Olá, pessoinhas! Tudo bem? Hoje o post no blog é uma discussão sobre como abordar temas polêmicos de forma consciente nas fanfictions.
Muitas vezes ao lermos fanfics, nos deparamos com as seguintes situações: romantização de estupro, relacionamentos abusivos, assédio, dentre outras situações preocupantes. A abordagem de temáticas delicadas requer responsabilidade por parte dos autores e gera bastante discussão: esses comportamentos de personagens fictícios influenciam os leitores na vida real?
Quando a história conta uma situação de estupro, assédio, abusos é importante esclarecer aos leitores previamente. Há muitas pessoas sensíveis a essas situações e para as quais a leitura geraria um gatilho; portanto, é preciso ter responsabilidade e sempre indicar nos avisos e notas iniciais da fanfic/original. Bem como pôr a classificação indicativa correta! Caso você tenha começado a escrever e não tenha planejado isso, mas precisa que aconteça para dar continuidade à história, sem problemas. Apenas mude os avisos e coloque um comunicado grande no início do capítulo. Lembre-se de que você não é responsável pelo que as outras pessoas sentem e o que viveram, porém é 100% responsável pelo que escreve.
Seguindo esse mesmo pensamento, não há como atribuir a culpa aos escritores pelos comportamentos negligentes de pessoas reais. Se o leitor leu os avisos, viu a classificação indicativa e sentiu-se apto a ler a história, é dele que deve vir a maturidade e consciência de entender que aquele comportamento é doentio e deplorável e não deve ser reproduzido. (Aliás, se você, como leitor, leu uma fanfic que continha estupro, assédio, relacionamentos abusivos, seja de forma romantizada ou não, e sentiu-se tentado a comportar-se daquela maneira, realizar aquelas ações, procure ajuda profissional urgentemente!) E os responsáveis pela criança/adolescente que lê fanfics devem sempre supervisionar as leituras.
Chegamos, pois, a outro impasse. E o que acontece quando um jovem lê uma fanfic com um relacionamento abusivo, por exemplo, mas romantizado e normalizado? Como se, de fato, fosse uma história de amor? Nem todos os leitores são maduros o suficiente para compreender o abuso e o pior é que, por falta de orientação, podem acabar vivendo essa situação na vida real sem identificar; não por influência das fanfics, mas por não perceberem que não é normal, nem aceitável. A arte é a forma mais antiga de manifestação do ser humano e ao longo da história serviu como conscientizadora e foi usada como forma de protesto. Quando se trata desses temas, é importante considerar essa abordagem da arte, a de conscientizar, para que cada vez mais jovens e adultos sejam capazes de detectar abusos e evitá-los.
Uma das melhores alternativas para resolver essa situação é denunciar as fanfics que romantizam situações abusivas e conversar com os escritores e leitores a respeito. Felizmente é um debate aberto, no grupo oficial do Nyah! no Facebook, por exemplo, discussões sobre o assunto e relacionados já foram abordados pelos integrantes diversas vezes.
Para os escritores, a principal dica para descrever situações de estupro, abusivas de forma consciente é ter empatia. Ninguém se apaixona pelo seu raptor a menos que tenha Síndrome de Estocolmo. (E mesmo essa condição psicológica deve ser retratada de modo a se entender que não é romantização, que é um problema e deve ser tratado como tal.) O estuprador não é carinhoso, atencioso, nem se importa com a vítima (estuprador não é nem gente, em primeiro lugar). Essas situações geram traumas, sequelas, sofrimentos. Muitas vezes até pensar nisso é difícil. Por isso, se colocar no lugar da vítima é necessário.
Caso queira escrever do ponto de vista do abusador, é a mesma situação. Lembrando que deve-se deixar claro que de que a pessoa não é normal, tem sérios problemas e precisaria de ajuda para se reintegrar na sociedade. É importante pesquisar sobre as condições psicológicas que levam a esses comportamentos. Temos o exemplo do livro Lolita, de Vladimir Nabokov, o qual é narrado pelo ponto de vista de Humbert, o pedófilo, porém a condição de pedofilia e os abusos são deixados claros.
E, é claro, há vários depoimentos e histórias reais na internet. É interessante buscá-los como fonte de inspiração para escrever com o máximo de verossimilhança.
A ficção, portanto, não inspira jovens a tomarem atitudes abusivas quando esses leitores possuem a idade e a maturidade para compreenderem a situação. (Devemos abordar esses temas com crianças também, porém considerando o seu nível de intelecto e entendimento, e com explicações e alertas dos pais/responsáveis/professores e não por meio de obras fictícias.) Contudo, como já dito, leituras que romantizam essas situações podem levar os leitores a normalizarem os abusos e, posteriormente, não terem o conhecimento para identificar essas situações.
Na dúvida sobre estar abordando da forma correta ou não, peça ajuda! Pergunte a amigos, outros escritores e até aos próprios betas da Liga (como assim você não tem um beta? Tá esperando o que para entrar em contato com um??? xD).
Por hoje é isso, espero tê-los ajudado!
Até o próximo post!

4 comentários:

  1. Eu já disse como amo esse site?
    Vocês me ajudam muito. Eu escrevi uma fic que tratava exatamente de um relacionamento abusivo, onde eu comparei os comportamento errados (do marido) com os comportamentos corretos (do motorista da garota e futuro namorado ^^), e nossa, eu senti uma dificuldade enorme :/ mas acabei conseguindo e fiquei feliz com o resultado, já que os leitores falavam sempre o quão errada a personagem estava em admitir tais coisas.

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    Respostas
    1. Muito obrigada pela leitura! Fico feliz por saber que conseguiste escrever algo tão delicado de uma maneira que te deixou orgulhosa :)

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  2. Fiquei boba com a sensatez, sério mesmo, esse é o famoso "só li verdades."
    Parabéns pelo ezcelente post, muito importante e instrutivo.
    Beijos!

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O blog da Liga é um espaço para ajudar os escritores iniciantes a colocarem suas ideias no papel da melhor maneira possível.



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