Por: Roberto Lasneau
Nos
dois posts anteriores, vimos as principais informações sobre a
homo, bi e assexualidade, a fim de mostrar, da maneira mais clara
possível, como funciona esse universo que muitos desconhecem, visto
que nossa sociedade é heteronormativa.
Este
post tratará sobre os principais tópicos da Transsexualidade e da
tão conhecida Heterossexualidade. O post também terá um grande
foco numa situação que é facilmente confundível: a diferença
entre sexualidade e identidade de gênero.
•Parte
3.1 – Transsexualidade
O
mais importante de tudo:
Sexualidade
x Identidade de gênero
A
primeira coisa que precisa ser desmistificada é que a
transsexualidade tem a ver com homossexualidade. Seja na hora de
construir suas personagens ou tratando-se de pessoas reais, esses
dois termos (sexualidade e identidade de gênero) são totalmente
independentes. Nenhum tem relação com o outro.
Para
entender melhor, podemos fazer uma simples relação da sua
personagem e, você, escritor, verá que não é nada tão
complicado. Vamos pegar um exemplo aleatório:
Mulher¹
cisgênera² homossexual³
¹É
a sua identidade de gênero. Ela se identifica como mulher. Gosta de
ser mulher e de tudo que o gênero lhe proporciona. Gosta que a
tratem por meio de pronomes femininos.
²O
termo “cisgênera” indica a “concordância” entre a
identidade de gênero e o sexo biológico (que se difere do sexo
psicológico). Falando de forma mais simples, ela se identifica com o
gênero que lhe foi determinada no nascimento (biologicamente
falando).
³É
a sexualidade dela. Perceberam como isso não interfere na identidade
de gênero? Como eu disse mais acima, ela se identifica como mulher;
logo, não tem interesse por coisas de identidade masculina, não se
sente como um homem. Ser homossexual, no caso, não significa que ela
queira ser homem.
Vamos
criar outra personagem aleatória para visar melhor:
Homem¹
transgênero¹ bissexual¹
¹É
a identidade de gênero do personagem. Ele se identifica como homem,
gosta disso e gosta de que o tratem como homem.
²O
termo “transgênero” indica a “não-concordância” entre a
identidade de gênero e o sexo biológico, isto é, ele não se
identificou com o gênero que lhe foi determinado no nascimento.
³Independente
da identidade de gênero, sua orientação sexual é definida pela
bissexualidade, ou seja, ele sente atração por mulheres e homens, o
que mostra mais ainda que esses três itens não influenciam uns aos
outros.
Não-binários
Ainda
há outro grupo de pessoas que são classificadas como não-binárias,
que, como o próprio nome já diz, são aqueles que não se prendem
aos dois gêneros: masculino e feminino. Nesse caso, sendo tanto uma
pessoa bigênera (que se identifica com os dois sexos) quanto uma
agênera (que não se identifica com nenhum). Além disso, existem
casos de gêneros fluídos e até mesmo algumas culturas que nomeiam
terceiros sexos.
Sexo:
a necessidade e o ato
Não
vou me estender muito nesse tópico porque o assunto já foi
abordado. Identidade de gênero não tem a ver com sexualidade,
portanto, uma pessoa transgênera terá as mesmas necessidades da sua
orientação sexual, sendo iguais a todos os outros da mesma
sexualidade.
F.A.Q.
sobre a Transsexualidade
1
– Eu tentei pesquisar sobre o assunto, mas são tantos termos que
eu me confundi. Queria criar uma personagem trans, mas vi tantos
nomes que não sei como farei a devida referência. Como proceder?
Bom,
as principais nomenclaturas conhecidas são “Transexual”,
“Transgênero”, “Travesti” e “Não-binários”. O
transexual é aquele que, por desconforto, acaba por optar a fazer a
operação da genitália, “mudando” para o sexo com o qual se
identifica. O transgênero é aquele que simplesmente não criou uma
“concordância” com o sexo que lhe foi designado (o que inclui os
travestis e os transexuais). O travesti é aquele que tem o
desconforto com o gênero, mas não necessariamente com a genitália,
isto é, com a necessidade de fazer uma operação. Já os
não-binários são aqueles que não se prendem aos dois gêneros,
como foi explicado mais acima.
2
– Um transgênero pode ser homossexual? E assexual?
Pode,
em ambos os casos. Lembrando que, no caso da homossexualidade,
leva-se em conta o gênero com que a pessoa se identifica, portanto,
se for uma pessoa transgênera que se identifique como mulher, a
homossexualidade será definida pelo fato de ela sentir atração por
outras mulheres. O sexo biológico não tem relevância nisso.
3
– Como eu posso fazer a insatisfação de gênero da minha
personagem sem parecer algo forçado?
Creio
eu que não há como fazer isso forçadamente, afinal, insatisfação
é algo fácil de explorar num personagem, algo bem abrangente
também. No entanto, acho que cair em contradição possa tornar o
texto forçado, isto é, escrever, por exemplo, dois desejos
totalmente opostos que, juntos, gerariam algum conflito.
4
– Supondo que minha personagem nasceu homem, mas sempre se sentiu
incomodada com isso. Minha fic falará sobre esse processo de
“transformação” dele e eu pretendo que na primeira metade da
fic ele ainda esteja como homem e, na segunda metade, já como
mulher. Como devo me referir à personagem na primeira metade da fic?
Se
sua narração for em primeira pessoa, use pronomes femininos (caso
contrário, seria uma contradição). Se a narração for em terceira
pessoa, fica a seu critério, já que este tipo de narração é
impessoal. Já sobre as personagens restantes, sempre terão aqueles
que respeitarão e os que não respeitarão a identidade de gênero
da sua personagem, mude conforme as ocorrências.
5
– O que é drag queen? Tem algo a ver com o tema?
Não
tem muito a ver com o tema, mesmo se tratando de um ser travestido.
As drag queens (ou drag kings, para mulheres que se travestem de
homem) são apenas manifestações artísticas, ou seja, trata-se de
arte ou até mesmo de profissão. Existem homens héteros que
trabalham como drags, então não há nenhuma relação.
Parte
3.2 – Heterossexualidade
Por
último, e não menos (ou mais) importante, temos a orientação
sexual mais comum na nossa sociedade, indicada por cerca de 90% da
população mundial, a heterossexualidade. Apesar de ser muito
conhecida, ainda existem alguns (poucos) erros que muitos enfrentam,
principalmente quando se trata da relação entre um hétero com
outra pessoa de outra sexualidade.
Heterossexualidade
x Curiosidade
É
normal que o ser humano, principalmente na adolescência, queira
experimentar coisas novas e diferentes do habitual. No entanto, com a
heteronormatividade presente na nossa sociedade, nem sempre esses
“experimentos” são muito bem vistos. Há dois tipos de
heterossexuais: os convictos e os curiosos.
O
heterossexual convicto é aquele que não está aberto a
experimentar. Então, no caso de um homem heterossexual convicto, ele
somente ficará com pessoas do sexo oposto, exclusivamente. Já o
heterossexual curioso é aquele que aceita experimentar uma pessoa do
mesmo sexo (seja pra ver como é ou simplesmente por experimentar
mesmo) e isso não o faz de indeciso ou de menos hétero; ele
continua hétero, ele apenas experimentou.
Concluindo,
curiosidade não torna ninguém mais/menos homem ou mulher
heterossexual. É uma coisa comum do ser humano, apesar de existirem
seres convictos.
Heterossexualidade
x Comportamento
Não
é todo rapaz hétero que se comporta de forma 100% masculina. Assim
como não é toda moça hétero que se comporta de forma 100%
feminina. O mesmo vale para pessoas de outras sexualidades. Isso
acontece porque os seres humanos são diversificados, cada um é
diferente do outro e a sexualidade não influencia no comportamento.
Sexualidade não tem relação direta com comportamento!
Existem,
sim, rapazes héteros com trejeitos, assim como existem rapazes
homossexuais totalmente discretos, e o mundo é repleto dessas
diferenças. E ninguém é mais homem (no caso do exemplo) que
ninguém, porque ser homem é questão de identidade de gênero e não
de quem é mais “macho” que o outro. Pensar dessa maneira já é
considerado uma ideologia machista (por machismo temos aqueles que
pensam que ter mais masculinidade que alguém é sinônimo de
superioridade).
Sexo:
a necessidade e o ato
Diferente
das outras sexualidades, creio eu que não preciso explicar muita
coisa aqui, visto que é bem conhecido (o clássico homem e mulher).
No entanto, existem alguns pontos pequenos que merecem ser
ressaltados. Um deles é o polêmico fio-terra (para os que não
sabem, consiste no ato da mulher introduzir o dedo no ânus do homem,
pois, em alguns casos, ele vem a sentir prazer). Muitos dizem que
prazer anal é sinônimo de homossexualidade (para homens) e isso é
um absurdo total. Não existe isso, gente. Homens héteros podem,
sim, sentir prazer anal e isso não faz com que eles sejam menos
homens e mereçam desprezo. É preciso respeitar o prazer de cada um.
E comparar com homossexualidade não faz sentido, pois existem
homossexuais que não possuem prazer anal, por exemplo.
Outro
ponto que ocorre muito é a questão da lubrificação feminina e a
penetração na mulher. Tudo bem que a vagina é uma área maior,
mais lubrificada e mais preparada para a ação de uma penetração,
mas isso não é sinônimo de penetração extremamente mais fácil.
O erro que ocorre muito são os caras que conseguem penetrar com uma
facilidade assustadora (às vezes as meninas são até virgens
ainda). Gente, não funciona assim. Além disso, a lubrificação
feminina não é um líquido milagroso e inesgotável do puro prazer,
isto é, ela não soltará litros e litros com facilidade, e a
penetração tem que ser cuidadosa, tanto para o homem (que pode ter
o membro lesionado/entortado caso exagere nos movimentos) quanto para
a mulher (que pode ter umas lesões internas dependendo de como forem
feitos os movimentos). Resumindo, não é pelo fato de, naturalmente,
a penetração heterossexual ser mais facilitada que significa que é
totalmente mais fácil e sem preocupações.
F.A.Q.
sobre a heterossexualidade
1
– Você disse que existem héteros curiosos que só experimentam,
mas são héteros. Por que então, no caso, eles não são
bissexuais? E nos casos em que o hétero experimentou e viu que só
gosta do mesmo sexo?
Para
a primeira pergunta, eles não são chamados de bissexuais pelo
simples motivo de não serem bissexuais. Lembrando que bissexuais são
aqueles que sentem atração por pessoas de ambos os sexos e que,
experimentar não tem nada a ver com isso. Você pode escolher ficar
com alguém de qualquer sexo, mas não pode escolher sentir (ou não)
atração.
Já
para a segunda pergunta, se ele percebeu que só gosta de pessoas do
mesmo sexo, convenhamos que ele não é um hétero curioso, mas, sim,
um homossexual que acabou por se descobrir. Por vivermos numa
sociedade heteronormativa, é comum que todos “comecem” como
héteros até que se percebam.
2
– Os héteros são contra a população LGBT?
Não
todos. Sexualidade não define personalidade. Existem LGBTs que são
contra a própria população.
3
– Afinal, o que é essa tal de heteronormatividade? Posso usar isso
numa fanfic?
A
heteronormatividade é a ideologia que define a heterossexualidade
como a sexualidade mais comum, isto é, a qual a sociedade está,
culturalmente, acostumada. Com isso, temos muitas coisas sempre se
referindo a héteros, inclusive no nascimento (pois, antes de uma
pessoa se descobrir de outra sexualidade, ela mesma se considerava
hétero). Alguns costumam associar esse termo também ao
comportamento (masculino e feminino), mas eu, particularmente, não
concordo, pois, como eu disse, existem homens héteros afeminados e
homens homossexuais discretos. No caso dessa associação ao
comportamento já entra o conceito de “sexismo” (que consiste em
rotular os comportamentos e responsabilidades do homem e da mulher).
A heteronormatividade é uma questão cultural, flui naturalmente na
nossa sociedade, creio que, numa fanfic, ela já apareça por conta
própria, não tem como evitar, pelo menos não nos dias atuais.
Conclusão
Respeite
sua personagem. Não importa sua sexualidade ou identidade de gênero,
não importa se você quer tratá-la como uma pessoa de boa ou má
índole. Não se esqueça do principal: sexualidade, identidade de
gênero e personalidade não se misturam. Esses três termos são
independentes. Não rotule seus personagens. Entenda que seres
humanos são diversificados por natureza. E, principalmente, que
ninguém quer passar por cima de ninguém, que cada um tem seus
interesses e gostos, que, mesmo não sendo aprovados, podem ser
respeitados.
Como
sempre, meu material foi muito grande, portanto, estou resumindo em
poucos links:
Muito obrigada pelos posts. Estão me ajudando muito a ter uma ideia de como abordar sobre o assunto na miha história.
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