Como Escrever Histórias em Formato de Diário

domingo, 12 de abril de 2020

Por: queijo e uvas passas


Olá novamente! Aqui quem escreve é a beta queijo e uvas passas.
Nessa quarentena, que tal arriscar-se escrevendo alguma coisa diferente? Quem sabe uma história escrita em formato de diário? Tem interesse, mas não sabe como fazer isso? Tudo bem, estou aqui para te ajudar. *piscadinha*
Primeiramente, as histórias escritas dessa forma costumam possuir indicação de data com dia, mês e ano e uma assinatura no final do registro, e também são escritas em primeira pessoa. Por exemplo:
07/08/2005 (data)
Querido diário,
Hoje briguei com mamãe. Foi horrível! [continua...]
Por hoje é só.
Com carinho, queijo e uvas passas. (assinatura no final)
Contudo, esse é apenas o formato do diário. Escrever a história requer cuidados e, para planejar-se antes de iniciar sua jornada, tenho algumas perguntas que podem lhe auxiliar.

1)      Quem é o dono do diário?
É muito importante pensar no personagem, como ele será e, talvez o mais relevante, como verá a si próprio. Pense nas características mais relevantes sobre ele e, ao longo da narrativa, vá apresentando ao leitor. Se o protagonista tem uma autoestima muito baixa (e isso é importante para a história!), deixe implícito fazendo pequenos apontamentos: “me olhei no espelho ao acordar e minha aparência estava horrível”, “como ele poderia gostar de mim? É mil vezes mais bonito que eu!”.
Apresentar as características do personagem desse modo é mais realista, afinal ninguém começaria um diário escrevendo que é introvertido ou extrovertido, lindo ou feio, etc. A pessoa apenas contaria sua vida e a sua personalidade iria se revelando aos poucos.
Talvez seja relevante o protagonista falar sobre o contexto em que vive, mas isso depende bastante da história. Aqui usarei como exemplo o diário mais famoso da história: O Diário de Anne Frank. Tudo que ocorria ao redor dela, como o holocausto, a ascensão e a queda do nazismo, a perseguição aos judeus era muito importante para ela e para que ela pudesse contar sua história no diário. Todavia, será que todo esse contexto seria tão notório e considerável se Anne não fosse judia? Se a menina estivesse à parte dessa situação, talvez todos esses fatos não tivessem sido citados.

2)      Como ele se apresentará aos leitores?
Como eu disse na primeira pergunta, é de extrema importância a visão que o protagonista possui de si mesmo. Isso determinará como os leitores o verão. “Mas como assim?” você pode perguntar. Veja bem, se fosse uma história menos pessoal, talvez escrita em terceira pessoa, poderíamos tirar nossas próprias conclusões sobre os personagens e as situações ao ler as histórias. Porém é um diário, o qual é escrito em primeira pessoa, o que significa que, de certa forma, seremos influenciados pelas visões pessoais do protagonista. Ou seja, o modo como ele percebe as coisas e a si mesmo afeta a nossa percepção enquanto leitores. Por isso, planeje bem o modo como o protagonista perceberá o mundo, porque ele será os olhos dos leitores!

3)      Irá interagir com o diário ou apenas escrever?
No exemplo de datação e assinatura que dei acima, o personagem referiu-se ao diário por meio daquela expressão bem conhecida “Querido diário”. Essa seria uma forma de interação com o diário. No caso de O Diário de Anne Frank, foi atribuído o nome de Kitty ao diário e era assim que Anne se referia a ele. Você, assim como ela, pode inventar diferentes maneiras para que o seu protagonista dirija-se ao diário. Ou pode não usar esse recurso. Pode apenas colocar a data e então escrever.
O que determina o que você fará, além de querer ou não, é claro, é a personalidade do protagonista, bem como a idade que também deve ser levada em consideração. Uma menina de 11 anos escrevendo “Querido diário” é comum, mas uma mulher de 35, mais madura, provavelmente não interagiria com o diário.

4)      Em que momento o protagonista ganhará ou comprará o diário?
Alguém deu o diário ao protagonista? Em que contexto? Quem deu? Isso tem algum significado? De repente o responsável por ele deu o diário por recomendação do psicólogo. Ou o personagem pode ter percebido que precisava desabafar e comprou um diário para si.
É interessante começar os registros no dia em que foi recebido, assim pode contar tudo isso e também quais são as pretensões quanto ao diário: vai tentar escrever todo dia? Ou pretende apenas registrar se algo extraordinário acontecer no dia? Está contente com o diário ou ficou aborrecido? No caso de ter recebido como presente, gosta da pessoa que o presenteou? No caso de ter comprado, está satisfeito com a compra ou arrependeu-se?

5)      Qual a motivação do protagonista em fazer os registros diários?
Certo, você tem o protagonista, tem o diário, tem o contexto todo da história. Contudo o que motiva o protagonista a escrever? É recomendação do psicólogo, como sugeri antes? Ou apenas um meio de se expressar? O personagem se sente aliviado a escrever, sendo uma espécie de terapia?
É relevante que o protagonista tenha um motivo e que seja explícito, isso acrescenta propósito à história.

6)      Qual é a história a ser contada?
Essa questão está intimamente atrelada à anterior. Se a história possui propósito é porque ela é importante e merece ser contada. Então, qual é a história desse protagonista?
Está dando a volta ao mundo em uma expedição fantástica? Está vivendo uma pandemia (cof cof covid-19)? Ou algum momento histórico como uma guerra? Talvez seja apenas um adolescente descobrindo-se sexualmente, por que não? Ou um homem que leva uma vida monótona até descobrir o propósito da sua vida. Há inúmeras possibilidades, infinitas histórias a serem contadas. Sejam elas “grandiosas” ou não, todas merecem ser contadas.
Agora, vamos ver algumas dicas! J

Mantenha a personalidade do protagonista! Se ele começou a história com autoestima baixa, como pode terminar se amando sem ter havido uma mudança clara quanto a isso? O personagem vai amadurecer e se desenvolver, mas isso não é da noite para o dia, é um processo, por isso tenha cuidado. E se por acaso algum dia ele for levantar sentindo-se bem sem motivo aparente, precisa deixar claro que é uma situação inusitada (até porque somos humanos e às vezes acordamos com sentimentos e sensações distintas dos que costumamos sentir).

Lembre-se de que o leitor não conhece o universo fictício do diário. Por isso, tenha cuidado para situá-lo e explicar situações que podem não ficar claras por si só. Se o personagem mal fala com o padrasto, é interessante explicar o porquê, quando isso começou e etc.; assim, os leitores entenderão porque ambos se desgostam e, consequentemente, porque não há interação animosa entre ambos.

O recurso de flashbacks é muito legal para explicar essas situações do passado. E também tem o chamado fluxo de consciência, no qual o protagonista reflete sobre eventos passados com a sua atual consciência e comparando-a o que sentiu na época. Utilizando-se do exemplo acima, você poderia, por exemplo, descrever uma cena de briga entre o padrasto e protagonista ocorrida há cinco anos e, após, fazer questionamentos sobre o que levou a tudo, de quem foi a verdadeira culpa, se houve de fato apenas um culpado.

Outro aspecto a ser considerado no planejamento, e isso depende bastante da história a ser escrita, é o de protagonista possuir algum segredo oculto até mesmo do próprio diário. A revelação bombástica pode levar ao clímax da história se for bem trabalhado.
Bom, creio que dei todos os conselhos que pude! Hehe Espero ter ajudado a todos que leram.
Até mais ver! <3

Um comentário:

O blog da Liga é um espaço para ajudar os escritores iniciantes a colocarem suas ideias no papel da melhor maneira possível.



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