Oi, blogueiros! To começando a perceber que eu sou muito eclética e sempre trago temas super diferentes um do outro e, obviamente, hoje não é exceção. Essa coluna age como uma opinião a mais (minha, no caso) sobre a discussão do Ep. #62 do Betacast, um ep sensacional, diga-se de passagem. Aí, eu decidi trazer uma espécie de artigo de opinião sobre o uso da literatura clássica e a literatura em geral nas escolas.
Pois bem, vamos dar início a esse texto.
Quando perguntamos a alguém que gosta de ler o que desencadeou o hábito, raramente a resposta será Machado de Assis ou José de Alencar. As respostas que mais ouvi, com certeza, são Harry Potter, Senhor dos Anéis e Percy Jackson; agora você me pergunta: qual a diferença entre essas obras e as obras clássicas da literatura brasileira? Não são todos livros? Pois bem, querido leitor, já ouvi de muitos os seguintes argumentos: “ah, mas olha o ano que esse livro foi escrito!” ou “a linguagem é muito difícil, não consigo entender”. E, de fato, a época e o período de escrita são fatores de imensa importância durante a redação de um livro e, digo mais, livros antigos são uma das melhores maneiras de compreender o ano em que foram escritos e publicados.
Em primeira instância, é perceptível uma semelhança entre Senhor dos Anéis e algumas obras da literatura clássica: ambas são antigas. O Hobbit, primeiro livro situado no universo de Senhor dos Anéis, escrito por J.R. Tolkien, foi publicado em 1937; já “Senhora” de José de Alencar e “Memórias Póstumas de Brás Cubas” de Machado de Assis, por exemplo, são publicações datadas do final do século XIX. Agora, o que as torna tão diferentes? Posso dizer que, além do gênero, a escrita, talvez, dado que a linguagem utilizada nas obras é mais rebuscada que a encontrada nas obras literárias atuais. Acredito que um sentimento de adversidade cresceu no cerne da sociedade brasileira quando mencionamos a literatura clássica; e posso ainda apontar a escola como uma grande causadora desse fenômeno.
É interessante analisar a experiência dos alunos com a literatura na escola, pois quando somos pequenos, os livros não possuem um caráter exato, estão lá para ajudar no nosso desenvolvimento e outra, são opcionais. Por outro lado, quando chegamos ao Ensino Médio, as coisas parecem desandar de maneira impressionante; acredito eu, que o fato se deva a obrigatoriedade imposta na disciplina de literatura, dado que ao prestarem o vestibular, os conhecimentos de determinados livros serão testados.
Eu adquiri meu hábito de leitura aos 11 anos de idade quando li pela primeira vez “O Ladrão de Raios” de Rick Riordan, e desde então venho desenvolvendo e aprimorando-o. Quando ingressei no Ensino Médio, foi como se uma bigorna caísse na minha cabeça e a leitura de clássicos se tornou algo extremamente dificultoso; ler para mim sempre foi um prazer, mas durante aqueles anos, se tornou um fardo. Minha escola sempre enfatizou a importância do vestibular e como todos deveríamos nos planejar para a prova (com três anos de antecedência) e já começar as leituras obrigatórias. Tive sorte de ter uma professora que se dispunha a explicar o livro e a sua linguagem e de se importar o suficiente para garantir que a leitura fosse proveitosa, não uma obrigação. Acontece que nem todos os institutos de ensino são assim.
Os livros deveriam atuar como uma exemplificação do conteúdo, como quando temos aula de plantas e vamos ao laboratório de ciências para compreender na prática. Mas não, os livros são tratados como uma matéria à parte, como algo que o aluno deve correr atrás; e, pior, o acesso aos livros vem ficando cada vez mais difícil, principalmente para jovens com condições mais precárias. Ademais, no Brasil há um gap gigantesco entre as escolas privadas e públicas quanto ao incentivo à leitura; em um país como o Brasil, que vem cada vez mais aumentando os preços dos livros, o acesso às obras é extremamente elitizado, fato este que contribui ainda mais para a rejeição da literatura clássica brasileira.
Diante dos argumentos supracitados, a sociedade brasileira tem um idolatrismo internacional gigantesco e intrinsecamente entrelaçado no cerne dela; resultado de todas as colonizações e influências estrangeiras as quais o Brasil foi submetido, a mais recente delas vinda dos Estados Unidos. Sendo assim, os indivíduos tendem a rejeitar tudo que é nacional e isso não só acontece com os livros, mas com diversas obras, em destaque o cinema, que sofre com o hollywoodismo norte-americano. Nesse ínterim, a literatura brasileira é descartada facilmente para dar lugar ao estrangeiro, além de que muitas vezes é censurada por conter temas considerados polêmicos (e, na maioria das vezes, crimes).
Agora, que já temos um panorama geral, analiso o conteúdo presente nas obras clássicas brasileiras e a sua importância. Como dito, muitos indivíduos argumentam a favor do “banimento” de certas obras, por conta de conteúdos racistas, machistas e etc; acontece que o banimento dessas obras não vai resolver o problema do preconceito enraizado no país, de modo que, deve-se olhar para essas obras e classificá-las como lentes do passado (obrigada, Lucas do BC), isto é, como uma das possíveis visões da época retratada. Os livros são, sim, uma ótima fonte de exemplificação para matérias como literatura, história e até mesmo geografia (como Os Sertões, de Euclides da Cunha, que narra tanto a descrição física do cenário quanto a Guerra de Canudos). Infelizmente, a história é sempre contada do ponto de vista dos vencedores, nunca dos perdedores, então ter em mãos uma obra que mostre a época escolhida por meio de outra lente, seja ela problemática ou não, é uma grande oportunidade de ensino. Não adianta esconder do mundo todas as obras preconceituosas, é preciso usá-las como um exemplo do que não fazer, do que não disseminar.
Eu não sei vocês, queridos leitores, mas eu sempre apresentei uma melhor compreensão da matéria sempre que ela era exemplificada, pois assim eu era capaz de aplicar os conceitos em uma situação real. E eu sei que a leitura de um clássico não é fácil, não é prazerosa para muitos, mas é uma das únicas maneiras de termos contato com alguém que viveu no período descrito, mesmo que seja por só uma das diversas lentes existentes (da época). Outro ponto que eu sempre repito é sobre a importância da história e sobre como ela e a literatura (com a arte) caminham juntas e estão sempre se complementando. Não faz sentido, por exemplo, você estudar a contemporaneidade do século XXI, sem antes entender todos os períodos anteriores que nos trouxeram aqui; é como querer aprender função antes de soma e multiplicação, simplesmente não dá.
Mediante isso, o sentimento nacionalista do brasileiro vem sendo corrompido a décadas, de maneira que se tornou facilmente influenciado por outros. A cultura brasileira vem sendo extinta aos poucos e a literatura, o entretenimento, é a primeira a desaparecer, pois ela atua em diversos campos, de diversas maneiras, mas principalmente como uma expressão de ideias, fato este pelo qual existem tantas obras racistas, como Monteiro Lobato. Não é uma questão de descartar e fingir que nunca existiu, mas sim de abraçar, aceitar, analisar e compreender os erros e os acertos, utilizando obras dessa estirpe como um exemplo do que não reproduzir. Não é apagando o passado que se avança, mas sim aceitando-o e analisando suas consequências, de modo a construir melhores escolhas de futuro. E não há nada melhor do que a literatura para ter como ponto de partida.
Olá, achei muito intrigante essa coluna. Além de tocar assuntos literários, compreende muito mais do que isso, citando até mesmo esse nacionalismo corrompido que nós, brasileiros, temos. Gostei muito de ler sobre sua experiência e concordo que as vezes as obras mais populares são a porta de entrada para leituras mais complexas. Acho que é um caminho de construção e de constantemente sairmos da caixa.
ResponderExcluirAos 11 anos, eu lia muito coisa duvidosa rsrs
Parabéns pelo texto! :D