Deve-se separar o autor da obra?

domingo, 23 de agosto de 2020

Por: queijo e uvas passas 



Bom dia, estrelinhas! A Terra diz olá! (Pegaram a referência?) Como têm andado? Espero que bem.

O nosso artigo de hoje é um pouco polêmico, mas espero que eu consiga tratar a discussão da maneira mais imparcial possível, apesar de ter minha própria opinião sobre o assunto.

Essa discussão entrou em voga quando denúncias de assédio foram feitas contra atores de Hollywood, como Kevin Spacey, Dustin Hoffman e Lars Von Trier, e também com o infame caso de Johnny Depp, acusado de agredir fisicamente sua ex-esposa, Amber Heard. Houve muitos outros casos, como o da cantora Melanie Martinez, que supostamente estuprou uma amiga, e, o mais recente de todos, a questão da transfobia de J. K. Rowling. Contudo, esse impasse não é atual. Ao longo da história da humanidade, muitos músicos, escritores, empresários e outras figuras importantes apoiaram o antisemitismo, nazismo, regime escravocrata, dentre outras impensáveis e desumanas ideologias.


Todas essas situações convergem a uma pergunta: é ético consumir o produto/serviço de uma pessoa que apoia regimes totalitários, desrespeitou outras pessoas ou agrediu alguém? 

A partir disso, podemos ir além: até que ponto o artista deve ser apreciado apenas pela sua arte e não pela pessoa que é? A arte deve ser desvinculada do seu valor social de mudança e protesto para servir à arte pela arte?


Alguns escritores e pensadores, como a escritora Laura Freixas, alegam que a obra serviria como escudo para não julgarmos as atrocidades cometidas pelos autores, uma vez que consumiríamos a obra sem questionar o caráter da pessoa que a realizou.


Outros, como Marco Severo, defendem a desvinculação da obra e do autor, argumentando que a obra não é uma retrato dos pensamentos e ideias da pessoa que a criou, uma vez que a obra transcende o autor.


Porém, como dizer com 100% de certeza que a obra está desvinculada do autor? Analisemos Harry Potter, por exemplo. Embora muito implícitos, há sim traços de transfobia presentes na obra. Rita Skeeter, por exemplo, é descrita com "maxilar marcado", uma característica considerada masculina, de forma zombeteira, como se fosse muito engraçado uma mulher com aparência "de homem". Qual um dos maiores motivos de chacota de mulheres trans? Elas apresentarem características masculinas. Zombando de Rita Skeeter, J. K. Rowling denota sua transfobia.

Dessa forma, a obra é de certa forma sim um reflexo do autor.


Contudo, o que aconteceria se deixássemos de consumir por completo obras de autores racistas, xenofóbicos, misóginos, antisemitas, pró-autoritarismo ou acusados de tais ações? Perderíamos a oportunidade de realizar a leitura dos livros de Monteiro Lobato. De assistir aos filmes de Johnny Depp. De ouvir as músicas de Melanie Martinez. Estaríamos perdendo um mundo de possibilidades artísticas.


Podemos concluir, após essa análise, que não é moral consumir os produtos do artista sem julgar suas atitudes perante a sociedade e sendo indiferente às suas atitudes erradas. O fato da arte ser boa não deve impossibilitar o autor dela de ser julgado por suas ações. Não podemos nos alienar quanto à isso e passar pano para esses artistas. 

Porém, também não podemos deixar de produzir e analisar a obra, realizando uma leitura crítica daquilo que o artista propõe. Seria alheamento tanto fingir que a obra não existe quanto ler sem julgar.





FONTES PESQUISADAS PARA REFERÊNCIA:

Correio Braziliense: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2017/11/06/interna_diversao_arte,638854/casos-de-assedio-no-cinema.shtml

Cine.com: https://www.jornalismo.ufv.br/cinecom/da-para-separar-o-autor-da-obra/

Medium: https://medium.com/@caiquecabarroz/separar-a-obra-do-autor-peter-handke-e-a-moralidade-do-consumo-de-arte-dcc459c9bdc0 

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