O mundo da escrita, embora encantador, possui um sistema de
aprendizado infinito. Isso significa que não importa se você começou ontem ou
se você está no ramo há mais de uma década, sempre há algo novo a aprender,
sempre descobrimos maneiras novas de expressar situações, de analisar uso de
determinados recursos e de se construir literatura como um todo; além disso, a
literatura é bastante social e sofre metamorfoses conforme as transformações da
própria sociedade. Com isso em mente, o post de hoje traz uma análise de cinco
padrões reproduzidos pelos escritores ultimamente, a fim de refletir sobre como
esses comportamentos podem atrapalhar o processo de evolução na escrita.
1 - Entender como funciona o fenômeno da sinonímia
É muito comum lermos em dicas para escritores o famoso
“evite repetições, use sinônimos”. Mas o
que exatamente são os sinônimos? Isso tudo vem do evento gramatical que
chamamos de “sinonímia”, que consiste na relação que algumas palavras têm em
relação ao mesmo significado. E qual é
exatamente a questão em cima disso? É que a relação de sinonímia não é
perfeita, as palavras não são capazes de substituir completamente as outras,
pois cada palavra é única, ainda que possam carregar valor semântico muito
próximo. Vamos analisar isso na prática?
Vamos trabalhar com o adjetivo inteligente. E vamos pegar outros três adjetivos que possuem valor semântico semelhante: astuto, sábio e esperto. Todas essas palavras remetem a alguém que sabe usar a cabeça, que pensa rápido, que possui conhecimento. Agora vamos destrinchar essas palavras para vermos quais são os contextos que elas aparecem e as sensações causadas ao leitor:
● Inteligente
— Geralmente usado em ambientes
acadêmicos, facilmente associado a alguém que tem muito conhecimento sobre alto
teórico ou alguém que sabe de muitas coisas (seja da mesma área ou de áreas
distintas). É usado como elogio em situações nas quais a pessoa que elogiou se
sentiu surpreendida.
● Astuto
— Geralmente usado em situações mais
espirituais ou de façanhas bem mais subjetivas que conhecimento acadêmico, por
exemplo. É usado para se referir a pessoas que são discretamente conhecedoras
de algo.
● Sábio — Esse termo carrega uma convenção
social daquele que tem muita experiência, portanto, geralmente associado a
pessoas mais velhas. Refere-se a uma relação proporcional entre conhecimento e
tempo.
● Esperto — É basicamente uma relação mais marginalizada do conhecimento. Refere-se àquela pessoa que utiliza sua experiência para se dar bem nas situações, mesmo que isso implique em enganar outra pessoa ou omitir partes da situação geral.
Ficou perceptível que palavras de significado aparentemente
aproximado possuem muitas diretrizes de interpretação e contextualização. Na
poesia, por exemplo, existe uma guerra para se encontrar a palavra perfeita,
aquela que cabe tanto na estrutura quanto na expressão. É claro que na prosa
não precisamos ser tão rígidos com a escolha das palavras, porém entender a
sinonímia é fundamental para não fazermos com que certos atributos
descaracterizem um personagem ou um ritmo de narração.
É difícil praticar a percepção de
sinonímia? Felizmente não é. Escritores que já estão há certo tempo no ramo
com certeza estarão lendo isso com mais facilidade do que aqueles que começaram
recentemente, pois a leitura constante faz com que percebamos certos padrões no
uso das palavras. Para praticar, é necessário bastante leitura e análise: ver
como cada palavra é usada, em que contexto, onde mais aparece. E a melhor
parte, é que vale para a linguagem oral também! Perceba a forma como as pessoas
falam certas coisas, a entonação, por que ela usa uma palavra em vez de outra,
com que intenção. Com a prática, a sinonímia vai ser completamente natural para
você.
O que um mau uso de sinonímia pode refletir
na escrita? Isso pode levar a dois caminhos bem complicados. O primeiro
deles é uma quebra de refino de caracterização, ou seja, um personagem ou tipo
de narração não serem bem representados mediante à escolha vocabular (vimos lá
em cima os diferentes contextos de inteligência e o quão importante é
escolhermos o mais adequado de acordo com a vivência do nosso texto). Já o
segundo caminho é beirar para uma escrita pomposa demais; sei que é incrível a
gente pegar um dicionário de sinônimos e ver o quanto nossa língua é rica e tem
várias maneiras de dizer as coisas, mas um texto que usa sinônimos demais (uns
até formais demais para o registro do texto) tende a ficar pomposo e desconexo:
por isso, não se acanhe em repetir uma palavra ou outra, existe uma quantidade
tolerável para isso.
2 - Confiar na capacidade interpretativa do leitor
Às vezes algum texto nosso pode
envolver coisas que vão além do que é popularmente comum, e podemos pensar que
o público não vai entender e que precisamos explicar o que está acontecendo. Mas será mesmo? Um dos conceitos que a
teoria da literatura coloca para gente como iniciadores de uma leitura é
chamado de estranhamento. O que isso significa? É o fenômeno
presente na leitura que cria um efeito de uma percepção diferente da arte,
através daquilo que lhe causa estranheza, ou seja, mediante tais dificuldades,
o leitor vai achar uma nova perspectiva para entender aquele conceito.
Isso
significa que se o texto estiver bem coeso e formulado, o autor não precisa
criar notas de rodapé para explicar as coisas, o leitor fará isso por conta
própria e cabe ao escritor acreditar nisso. Inserir notas e explicações é uma
forma de subestimar a capacidade interpretativa do leitor e isso é
completamente contraproducente e antiprofissional, pois faz parecer que nem
aquele quem escreveu confia na coerência do próprio material. Portanto, o foco
na coesão é o mais importante: leve o
seu texto a um amigo ou a alguém que te acompanha como revisor, pergunte se
a impressão desejada está sendo transmitida corretamente, assim você terá
segurança em publicar sem explicações.
3 - Conhecer o trabalho de outros escritores
Vivemos uma época em que a literatura contemporânea existe e
cresce a todo fervor; os best-sellers nos
rodeiam, as fanfics iniciam as
pessoas no mundo da escrita, e a produção contemporânea existe em revistas e
coletâneas mundo afora. Se você está vivo e produzindo literatura neste exato
momento, significa que você também faz parte da época contemporânea, portanto,
tem as noções sociais de como esse tipo de literatura se constrói. Entretanto, há um enorme problema quando você é
escritor, porém não é leitor.
É
de extrema importância que conheçamos o que nossos colegas de época estão
produzindo, pois:
● Pessoas diferentes possuem
diferentes vivências, logo, o mesmo tema pode ter perspectivas bem opostas,
tornando-se crucial para a criação de uma diversidade ao longo de um mesmo
assunto;
● Lembra ali que falamos sobre
sinonímia e como perceber padrões de leitura? Só conseguimos nos sentir
afetados pela literatura enquanto
leitores, nossa leitura sob nosso próprio material é comprometida porque
somos o processo criativo daquilo. Sendo assim, somente lendo outros autores
que podemos perceber que tipos de recursos afetam o texto;
● A literatura é renovável, ela
precisa manter um ciclo sustentável, isto é, se estiver mais gente escrevendo
do que lendo, ela não vai para frente;
● Ler por si só já é uma atividade extremamente saudável, melhora o discurso, o vocabulário, a sensibilidade artística, entre outras coisas.
Um escritor, acima de tudo, precisa ser um
leitor. Inclusive, ele precisa ler muito mais do que escreve, porque a
literatura é uma atividade muito prática e social; não tem como entendermos a
sociedade — e querer aplicá-la literariamente — sem entendermos como outros
escritores estão enxergando essa sociedade. Torne a leitura um hábito mais
frequente e sinta sua percepção de escrita evoluir, pois o conhecimento da
diversidade é uma ferramenta poderosa.
4 - Visualizar a literatura como um processo criativo complexo
Este tópico em específico é muito delicado, uma vez que
carrega uma subjetividade incômoda. No entanto, ocorre muito em escritores,
principalmente iniciantes e intermediários, de tratar a literatura como um
processo mais aleatório e menos concreto. Como
assim? O processo criativo da escrita tem muita teoria e metodologia, ainda
que nem percebamos isso diretamente, existem jeitos de se pensar o fazer
literário. Há tempo para tudo: se você planeja escrever um romance, existe o
tempo do planejamento, da escrita, do refino, da revisão, da reescrita, da
experimentação, etc. Escrever é um
processo complexo, demorado e difícil.
Se
você tem em mente escrever um livro inteiro, não pense que isso é feito em dois
ou três meses, mesmo que você consiga escrever todo o conteúdo em um mês
apenas. A literatura não é escrever só
por escrever, mas exige usar a comunicação ao seu favor; não é só contar uma história, é dar
vida a uma história, e é por isso que existem recursos e técnicas de escrita
que exploram essa necessidade. E, mesmo assim, nem tudo é composto por técnicas
e recursos, às vezes o fazer literário
reside na identidade do autor, o quanto ele expressa sua vivência naquele
enredo, o quanto ele expõe a mensagem necessária. O livro, a história, é uma
ligação de fatos, é você juntar acontecimentos para levar uma mensagem, trazer
uma sensação. E, para isso, há o refino da escrita, que é trabalhoso.
O fazer literário é como se envolver num relacionamento sério. É uma coisa que você começa e precisa ir nutrindo, cuidando, polindo, assim como também precisa vivê-lo, passar os dias, ter uma opinião num dia e ter outra semanas depois (e ver como isso interfere na sua obra), é a transformação do próprio fazer humano. Futuramente farei um post para vocês inteiramente sobre essa questão do refino!
5 - Ser mais tolerável a críticas
Este tópico em específico é o mais trabalhoso de se lidar e,
não à toa, deixei por último. Todo o processo de escrita é muito envolvente e
acolhedor, nos sentimos produtivos, criamos universos novos, mensagens
inspiradoras e toda a nossa obra parece ser um pedaço da gente, certo? Sim e
não. Embora seja maravilhoso experimentar essas sensações, o apego ao próprio
material mais traz obstáculos do que vantagens para o escritor. Se tornar
resistente a opiniões contrárias, por exemplos, não querer que o texto passe
por reformulações (que visam a melhora do próprio texto), são coisas que podem
colocar todo o seu processo criativo em risco. Escritores precisam ser abertos às críticas, não tem outro jeito,
principalmente se ele leva o seu trabalho a um revisor. O revisor está ali e
ele sabe o que está fazendo, um bom revisor nunca vai querer remover sua
essência ou conspirar contra a sua história.
Parece às vezes que as críticas são mal-intencionadas ou que foram feitas para ferir nossos lados pessoais, mas é importante entender como se compõe a essência da crítica. Esse tipo de trabalho requer uma sensibilidade enorme, uma grande capacidade de questionamento e argumentação; você verá que um bom revisor/crítico sempre vai saber argumentar o motivo pelo qual ele apontou alguma coisa. E você tem todo o direito de achar o apontamento inválido! Jamais levar para o lado pessoal, ou pior, sentir desmotivação por ver que muitas coisas foram apontadas. Pelo contrário, a oportunidade de ter alguém te acompanhando com todo esse cuidado deve ser muito bem aproveitada (não se acanhe e faça muitas perguntas)!
Como
já dito, a aprendizagem no ambiente literário é infinita, mas a meta é diminuir
o máximo possível a dúvida e tornar os acertos cada vez mais naturais. Se
identificou com algum dos itens? Tem algo para refletir? Comenta aí pra gente!
y2haausk
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