Música minha de cada dia: como ela afeta a hora da escrita?

domingo, 10 de maio de 2020

Por: fullofcollors
Link no Nyah: https://fanfiction.com.br/u/750362/



Os tristes acham que o vento geme;
Os alegres acham que ele canta.
Luis Fernando Veríssimo

Por que a música nos toca?
Quando comecei a pensar sobre o tema para além do âmbito da escrita, não pude deixar de rebobinar minha própria vida e perceber quão acompanhada tenho sido pelas melodias.
Sou uma pessoa eclética. Minha playlist vai da bossa nova ao rock, passeando por todos os ritmos sem preconceito. Nem sempre tenho vontade de escutar todas elas, mas há, no fim das contas, um bom momento para cada uma. E qual o motivo para nos atrairmos por determinadas canções em dados momentos e em outros não?
Estamos vivendo uma pandemia, como todos sabem. Se você ler isso daqui alguns anos, saiba: o mundo parou, e a música agora é fundamental para deixarmos a alma viajar por onde nossos pés não podem. A nostalgia e a esperança estão em alta — a busca por playlists antigas subiu 54%, no Spotify, e Andrea Bocelli bateu recorde em live transmitida pelo YouTube para comemorar o feriado de Páscoa.
A ciência explica?
Canções são fenômenos complexos. Não é surpresa, entretanto, que sejam utilizadas para tratamento de doenças variadas, desenvolvimento da personalidade durante a infância e são capazes, inclusive, de afetar nosso estado emocional. Uma pesquisa feita em 2010 comprovou isso a partir de um teste cujo foco era medir a capacidade de 11 enxertos de música induzirem alegria, tristeza, raiva, medo e relaxamento nas pessoas.
“Tá, tia, mas o que a escrita tem a ver com isso?”.
Então, vamos a minha visão.
Como eu disse, sempre gostei muito de música. A escrita chegou depois, embora tenha tomado boa parte do meu coração. Conforme meu processo de criação começou a ser menos intuitivo, passei a perceber os elementos que o compunham, e o som foi um deles. Agora, existe uma diferença entre som e música. Eu, por exemplo, não consigo trabalhar com pessoas conversando ao redor ou na presença de muito barulho. Quando estou sob influência da música, entretanto, sinto o processo criativo fluir com maior facilidade.
E esse feeling vai pra onde?
Depende.
Existem duas perspectivas no meu caso:
·    já sei o sabor que quero para determinada cena e, portanto, procuro músicas que provoquem a sensação pretendida;
·      estou bem randômica na minha própria escrita e deixo a vida me levar, vida leva eu.
As duas tem benefícios: foco, na primeira, e surpresas positivas na segunda. A número dois, entretanto, merece cautela. Se você está esperando ter inspiração por meio da música, lembre-se de avaliar se o trecho ou cena pretendida não está destoando das demais. Sim, porque escrever uma cena escutando “Girls just Wanna Have Fun” e outro com “Cowboys from Hell” vai ter efeitos bem específicos.
Já encontrei muitas convulsões musicais nos meus textos.
Oliver Sacks, escritor e neurologista, é fã de Bach e estuda os efeitos da música sobre o cérebro. Ele fez um teste: escutou um trecho do seu ídolo e outro de Beethoven, tendo esse momento monitorado. Impressionantemente (ou não), os resultados mostraram que seu favorito não somente ativou partes essenciais do sistema nervoso, como também ativou a amígdala, vital para o processamento de emoções. Isso só prova que somos suscetíveis ao efeito da música de uma maneira muito particular. Então é bom ter em mente também que talvez o leitor não sinta exatamente o que você sentiu, mas ele vai experimentar a sua maneira.
Pra terminar, a tia vai deixar algumas dicas:
1)   evite trocar a/as música/as muitas vezes durante um capítulo. Crie um grupo pra usar, assim fica mais difícil se perder;
2)     tenha consciência dos sentimentos que determinada canção provoca em você. Dessa forma você consegue fazer a escolha certa para cada momento (a menos que a ideia seja buscar inspiração do zero);
3)   faça playlists para cada momento e/ou gênero. Isso facilita na hora de encontrar suas referências. Eu, por exemplo, prefiro os gêneros drama/romance (com drama)/terror (adivinha? Com drama), então busco por aquelas que possam me trazer as sensações necessárias na hora de compor essas cenas;
4)    deixe, caso você queira muito que o leitor sinta sua vibe, o link daquela música que te inspirou. Particularmente gosto quando meus autores preferidos proporcionam isso e consigo “estar lá” com mais facilidade;
5)       se for fazer uma história baseada em um álbum/single, conheça bem as letras e melodias. É bom buscar por um making off para entender quais foram os objetivos dos compositores e criar algo consistente.

That’s all for today, folks!
E lembrem-se: independe se os ventos cantam ou gemem, cada vibração conta uma história. Seja o dono da brisa quando estiver com a caneta na mão e faça o leitor flutuar em direção aos seus Universos.
PS.: A tia preparou duas playlists (uma instrumental e outra não) e separou outras duas que costumo escutar, essas do Spotfy. Lembrando que são baseadas nos gêneros citados lá em cima, mas vocês podem usar de inspiração pra criar suas próprias. Beijocas e aproveitem!

REFERÊNCIAS:
The violin, and my dark night of the soul: https://bit.ly/2WzuDzz
Música e neurociência: https://bit.ly/2Wfatw2
Building the musical muscle: https://bit.ly/2SJdJxx
Transformamos vibrações no ar em emoções
Quarentena faz disparar busca por músicas nostálgicas no Spotify: https://bit.ly/2WfC68d
Indução de emoções através de breves excertos musicais: https://bit.ly/3bgnpFY
A influência da música no comportamento humano: https://bit.ly/2WfLmct
Andrea Bocelli bate recorde no YouTube com show solitário na Páscoa: https://glo.bo/3bhfZSW

PLAYLISTS:
Writing Time: https://bit.ly/3dnZ4Q4
WritingTime (instrumental): https://bit.ly/3fsRdmf
dark instrumental writing/reading music: https://spoti.fi/2WzXJih

3 comentários:

O blog da Liga é um espaço para ajudar os escritores iniciantes a colocarem suas ideias no papel da melhor maneira possível.



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