Por: Musa
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Bem-vindos
de volta, aqui é a Musa.
Estou
regressando à série acerca de relacionamentos abusivos com sua segunda parte.
Deveria ter saído muito mais cedo? Deveria, porém aconteceram vários
imprevistos que me impediram de postar na data pretendida.
Olhando para
trás, imprevisto, instabilidade e inconsistência casa muito bem com o tema da
segunda parte desta série. Onde, em relações tão complexas e dignas de todos os
defeitos mencionados anteriormente, eu tento desenhar para vocês um padrão,
semelhanças e uma base para a hora de escrevermos relacionamentos abusivos.
Isso mesmo,
neste post vamos estar abordando a “Anatomia do Abuso”, ou seja, o conjunto de
características que se encontram em todos ou na maioria dos relacionamentos
abusivos e, mais importante, que distinguem um relacionamento abusivo de um
apenas disfuncional.
No post
anterior, ressaltamos o que é preciso para criarmos um relacionamento saudável,
ou seja, também vos ensinei como criar um relacionamento não saudável. Um
relacionamento abusivo vai quebrar todas ou a grande maioria das regras do post
anterior. No entanto, também irá possuir particularidades diferentes.
Ultimamente
é normal ver muitas pessoas utilizando a palavra “abusivo” para todos os
relacionamentos nocivos. Sem ter noção que o abuso é constituído por muito mais
que apenas duas pessoas incompatíveis discutindo a toda a hora.
Estamos aqui
para escrevê-los corretamente, certo?
Então, vamos
lá!
Ative a armadilha no
momento certo
Um dos erros
mais frequentes que encontro nas histórias por aí que pretendem retratar esse
tipo de relacionamento é o abusador chegar atirando e agindo com todas as
nuances de horrível para sua vítima que, até ao momento, era alguém de uma
estabilidade ou mentalidade normal e que não tem motivos para aceitar
comportamentos desses sem pestanejar.
Pense
comigo, não é à toa que dizem que as primeiras impressões importam. Se um estranho
começar chegando em você com ofensas ou até mesmo violência, não vai querer
ficar perto dessa pessoa, correto? Então por que seria diferente com seus
personagens?
Existem
casos que o personagem abusado está com a mente tão distorcida, auto estima tão
baixa ou mentalidade tão vulnerável que algo assim até possa resultar. Porém é
muito menos possível o abusador passar despercebido aos amigos e companheiros
da vítima e, portanto, ele terá menos manobra para manipulá-la como pretende.
Ou seja, o
abuso, de uma forma ou outra, deve sempre começar gradualmente. Isso vai dar
espaço para o abusador atrair sua vítima e fazê-la investir na relação. Assim,
quando o comportamento se tornar obviamente inadmissível, é mais difícil cortar
a relação ou sair dela, com receio de gerar uma discussão ou afastar a pessoa.
No fundo, o
abusador tem que criar um ambiente cuja vítima tenha medo de perder.
As relações
abusivas são, para o autor delas, como construir um ninho. Começa lento, faz
com que a vítima se sinta confortável, a isola. Depois, vai testando as águas,
descobre que pode sair ileso com, gradualmente, piores comportamentos. Com o
tempo, a vítima sente medo de perder tudo o que foi construído ou até mesmo nem
tem noção completa de como são nocivas as ações do abusador.
Pois tudo
piorou de forma silenciosa e discreta.
Existe um desequilíbrio
entre as duas partes.
Ou seja, a
maneira que um abusador espera ser tratado ou abordado em nada se compara em
como vai abordar, ou tratar a vítima.
O abusador
vai esperar complacência completa em todos os seus comportamentos, tudo pode
ser considerado como falta de respeito ou golpe no seu orgulho/ego, tudo pode
ser razão para se sentir no direito de abusar. Isso vai de desacordos pequenos,
a vítima querer falar com outras pessoas, ou simplesmente fazer algo que vá
contra a sua vontade.
No outro
lado, o abusador vai poder fazer todas essas coisas e muito mais sem esperar
qualquer protesto da vítima. E se este existir, há tendência para o abusador trivializar
a queixa ou mencionar às vezes que a vítima faz isso ou aquilo para e assim lhe
tirar o direito de se queixar.
Ou seja, os
abusadores desejam tudo com nada em troca. No fundo, as regras que vão existir
na relação servem apenas para controlar uma pessoa e beneficiar a outra.
Período ‘Lua de Mel’.
Esta é uma
das partes mais complicadas de abordar por duas razões:
Porque vemos
bastantes histórias que extraem todos os detalhes mórbidos e desesperantes da
relação ao máximo possível. Sensacionalizadas ao ponto que já mal se assemelha
a uma relação abusiva e sim a um maníaco vilão de quadrinhos com seu refém.
A outra
parte é, bem, essa regra pode validar a vontade de muitas pessoas para
trivializar ou romantizar o relacionamento abusivo. Porque, de fato, para
retratá-lo corretamente, temos que nos lembrar destes momentos em que está tudo
“bem”.
O importante
a ter em conta para detalhar esta
fase da relação é que ela é boa no sentido que nenhum comportamento abusivo exterior está acontecendo e que, na
verdade, ela é parte do abuso interno e serve para instalá-lo. É nisso que,
enquanto escritores, temos que nos focar. Não ficar detalhando o ruim ao ponto
de tornar-se apenas absurdo e muito menos detalhar o “bom” exterior ao ponto de
passarmos a mensagem errada.
Portanto,
foque-se que esta época “boa”, tanto faz como seu abusador age para acentuá-la
(presentes, pedidos de desculpas manipuladores, criar planos que a vítima
gostaria, etc.) serve para manipulá-la a pensar que realmente se importa; que
todo o mau que fizeram é apenas parte da relação, que se arrependem e portanto
deixá-la a duvidar mais de si mesma.
No lado da
vítima, ela deve ser retratada num estado de alerta, suspeita e medo de
retaliação. De não querer dizer ou fazer algo errado que acabe com esta fase e,
claro, questionar-se se algo esteve errado para começar.
Ou seja, uma
das partes mais importantes de relatar momentos “bons” nos relacionamentos
abusivos, é conseguir retratar de forma equilibrada e realista o mau que lá se
esconde.
Não acaba quando acaba
Todo o mundo
pensa que o desfecho nobre de um relacionamento abusivo é a vítima escapar, e
coloca o ponto de final, sem parágrafo, a história termina ali. Mas para a
vítima, para o abusador e para todos os envolvidos, o final da união entre as
duas pessoas é apenas o início.
Em relação
ao trauma, ele não desaparece com o abusador. Aliás, normalmente se demonstra
muito mais agudo quando a vítima finalmente se vê livre da relação. Por quê?
Bom, imagine
que você está no meio de um massacre, tiro por todo o lado, tudo o que você
consegue pensar naquele momento é, obviamente, sobreviver: onde se esconder, o
que fazer para escapar ileso e tudo mais. Você tem tempo para processar o
trauma que esta situação te vai causar no meio dela? Claro que não! Pois é, uma
vítima também está nesse estado de sobrevivência durante a relação.
Agora, você
é salvo desse desastre. Finalmente apanham o maníaco que causou toda essa
tragédia, está seguro em casa ou num hospital. Terminou? Vai embora sem nunca
mais pensar nessa experiência? Lógico que não! Uma vítima de abuso vai agir da
mesma forma.
Porque
finalmente têm um lugar seguro para desabar.
E isto é
apenas a parte do trauma, temos que reconhecer todas as outras vertentes e
particularidades que estão acarretadas dependendo do tipo de relação que
escrevermos. Os dois têm filhos ou bens partilhados? Vão ter que resolver isso.
Os amigos e família que apoiam o abusador vão pressionar a vítima? Como a
vítima vai lidar com as pessoas que perdeu por estar isolada por tanto tempo?
Por fim, o
abusador, não pode contar que simplesmente levou a separação de boas. Como ele
vai reagir e retaliar? Como a sua vítima vai se proteger?
É muito para
pensar, muito para explicar, o fim está longe de ser o fim.
Concluindo
Terminamos
mais um post, desta vez mais curtinho e com menos tópicos. A verdade é que para
fazer algo desse tipo onde me foco apenas em padrões e situações gerais de
relações abusivas tive que cortar bastantes coisas. Mas espero que tenha ficado
sucinto e compreensível. Além disso, haverão muitas partes faladas aqui que
fazem mais sentido serem aprofundadas nos seguintes posts.
Hoje
aprendemos algumas dicas de como o relacionamento abusivo se desenvolve, o que
o constitui, e o que o difere dos outros. E, mais importante, como os
escrevemos corretamente.
Espero que
tenha ajudado, e até ao próximo post!
Webgrafia Utilizada
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