Perfil do Nyah: https://fanfiction.com.br/u/159391/
Olá, caros
autores, betas e leitores. Decidi me estrear no blog com uma temática bem de
boa e nada complexa que surgiu no banco de sugestões.
Sendo uma
autora e beta reader que se foca muito em personagens, na maneira como as
pessoas comunicam e nas dinâmicas de relações, era de esperar que esse assunto
fosse tão importante para mim. Inclusive é um dos que eu mais gosto de abordar.
Vamos falar de como retratar corretamente relacionamentos abusivos!
Vai ser uma
série de posts dividida em cinco tópicos:
Desaprendendo e Aprendendo
Anatomia do abuso
Tipos de abuso
A vítima e o abusador
Dicas gerais
Cada um vai
explorar uma vertente diferente do processo de escrever sobre estes
relacionamentos que toda gente cria, quer criar ou já criou, mas quase ninguém
sabe como.
O objetivo
dos posts é oferecer uma perspetiva clara e focada na literatura e
representação destes relacionamentos, ou seja, não vai ser um manual como um
psicólogo faria. Vale dizer que eu não sou psicóloga ou profissional, todo meu
conhecimento vem de experiência própria e muita, muita pesquisa.
Outra coisa:
não vou estar falando de relacionamentos abusivos românticos, mas sim
independentemente da relação entre os personagens. Todo o relacionamento
abusivo, romântico, de amizade, ou familiar tem o mesmo peso potencial para a
vítima e funciona através de mecânicas semelhantes.
Então, sem
mais delongas, vamos lá!
Desaprendendo e
Aprendendo
Talvez
estejam curiosos sobre a razão do título desse tópico. É muito simples.
Se tem uma
parte do meu interesse sobre a interação humana, especialmente em obras fictícias,
já se devem ter perguntado por que existe a necessidade de uma postagem como
esta. Afinal, não deveríamos ter noção do que é um relacionamento nocivo para
nós mesmos e para quem amamos? Não deveria sair naturalmente?
É uma ideia
razoável, mas quando se trata de abuso, as coisas se complicam. As razões
porque isto acontece na vida real são mais complexas. Na ficção, pode ser mais
facilmente explicada.
Ficção é
ficção, podemos explorar muitas coisas que nunca poderíamos na vida real. As
relações entre nossos personagens estão completamente sob nosso controle, pelo
que não estamos magoando ninguém.
Ou seja, no
relacionamento abusivo ficcional, por não envolver pessoas reais, os padrões
são mais alargados ou moldáveis assim como todo o resto na escrita. Isto torna
mais difícil para o escritor saber se aquela temática ou aquele comportamento
já tão disperso no ambiente literário é realmente nocivo enquanto fictício.
Portanto,
desaprender e aprender é o primeiro passo para escrevermos relacionamentos
abusivos.
Para
podermos escrevê-los, vamos ter que nos preparar para reaprender tudo o que a
ficção nos ensinou sobre relacionamentos até agora. Temos que ser críticos de
nós mesmos e do tipo de relação que achamos ideal; das reações, gestos e
interações nocivas às quais perdemos a sensibilidade.
Isto porque
a liberdade mencionada acima torna-nos insensíveis a muitos relacionamentos
abusivos, e mais proeminentemente, comportamentos abusivos.
O problema
não é que tanto os comportamentos idealizados apenas em meios fictícios, mas
que na vida real são abominados. É bom separarmos realidade da ficção, assim
como termos um espaço na para expressar nossas fantasias mais sombrias,
desabafar e tudo mais, sem magoar alguém de verdade.
Mas o que
acontece quando certos comportamentos abusivos estão sendo dispersos e até
mesmo cobiçados tanto em meio real como na média?
Este post
acontece! A grande parte da razão porque escritores têm dificuldade em retratar
relacionamentos abusivos é porque, bom, nos esquecemos de como retratar
relacionamentos saudáveis.
Isso aí,
neste primeiro post, vamos falar do essencial para escrever um relacionamento
saudável. Não se desespere, pois vai ensinar como escrever um não saudável. É
uma base importante para qualquer escritor se limpar das ideias errôneas
expostas a toda hora na média criativa.
Então vamos:
Algo tem que manter os
personagens juntos.
Esse é um
ótimo exercício para identificarmos se o relacionamento que estamos escrevendo
é saudável ou não. Todos nós autores adoramos imaginar o que atraiu nossos
personagens um ao outro, o que gerou aquele romance maravilhoso ou aquela
amizade linda. Mas o que atrai duas pessoas nem sempre é o que as mantêm
juntas.
Então
pergunte-se: o que está unindo essa relação? A novidade de uma presença sempre
vai expirar. O que fica depois é uma das chaves para você decidir que tipo de
relacionamento estará escrevendo. É a confiança, um objetivo em comum?
Provavelmente o relacionamento é saudável. São os ciúmes, o medo de perdê-lx?
Provavelmente o relacionamento não é tão bom assim.
Esse é o
ponto de partida, se está escrevendo um relacionamento abusivo, deve usá-la
também.
Ambos apreciam tempo sem o outro.
Uma
dependência e vontade inebriante de estar ao lado de outra pessoa a qualquer
momento soa muito bem quando romantizada num parágrafo ou frase naquela fic
gostosa do nosso OTP. E é normal que seus personagens quando apaixonados ou com
outro laço muito forte acreditem nisso.
Porém,
quando esta vontade se alarga por páginas e capítulos, e em vez de apenas um
pensamento amoroso do seu personagem é algo que colocam em prática, o
relacionamento já não é saudável. Seus personagens, antes de um casal, amigos,
irmãos, são personagens independentes. Isto é, cada um sabe estar sozinho e,
pois é, com outras pessoas.
Isto inclui
não deixar para trás os amigos antigos. Uma nova relação importante vai demorar
tempo a ajustar-se à rotina. Mas seu personagem não deveria, em ambiente
saudável, perder todo seu círculo social anterior em função de uma pessoa.
Se isto gera
desconforto, ansiedade, ciúmes e discussões entre os personagens, representa um
ambiente extremamente tóxico.
Eles devem estar confortáveis um com
o outro.
Parece
simples, muitas vezes quando ainda se estão conhecendo, algum desconforto ou
constrangimento é normal. A ideia é que, após um bom tempo convivendo e numa
relação estável, se um ou ambos os personagens não sentem que podem ser eles
mesmos na presença do outro, não é saudável. Se estão sempre preocupados que o
que dizem vai ser mal interpretado ou gerar uma discussão, se têm medo de falar
as coisas “erradas”, é um sinal importante que algo não está indo bem.
Um ponto
fulcral numa relação é a intimidade, têm que haver barreiras quebradas e nenhum
dos personagens deveria sentir que tem que seguir um certo padrão ou eliminar
certos comportamentos para estar em convivência com a outra pessoa.
Não esquecer
que a confiança tem que vir em medidas iguais em ambas as partes, assim como o
respeito e conforto.
Vamos acalmar os controladores.
Se um dos
personagens está seguindo o outro, invadindo sua privacidade e governando
certos ou todos os aspectos de sua vida; se está metendo a mão em decisões que
o outro personagem tem toda a independência e maturidade para tomar sozinho,
algo está errado. Não importam as intenções nobres de “não quero que algo lhe
aconteça” e afins, é estranho e atitude de maníaco.
Os
personagens devem respeitar a autoridade que cada um tem sobre si próprio e
seus limites. Se ultrapassa os conselhos ou opiniões, especialmente sem o
consentimento do outro, não é saudável.
Ciúmes e atitudes possessivas
desproporcionais.
Ciúme é um
dos sentimentos mais dispersos e mal interpretados em qualquer relacionamento
fictício. E, infelizmente, também modelou a maneira como vemos relacionamentos
na vida real. O ciúme não é automaticamente mau, especialmente nas fases
iniciais de um relacionamento onde tudo ainda é incerto e instável. Mas se os
seus personagens estão juntos há um bom tempo e ainda não confiam um no outro
para estar com outras pessoas, assumem que todo o mundo vai roubar o seu lugar
ou que vai ser substituído, é um mau sinal.
A mesma
regra vale para os comportamentos possessivos, que são muito romantizados por
aí. “Eu sou dele, e ele é meu.” coisas do gênero, assim como a vontade de estar
ao lado um do outro a toda a hora, são bonitas quando usadas de forma
figurativa e esporádica. Porém, agir como se a personagem fosse sua propriedade
e que as outras querendo estar em sua presença estão a “cobiçando” não é legal.
Sem jogos mentais.
Mais um
tópico que deveria nem ser mencionado, e é verdade que quase todos os escritores
e leitores entendem a ideia. O que muitas vezes nos confunde é o que se
enquadra como jogos mentais.
Jogos
mentais incluem fazer perguntas para a qual não existem respostas certas;
chantagem se uma das pessoas expressa querer sair da relação; trivializar os
sentimentos do outro; tratar o outro personagem como inferior ou fraco e também
culpar o outro embora saiba que tenha sido o culpado.
Coisas como:
“Você acha que eles te amam mais que eu?”; “Eu não iria conseguir viver se você
me deixasse.”; “Você que não me entendeu.”; “Você não consegue fazer isso
sozinho, eu faço.”; “Você que me provocou.” respectivamente.
Existem
situações, claro, que se assemelham ou geram diálogo como o anterior sem serem
nocivas. Porém, se é sistemático e com a pura intenção que mencionei parágrafos
acima, algo está errado.
Concluindo
Agora que
revemos o que torna uma relação saudável, temos toda a base necessária para
criticarmos e analisarmos as relações abusivas que pretendemos escrever. Isto
porque vamos ter noção de como construir a relação abusiva de uma forma
realista e também evitar escrever relações tóxicas sem intenção.
Queria
apenas finalizar com: Nem todos os
relacionamentos não saudáveis são automaticamente abusivos. Isso é uma
distinção que vou discutir melhor mais à frente. Todas as relações têm
problemas, portanto se seus personagens estão com dificuldades num ou dois
pontos daqui, isso ainda enquadra como um desafio para ambos resolverem juntos.
Existem
fatores como transtornos psicológicos, inseguranças e personalidades
incompatíveis que podem tornar um relacionamento disfuncional. Disfuncional não significa abusivo,
pois existe maneiras de consertar os problemas com tempo, apoio e terapia sem
separar os personagens.
Espero que
tenham gostado, quaisquer dúvidas podem perguntar embaixo. Até o próximo!
Bibliografia Utilizada
http://www.springhole.net/writing/write-healthy-relationships.htm
Muito bom! O problema é que as às vezes, autores querem retratar relacionamentos normais e, sem querer, acabam os escrevendo como abusivos (na mídia isso acontece o tempo todo e se não tomar cuidado, acabamos absorvendo isso para nossas próprias histórias.).
ResponderExcluirMuito obrigada pela leitura!
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