Por: Asthera Maxwell
Olá, pessoas!
Aqui estou eu, tia Asth, estreando no blog da Liga com um
tema que conforme o tempo passava, mais eu queria pedir para trocar porque o
assunto é delicado, rs! Vamos falar de Personagens carismáticos! Há vários
cursos e posts por aí dizendo como construir um, inclusive um que dá uma boa
base para isso é o da Raven
Hraesvelg, "Como
desenvolver Personagens", deem uma olhadinha lá porque posso dizer que
este é apenas um complemento!
Serei direta aqui. Minha tese é que não existe segredo para
criar um personagem carismático. Mas personagens carismáticos cativam, então,
vamos primeiro compreender o que significa cativar e como isso se insere no
mundo da escrita, depois as visões mais frequentes de como cativar o leitor. Vem
comigo!
1 – O QUE É CATIVAR
"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que
cativas", quem se lembra dessa frase?
Pois bem, Exupéry expressou corretamente o significado da
palavra de forma simples. Cativar significa tornar-se cativo de algo,
prisioneiro, ou como definiu o tio Google "tornar(-se) cativo;
prender(-se) física ou moralmente a; sujeitar(-se)", "guardar em seu
poder; reter, conservar".
Esse termo também está relacionado ao ato de "ser
carismático" e “ser líder”. Líderes carismáticos cativam seu público,
independente das opiniões e/ou comportamentos que tenham. Se eles cativam,
significa que uma parcela de pessoas se identifica e os seguem para onde for.
Se a pessoa consegue prender sua atenção, te envolver,
convencer a fazer o que ela quer e/ou pensar da mesma forma, mesmo que você não
perceba que está sendo coagido a fazê-lo, isso é cativar.
2 – O QUE É CATIVAR
NO MUNDO DA ESCRITA
E quando transferimos isso para o mundo da escrita?
Pois bem, acima de tudo, livros são mundos que o autor
compartilha conosco. Neles, o escritor é onipresente, onisciente e onipotente,
então os leitores sentirão o que ele quer eles sintam. Quando o escritor faz
tudo direitinho, sentiremos o que o autor quer que sintamos, ou seja, estaremos
cativados pelo que aquele livro nos conta. Quando isso acontece com milhares de
pessoas, temos o best-seller.
Em uma história, os elementos que nos cativam são os
personagens. Para isso acontecer (ou como dizem: para comprarmos a ideia que o
autor quer nos passar), há várias maneiras, mas pelas minhas leituras e pesquisas,
identifiquei quatro formas de os personagens se mostrarem carismáticos.
3 – VISÕES DE COMO CATIVAR
O LEITOR: ESTUDOS DE CASO
Importante ressaltar que a maioria dos exemplos que cito
aqui uso como referência apenas os filmes e o que vi de spoiler dos livros.
Como sabemos, há diferenças entre as formas as quais as pessoas retratam um
mesmo personagem. Eu poderia usar exemplos mais clássicos, mas para ajudar o
pessoal a se situar, quanto mais recentes, melhor.
3.1 – DEFEITOS
Atualmente, esta é a visão que está em voga. A gente não se
identifica com aqueles personagens perfeitos, que não cometem erros de vez em
quando. A visão pós-moderna talvez tenha um dedo nisso, tratando as coisas de
forma mais crua e fazendo com que as vejamos como realmente são e não como
deveriam ser.
Porém, isso se torna uma contradição, pois desde crianças
nosso comportamento é moldado por concepções já existentes que os adultos
consideram ideal (como deveria ser), em vez de, por exemplo, sermos forçados a
voar do ninho com poucos dias de vida, como fazem os pássaros (como as coisas
são).
Estes valores variam de cultura para cultura, então não
haveria uma estrutura fixa capaz de ditar o que é um defeito ou qualidade em
uma pessoa.
Exemplos de personagem: Haymitch Abernarthy e Gale (Jogos
Vorazes).
Essa vertente de identificação foi a principal responsável
pela migração massiva de leitores para o lado dos anti-heróis e vilões, ou como
se popularizaram, bad boys. Essa categoria de personagem é o que eu chamo de
repaginada do "se não puder ser os dois, é melhor ser temido do que
amado", dito por Hobbes.
Tanto que é por isso que vemos por aí a enxurrada de homens
dizendo para as mocinhas "ficarem longe, porque não são homens para
elas".
3.2 – QUALIDADES
Aqui a gente se rende mais pela qualidade do personagem do
que por seus defeitos. Em geral, essa visão serve como suporte da primeira, com
um personagem para balancear o outro e, quem sabe, servir como elo emocional
dele. O problema é quando esse tipo de visão recai sobre o protagonista,
tornando-o "plano" e sem muitas motivações para fazer a história
desenrolar.
Exemplos aqui seriam Arthur Pendragon (As Brumas de Avalon)
e Peeta Mellark (Jogos Vorazes).
Arthur, na história, tem um caráter meio messiânico por sua
função de salvar a Bretanha, servir como elemento unificador, baseado na
estratégia do símbolo nacional. Sua aparência também não deixa a desejar, seu
caráter muito menos. O cara perfeito que parcela da mulherada adoraria ter como
namorado, não tem defeito nenhum! Atualmente, quando um marido descobre que a
esposa está dormindo com outro, pelo menos um deles vai parar na delegacia.
O que o Arthur faz quando percebe o feeling entre Lancelot e
Guinevere? Chamou o Lancelot pro ménage!
Certamente esse último aspecto faria muitas mulheres adeptas
do relacionamento aberto urrarem de alegria, mas seu perfil permissivo, estável
na linha de desenvolvimento de personagem, diplomático e passivo, oposto ao de
sua irmã Morgana (inclusive amo muito, maravilhosa <3), enjoaria as mais
espirituosas.
No caso do Peeta, tanto no livro quanto no filme, tudo é
narrado pela Katniss, então só temos a visão dela. O que vemos de defeito no
Peeta? Nada. Vemos umas falhas aqui e acolá desenvolvidas pela lavagem cerebral,
mas nada ao ponto de ele se encaixar no modelo de identificação 3.1. No final
do livro mesmo, Katniss diz que precisava da tranquilidade do Peeta e não da
personalidade explosiva do Gale, porque ela, assim como o Gale já tinha fogo de
sobra.
Como eu disse lá em cima, a ideia da criação do Peeta era
complementar a Katniss, o foco era nela, então não se preocuparam muito em
desenvolver os defeitos dele. Ao ser o bastião da humanidade, humildade, da
gentileza, da proteção e da devoção, traços que em geral são as personagens
femininas que incorporam na literatura, a mulherada se encanta. E o povo gosta
dele mesmo assim, contradizendo o que atualmente o pessoal, entre outras
palavras, diz sobre "o que o leitor quer é ver pessoas nas histórias, quer
ver falhas". Ele te cativou?
Atualmente, o papel do herói está um pouco defasado. Grande
parte pelo modo como as pessoas se agarram à estrutura da Jornada do Herói e
saturam o tema, mas isso já é assunto para um outro post <3
3.3 – CONTEXTO
SOCIOPOLÍTICO
Como estávamos dizendo, antigamente o que cativava era o
herói. Pode ser que alguns gatos pingados digam que preferiam os vilões, mas a
verdade é que na infância a tendência por gostar dos mocinhos é maior. Hoje,
com a onda de popularidade dos vilões e anti-heróis, conclui-se que a população
está mais consciente de que nem sempre somos obrigados a sermos o melhor que
pudermos, podemos simplesmente ser. Sem motivações para agirmos como heróis (já
que né, a única recompensa no fim será a morte), mas também sem razões para
agirmos feito bobos pelo resto da vida.
As histórias de antigamente serviam para disciplinar
crianças, então seguiam padrões que hoje não cativam mais as pessoas.
O que cativa hoje é aquele personagem falho e que reconhece,
tenta lidar com isso e, se possível, superar. Por que essa mudança de gosto em
tão pouco tempo? Eu digo, muito mais do que falhas do personagem, é o contexto
sociopolítico.
Reflitamos, o que pode ter mais chance de cativar um leitor
hoje, uma protagonista feminina ou masculino? E se essa protagonista feminina
seguir a curva decrescente do desenvolvimento de personagem, chamará mais a
atenção do que um protagonista masculino que segue a linha crescente?
Muitos dirão "ah, depende do desenvolvimento da
história". Nossas convicções influenciam no conceito de cativar, porque
nos identificamos com o personagem e com o contexto em que ele está inserido.
Por isso, muitas vezes o pessoal prefere os personagens secundários, pois eles
não estão presos àquela obrigação de salvar a todos no fim, então há um espaço
maior para o inesperado, coisa que o protagonista não tem.
Exemplo? Toma: Severo Snape. Nos primeiros anos em que os
leitores descobriram sobre o passado do Snape, suas convicções e motivações,
não faltava gente na internet chorando horrores por conta de Snape x Lily. Um
anti-herói em sua essência, mas herói de qualquer maneira. Tempos depois, com a
voz feminina se fortalecendo, como Snape é visto agora? Toda essa ideia de
herói foi para o espaço, pois ele é visto como um cara com fortes tendências a
relacionamento abusivo. Ele te cativou?
Outro exemplo? Rue. É uma criança, negra, tinha tudo para
ser uma baita candidata a vencedora dos jogos se não tivesse se aliado à
Katniss (só vi o filme, então acho que se ela tivesse ficado escondida o tempo
todo, nada daquilo teria acontecido). Esse conjunto de fatores pesa na nossa
visão, ainda mais considerando o cenário étnico brasileiro e o debate acerca
disso. Ela te cativou?
Outro exemplo mais recente? Thanos. Quem assistiu Guerra
Infinita viu a vibe Malthusiana que permeou o propósito dele. Ele te cativou?
O modo como os personagens reagem a essas situações também
presentes no nosso dia a dia faz com que nos afeiçoemos.
3.4 – ESCOLHAS (AKA:
"NÃO SÃO NOSSAS CARACTERÍSTICAS QUE DEFINEM O QUE SOMOS, SÃO NOSSAS
ESCOLHAS")
Essa frase do Dumbledore define o propósito do post de hoje.
Um dos problemas que enfraquecem os personagens atualmente é
justamente esse ponto. Na vida, algumas vezes precisamos escolher entre duas
coisas que não podemos ou queremos abrir mão.
Porém, nas histórias esses momentos se tornam mais fracos
porque o personagem é geralmente posto para escolher entre algo bom ou ruim,
são decisões previsíveis e se reforçadas pela Jornada do Herói, podem matar a
sua história, o leitor já saberá o final assim que o primeiro ato acabar.
Segundo Truby (2007), escolhas são resultados de possíveis
dilemas morais do personagem. Porém, muitos autores dão a ele uma "fake
choice", onde ele é posto para escolher entre algo que resulte em algo bom
ou em algo ruim. Um exemplo que Truby cita é: você força seu personagem a
escolher entre ir para a prisão ou conquistar a garota. A escolha aqui é óbvia.
Para ser um verdadeiro dilema moral, seu herói precisa
escolher entre dois resultados bons ou, em situações piores, evitar o
"menos pior" entre duas escolhas ruins.
Exemplo? Peguemos o Peter Pettigrew: No terceiro livro de
Harry Potter ele fugiu em busca de seu mestre. No quarto, vemos que ele tem
cuidado de Voldemort desde então. Nesse intervalo de tempo, Peter podia ter
fugido. Mas entre ser caçado por Comensais por sua covardia, pelas autoridades
bruxas por sua traição aos Potter e perder uma mão para ajudar Voldemort a
reviver, já sabemos o que foi menos pior. Ele te cativou?
(Depois que ele se redimiu nos últimos livros, não duvido
que tenha cativado)
4 – CONCLUSÃO
Bem, o que aprendemos hoje?
Sua parte como escritor, na hora de construir um personagem
carismático é desenvolver relacionamentos sólidos dele com os outros,
motivações fortes para suas ações, independente se o que predomina nele são
comportamentos ditados por suas qualidades ou defeitos.
Não tenha medo de inserir assuntos “atuais” no enredo, se
quiser e convergir com o que você quer escrever. Isso pode motivar o autor a
pensar sobre o assunto e inclusive acender uma faísca para comentar. Quando o
personagem lidar com aquilo, poderá despertar ódio ou aprovação do leitor e é
isso que você quer, arrancar uma reação dele. Em determinado ponto, será mais
sobre "como o público recebe o personagem", baseado em suas
vivências, do que "como você o transmite" ao escrever.
Então é isso, pessoal, espero que tenha sido útil e se tiver
qualquer dúvida, só comentar! Estamos aqui para acompanhá-los nessa empreitada
<3
REFERÊNCIAS:
TRUBY, John. The
Anatomy of the Story: 22 steps to becoming a master storyteller.
Que post incrível e informativo, a forma como os exemplos foram usados foi bem didática! Parabéns!
ResponderExcluirObrigada pela leitura!
Excluirficou muito bom o post, obrigada!
ResponderExcluirMuito obrigada pelo comentário :)
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