Por: Nat King
Perfil no
Nyah!: https://fanfiction.com.br/u/271972/
“Livro bom, para mim, só de
quinhentas páginas para cima!”
“Duzentas páginas nem é livro de
verdade!”
“George R. R. Martin é rei!”
Quantas dessas expressões você já
ouviu ou leu? Ou, ainda, quais delas você já usou?
Não é errado termos como
preferência uma história que rende facilmente centenas de páginas, ou sermos
atraídos por livros de lombadas largas que poderiam facilmente substituir
tijolos em uma construção… O problema mora na ideia de que apenas esse
tipo de livro é digno de atenção, em uma substituição de “julgar o livro pela
capa” com o “julgar o livro pelas páginas”.
Com o passar do tempo, essa busca
por milhares de palavras, estendeu-se às histórias digitais, o desejo de que
nossas fanfics somassem tantas palavras quanto nossos trambolhos literários
preferidos cresceu e, com ele, muitos de nós nos tornamos profundamente
críticos quanto o que chamamos de rendimento. Afinal de contas, quantos de nós
já finalizou um capítulo com tudo o que queríamos passar, tendo como soma final
de palavras, desapontadoras duas mil? Às vezes nem isso! E quando sequer chega
perto de mil? A morte! Vergonha para toda uma classe de escritores! Machado de
Assis, se já não estivesse morto, cairia duro no chão, tamanha desgraça! Camões
mudaria inclusive o curso, se esbarrasse com você na rua! José Saramago,
então?! Clarice Lispector com toda certeza morreria, ela e seus dois
pseudônimos.
Mas gente, calma, desde quando nos
tornamos tão obcecados com isso?
Embora ainda hoje haja uma briga
sobre o que é ser escritor de verdade (e termos nossas fanfics atacadas como se
não fossem válidas no clubinho literário), nós mesmos temos nos cobrado criar
histórias cada vez maiores e mais complexas, como se elas pudessem compensar a
falta de credibilidade que muitas vezes nosso nome no Nyah provoque.
Estipulamos tipo de enredo, mínimo de palavras, migramos de plataforma com a
esperança de sermos levados mais a sério e, quando percebemos, o que começou
como um prazer, tornou-se uma obrigação, uma briga de ego que culmina em um
estresse desnecessário e textão nos grupos literários, questionando com
profunda indignação: POR QUE FANFIC TAL TEM MAIS COMENTÁRIO DO QUE A MINHA
HISTÓRIA SUPER INCRÍVEL E MARAVILHOSA??
Hey, calma lá, vamos conversar,
fera, senta aqui e respira! Calma, eu não estou te julgando! Calma, eu não acho
que você está tendo um chilique desnecessário! MEU DEUS DO CÉU, ABAIXA ESSA
PEDRA!!
.
.
.
Já é seguro me manifestar?
Prezada pessoa que escreve, eu não
estou aqui para condenar sua frustração ou medir quando pode sentir isso, pelo
contrário! Eu também acho frustrante ver história minha sem nenhum comentário e
poucas visualizações… Também torço com todo meu coraçãozinho para os leitores
fantasmas se manifestarem! E, principalmente, eu também comparo meus capítulos
de mil e oitocentas palavras (ou menos) com aquela mega fanfic que cada
capítulo estoura o limite de vinte mil palavras estipulado pelo Nyah. É onde
mora o perigo.
Para muitos escritores, fazer uma
ideia simples render capítulos enormes, é de uma naturalidade imensa. A escrita
flui, os dedos se agitam no teclado e, em uma única sentada, está pronta uma
cena cheia de detalhes, que transmite até mesmo cores e sabores… E a descrição
nada mais foi que uma pessoa saindo da cama de manhã. Esse escritor é
maravilhoso? Claro que é! Porém, não pela sua facilidade em fazer de cada
capítulo um Game of Thrones tupiniquim, mas o de transmitir o que deseja
naqueles parágrafos. E isso também é possível através de mil palavras,
oitocentas, cem! As drabbles estão aí para provar o meu ponto!
O que muito acontece, nessa nossa
busca de consolar a frustração em não atingirmos as metas absurdas estipuladas
por nós mesmos, é a perigosa “encheção de linguiça”, o acréscimo de cenas
desnecessárias que parecem segurar a história ou empurrá-la com uma enorme
barriga, acompanhado ou não do uso de um palavreado rebuscado que estiquem suas
linhas e aumente a contagem de palavras. Se antes achávamos estar pecando pela
falta de texto, acabamos pecando pelo excesso de detalhes e aquela pessoa que
tão naturalmente saía da cama de manhã com sete mil palavras, se arrasta sem
nenhuma vontade de viver naquele amontoado de palavras que você forçou. Se nem
ela está feliz, imagine seus leitores.
Imagine você.
Novamente, não é errado ter
preferência por histórias mais compridas, tem até quem só procure fanfics com
no mínimo quatro mil palavras por capítulo, sempre vejo fazerem esse tipo de pedido!
E também, há quem prefira ler coisas mais curtas, como drabbles! Acho que vai
da nossa preferência pessoal e parte dessa inconformidade em “escrever pouco”
vem dessa nossa crença de que livro bom é livro comprido, mais de quatrocentas
páginas, livro grosso que dê para enxergar a lombada de longe, como Harry
Potter e as Relíquias da Morte. Mas quem só vê valor na quantidade de
palavras de Relíquias da Morte, se esquece que A Pedra Filosofal nem foi
tão comprido assim... Certas obras, como A Hora da Estrela, não
precisaram de mais que noventa páginas para marcar gerações, ou ainda Edgar
Allan Poe, com tantas obras em seu nome, teve ele gravado na história pelo
memorável “Nevermore”, o “Nunca Mais”. Então não se preocupe com a quantidade
de palavras que escrever, importe-se que, no fim, sua criação esteja do seu
agrado. Tenho certeza de que você é capaz de transmitir tudo o que deseja, seja
em vinte mil palavras, seja em cem.
Continue escrevendo. Continue
criando. Celebre cada nova criação; nenhum outro seria capaz de fazer o que
você está fazendo. Sua escrita é boa o bastante e nenhum contador de palavras
pode medir isso por você.
Maravilha...entendi tudinho. Eu prefiro textos curtos, muito curtos. Gostei da citação de Á Hora da Estrela e de Poe . Lembro também de O Estrangeiro...Camus. Tudo condensado em poucas palavras.
ResponderExcluirBjs!
Muito obrigada mesmo pela sua dica ( se me permite dizer ), as vezes fico revisando e vendo as histórias que escrevo, em que alguns capítulos estão curtos demais, então leio e releio é as vezes o números de palavras aumenta em outras historias, porque meu conhecimento aumentou também, o jeito que eu escrevia é as coisas que eu sabia quando comecei a escrever, não são as mesmas de agora já que peguei "experiencia" por assim dizer. Quando olho minhas " antigas" fanfics, vejo o quanto estou crescendo e aprendendo a cada dia, que escrever um capitulo com 500 palavras não é um problema, desde que você passe tudo que deseja para os mais importantes. Os leitores.
ResponderExcluirUao que post maravilhoso, eu estava precisando ler isso, adorei a publicação, arrasou!
ResponderExcluirNat King!! Lembra de mim? Sou a autora daquela one-shot maluca, Arrão ou Ferroz :3
ResponderExcluirÉ engraçado como, ao mesmo tempo que existem escritores tentando valorizar seu trabalho acrescentando palavras, há escritores que aconselham a cortá-las, ao ponto de alguns como Carlos Drummond de Andrade adotarem a frase "Escrever é cortar palavras" como uma máxima. Também sigo uma youtuber que é uma autora publicada, e ela diz que se a informação não está acrescentando nada, se não está desenvolvendo seu personagem nem o enredo, melhor cortar. O exemplo dela foi descrever quando o personagem está escovando os dentes no banheiro. Realmente, ninguém quer saber sobre a higiene matinal de seu personagem a não ser que, sei lá, a pasta de dentes esteja envenenada. Às vezes escrever demais acaba deixando a história monótona, deixando não só o leitor desanimado para ler, como também o autor.
Eu não sei se é um problema que muitos escritores têm, mas existe partes da minha história que eu não vejo a hora de passar para poder chegar logo na parte legal, que vou gostar de escrever. Venho bolando uns macetes para evitar o cansaço. Por exemplo, eu li uma história em que um personagem vai passar as férias num lugar afastado, mas a partida e chegada não eram relevantes, então a autora só passou brevemente por cima disso antes de chegar na cena que realmente interessava na história, em que os personagens estavam sentados num sofá, entediados, e um garoto encharcado pela chuva batia na porta deles. No lugar do autor eu já iniciaria a história com os personagens no sofá e depois explicaria brevemente como eles tinham ido parar ali antes do garoto bater na porta.
Infelizmente, nem tudo eu consigo resolver dessa forma e às vezes acabo olhando para a tela vazia do Word, pensando em como vai ser chato ter que escrever tudo aquilo antes das grandes revelações. Em como eu deveria estar escrevendo muita coisa ali e não sei o quê. É por isso que no meu perfil do Niah só tem one-shots e histórias curtas. Não que eu não goste delas, eu as amo, mas eu gostaria de ser capaz de escrever outro tipo de história pra evoluir como escritora.
Talvez eu tenha desviado de assunto, mas eu ia adorar ler alguma coisa que me ajudasse a enfrentar esse tipo de situação aqui no blog da liga. Não é um bloqueio criativo, é só... Uma empacada em alguma parte da história, geralmente quando já se descreveu a situação inicial dos personagens e é preciso desenvolvê-la.
Vou adicionar a tua sugestão ao nosso banco!
ExcluirObrigada pelo comentário!