Por: SayakaHarume
Hallo,
filhotes~
Bem,
pra quem não me conhece, eu sou uma sofredora
acadêmica de psicologia, e durante meu percurso no mundo das
fanfics, encontrei muitas com personagens que possuíam algum tipo de
distúrbio mental e precisavam ir ao psiquiatra/psicólogo.
O
que pode enriquecer muito um texto, também pode deixá-lo fraco, se
não tratado devidamente. Já vi vários distúrbios explicados e
mostrados de forma incorreta, pendendo para um estereotipo que eu não
acho legal incentivar, por que existem pessoas de verdade com esses
problemas, e não sabemos quantas estão do outro lado da tela, lendo
nossos textos.
Porém,
nada está perdido! Estou trazendo aqui alguns dos distúrbios que eu
mais vi aparecerem nas fanfics que li por aí. Vou tentar deixar o
mais explicado e simples possível :P
Não
posso falar muito sobre a psiquiatria, além de que, como acredito
que todo mundo saiba, ela é uma especialização da medicina e
exclusiva da medicina. Já cruzei com pessoas que achavam que quem se
forma em psicologia pode fazer psiquiatria, mas não.
Já
sobre a psicologia... Só tenho amor por isso. Porém, não se
prendam ao velho conceito de deitar no divã. O divã é exclusivo da
psicanálise, que é apenas uma parcela de um todo. Na psicanálise,
o terapeuta não faz contato visual com o indivíduo para não chamar
a atenção para si e deixar o indivíduo fazer a associação de
ideias que quiser, falar o que quiser. Nas outras correntes da
psicologia, já não temos muito disso. É valorizada a
transferência, o olho no olho. Não que as outras correntes sejam
melhores, são apenas diferentes, abordagens diferentes. Só quero
mostrar aqui que nem só de divãs se fazem as terapias.
Sobre
o termo de confidencialidade acredito que todos já sabem: o que é
falado no consultório, fica no consultório, exceto em poucos casos:
- O indivíduo é menor de idade (porém, nesses casos, o psicólogo só fala o quadro geral do cliente e como a família pode ajudar, o que é dito por ele fica em segredo);
- Quando há risco de vida para o cliente (indivíduos que mostram ideação suicida);
- Quando há risco para terceiros;
- Quando alguém confessa algum crime no consultório (o psicólogo tem que reportar ao Conselho Regional de Psicologia).
Porém,
nos dois primeiros casos, o indivíduo é informado que o psicólogo
vai conversar com a família, e o psicólogo tem que tranquilizar o
cliente quanto a isso, valorizando o laço de confiança criado entre
eles. No terceiro caso, dependendo do tipo de risco que o indivíduo
representa, o psicólogo tem que tomar cuidado para que não se torne
um alvo. No quarto caso, o psicólogo agirá segundo as orientações
do CRP.
No
SBLAN, grupo de interação entre a Liga dos Betas e a comunidade do
Nyah!, alguns meses atrás eu fiz uma pesquisa a respeito dos
distúrbios sobre os quais mais tinham dúvidas na hora de escrever e
fiz uma lista para explicá-los em uma série de três artigos.
Neste, vou falar sobre a Bipolaridade e o TOC. Apenas dois para o
artigo não ficar muito extenso e cansativo, mas estão previstos
para os próximos artigos sete distúrbios!
Antes,
algumas explicações: na corrente psicológica que eu sigo, o
Humanismo, não chamamos o indivíduo de paciente, já que a pessoa
não é passiva em seu tratamento, nós chamamos de cliente, e vai
ser assim que vou chamar no decorrer do artigo.
Deixando
claro que tentarei usar o mínimo possível de termos clínicos, mas
algumas vezes, terei que recorrer a eles. Por isso, peço que deixem
seus pré-conceitos sobre a psicologia e tudo que a envolve bem aqui,
porque os significados desses termos, muitas vezes são bem
diferentes do significado “popular”. Nesse artigo, três desses
termos clínicos foram, para mim, impossíveis de traduzir no texto
corrido, então, trago a “tradução” aqui:
Episódio
Maníaco
– Também chamado em alguns textos de Mania,
é
um distúrbio
mental definido
como um período distinto, durante o qual existe um humor anormal e
persistentemente elevado, expansivo ou irritável. É
característico, embora não exclusivo, do transtorno
bipolar no
qual os episódios maníacos alternam com episódios
depressivos.
Episódio
Hipomaníaco
– Também chamado de Hipomania, é
uma alteração de humor semelhante
à mania,
porém com menor intensidade. A pessoa se sente muito bem, com
bastante energia. Normalmente a necessidade de sono diminui e
a libido aumenta.
Episódio
Depressivo Maior
– Não é a Depressão Nervosa em si. Diferencia-se
do humor "triste", que afeta a maioria das pessoas
regularmente, por se tratar de uma condição duradoura (a maior
parte do dia, quase todos os dias, pelo menos 2 semanas), de maior
intensidade ou mesmo por uma tristeza de qualidade diferente da
tristeza habitual, acompanhada de vários sintomas específicos e que
trazem prejuízo à vida da pessoa.
Por
favor, não se autodiagnostiquem caso se identifiquem com alguns
sintomas.
TRANSTORNO
BIPOLAR
Transtorno
Bipolar é um distúrbio complexo. Sua característica mais marcante
é a alternância, às vezes súbita, de episódios de depressão com
os de euforia (maníaco e hipomaníaco) e de períodos assintomáticos
(sem sintomas) entre eles. As crises podem variar de intensidade
(leve, moderada e grave), frequência e duração. As flutuações de
humor têm reflexos negativos sobre o comportamento e atitudes dos
indivíduos, e a reação que provocam é sempre desproporcional aos
fatos que serviram de gatilho ou, até mesmo, independem deles.
Em
geral, essa perturbação do humor se manifesta tanto nos homens
quanto nas mulheres, entre os 15 e os 25 anos, mas pode afetar também
as crianças e pessoas mais velhas.
Clinicamente,
existe mais de um tipo de Transtorno Bipolar que podem vir a serem
diagnosticados no cliente: transtorno bipolar tipo I, transtorno
bipolar tipo II, transtorno ciclotímic e outros mais raros que
não tratarei nesse artigo.
Transtorno
Bipolar tipo I:
É o que antigamente, nos primórdios das descobertas dos distúrbios
mentais, se chamava psicose afetiva. De lá pra cá, foi descoberto
que não há exigência de psicose ou de experiência na vida de um
episódio depressivo maior, ainda que, a maioria dos indivíduos que
são diagnosticados, tenham tido episódios depressivos maiores
durante sua vida.
Para
o diagnóstico dessa modalidade do transtorno, é necessário o
preenchimento de alguns critérios para um episódio maníaco e pode
ser antecedido ou seguido por episódios hipomaníacos ou depressivos
maiores, ainda que não seja regra.
Episódio
maníaco:
Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado,
expansivo ou irritável, e aumento anormal e persistente da atividade
dirigida a objetivos ou da energia, com duração mínima de uma
semana e presente na maior parte do dia, ou quase todos os dias.
Traduzindo:
Por uma semana ou mais, o indivíduo fica com o humor facilmente
irritável e expansivo, com a bateria ligada no máximo, durante a
maior parte do dia, na maior parte dos dias da duração desse
episódio.
Durante
esse período, três (ou mais) dos seguintes sintomas estão
presentes em grau significativo e representam uma mudança notável
do comportamento habitual:
- Autoestima elevada ou grandiosidade;
- Redução da necessidade de sono (p. ex., sente-se descansado com 3horas de sono);
- Mais falante que o habitual ou pressão para continuar falando;
- Fuga de ideias ou sensação que os pensamentos estão mais acelerados;
- Distrabilidade (a atenção é desviada muito facilmente por estímulos externos insignificantes);
- Aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no trabalho ou escola, ou mesmo sexualmente) ou agitação psicomotora (atividade sem propósito não dirigida a objetivos);
- Envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para consequências dolorosas, como: surtos desenfreados de compras (e não se trata de consumismo. É sair comprando coisas sem motivo algum. Já vi um estudo de caso de uma mulher que saiu de casa para comprar uma cortina e comprou um carro), indiscrições sexuais ou investimentos financeiros insensatos, e por aí vai.
Essa
perturbação no humor é suficientemente grave a ponto de causar
prejuízo no funcionamento social ou profissional do indivíduo, ou a
ponto de necessitar de hospitalização para evitar dano ao cliente
ou a terceiros.
O
episódio não é atribuível aos efeitos de substâncias (p. ex.,
abuso de drogas ou medicamentos, etc.)
Episódio
Hipomaníaco:
Em comparação ao Episódio maníaco, as diferenças se dão em
relação à duração (neste tipo de episódio são no mínimo
quatro dias), está associado a uma mudança clara no comportamento
do indivíduo, tanto que elas são observadas mais claramente por
terceiros, mas o episódio não é tão grave a ponto de causar
prejuízos ao indivíduo.
Episódio
Depressivo Maior:
Quando cinco (ou mais) dos seguintes sintomas persistem durante duas
semanas e representam mudança de comportamento; pelo menos um dos
sintomas é humor deprimido ou perda de interesse ou prazer (tem que
ter pelo menos um desses dois!):
- Humor deprimido (em crianças e adolescentes pode ser humor irritável);
- Acentuada diminuição de interesse ou prazer em todas, ou quase todas, atividades na maior parte do dia, quase todos os dias;
- Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta;
- Insônia ou hipersonia (sonolência excessiva) quase diária;
- Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observável por outras pessoas; não apenas sensações de inquietação ou de estar mais lento);
- Fadiga ou perda de energia quase todos os dias;
- Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que pode ser delirantes – sem motivo) quase todos os dias (não apenas autorrecriminação ou culpa por estar doente);
- Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão quase todos os dias;
- Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida recorrente sem plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio (dependendo da intensidade do episódio).
A
principal diferença entre os Transtornos
Bipolares I e II
é que, no primeiro, há o Episódio
Maníaco,
enquanto no tipo
II,
há os episódios
hipomaníaco
e
depressivo maior.
Também, o tipo
II
caracteriza-se por episódios de humor recorrentes, mudando de um ou
mais episódios
depressivos maiores
e pelo menos um hipomaníaco.
No tipo
I,
a existência desses outros dois tipos de episódios não são
obrigatórias.
Entre
esses dois, não há um considerado mais leve ou mais grave, já que
são casos diferentes. A euforia e irritação do tipo
I
é mais forte, enquanto no tipo
II,
prevalece a depressão e euforia em formas mais brandas.
Transtorno
Ciclotímico:
É
o quadro mais leve do transtorno bipolar, marcado por oscilações
crônicas do humor, que podem ocorrer até no mesmo dia. O paciente
alterna sintomas hipomaníacos e de depressão leve que, muitas
vezes, são entendidos como próprios de um temperamento instável ou
irresponsável. Outras características:
- Por pelo menos dois anos (um ano em crianças e adolescentes), presença de vários períodos de sintomas hipomaníacos que não satisfazem os critérios de episódio hipomaníaco (são menos de três sintomas) e vários períodos com sintomas depressivos que não satisfazem os critérios de episódio depressivo maior (são menos de cinco sintomas);
- Durante o período citado em A, os períodos com sintomas hipomaníacos e depressivos estiveram presentes por pelo menos metade do tempo, e o indivíduo não permaneceu sem os sintomas por mais que dois meses consecutivos;
- Os critérios para episódios maníacos, hipomaníacos ou depressivos maiores nunca foram satisfeitos;
- Outros distúrbios como esquizofrenia e outros transtornos psicóticos foram descartados;
- Os sintomas não são atribuíveis a efeitos de substância;
- Os sintomas causam sofrimento ou prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
Ufa!
Terminei de explicar os três principais tipos. Bipolaridade é algo
bem complexo, não é só estar feliz em um momento e daqui a pouco,
estar triste. É algo que causa muito sofrimento a quem possui o
distúrbio e deve ser conduzido com cuidado.
Causas:
Ainda não tem uma causa determinada, porém, já se sabe que vem de
fatores genéticos hereditários.
Diagnóstico:
O
diagnóstico do transtorno bipolar é clínico, baseado no
levantamento da história e no relato dos sintomas pelo próprio
paciente ou por um amigo ou familiar. Em geral, ele leva mais de dez
anos para ser concluído, porque os sinais podem ser
confundidos com os de doenças como esquizofrenia, depressão maior,
síndrome do pânico ou distúrbios da ansiedade. Daí a importância
de estabelecer o diagnóstico diferencial antes de propor qualquer
medida terapêutica.
Tratamento:
Transtorno bipolar não tem cura, mas pode ser controlado. O
tratamento inclui o uso de medicamentos, psicoterapia e mudanças no
estilo de vida, tais como o fim do consumo de substâncias
psicoativas, (cafeína, anfetaminas, álcool e cocaína, por
exemplo), o desenvolvimento de hábitos saudáveis de alimentação e
sono e redução dos níveis de estresse. A associação de lítio
com antidepressivos e anticonvulsivantes tem demonstrado maior
eficácia para prevenir recaídas. No entanto, os antidepressivos
devem ser utilizados com cuidado, porque podem provocar uma guinada
rápida da depressão para a euforia, ou acelerar a incidência das
crises.
A
porcentagem de pessoas com bipolaridade de qualquer tipo que tentam o
suicídio está entre 30 e 50%.
Exemplos:
Tipo
I:
“Patrícia
passou horas no shopping, fazendo compras. Quando chegou em casa, a
mãe a advertiu que tudo aquilo – um conjunto de abajures, um kit
de jardinagem e dois vestidos de festa – não era necessário no
momento, e lhe disse para ter cuidado com o cartão de crédito.
Patrícia irritou-se, apesar do tom da mãe não ser de reprimenda, e
iniciou uma discussão. Após meia hora não aguentou e saiu de casa,
indo conversar na praça com quem estivesse passando. Tornou a
discutir com a mãe no final do dia, por alguns objetos fora do
lugar, e sua mãe aproveitou para externar sua preocupação por ela
estar dormindo pouco e estar extremamente distraída, mas Patrícia
menospreza essa preocupação, dizendo que a mãe não vê que ela
está sempre ocupada com coisas mais importantes.” – Um exemplo
de um dia de um Episódio Maníaco.
Tipo
II:
“João
levantou-se da cama com esforço. Não estava em nada interessado nas
atividades do dia: a preparação para a comemoração do final do
ano. Sentia-se cansado, já que havia alguns dias que não conseguia
dormir, e também vinha perdendo peso com facilidade, embora não
estivesse sequer saindo de casa, quanto mais se exercitando.
Encontrou suas irmãs na cozinha, lavando já a louça do almoço e
se tomou por um sentimento de culpa, já que uma vez que elas já
haviam preparado o almoço, devia ao menos ajudar a limpar a cozinha,
mas sempre achava que era melhor não atrapalhar do que acabar
estragando alguma coisa. Ana, sua irmã mais nova, percebeu sua
chegada e lhe sorriu, o que o fez pensar que ela estava ansiosa pelos
dias bons que ela sabia que viriam.” – Exemplo de Episódio
Depressivo Maior, comum no Transtorno Bipolar tipo II.
Transtorno
Cíclico:
“Samantha
se dirigiu ao consultório do seu terapeuta logo depois de deixar os
filhos na escola. Havia brigado com o namorado no dia anterior,
quando ele a acusava de ter se esquecido de pegar as crianças na
escola por preguiça, o que não era verdade. Ela só não havia
percebido o tempo passar enquanto ficava na cama, ocupada com vários
pensamentos depressivos. Em um geral, ela se sentia mais fraca e
desanimada, como se houvesse uma corrente a arrastando para mar
aberto, e se sentia ainda pior, já que tinha a esperança de que
seus dias bons fossem durar um pouco mais. Estava há um mês sem
escorregar para a depressão, ainda que seus dias eufóricos fossem
igualmente ruins e prejudiciais. Na última vez, perdera tempo demais
no trabalho organizando a papelada antiga e esqueceu de terminar o
balancete do mês, e quase foi demitida.” – Exemplo de
alternância de Episódio Hipomaníaco e Episódio
Depressivo Maior, que ocorrem tanto no Tipo II, quando no
Transtorno Cíclico.
TRANSTORNO
OBSESSIVO-COMPULSIVO – TOC
A
principal característica do TOC é a presença de crises recorrentes
de obsessões e compulsões.
Entende-se
por obsessão pensamentos, ideias e imagens que invadem a pessoa
insistentemente, sem que ela queira. Esses pensamentos ficam rodando
dentro da cabeça e o único jeito para livrar-se deles por algum
tempo é realizar o ritual próprio da compulsão, seguindo regras e
etapas rígidas e pré-estabelecidas, que ajudam a aliviar a
ansiedade. Alguns portadores dessa desordem acham que, se não agirem
assim, algo terrível pode acontecer-lhes. No entanto, a ocorrência
dos pensamentos obsessivos tende a agravar-se à medida que são
realizados os rituais e pode transformar-se num obstáculo não só
para a rotina diária da pessoa, como para a vida da família
inteira.
Em
geral, os rituais se desenvolvem nas áreas da limpeza, checagem
ou conferência, contagem, organização, simetria, colecionismo, e
podem variar ao longo da evolução da doença.
Já
me deparei com estudos de caso em que o cliente achava que um
acidente de carro terrível aconteceria se antes de ele entrar no
carro, ele não abrisse e fechasse cada porta e o porta-malas duas
vezes. Também outro que, tinha rituais diferentes para cada dia da
semana.
O
indivíduo também não consegue apenas não fazer o ritual. Ignorar
o ritual pode deixá-lo incrivelmente ansioso e inquieto, gerando um
mal-estar que pode se mostrar físico.
Por
favor, não confundir TOC com mania de limpeza e/ou organização.
Uma pessoa com essas manias pode se sentir irritada se algo estiver
fora do lugar. Alguém com TOC vai se sentir angustiado se seu ritual
não for feito.
Causas:
Estudos
sugerem a existência de alterações na comunicação entre
determinadas zonas cerebrais que utilizam a serotonina. Fatores
psicológicos e históricos familiares também estão entre as
possíveis causas desse distúrbio de ansiedade.
Diagnóstico:
Em geral, apenas nove anos depois que manifestou os primeiros
sintomas, o portador do distúrbio recebe o diagnóstico de certeza e
inicia o tratamento. Por isso, a maior parte dos casos é
diagnosticada em adultos, embora o transtorno obsessivo-compulsivo
possa acometer crianças a partir dos três, quatro anos de idade. Na
infância, o distúrbio é mais frequente nos meninos. No final da
adolescência, porém, pode-se dizer que o número de casos é igual
nos dois sexos.
Tratamento:
Nos casos mais graves pode ser necessária a utilização de
antidepressivos inibidores da reabsorção da serotonina, mas sempre
aliado à terapia cognitivo-comportamental, que é usada tanto nos
casos mais leves aos mais graves (nesses, aliado a medicação).
Seu
princípio básico é expor a pessoa à situação que gera
ansiedade, começando pelos sintomas mais brandos. Por exemplo:
mostrar ao indivíduo que nada de ruim acontecerá se ele não
acender e desligar a luz duas vezes antes de sair de casa. O
terapeuta parte dos mais simples para os mais complexos, respeitando
o tempo do cliente.
Exemplos:
“Maria
roía as unhas sem parar, sentindo as mãos suando e ouvindo o pé
bater no chão. Seu estômago estava se revirando, e havia um gosto
ruim em sua boca. Tinha quase certeza absoluta que não abrira e
fechara as janelas de sua casa antes de sair, para verificar se
estavam bem trancadas. Com certeza, quando chegasse depois do
trabalho, encontraria tudo revirado e seus pertences valiosos
roubados. Não parava de se perguntar se nas duas horas que teria de
almoço seriam suficientes para ir até em casa verificar as janelas.
Sem falar que já ficara sabendo que no refeitório era dia de bolo
de carne, e ela absolutamente não poderia comer aquilo. Era
terça-feira, ela só podia comer salada nas terças-feiras!” –
Exemplo de uma crise de ansiedade de uma pessoa com TOC.
“André
respirou fundo enquanto seu terapeuta lhe incentivava mudamente. Tudo
que ele queria era voltar e organizar toda aquela prateleira de
livros, organizando todos por tamanhos e cores, mas entendia o quanto
aquilo já lhe prejudicara durante toda a sua vida. Já perdera as
contas de quantas brigas arranjou, quantas vezes se atrasou, porque
precisava que tudo estivesse em simetria. Respirou fundo mais uma vez
e começou a andar mais rapidamente para longe daquele brechó de
livros. Olhou para o lado e o terapeuta lhe parabenizou, o que não o
impediu de perguntar timidamente:
― Não
podemos voltar e dizer a um dos vendedores que aquilo tudo está uma
desordem total?” – Exemplo de tratamento de pessoa com TOC.
Bem,
escolhi esses dois distúrbios para irem primeiro por ver que eles
são bastante utilizados por aí, mas também são os que mais contêm
equívocos na forma como são mostrados, perdendo apenas para a
Depressão, mas essa última vai ficar para outro momento, para que
eu possa falar dela como se deve. Não quis me estender muito, uma
vez que são temas complexos e eu não quero sobrecarregar ninguém
com muita informação.
Os
próximos distúrbios a serem discutidos nos dois artigos que faltam:
Depressão, Transtorno Dissociativo de Personalidade (Dupla
Personalidade, mas não a minissérie –q), Transtorno Boderline,
Psicopatia x Sociopatia Funcional, Autismo x Aspenger, Fobia Social e
Esquizofrenia Paranóide.
Até
a próxima o/
DSM
– V: Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
Você está de parabéns. Seu texto ficou muito bem explicado, esclarecendo algumas de minhas dúvidas (quando vou pesquisar, aparecem apenas artigos lotados de termos médicos, o que não ajuda em quase nada). Obrigada! Ah, e isso também ajudará bastante em minhas fics.
ResponderExcluirBem, se não for incômodo, gostaria de lhe fazer uma pergunta. Irei explicar-lhe minha situação antes.
Eu constantemente penso em determinados assuntos com muita insistência (morte de meus familiares, xingamentos à Deus, coisas ruins que poderão me acontecer, essas coisas), mas eu consigo livrá-los pensando também insistentemente em coisas felizes. Outra coisa que evito pensar são meus planos para o dia seguinte (ex.: o que falarei para determinada pessoa?, o que farei amanhã em tal situação?, se isso acontecer, como devo reagir?, seria tão bom se isso acontecesse!, será que amanhã vai ser um dia melhor?), porque eles nunca acontecem OU sempre possuem o efeito contrário, ou seja, de acontecer algo errado.
Também devo dizer que realizo alguns rituais, mas APENAS nos dias que vou ao colégio. É assim: ao acordar, preciso sempre me levantar tocando no chão primeiro o pé direito e, depois, o esquerdo. Quando chega a hora de tomar banho (essa é a única exceção, pois a realizo independente de ter aula ou não), preciso fechar a porta da farmácia e entrar também com o pé direito no box. Quando vou colocar o uniforme, preciso sempre pôr a camisa antes da calça. Se vou usar alguma presilha e tal, eu abro minha caixa de acessórios para cabelo e, se tiver algum grampo fora do lugar, eu preciso reposicioná-lo imediatamente. Abro a porta de casa, preciso pular o tapete que fica perto do último degrau da escada. Okay. Volto do colégio, tenho sempre que tirar o sapato do pé direito antes do esquerdo. Alguns rituais eu consegui me livrar, como por exemplo dormir sempre com a mesma camisa.
E a minha pergunta é: será que meu caso é tão grave a ponto de ir procurar um especialista? Meus pais me ajudam, mas eles não vêem necessidade para tanto.
Obrigada pela atenção e, mais uma vez, parabéns pelo post.
Vou passar o comentário à autora e ela em breve de responder :)
ExcluirEstá aqui a resposta da autora:
Excluir"Olá, sweetheart! Fico feliz por meu artigo ajudar a esclarecer suas dúvidas :D
Bem, quanto a sua pergunta, tudo vai se resumir a uma coisa: você se sente prejudicada em algum aspecto por esses comportamentos? Prejudica de alguma forma sua vida social? A não realização desses rituais deixam você muito preocupada? Quanto aos pensamentos dos quais você falou no começo, eles deixam você culpada ou se sentindo mal? Se sim, isso te prejudica de alguma forma?
Vou te dar um exemplo pessoal: eu tenho Fobia Social, e comecei a fazer terapia ao perceber que meu medo de ser julgada por outras pessoas tava me prejudicando nos meus estudos, já que eu evitava ir a aula ou mesmo falar durante, quando eu conseguia ir. Estava prejudicando um dos aspectos da minha vida, então era hora de ir trabalhar com um especialista em cima disso. Se você sente algo parecido, eu recomendaria você ir a um psicólogo, ao menos para tirar a dúvida, já que só ele pode fechar um diagnóstico.
Agora, se você não sente que está tendo um grande prejuízo, e não quer ir a um especialista, continue trabalhando em casa, junto aos seus familiares. Converse com eles sobre que hábitos você quer mudar e como você quer que eles ajudem. Isso é importante: você tem que estabelecer como quer ser ajudada. ;)
Espero ter ajudado! Um beijo!"
Beijos :)
Obrigada pelo retorno! Fico imensamente feliz pela consideração. :)
ExcluirSobre se sentir prejudicada: os pensamentos me deixam com um peso na consciência - afinal, estou pensando em coisas ruins de modo involuntário, mas nunca deixo de pensar se eu quero mesmo que tais coisas aconteçam. Já os rituais antes me prejudicavam MUITO. Veja bem: se meu dia tivesse sido ruim, eu atribuía isso ao fato de eu não ter realizado alguma etapa do meu ritual, e não por ser exclusivamente MINHA culpa. Então, consequentemente, eu ficava numa obsessão terrível de querer fazer tudo certo no dia seguinte, acrescentando até mesmo NOVOS rituais. Hoje eu tento contornar a situação. Uma boa parte dessa minha mudança é pelo fato de agora eu ter maior confiança em mim mesma, pois eu me considerava uma garota de aparência horrível. Eu sequer conseguia me olhar no espelho sem chorar ou reclamar sobre a vida. Mas agora as coisas estão melhorando.
E voltando aos pensamentos, eu realmente acho que devo procurar um especialista (apesar de que hoje a frequência de frases ruins que ficam martelando minha cabeça já diminui bastante), pois já até pensei em ALGUMA FORMA de acabar com isso (ou seja, suicídio. Mas foi bom por um momento breve, pois como sou espírita, acredito que causar a própria morte seja algo extremamente ruim para o espírito. Mas enfim, não hei de me aprofundar neste assunto).
Bem, como eu havia dito anteriormente, eu acho que seria bom consultar um especialista. Mas o problema são meus pais, pois eles acham que fico botando "nóia" na cabeça. É que por qualquer problema - seja uma dor de cabeça ou de estômago forte - eu quero ir ao hospital, mas em um dia ou dois todas essas dores passam, e acho que eles já não mais acreditam tanto em mim (porque acham que tenho fixação por hospitais). Enfim, de qualquer forma, daqui a poucos anos hei de me consultar.
Muitíssimo obrigada pela resposta e mais ainda pelo carinho de suas palavras. Quem sabe não volto aqui um dia para contar-lhe minha visita ao psicólogo? Só espero que as palavras dele (a) sejam positivas, é claro! Beijos para toda a Liga dos Betas, vocês fazem um trabalho maravilhoso!
Muito legal, esse post! Há alguns meses eu achava que Bipolaridade era apenas um jeito de ser, porque quando eu perguntava para minhas amigas elas falavam: "É quando a pessoa fica feliz e depois triste sem motivo nenhum.", sem citar a doença ¬¬'
ResponderExcluirAté que eu comentei que me achava meio bipolar para um amigo(a), e a pessoa perguntou se achava que eu era mesmo, que caso achasse eu precisaria ir a um psicólogo. O que aconteceu é que essa pessoa tinha a doença e ficava irritada quando os outros falavam sobre aquilo como se fosse alguma coisa normal. Ele(a) me mostrou um texto que postou falando sobre o que acontecia quando ainda não tomava remédios: Ele(a) tinha momentos de euforia, em que nunca conseguia dormir porque ficava tendo ideias sem parar e achava que elas eram revolucionárias mesmo que os outros as achassem estúpidas. Também ficava facilmente irritável às vezes, e já pensou em se matar... Chegou até a subir em cima do telhado da casa dele(a), para ver se pulava, mas acabou chegando à conclusão de que se fizesse aquilo só conseguiria se quebrar todo(a), pois o teto era muito baixo.
O fato é que achei seu texto legal porque alguém precisa explicar para pessoas como minhas amigas que bipolaridade é algo grave.
Ah, e agora que sei como é ser bipolar nunca mais disse pra ninguém que achava que era... Só me irrito fácil mesmo! :)
Quando vai publicar a próxima parte do post??? Preciso saber mais sobre sociopatia para escrever minha história! :(
ResponderExcluirOlá! Que eu saiba, o post não vai ter uma continuação, mas podes falar com a autora, cujo link no Nyah é este http://fanfiction.com.br/u/35539/
ExcluirAchei maravilhoso esse post! Sou estudante de psicologia também, e sometimes, quando vejo como são desenvolvidos alguns distúrbios nas histórias, fico incomodada pela falta de pesquisa dos escritores. Até entendo que pode ser difícil entender alguns termos ou muito sobre a doença em geral, mas um mínimo de conhecimento sobre o que você escreve é essencial. Agora ninguém tem mais desculpa pra escrever coisas non sense sobre essas doenças :)
ResponderExcluirAinda bem que gostaste do post! ^-^ <3
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