Por: Anne
“Com seus lindos fios dourados sendo
atiçados pela brisa tépida da tarde, Mariazinha corria pelos jardins da
redondeza.
Mariazinha gostava do lugar. Vivia em
Perfeitanópolis desde que nascera. Com seus três irmãos, Perfucto, Perféilo e
Perfeitício, dividia uma herança milionária. Perfucto era uma graça. Desde cedo
inclinado à Literatura e às Artes, parecia mesmo com uma escultura grega. O
corpo escultural, os membros todos muito chamativos. O sonho de todas as amigas
de Mariazinha. Perféilo era um bad boy de olhos azuis, pele branco-pálida e
boca avermelhada; sempre havia gostado de boas danceterias e de paquerar as
líderes de torcida. Perfucto tinha lindos olhos amêndoas, uma cabeleira
ruivo-acastanhada e uns músculos de doer na alma de tão lindos!”
Acredite
você ou não, caro escritor (seja do Nyah! Fanfiction ou de qualquer outro
lugar, ou mesmo do Nyah! e de
qualquer outro lugar), essa é a onda. Imagino que você já tenha visto, pelo
menos uma vez, uma história onde os personagens, todos — não só o(s)
protagonista(s), como é de se esperar —, vestissem a perfeição física. É comum,
mesmo cotidianamente, que classifiquemos o belo como irresistível. É mais comum
ainda transferir seus gostos, suas preferências físicas e seus padrões, sejam
eles quais forem, para as narrativas que faz. Não tô julgando, não. E, mesmo
que tivesse, você poderia me dizer (a arma mais potente): “A história é minha,
a fic é minha, o futuro livro é meu; faço como quiser!”. Sim, você pode e deve fazer como quiser...
Só
que o pessoal da Liga tá aqui pra ajudar. Nem falo muito “o pessoal” nessa
postagem, porque pode ser que eu diga coisas com as quais algum deles não
concorde, quem sabe? Mas voltemos ao assunto: vestir a perfeição. Antes de
falar ou criticar qualquer coisa, coloquei um texto exemplificando o que quero
dizer com “vestir a perfeição”. Na maioria das vezes, a perfeição também vem em
forma de caráter — o personagem que sofre demais por seu caráter benévolo,
altruísta e sempre perfeito —, mas vamos falar só da perfeição física (por
enquanto?), porque isso seria assunto pra outro post.
Agora
vou soltar uma bomba com a qual as pessoas que estão lendo ou lerão esse post
podem concordar ou discordar profundamente (mas não me xinguem):
- É falta de respeito vestir a perfeição nos seus personagens.
Sim,
pasmem. É falta de respeito? What? O
personagem não é meu? A história não é minha? Vou ter que ter regras de
escrita, agora?!
Não,
gente. Nada de regras de escrita. Mas é que já vi gente (e eu mesma) que se
sente incomodado com essa perfeição toda. Às vezes o roteiro da história é
legal, o conteúdo é até bacana, você tá interessado...
...
mas aí descobre que o autor coloca padrões perfeitos em todos os personagens.
Muitas vezes sem querer. Sei como é. Também sou autora, também já fui assim. E
a gente sabe que, quando você começa a descrever um personagem “por alto”, sem
falar como ele se parece para os demais (bonito ou feio), sempre tendemos a
imaginá-lo do jeito (que achamos) bonito. Vou te condenar ou me condenar por
isso? Não, é claro.
Mas nem só de perfeição vive o homem.
Sabemos que vivemos numa sociedade onde existem muuuitos tipos diferentes de
beleza. Não dá pra tacar só o nosso tipo numa história, por mais que seja nossa
e não vá ser publicada e que escrevamos só por hobby. Não dá, entende?
Eu
sei que a maioria dos autores que estão no Nyah! não escreve somente pra si
mesmo — até porque, se fosse assim, qual seria o motivo de postar num site?
Sendo assim, é sempre bom dar dicas pra que você consiga agradar seu leitor.
Não que essa questão da desmistificação dos padrões perfeitos vá ajudar só ao
leitor a se interessar mais pela sua fic. Nada disso. Vai te ajudar, amiguinho
escritor, assim como me ajudou. O mais comum de uma escrita iniciante com
poucos detalhes e pouca variedade é isso mesmo: narrar personagens sempre
bonitos, usando todos os adjetivos já aprendidos nos
clássicos-clichês-adolescentes. “Ah, agora você tá dizendo que tem problema com
os clichês e que quem escreve clichê é amador e iniciante?!”. Não, não, para
com isso. Até pra narrar clichê é preciso ter dotes. Aliás, “até” não, porque o
clichê não tem nada demais, mesmo. É uma forma de escrever e roteirizar sua
história como qualquer outra. Mas o fato é que, meu caro gafanhoto, nem em
clichês podemos adocicar tanto as aparências. Nada disso.
“Ah, mas cada caso é um caso, querida”.
Sim, queridos, é verdade: cada caso é
um caso. Ex.: numa história que envolva mitologia, a maioria dos personagens —
se não todos, o que eu acho muito entendível — vai carregar detalhes estéticos
quase perfeitos. Perfeitos mesmo, algumas vezes.
O problema é quando isso acontece sem
circunstâncias que justifiquem. “Mas eu
ser o autor e querer que a história seja
assim já não é uma circunstância que justifique, Anne?”. Bom... na verdade,
é. Mesmo assim, só quero que você entenda que dá um cansaço crônico ler uma
história formada por perfeição física. Dá um estorvo na leitura, dá uma ideia
de que todo mundo nasceu bonito. Nos filmes, até que dá pra aguentar... Beleza
atrai os olhos, isso é verdade. Mas em livros, meus caros, isso fica
“vomitante”. Você cansa de ler que fulano de tal é atrativo, é sexy, é tão
bonito quanto, é isso e aquilo mais. É importante que você saiba o seguinte:
não quero te impor uma condição pra sua escrita ser boa e/ou sua história ser
chamativa pros leitores. Eu só quero dar uma opinião construtiva.
Alguns pontos importantes que podem
modificar e desconstruir essa cultura da beleza fixa — apenas o seu tipo de
beleza, e nenhuma outra — nas histórias:
- Aborde outras culturas — muitas vezes, abordar outras culturas é uma boa. Você diversifica as características, narra de uma forma mais rica e consegue construir detalhes mais ousados. Uma pesquisadinha aqui, outra ali e você vai andando!
- Baseie-se em pessoas à sua volta — quem nunca viu aquela pessoa, seja da escola, da faculdade, do dia a dia no trabalho ou das noites de saída, e quis se basear na aparência dela pra um personagem? Às vezes é muito eficiente que você pegue características físicas de pessoas que conheça e coloque lá, só pra tirar um pouco a tendência de colocar só os traços que lhe são agradáveis e bonitos esteticamente.
- Seja generoso em cores, físicos e consistências — aprenda a ser generoso com seus personagens. A cada 3 personagens brancos, 3 negros; a cada um negro, um pardo e assim vai. A cada 3 cabelos lisos, 3 ondulados, crespos, cacheados, afros etc. Vai misturando. A cada um esguio, um mais gordinho; a cada um mais alto, um mais baixo. Não fica em um tipinho.
Bom,
pessoal, é isso! Espero que tenha ajudado.
E,
lembrem-se:
“A diversidade é uma das
maiores riquezas do ser humano no planeta e a existência de indivíduos
diferentes numa cidade, num país, com suas diferentes culturas, etnias e
gerações fazem com que o mundo se torne mais completo.” (www.brasil.gov.br)
Adorei o post e concordo com cada palavra. A única coisa que me irrita mais que a perfeição física é aquela personagem que tem a vida perfeita em TODOS os aspectos. É linda, rica...enfim não faz nada, entendeu?
ResponderExcluirQueria fazer um pedido aqui. Como fazer cenas hentai debaixo d'água ( ͡° ͜ʖ ͡°)
Eu vou adicionar a tua sugestão ao nosso banco de ideias, e em breve algum beta deve pegá-la. Fica atenta ;)
ExcluirConcordo totalmente com a ideia do post . Uma das minhas escritoras preferidas é L.J.Smith , mas tenho que confessar que ela peca muito quando o assunto é perfeição . . . Seus personagens são quase anjos terrestres !
ResponderExcluirTem a loira popular , a ruiva doce , o bad boy dos olhos azuis , o principe encantado moreno . Até hoje só encontrei um personagem com a aparencia fora do fantástico em todos seus livros .