Resenha: Cartas a um jovem poeta

domingo, 24 de maio de 2020


Por: Lucas

Pensar no que eu escreveria no meu primeiro post no Blog da Liga me fez formular a seguinte questão: “sobre qual assunto eu poderia falar para acrescentar algo na vida dos meus camaradas da Liga dos Betas e na de nossos queridos autores?”. Essa pergunta me levou a revirar as entranhas no meu HD, e no oceano de arquivos de textos porcamente nomeados que ali existem, me deparei com um que estava muito bem nomeado; Cartas a um Jovem Poeta, de Rainer Maria Rilke.
Sinopse: Franz Kappus é um jovem de dezenove anos em formação na Academia Militar de Wiener-Neustadt, na Áustria, durante o ano de 1902. Kappus tinha a pretensão de se tornar um poeta, e ao conversar com um de seus professores e descobrir que Rilke também havia frequentado aquela instituição de ensino, decide enviar uma carta ao já conhecido poeta tcheco.  A missiva continha alguns poemas escritos por Kappus e um pedido para que Rilke, em sua resposta, avaliasse os versos do jovem. A partir daí, ambos iniciaram uma troca de correspondências que viria a durar anos, com o experiente poeta dando conselhos a Kappus sobre criação artística, necessidade de escrever, religião, sexualidade e as relações interpessoais.
Publicada originalmente em 1929, três anos após a morte de Rilke, esta coletânea contém dez das cartas enviadas a Kappus entre 1903 e 1908.
Editora: L&MP Pocket
O que supriria melhor a minha questão do que um livro formado por cartas enviadas por um poeta experiente a um respeitoso aspirante?
Cartas a um Jovem Poeta é composto por dez cartas selecionadas por Franz Kappus nas correspondências que ele teve com Rainer Maria Rilke durante os primeiros anos do século XX. O livro contém apenas respostas de Rilke. De acordo com o organizador do livro, o próprio Kappus, as indagações que ele fazia ao poeta tcheco pouco importariam frente as respostas recebidas. Estas, jogariam luz em muitas outras questões acerca da criação artísticas – que aqui vamos considerar apenas em forma de escrita, e também, outras áreas da vida.
Todas as cartas são marcadas pela paciência de Rilke em conduzir seu interlocutor pelo caminho do amadurecimento, também por sua suavidade em expressar verdades duras de se engolir, por assim dizer. Um exemplo é logo na primeira carta, onde de forma cortês, o experiente poeta diz que comparando os versos de seu interlocutor com a carta que chegou em suas mãos só é possível concluir que Kappus ainda não possuí originalidade, sua poesia tem muito pouco de si mesmo e muito sobre os outros, tornando-se genérica.
Para Rilke, a escrita teria de vir necessariamente como uma necessidade, uma inquietação que se manifestasse na cabeça do invidio com a questão “preciso escrever?” no meio da madrugada. Isso mostra como ele considerava o processo de criação artística algo que deve ser espontâneo, de dentro para fora, e não o contrário.
A seguir, o tcheco coloca uma ideia que irá frequentar todas as cartas colocadas no livro: deve-se refletir sobre o seu ambiente e sobre si mesmo no seu interior, em sua solidão. Rilke diz que a individualidade e solidão criam as condições para que a pessoa seja capaz se refletir sobre si mesma, e nessa solidão de seu interior, até mesmo as grandes tristezas se transformam em algo que proporciona crescimento e inspiração.
As respostas de Rilke demonstram de Kappus tinha muitas aflições. Tinha dúvidas sobre sua escrita, a carreira militar que havia escolhido não lhe agravada, além de muitas inquietações sobre Deus e o amor. É interessante ver como Rilke indica leituras e tenta tranquilizar o jovem poeta pelo conceito de “volte-se para si mesmo”. Durante essas cartas, também é possível ver que Kappus continuava a mandar versos e que a satisfação do “velho poeta” vai aumentando ao elogiar os novos poemas de seu interlocutor, comemorando a evolução de suas reflexões, seu amadurecimento, e é claro, elogiando os novos poemas.
As cartas também nos ajudam a acompanhar um pouco da história de Rilke antes da Primeira Guerra Mundial, seu transito por diversos países da Europa – França, Itália, Suécia, com o poeta sempre demonstrando que essas mudanças eram motivadas por questões da saúde, e dando um pouco de suas impressões sobre cada lugar. O tcheco demonstra que embora sua obra seja composta por poesia em maioria, sua prosa é também excepcional.
O meu primeiro contato com esse livro, por coincidência, foi quando eu perguntei a um professor da universidade em que eu estudava sobre “um bom livro que fale sobre escrita”, este meu professor, que é um contista, me indicou ele. Com este livro, o professor Rogério Ivano me ajudou a olhar o meu interior e refletir, tomar os fatos que acontecem na vida e usa-los para o amadurecimento ou para inspiração. Como beta readers, acho que esse é um sentimento essencial para ser passado aos nossos autores.
Espero que eu tenha provocado o interesse de vocês em relação a este livro. Ele é uma leitura pra uma tarde, mas que pode despertar reflexões para um tempo prolongado. Conversem entre si e os seus autores sobre ele. De certa maneira, nós todos também trocamos cartas com esse caráter.
Até a próxima!

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