Por: Lucas
Pensar
no que eu escreveria no meu primeiro post no Blog da Liga me fez formular a
seguinte questão: “sobre qual assunto eu poderia falar para acrescentar algo na
vida dos meus camaradas da Liga dos Betas e na de nossos queridos autores?”.
Essa pergunta me levou a revirar as entranhas no meu HD, e no oceano de
arquivos de textos porcamente nomeados que ali existem, me deparei com um que
estava muito bem nomeado; Cartas a um Jovem Poeta, de Rainer Maria Rilke.
Sinopse:
Franz
Kappus é um jovem de dezenove anos em formação na Academia Militar de Wiener-Neustadt,
na Áustria, durante o ano de 1902. Kappus tinha a pretensão de se tornar um
poeta, e ao conversar com um de seus professores e descobrir que Rilke também
havia frequentado aquela instituição de ensino, decide enviar uma carta ao já
conhecido poeta tcheco. A missiva
continha alguns poemas escritos por Kappus e um pedido para que Rilke, em sua
resposta, avaliasse os versos do jovem. A partir daí, ambos iniciaram uma troca
de correspondências que viria a durar anos, com o experiente poeta dando
conselhos a Kappus sobre criação artística, necessidade de escrever, religião,
sexualidade e as relações interpessoais.
Publicada
originalmente em 1929, três anos após a morte de Rilke, esta coletânea contém
dez das cartas enviadas a Kappus entre 1903 e 1908.
Editora:
L&MP
Pocket
O
que supriria melhor a minha questão do que um livro formado por cartas enviadas
por um poeta experiente a um respeitoso aspirante?
Cartas
a um Jovem Poeta é composto por dez cartas selecionadas por Franz Kappus nas
correspondências que ele teve com Rainer Maria Rilke durante os primeiros anos
do século XX. O livro contém apenas respostas de Rilke. De acordo com o
organizador do livro, o próprio Kappus, as indagações que ele fazia ao poeta
tcheco pouco importariam frente as respostas recebidas. Estas, jogariam luz em
muitas outras questões acerca da criação artísticas – que aqui vamos considerar
apenas em forma de escrita, e também, outras áreas da vida.
Todas
as cartas são marcadas pela paciência de Rilke em conduzir seu interlocutor
pelo caminho do amadurecimento, também por sua suavidade em expressar verdades
duras de se engolir, por assim dizer. Um exemplo é logo na primeira carta, onde
de forma cortês, o experiente poeta diz que comparando os versos de seu interlocutor
com a carta que chegou em suas mãos só é possível concluir que Kappus ainda não
possuí originalidade, sua poesia tem muito pouco de si mesmo e muito sobre os
outros, tornando-se genérica.
Para
Rilke, a escrita teria de vir necessariamente como uma necessidade, uma
inquietação que se manifestasse na cabeça do invidio com a questão “preciso
escrever?” no meio da madrugada. Isso mostra como ele considerava o processo de
criação artística algo que deve ser espontâneo, de dentro para fora, e não o contrário.
A
seguir, o tcheco coloca uma ideia que irá frequentar todas as cartas colocadas
no livro: deve-se refletir sobre o seu ambiente e sobre si mesmo no seu
interior, em sua solidão. Rilke diz que a individualidade e solidão criam as
condições para que a pessoa seja capaz se refletir sobre si mesma, e nessa
solidão de seu interior, até mesmo as grandes tristezas se transformam em algo
que proporciona crescimento e inspiração.
As
respostas de Rilke demonstram de Kappus tinha muitas aflições. Tinha dúvidas
sobre sua escrita, a carreira militar que havia escolhido não lhe agravada,
além de muitas inquietações sobre Deus e o amor. É interessante ver como Rilke
indica leituras e tenta tranquilizar o jovem poeta pelo conceito de “volte-se
para si mesmo”. Durante essas cartas, também é possível ver que Kappus
continuava a mandar versos e que a satisfação do “velho poeta” vai aumentando
ao elogiar os novos poemas de seu interlocutor, comemorando a evolução de suas
reflexões, seu amadurecimento, e é claro, elogiando os novos poemas.
As
cartas também nos ajudam a acompanhar um pouco da história de Rilke antes da
Primeira Guerra Mundial, seu transito por diversos países da Europa – França,
Itália, Suécia, com o poeta sempre demonstrando que essas mudanças eram
motivadas por questões da saúde, e dando um pouco de suas impressões sobre cada
lugar. O tcheco demonstra que embora sua obra seja composta por poesia em
maioria, sua prosa é também excepcional.
O
meu primeiro contato com esse livro, por coincidência, foi quando eu perguntei
a um professor da universidade em que eu estudava sobre “um bom livro que fale
sobre escrita”, este meu professor, que é um contista, me indicou ele. Com este
livro, o professor Rogério Ivano me ajudou a olhar o meu interior e refletir,
tomar os fatos que acontecem na vida e usa-los para o amadurecimento ou para
inspiração. Como beta readers, acho que esse é um sentimento essencial para ser
passado aos nossos autores.
Espero
que eu tenha provocado o interesse de vocês em relação a este livro. Ele é uma
leitura pra uma tarde, mas que pode despertar reflexões para um tempo
prolongado. Conversem entre si e os seus autores sobre ele. De certa maneira,
nós todos também trocamos cartas com esse caráter.
Até
a próxima!
Que resenha perfeita. Parabéns
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