Por: Rebel Princess
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A cada mês, venho eu panfletar
uma obra lida na faculdade e que salvou minha vida. Literatura
infantil/juvenil? Vou fazer isso sim! Não desista da resenha ainda! O ícone que
trago para vocês hoje é uma queridíssima que publicava lá em 1970, mas que tem
uns livros tão atuais que até me pergunto se ela não veio para o futuro
escrever e depois voltou lá para publicar :v
Lygia
Bojunga – premiada com o Nobel de Literatura Infantil em 1982 - foi essa pessoa
que nos trouxe, na forma de um “livrinho bobo”, uma reflexão linda sobre a
transformação da personalidade, a formação da identidade de alguém. Mesmo
Raquel - nossa protagonista - sendo uma criança da mesma época que Bojunga, é
impossível não relacionar alguns dos receios e pensamentos dela com os que nós
próprios já tivemos e, por vezes, observamos nas crianças de hoje. Ou seja,
meus caros, aquelas viagens “ao mundo da lua” que acontecem de vez em quando
são postas à vista nessa obra, e sua problematização não é nem de longe
enfadonha de se ler: é uma viagem ao fantástico para se aproveitar do início ao
fim, sem culpa caso você já não seja mais o público da literatura
infantil/juvenil.
Pulo do gato sobre o enredo para chamar a atenção – a bolsa e as
vontades de Raquel
A Bolsa Amarela é um livro bem curtinho
(com figuras!) que vai contar como Raquel, uma simpatia de menina, precisa
esconder suas vontades, porque elas são grandes demais e ela morre de vergonha
que os outros vejam. Basicamente, ela tem 3 vontades: crescer e deixar de ser
criança, ter nascido garoto em vez de menina e escrever. Como as duas primeiras
não estão ao seu alcance para serem resolvidas – e considerando o contexto de
sociedade ainda tradicional na qual ser criança e mulher tinha suas limitações,
isso se constitui um detalhe bem elaborado na trama -, ela começa a praticar a
escrita com cartas para seus amigos imaginários (ela tem um monte de
papeizinhos com nomes aleatórios, para cada carta, ela sorteia um
destinatário). A história é de gênero fantástico, então não espere explicações
para todas as “peculiaridades” de Raquel!
O
mais intrigante – e revoltante, diga-se de passagem – é como a família dela a
trata, como um verdadeiro “zero à esquerda”, expondo-a a situações humilhantes
e de deboche e pouco se importando sobre seus sentimentos. Entretanto, na
verdade, tudo pelo que ela passa – pasmem – é realmente comum de se ver com
pais que “obrigam” seus filhos a fazer isso ou aquilo, a mostrar tal coisa que
sabem fazer, a “respeitar” quem ordena algo... para entender tudinho que a
autora problematiza, já que coloca uma criança com sentimentos e caráter
próprios para narrar, só lendo mesmo (é mindblowing).
Enfim,
após uma “doação” que a tia rica de Raquel faz à sua família de coisas que não
quer mais, acaba sobrando para ela uma bolsa amarela, feia, grande e pela qual
ninguém se interessou. Problema resolvido: as vontades vão todas para a bolsa!
Raquel ainda passa por muitas complicações com ela (o zíper emperra, as
vontades crescem demais e a bolsa quase explode, o primo chato pega a bolsa
para caçoar dela), mas seus fiéis companheiros que ela encontra no decorrer da
história – um galo de briga chamado Afonso, um guarda-chuva e um alfinete – vão
ajudando-a a superar cada “chateação”, para usarmos uma palavra que ela usa
bastante, de forma que ela começa a perceber que pode construir seu próprio
valor enquanto menina, criança e escritora amadora.
Com
uma linguagem bem coloquial, sem seguir rigidamente as normas de escrita, já
que é uma criança que narra a história, Lygia Bojunga revolucionou o modo de
pensar essa parte da vida, tão cara à formação da estrutura psicológica e de
caráter. Já falei demais da história e das contribuições dela, então só resta
deixar minha indicação para que você, em qualquer fim de semana à toa ou
naquelas horinhas de folga no meio da rotina, pegue A Bolsa Amarela para conferir esse mundo maravilhoso de Raquel que
em muito pode se assemelhar ao nosso! <3
Obrigada
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