Por: Asthera Maxwell
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Olar,
pessoas!
Bom,
vamos compensar o imenso atraso do post com uma intro bem rapidinha!
Hoje
vamos falar sobre o que propus a vocês no primeiro post. Afinal, sem
personagens, a jornada do herói não anda, né?
Mas
como nasce um herói? Como ele é no começo e no que ele se transforma durante a
jornada? Veremos arquétipos no post de hoje, e, melhor ainda, arquétipos que a
gente não lê todo dia por aí! ARQUÉTIPOS MASCULINOS.
Vem
comigo!
1
- RELEMBRANDO ARQUÉTIPO X ESTEREÓTIPO: NÃO É A MESMA COISA!
Só
pra relembrar. Arquétipo pode ser traduzido como um determinado padrão de
comportamento da sociedade, que foi identificado em lendas, mitos e histórias
antigas pelos estudiosos da área. Ou seja, não tem diferentão aqui, todos os
arquétipos já apareceram em algum momento na história da humanidade. Exemplo de
arquétipo: Mago.
Estereótipo
é o modo como esse padrão é abordado nas histórias. Suas características
internas e externas, digamos assim. Exemplos de estereótipo de Mago: Gandalf,
Merlin, Dumbledore. Todos barbudos, com roupas longas, velhos, enfim.
2
- ARQUÉTIPOS MASCULINOS: ETAPA 1 (CRIANÇA DIVINA, CRIANÇA PRECOCE, CRIANÇA
EDIPIANA E HERÓI)
Você
pode falar o que quiser de religião, mas é impossível negar o papel importante
que ela tem, seja para o bem ou para o mal. Aqui vou focar no que ela tem de
bom.
As
religiões são um bom exemplo de estabelecimento de arquétipos. Pode ver que
todas elas possuem uma criança divina: Jesus, Moisés, Buddha, Shiva, Zeus,
Arthur; ou seja, não adiantou você brigar com aquele parente chato na ceia de
natal para ver quem deles veio primeiro, todo mundo tem seu modo de representar
o mesmo arquétipo e tá tudo bem.
Nesse
post, apresentarei os arquétipos masculinos infantis, então, eles ainda não
estão maduros e apresentam forte ligação com a figura da Mãe e o que ela
representa para eles, antes de passarem pelo arquétipo do herói que será seu
divisor de águas para que se tornem homens. Os arquétipos são: criança divina,
criança precoce, criança edipiana e Herói.
Cada
um dos três possui dois “sub-arquétipos” que compõem sua sombra, ou seja, as
nuances que os arquétipos adquirem se vividos em excesso ou em falta.
Importante ressaltar que os arquétipos infantis podem ser vividos mesmo na fase
adulta, então não se preocupe se encontrar um cara agindo como tirano da
cadeirinha alta por aí.
Por
mais reprováveis que os comportamentos sejam na vida real, na literatura é um
campo farto para seus personagens, afinal, ninguém gosta de personagens planos!
Então, julgamentos à parte, use-os tanto para desenvolver sua jornada de
redenção, quanto para fazê-los afundar ainda mais!
2.1 - CRIANÇA
DIVINA
O
primeiro estágio, portanto, mais primitivo do masculino imaturo. Ela pode ser
definida da seguinte forma: todo-poderoso, o centro do universo, mas, ao mesmo
tempo, indefeso e frágil. Entre outras coisas, ele representa a fragilidade,
mas também o propósito da ordem que seu nascimento representa (segundo os
autores, Cristo pode ser considerado um exemplo, sendo ele o elemento da ordem
e os animais que acompanharam seu nascimento, os impulsos primitivos agora já
controlados). É o arquétipo infantil que antecede o arquétipo maduro do Rei.
Segundo Freud, são pulsões "primitivas" ou "infantis",
amorais, enérgicas e cheias de pretensões divinas. Impulsos impessoais,
preocupados apenas com as necessidades ilimitadas da criança.
Para
Adler, é um complexo de superioridade oculto que encobre nossos sentimentos de
vulnerabilidade, fraqueza e inferioridade. Já estudiosos de Jung, que inclusive
é elemento importante que influenciou os arquétipos literários que conhecemos
hoje, pensaram de outra maneira. Para eles, a Criança Divina é nossa fonte de
vida, de características mágicas que dão poder. Entrar em contato com elas gera
sensação de bem-estar, entusiasmo pela vida, criatividade, beleza e grande paz
e alegria.
Acima
de tudo, a Criança Divina representa também renovação. Se seu personagem já
está numa posição de liderança, ou vai desenvolvê-la, é importante que ele não
se esqueça desse aspecto. Afinal, sem essa ligação com a sua criança divina
interna, não há como ele promover o potencial de sua ideia/causa/propósito e
ele descerá na curva de desenvolvimento, sentindo-se vazio e incapaz.
2.1.1 - O TIRANO DA CADEIRINHA ALTA: Uma das sombras da
Criança Divina. Nesse caso, é a sombra que peca pelo excesso. O mimado que quer
tudo e nada, que as coisas sejam feitas do jeito que ele quer e quando ele
quiser, caso contrário, preparem-se para o espetáculo. É aquela criança que
limpa o chão do mercado fazendo birra porque a mãe não compra o que ele quer.
E, quando adulto, o cara arrogante que acha que o mundo gira ao seu redor, e é tudo
sobre ele. Nunca está satisfeito consigo mesmo, nem com os outros; o
perfeccionista que centraliza tudo, que se as coisas não forem feitas do jeito
dele, nunca vão funcionar. Explosões de raiva são suas armas mais frequentes.
2.1.2 - O PRÍNCIPE COVARDE: A outra sombra, mas que
peca pela falta. Enquanto o tirano vive num pedestal, o príncipe vive numa
redoma. Sabe aquele seu irmão mais novo que aprontava o céu e o inferno em
casa, mas que quando o bicho pegava, corria pra saia da sua mãe e jogava a culpa
em você? Ta aí, você tem um Príncipe Covarde em casa. O príncipe é um ótimo
manipulador, é o mimado que vive reclamando de tudo e de todos, não tem
iniciativa nenhuma e a família vive em função dele, tornando-o pior que o
tirano, pois o primeiro já mostra a cara e você já sabe como lidar. Aqui, não é
com ele que você lida, mas sim com aqueles que ele manipula. Nada impede que
ele dê uns ataques de fúria como acontece com o tirano, mas a maior arma dele é
se fazer de coitadinho, e se o seu personagem tiver alguém pra bajulá-lo, mesmo
estando errado, terá um prato cheio na história.
2.2 - CRIANÇA
PRECOCE
Resumidamente,
é a criança prodígio. Frequentemente aprende a ler cedo (em especial para
responder as próprias perguntas), quer saber o "como, quê e onde" de
tudo. Saber/conhecimento é praticamente o que faz sua vida ter sentido,
independente do que ela precisa superar para adquirir mais. É o arquétipo que
permite ter coragem de explorar, iniciativa, desbravar o desconhecido, manter
viva sua curiosidade e a dos outros também. Costuma ser bom em várias coisas,
mesmo que não sejam áreas afins. Tende a ser introvertido, mas ele se torna
mais aberto com aqueles que se interessam pelo conhecimento, aprender e
compartilhar. É o arquétipo infantil que antecede o arquétipo masculino maduro
do Mago.
2.2.1 - O TRAPACEIRO SABICHÃO: A sombra do Precoce, que
peca pelo excesso. Se por um lado, sua energia é extremamente importante no que
se diz respeito a expor as mentiras e derrubar aqueles que as contaram, pode
ser muito nociva. É o chamado agressivo-passivo, que só quer expor a galera,
ver o circo pegar fogo, mas não tomar o lugar do dono do circo e resolver o
incêndio. É o que sabe tudo e adora mostrar que sabe, que é superior aos outros
por isso. Também pode ser aquele que faz aquelas brincadeiras de mau gosto, o
que expõe a "burrice" dos outros com elas e exalta a própria
inteligência. É o que acredita que todo mundo é corrupto, mas nunca assume as
próprias responsabilidades (como eu disse lá trás, ele não quer resolver o
incêndio, só quer causá-lo). É o que domina as conversas, o que interrompe, o
que tenta invalidar seus argumentos e transforma discussões amigáveis em
sermões, mas também é aquele cara que, se for mais Sabichão que Trapaceiro, te
coloca no seu devido lugar quando você acha que sabe tudo. É o que abaixa tua
bola quando você se acha a última coca-cola do deserto. Em geral, esse
comportamento surge e se acentua quando a pessoa é rebaixada, criticada,
agredida emocionalmente pelos outros e o fato de não se sentir especial a torna
presa fácil para esse arquétipo, que pode reforçar sua necessidade de se sentir
especial, mostrando-se tão esperto ao ponto de usar sua inteligência para
passar as pessoas pra trás.
2.2.2 - O PALERMA: A sombra que peca pela falta. É
aquele que, na sala, você só percebe que existe porque ele responde a chamada,
porque em geral é descrito como indiferente, ingênuo, lerdo, raciocínio lento e
frequentemente é alvo de zombaria e desprezo dos colegas. Porém, o Palerma frequentemente
percebe mais do que demonstra e seu comportamento pode mascarar sua
grandiosidade/vulnerabilidade, tornando-o perigosamente propenso a
desonestidade, afinal ele não sabe de nada.
2.3 - A CRIANÇA
EDIPIANA
Vimos
até agora um padrão entre os arquétipos: a importância da mãe como aquela que
supre as necessidades do filho, que ainda apresenta seu arquétipo imaturo.
Vimos também o que acontece quando a mãe falha nisso, na opinião dele,
tornando-o um Tirano ou um Príncipe. A criança edipiana está, por falta de uma
frase melhor, acima de tudo isso. Embora os três arquétipos estejam ligados à
espiritualidade por intermédio da mãe terrena, não é a sua mãe terrena que a
criança edipiana anseia, mas sim ao aspecto materno da criação, do amor, da
nutrição, da espiritualidade, beleza e sensibilidade presente em todas as
criações humanas. O senso místico de unidade retratado pelo culto à Grande Mãe
em várias culturas. A criança edipiana não vivencia totalmente seu masculino
nutridor, mas é capaz de vivenciar os aspectos positivos deste. É terno,
afetuoso, com fortíssima ligação com a espiritualidade. É o arquétipo infantil
que antecede o arquétipo amadurecido do amante.
2.3.1 - O FILHINHO DA MAMÃE: A sombra que peca pelo excesso
dessa busca pela Mãe. Para ilustrar, usarei as Crônicas de Gelo e Fogo. Na
série isso não acontece, só nos livros. Após a morte da mãe, Sweetrobin (Robert
Arryn) fica muito ligado a Alayne Stone, que ao mesmo tempo em que se torna uma
substituta da mãe pra ele, vez ou outra você o vê dizendo que Alayne é dele,
que quer casar com ela e coisa parecida, justamente porque ele sabe que o
querem morto e de quebra, a ideia de qualquer um chegar perto dela, em especial
o “rival” dele, Harry, é insuportável. É desse tipo de comportamento que se
trata o filhinho da mamãe.
Segundo Moore e Gillette (1993), no ponto de vista do
desenvolvimento, o pai é deus e a mãe, a deusa, e a busca inconsciente pela
vivência do espiritual se torna mais forte quando essa figura paterna não
existe. Outra característica dele, em busca dessa beleza, ternura, satisfação
transcendental que só a "Grande Deusa" poderia oferecer é ele se
tornar um Dom Juan, porque nenhuma mortal consegue preencher esse anseio, então
o cidadão pula de uma mulher para outra nesse anseio pelo feminino
transcedental.
E como não podia deixar
de ser, o filhinho pode se tornar um compulsivo sexual, se masturbando compulsivamente, no desespero
de vivenciar o poder do seu falo, o seu poder da
criação. Assim como a infinidade das formas femininas são representações da
Deusa, o filhinho da mamãe pode ter
essa fixação por unir-se a ela, tornando-se/vivenciando o "Grande falo" ao conhecê-las, seja
pela pornografia, seja se deitando com quantas mulheres conseguir.
2.3.2 - O SONHADOR: O filhinho da mamãe pelo menos
buscava a Mãe. Em excesso, mas buscava. O Sonhador não faz isso, pode-se dizer
que ele tem consciência da sua condição terrena e que nunca será capaz de
alcançá-la justamente por isso. Ao levar ao extremo os impulsos espirituais da
Criança Edipiana, ele se deixa levar tanto pela passividade, que se isola dos
relacionamentos humanos. Seu mundo imaginário é mais importante e interessante
do que o mundo real, parecendo ser reservado e deprimido e isso pode se
transferir para seus sonhos também, tornando-os melancólicos ou etéreos. Seu
comportamento isolado demonstra o ressentimento por não ter a posse da Mãe, a
grandiosidade que os arquétipos imaturos possuem, no arquétipo do Sonhador
aparecem como melancolia ou depressão.
2.4 - ARQUÉTIPO
DO HERÓI
Eu
poderia explicar o herói em duas vertentes, a do storytelling (a que surgiu com
os gregos, blá blá whiskas sachê) e a psicológica. Por enquanto, vou focar na
psicológica porque o herói como arquétipo do storytelling precisa de um estudo
que o post atual não comportaria, olha só o tamanho dele!
As
energias do herói surgem como um divisor de águas para os arquétipos imaturos.
O arquétipo do Herói, apesar de também ligado a Mãe, surge para despertar o
masculino dentro do menino, preparando-o para o que o mundo trará como desafio.
É o arquétipo que joga o menino na parede e canta “I'll make a man out of you”
pra ele, o que permite que o menino se afirme e se defina como uma pessoa e
suas particularidades, para que possa se relacionar com os outros. No mundo
atual, que não se lembra mais dos seus heróis, esse momento é imprescindível
para que o menino não se deixe levar pela preguiça, pelo egoísmo ou a inveja,
sentimentos que podem levá-lo a regredir para algum dos arquétipos-sombra
apresentados. Ele reconhece suas falhas e que precisa dos outros, coisa que o
Valentão exibicionista e o Covarde não sabem fazer.
2.4.1 - O VALENTÃO EXIBICIONISTA: O arquétipo que a
gente mais vê nas histórias. O nome já dispensa descrição. O menino/homem que
quer impressionar os outros, o valentão que age sozinho para conseguir as
glórias para si, mas as consequências dos seus atos quando eles dão errado são
coletivas. O que se acha a última coca-cola do deserto e se acha no direito
disso; o que tem o ego inflado, mas na verdade não passa de alguém covarde e
inseguro. Essa sombra do herói, quando vai enfrentar o dragão, ou sai queimado,
ou descobre-se incapaz de amar a princesa que resgatou, significando que alguma
coisa deu errado no seu processo de despertar do masculino. Quando influenciado
por esse arquétipo, ele ainda está ligado à Mãe, mas precisa superá-la
desesperadamente. O herói, em geral, é especialista em negar a morte, por mais
que a gente esfregue "momento morri" na cara dele, ou Hades arremesse
nele a placa com as palavras de boas-vindas do Inferno de Dante, ele continuará
tampando os ouvidos e cantando lalala.
2.4.2 - O COVARDE: Outro arquétipo que a gente vê por
aí. Na linguagem comum é o arregão, o que não consegue se defender sozinho dos
confrontos, sejam físicos ou verbais. O que se submete fácil à pressão dos
outros, mas para variar, o arquétipo que quando o Valentão Exibicionista aflora
nele, leva uma arma para a escola e mata todo mundo.
UFA,
CONSEGUIMOS!
E
então, o que acharam desse compilado de arquétipos e suas sombras? Deu
trabalho, mas espero que tenha ajudado!
No
próximo e último post, trarei os arquétipos masculinos maduros, esses aqui
foram os do menino, os próximos serão os do homem. Sim, minha gente, tem muito
mais!
Até!
REFERÊNCIAS
MOORE, Robert; GILLETTE, David. Rei, guerreiro, mago,
amante: a redescoberta dos arquétipos do masculino. Editora Campus, 1993.
Meu deus! Tô realizada!
ResponderExcluirNão acredito que achei um blog assim. Vai me ajudar muito quando criar minhas histórias ou ajudar outros autores com as deles. Obrigada!
Ficamos felizes por ajudar!
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