Por: Ladybug
Aspas.
Itálico. Tabulação dupla. Tudo misturado. Coisa nenhuma. Apenas
fonte de letra diferente, ou ainda a mesma fonte de letra, só que
escrita com o tamanho menor — é possível encontrar várias
maneiras de representar a modernidade das mensagens de texto via
telefone (sms), aplicativos de internet, ou pelo clássico e-mail,
tanto nos livros quanto nas fanfics.
A
dúvida surgia sempre, e por não encontrar um texto que me desse uma
orientação mais precisa, acabei descobrindo que tal orientação
simplesmente não existe! Não é desesperador, tampouco significa
que estamos livres na ousadia. As coisas não funcionam assim. É
importante sermos coerentes e respeitarmos a norma culta.
A
matéria não vai abordar a gramática ao escrever as mensagens, até
porque é óbvio que não está certo sair abreviando tudo o tempo
todo, devemos nos lembrar que o livro vai representar
o assunto que será transmitido através de uma determinada mensagem,
e não que a mensagem é
de fato o que está acontecendo, portanto, podemos guardar aquele
montão de “vc, qqr, bj, fds...” etc... etc... para nossos
momentos de lazer e liberdade textual na nossa vida cotidiana. Então
jogue fora, sem medo, esse conceito de que para descrever mensagens
moderninhas, é preciso abusar da linguagem informal.
Aqui,
vamos conversar sobre a diagramação dessas mensagens. E nos
divertirmos um pouco com as várias maneiras, muito bacanas, de
narrar o que os personagens estão fazendo, como estão se
comunicando.
Na
era dos e-mails...
Quem
nunca se deparou com uma troca de e-mail durante uma narrativa, sem
dúvida anda lendo muito os conservadores textos escritos antes da
década de 70. Pombos-correios e telégrafo eram o top do momento nos
livros ao estilo A Volta ao Mundo em Oitenta Dias. Com a escrita cada
vez mais ambientada nos tempos contemporâneos, nada menos espantoso
do que a representação da troca de mensagens eletrônicas entre
personagens. Clássico, incorporado desde 1973, o famosíssimo
correio eletrônico é descrito em diversas narrativas, “transcrito”
também. A diagramação dessas conversas via e-mail costumam variar
de acordo com o profissional que acerta as arestas dos livros, ou
mesmo o autor, que decide o formato da sua edição.
Um
exemplo, facilmente difundido e visto por milhares de pares de olhos,
foi a troca indiscreta e dominadora de mensagens entre Christian Grey
e Anastasia Stelle. A autora da trilogia (+1) de “50 Tons de Cinza”
descreveu os e-mails com direito a data, horário, assunto...
Igualzinho como se tivesse feito um print
do correio eletrônico dos personagens e transportado para os livros.
(primeira
troca de mensagem entre os personagens de E.L. James):
"De:
Christian Grey
Assunto: Seu novo computador
Data: 22 de
maio de 2011 23:15
Para: Anastasia Steele
Prezada
Srta. Steele,
Creio que tenha dormido bem. Espero que faça bom
uso deste laptop, como discutimos.
Aguardo
ansioso para o jantar de quarta-feira.
Responderei
com prazer a quaisquer perguntas antes disso, por e-mail, se a
senhorita assim o desejar.
Christian
Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
________________________________
De:
Anastasia Steele
Assunto: Seu novo computador (emprestado)
Data:
23 de maio de 2011 8:20
Para: Christian Grey
Dormi
muito bem, obrigada — por algum motivo estranho —, Senhor.
Entendo que o computador é um empréstimo, portanto, não pertence a
mim.
Ana"
Repare
que a autora passou uma linha para dividir as mensagens. Mas se um
espaçamento duplo tivesse sido a escolha para separar os e-mails,
também não haveria dificuldade para o leitor compreender o
detalhamento de quem para quem nas mensagens. Foi mais ou menos o que
optou a autora de Peça-me o que quiser, Megan Maxuell, entre uma
mensagem de e-mail e a resposta, ela narrou o sentimento da
personagem:
O
livro Os e-mails de Holly,
da autora Holly Denhan (que é um pseudônimo e, enfim, a história
desse pseudônimo é longa, literalmente, “700 páginas”) é
ainda mais interessante, pois o leitor praticamente olha por cima da
tela, do monitor. O leitor (alerta de voyeurismo cômico) fica de
frente para a caixa de e-mail da autora,
não tem nada a ver com o print
como no caso de E.L. James, a diagramação dos e-mails de Holly é
muito legal e diferente. Aqui vai uma foto para verem do que estou
falando:
Bem
bacana, não é?
Parecido
também com o livro @mor, do autor Daniel Glattauer (ele dispensou o
itálico no corpo do e-mail, usou-o apenas em sua narrativa. Com a
formatação especial, manteve os “RE” e “FW” em negrito):
“33
dias depois
Assunto:
Cancelamento
Prezados
senhores e senhoras da editora Like,
Caso
o fato de os senhores ignorarem insistentemente minha tentativa de
cancelar uma assinatura tiver como objetivo não deixar cair o volume
de vendas de seu produto, que está em lamentável e constante
decadência, infelizmente devo lhes comunicar: eu não vou mais
pagar!
Cordialmente,
E.
Rothner
Oito
minutos depois
Fw:
A
senhora se enganou. Este é um e-mail particular. Meu endereço
eletrônico é woerter@leike.com. A senhora certamente queria
escrever para woerter@like.com. A senhora já é a terceira pessoa
que me pede o cancelamento. A revista realmente deve ter ficado muito
ruim.
Cinco
minutos depois
Re:
Oh,
me desculpe! E obrigada pelo esclarecimento.
Saudações,
E.
R.”
Há
um outro livro que traz uma diagramação diferente nessa troca de
e-mails entre personagens, um montão de pares de olhos também
passaram por esse livro. John Green foi direto ao ponto:
“Na
manhã seguinte, acordei cedo e fui logo verificar meus e-mails.
lidewij.vliegenthart@gmail.com
tinha finalmente respondido.
Cara
Srta. Lancaster,
Temo
que sua fé tenha sido depositada no lugar errado — mas, para falar
a verdade, é isso o que geralmente acontece com a fé. Não posso
responder às suas perguntas, pelo menos não por escrito, porque
redigir tais respostas constituiria uma continuação de Uma aflição
imperial, que a senhorita poderia acabar publicando ou compartilhando
na rede global que substituiu os cérebros de sua geração.
Poderíamos utilizar o telefone, mas, nesse caso, a senhorita poderia
acabar gravando a conversa. Não que eu não confie em você, é
claro, mas não confio em você. Ai de mim, cara Hazel, eu jamais
poderia responder a tais perguntas exceto pessoalmente, e você está
aí, ao passo que eu estou aqui. (...)”
Em
A Culpa é das Estrelas
tem um bocado de troca de mensagens eletrônicas (e-mail, mensagem de
texto via sms...), o diagramador manteve espaçamento entre a
descrição da narrativa e narrativa das mensagens, mas, em qualquer
dos casos, não houve detalhamento ao estilo print
de mensagens, apenas o bom
e velho itálico. E não encontramos caixinhas de texto desenhadas. A
gente pode encontrar essas caixinhas em alguns livros também, mas é
mais recorrente em mensagens via sms.
Eu
li O Diabo veste Prada, da Lauren Weisberger, e por lá não há
nenhum tipo de diferenciação na diagramação de e-mails. Chequem
como ficou a cena:
“— Sim,
ele é surpreendente — Emily dizia com um suspiro, torcendo o fio
do telefone em seu dedo indicador. — Foi o fim de semana mais
romântico que já vivi.
Pim!
Você tem um novo e-mail de Alexander Fineman. Clique aqui para
abrir. Opa, divertido.
Elias-Clark tinha isolado o mensageiro instantâneo, mas, por algum
motivo, eu ainda recebia notificações instantâneas de que tinha
novo e-mail.
Oi,
gata, como foi seu dia? As coisas aqui estão uma loucura, como
sempre. Lembra que lhe contei que Jeremiah tinha ameaçado todas as
meninas com um estilete que havia trazido de casa? Bem, parece que
ele falava sério (...)”
Simples
assim. Sem itálico, nem recuo especial, nem nada (as aspas acima
ficam por conta da citação).
Então,
até agora, temos alguns exemplos de gêneros e autores diversos, que
conseguem se fazer entender sem que isso agrida nossos olhos (estou
falando de diagramação, não levem tão a sério os exemplos, eu
não estou defendendo nenhum livro aqui).
Beleza,
encontramos um monte de maneiras de citar e-mails nos livros, mas, e
em fanfic? Tem jeito de diagramar, de mostrar que é um e-mail sem
que fique tosco? Ora, sem dúvida!
Apesar
de inúmeras restrições que um site tem, o autor pode e deve contar
com os travessões, underlines, as explicações de quem mandou o quê
e a que horas sobre
determinada coisa, e ainda há os negritos e itálicos. Desde que —
e que isso fique bem claro —, seja tudo com muita moderação. Até
mesmo quando as letras maiúsculas se fizerem necessárias. Não
precisa abusar do itálico ou do negrito, lembre-se de que o leitor
ficará com glaucoma se for obrigado a forçar demais a vista em
textos inteiramente em itálico. No exemplo de “A Culpa é das
Estrelas” (quem tem o livro, sabe do que estou falando), são
e-mails curtos, o diagramador (ou o autor, não sei quem optou pelo
itálico), não escreveu uma “carta régia” com mais de mil
palavras em itálico, o texto fica bem organizadinho, não cansa a
vista e o espaçamento entre as linhas também é aceitável, na
verdade é bem-vindo.
Uma
observação pertinente: Em casos de e-mails com horário, lembre-se
de que há o tempo de digitação, mais o tempo para o envio e coisa
e tal, para não extrapolar na incoerência. Imagine, um e-mail de
duas mil palavras e uma resposta de outras duas mil palavras, com o
“apito” de envio e recebimento em intervalos de trinta segundos?
Oi?
Exatamente, não vai dar certo... Se optarem por registrar até mesmo
o horário, as mensagens têm de fazer sentido de acordo com o
tamanho e complexidade do assunto. Também fica difícil de engolir,
um e-mail de trinta segundos, para um personagem responder meia dúzia
de palavras, porém, palavras tensas, como um rompimento quando ainda
se ama, ou a notificação do falecimento de um ente querido que era
realmente querido, ou qualquer coisa do tipo, logo, não deixe de
ficar atento ao tempo de envio e recebimento dessa correspondência.
Verossimilhança sempre!
Acho legal que vocês sempre fazem um tutorial pra cada coisa, qualquer assunto que o leitor quiser tem aqui :D
ResponderExcluirUma coisa da qual sinto falta no Niah é a variedade de fontes. Elas são bem úteis para diferenciar os e-mails do texto normal do livro. Entendo que pode ser pras pessoas não poluírem demais o visual, mas sei lá, pelo menos selecionar algumas fontes eles podiam.
Acho que a gramática é uma coisa bem interessante para aliar com a personalidade do personagem. Por exemplo, se um personagem é mais certinho, tipo eu, ele vai usar pouca abreviação, colocar letra maiúscula, acentuação, etc. Mas se ele não liga para isso desde que sua mensagem seja entregue mais rapidamente, vai usar mais abreviações. Um personagem mais fofo usa mais emoticons que a maioria, e por aí vai.
Ficamos muito contentes que gostes do nosso blog! Quanto à tua sugestão, eu acho melhor falares diretamente com o Suporte lá no Nyah!, visto que nós não podemos fazer nada nesse aspeto :)
ExcluirBeijos