Bem, é a segunda vez que dou minha
cara a tapa aqui no Blog, e dessa vez vim trazer mais uma sugestão dada por
vocês, que é sobre “expressões mais utilizadas em fics”.
Para início de conversa, é sempre
algo muito vago pegar as coisas que julgamos “mais comuns” e simplesmente
montar uma espécie de listinha e pronto. Então, para este artigo, eu achei mais
interessante não só citar, mas também comentar um pouco dessas ditas expressões
comuns. Ou como alguns preferem chamar: clichês.
Antes de mais nada, quero que saibam
que em nenhum momento existiu a intenção de ofender alguém ou criticar essa ou
aquela história. O artigo tem mero intuito esclarecedor e nada além disso,
certo? Certo.
~~
O mais curioso quando fui pensar sobre
“as coisas que mais aparecem nas histórias” é que, por mais que você leia
gêneros diferentes, de autores diferentes, das mais diversas faixas etárias,
pode-se encontrar, sem muita dificuldade, alguns elementos que estão, de certa
forma, cristalizados no mundo das fanfictions e, até mesmo, originais. Chega
até ao nível cômico, porque parece que você lê e lê e por mais que veja plots
(enredos) completamente diferentes, bem como a forma de escrita, sempre vai
encontrar aquele elemento comum nas mais variadas histórias.
Notei que a grande maioria das
“expressões comuns” se concentram muito em cenas de descrição de personagens,
cenas românticas e/ou eróticas, o que, de certa forma, facilitou no processo de
montagem da lista. Embora algumas expressões sejam de fato pequenos erros dos
autores — sobretudo no que diz respeito as cenas mais eróticas —, outras são
meramente cópias do mundo das fics de maneira geral.
Se você, caro leitor, ainda estiver
“boiando”, te proponho esse pequeno desafio: vá até o Nyah! Fanfiction e leia
algumas histórias. Escolha aleatoriamente. Note que, em algumas delas, poderão
ser encontradas certas formas de descrever muito semelhantes — para não dizer
idênticas —, ou outros elementos que são, de certa forma, comuns. E o mais
interessante é que as histórias não são plágios, cópias, etc.
O que você pode observar não passa
de meras repetições descritivas que há muito se fixaram no universo das fics.
Algumas pessoas não veem problema
algum nisso, do contrário, até gostam. Outras já são mais radicais, pendem para
a crítica e dizem não gostar de tais expressões. Como tudo nessa vida, é apenas
mais uma questão de gosto, e enquanto existem aqueles que assim que batem os
olhos em um elemento “x” ou “y” de uma fanfic (ou original) já desistem da história,
existem os que amam e só leem aquilo por existir tal elemento. Vamos somente
nos atentar aos erros e deixar de repeti-los, porque, por mais que possam soar
como algo legal, é sempre um problema reproduzi-los, pois sempre dão uma falsa
impressão da realidade e aí vem aquela montanha de decepções.
~~
Fiz uma breve pesquisa, li muitas
histórias e também perguntei a várias pessoas sobre as expressões mais comuns
das fics e depois de uma análise, aqui vos apresento uma listinha das oito
expressões mais comuns nas fics:
1) Em primeiríssimo lugar:
“E as línguas travaram uma batalha em
que não importava o vencedor”; “A língua de fulano pediu permissão/acesso e
esse foi concedido”; “As línguas disputavam a dominância” e suas variantes.
Meus queridos, esse lance da língua
lutadora chove mais nas fics que água na Amazônia. É impressionante. Eu
confesso que da primeira vez que li, achei uma descrição de beijo inusitada,
mas depois, quando fui lendo mais histórias, notei que é algo tão comum, mas
tão comum que já se cristalizou em forma de clichê. Não sei vocês, mas depois
de um tempo, a ideia de duas línguas “brigando” passa a ser engraçada, e acaba
com aquele clima que o autor está tentando passar com a cena. Também tendem a
relacionar muito esse lance da língua com uma espécie de jogo de poder na
relação das personagens envolvidas, algo meio “passivo x ativo”, ou coisas do
tipo. O cúmulo mesmo é ler uma longfic e perceber que em quase todos (senão
todos mesmo) os beijos de determinado casal (ou qualquer beijo de qualquer
personagem) rola esse lance das línguas. Gente, além de ser algo extremamente
cansativo para o leitor de ver tamanha repetição, demonstra uma falta de
criatividade do autor, torna a história desinteressante e até um tanto surreal.
Queridos, sejamos sinceros, ninguém aguenta SÓ dar beijos de língua O TEMPO
TODO em outra pessoa. Selinhos, beijos na bochecha, mordidinhas etc, estão aí
no quotidiano, clamando para serem explorados.
Um beijo, meus amores, pode ser
descrito das mais diferentes formas, com as mais diversas variações. Você não
precisa se prender ao que está acontecendo dentro das bocas das personagens —
até porque, na vida real, as pessoas não param pra pensar sobre o que a língua
de um está fazendo na boca de outro (nojinho, ew) —, para narrar uma cena que
exista o beijo. Se é uma cena mais romântica, ou erótica, ou simplesmente um
beijo corriqueiro, você pode descrevê-lo como o simples ato, sem mais detalhes
ou ainda, se focar nos sentimentos e emoções dos envolvidos — que é o que mais
importa, afinal de contas.
2) Segundo lugar:
“E os dois gozaram juntos”
Ok, esse aqui já é bastante
problemático. Não sei se já leram os lindos artigos aqui do blog que discutem
os erros mais comuns nas cenas +18, mas lá esse aspecto é abordado em detalhes,
explicando tudo direitinho e recomendo a leitura. Retirando um trechinho de lá
mesmo do artigo, posso explicar de forma bem clara a vocês o problema dessa
expressão, que despenca nas fics mais que mol em prova de química:
“Para um casal
vivenciar um momento assim [gozarem juntos], os dois lados precisam não apenas
se conhecer bastante como também possuírem muito autocontrole. E mesmo que eles
cumpram esses “requisitos”, gozar juntos não é algo que acontece o tempo todo,
porque por mais que uma pessoa saiba quando está perto de ter um orgasmo, ela
nunca vai ser capaz de adivinhar o momento exato. E se até para um casal que já
se conhece há anos esse é um feito que exige muito esforço — e que pode até
mesmo nunca acontecer —, isso é algo literalmente impossível para virgens e
pessoas inexperientes.
É claro, pode acontecer. Mas isso é algo tão escrito em fanfics
por aí que acaba sendo melhor fazer com que os participantes da cena tenham
orgasmos separados. Ainda assim, se você quer usar esse recurso na sua cena,
use, mas saiba que isso é algo raríssimo de acontecer e que fica melhor sendo
usado uma única vez do que em todas as cenas de sexo da sua fanfic.”
Mais claro impossível, não? :D
3)
Terceiro lugar:
“E o ruivo fez isso, e a morena fez
aquilo, mas o loiro fez outra coisa.”
Sim, eu
sei que na hora de nos referirmos a alguém queremos sempre evitar ao máximo a
repetição para não tornarmos a leitura cansativa, mas chegar ao ponto de só se
referir ao seu personagem a partir da cor de cabelo dele é um saco. Já cheguei
ao nível de ler uma cena com dois personagens de mesma cor de pele e cabelo e
acabar me perdendo na narrativa sobre quem estava fazendo o quê. É um desastre.
Vamos sempre estudar os pronomes, consultar o dicionário ou aquele site de sinônimos
que eu sei que você acessa quando dá um aperto (risos).
É legal
sempre reler o trecho em questão, ver se não tem mesmo alguma outra forma de se
referir a determinado personagem. Apelidos, sobrenomes, estatura, massa
corporal, enfim, existe um leque de possibilidades super amplo de como falar
diretamente de algum personagem. O segredo está em não se viciar em apenas uma
dessas tantas formas, e sim, variar e brincar com essa grande quantidade de
formas.
Usar
algumas vezes tal referência, tudo bem. Somente ela? Acho melhor não, hein?
4)
Quarto lugar:
“Aquelas orbes (insira uma cor aqui)”
Essa
expressão pode parecer algo mais original, mas na verdade é uma expressão
relativamente comum nas histórias em que o autor tenta sair um pouco do mar de
clichês e se aventurar em descrições “mais poéticas”, porém acaba caindo aqui.
Caberia uma pequena crítica de que as orbes têm a incrível tendência de
adquirirem a cor azul, ou verde, mas não vou entrar nesse mérito aqui porque
essa discussão é pra outro artigo.
Segundo
o Priberam, orbes significam “corpo esférico ou circular, bola, esfera, globo;
esfera celeste ou terrestre; mundo, universo; qualquer corpo celeste; área de
atividade.” Como podem ver, essa palavra tem toda uma pegada mais puxada para a
astronomia, e não para uma descrição mais poética sobre os olhos de alguém. Uma
descrição de olhos que mais gosto é a de ninguém mais ninguém menos que o nosso
grande Machado de Assis, que arrasou em seu livro “Dom Casmurro” descrevendo os
olhos de Capitu como “oblíquos e dissimulados” e também como “olhos de
ressaca”.
Claro,
você não precisa “ser um Machado de Assis”, mas o meu ponto é: na hora de
descrever algo, o céu é o limite. Você pode estimular sua criatividade através
da leitura e perceber que existem muitas coisas legais nesse mundo da escrita.
Cada pessoa tem seu modo singular de descrição. A percepção humana é ímpar,
cada pessoa tem sua única impressão sobre o mundo. Qual o sentido em se limitar
às expressões super batidas que existem por aí?
5) Quinto lugar:
“Quando os dois se tocaram, foi como
se uma corrente elétrica tivesse passado pelo corpo dela/dele/dos dois”
Essa
expressão aqui é muito vista em romances (sobretudo nos que envolvem
adolescentes), naquele momento “tcham” em que o casal tem o primeiro (de às
vezes, muitos) “encontros ao acaso”. Aquele esbarrão, ou um tocar acidental de
mãos e aí aparece esse “choque”. Eu diria que é até fofinha essa ideia de que
ao se tocarem os dois sentiram algo diferente, mas… Poxa, a ideia de um choque
não é lá muito romântica. Choques não são agradáveis. São incômodos, machucam,
irritam, assustam. E ninguém em sã consciência ao ter um pequeno contato físico
com alguém vai sentir “uma corrente elétrica passando dentro de si”, como
muitas vezes é colocado. Mais uma vez, se quer dar um ênfase tão grande em
momento tão corriqueiro (ainda que outros pontos pudessem ser mais explorados,
como se a pele do outro estava gelada ou não, o tempo de duração do toque, se
aquela situação incomodou a personagem ou não etc.), outras estratégias
descritivas poderiam ser utilizadas. Cabe a você ler um pouco mais e forçar a
própria criatividade para fugir dessa coisa excessivamente romantizada e até
previsível para dar um “quê” a mais nesse momento particular na sua história,
para que ela não seja vista como apenas mais um clichê do imenso mar de fanfics
do nosso amado Nyah.
6) Sexto
lugar:
“Só nos separamos quando o ar se fez
necessário” e suas variantes.
Caraca,
essa expressão aqui é outra quebradora de recordes desse mundo de histórias.
Geralmente vem após o duelo de línguas e tende a estar presente em TODOS os
beijos mais “profundos”. É impressionante a falta de fôlego desses personagens
ou a intensidade monstruosa de todos os beijos ao ponto de chegar ao nível de
“parar o beijo para respirar”. Brincadeiras à parte, sim, é possível termos
esses beijos arrasadores de pulmões, mas… Todas as vezes não, né? Cada beijo é
de um jeito, com uma intensidade, duração, intenção e milhares de outros
pequenos fatores que podem ser pensados na hora de se escrever. É, novamente,
uma questão de pensar. Você quer demonstrar que aquele beijo foi intenso? Que
ele foi daqueles de cinema, ou o melhor beijo da vida do seu personagem? Ótimo.
Mas que tal pensar em alguma forma diferente de se falar isso, ultrapassando
esse lance da falta de ar?
7)
Sétimo lugar:
“E a dor se transformou em prazer”
Ahá,
essa expressão aqui é famosa em cenas de sexo, mais precisamente, nas que
envolvem a primeira vez de algum personagem. Muito recorrente em lemons (sexo
explícito entre dois homens), mais até que em hentais, essa descrição tem por
objetivo maior dar aquela continuidade na cena, porque, sim, escrever cenas de
sexo sem que fiquem muito curtas/cansativas tem um certo grau de dificuldade
ou, então, tem a finalidade de dar um “twist” mágico entre o incômodo da
“primeira vez” e o prazer do ato sexual.
Em
primeiro lugar, sexo não é algo muito simples de se escrever. Embora esteja
banalizado e muitos achem que sexo é sempre sexo e será escrito essencialmente
da mesma forma, não é bem assim, sobretudo, no que diz respeito à primeira vez.
Sempre busque, ao escrever esse tipo de cena, pesquisar sobre o assunto,
discutir em grupos de escritores, utilizar das próprias experiências (se for o
caso) ou até mesmo conversar com alguém sobre. Sexo é algo que envolve muitas
sensações, emoções e tem infinitas possibilidades de se utilizar para
descrever. Além disso, cada relação sexual é única. Mesmo se forem os mesmos
envolvidos, a relação será diferente. Então querer jogar um “e a dor se
transformou em prazer” nesse tipo de cena é algo muito limitador, sendo que
muitos outros pontos poderiam ser trabalhados. Existem relatos de relações
sexuais em que a mulher não sentiu dor na sua primeira vez, sabiam, queridos? E
aí, vão pesquisar mais sobre o assunto? Acho que deveriam. Uma excelente dica é
a leitura dos três artigos sobre “erros mais comuns em cenas de sexo”, daqui do
blog, como recomendei antes.
8) “A
rosada/a castanha/a achocolatada”
Não
exclusivas ao gênero feminino, essas expressões aqui são frequentemente
utilizadas para se referir a cor da pele da personagem. Soando mais como
eufemismo desnecessário que romantização, essas expressões acabam se tornando
um vício na descrição de muitos autores.
Penso que este seja um mecanismo
descritivo buscado pela grande maioria dos autores, para que não soem
“preconceituosos” em sua história, mas adivinhem só uma coisa: falar pele
negra, branca, parda, o que for, não é errado. Nem feio. Nem ofensivo.
É muito complicado você querer fugir
desse tipo de descrição, porque ela é real. Ela existe. No nosso cotidiano
vemos e convivemos com pessoas negras, brancas, pardas e etc. Não tenham medo
em escrever dessa forma mais “direta”, porque deixa a sua história mais real,
mais vívida, e quem sabe, com um quê de representatividade.
~~
Para
finalizar, reforço a ideia de que este artigo não tem a intenção de ofender
ninguém. Além disso, se você por acaso já tiver usado alguma dessas expressões
e quiser mudar isso (se não quisesse, creio que não estaria lendo até aqui),
não se desespere. As mudanças vem com o tempo, gradualmente. De início,
recomendo, se possível, a releitura de suas histórias que tenham uma ou outra
expressão. Note em que momento ela foi colocada, e qual era sua intenção por
trás da utilização dela. Entenda a sua escrita, para que possa modificá-la. É
um processo de amadurecimento muito íntimo, e é trabalhoso. Vai valer a pena no
futuro? Sem dúvidas. É sempre um crescimento se desvencilhar de “coisas
prontas” e criar as suas próprias. Uma dica seria buscar a ajuda de um leitor
beta, que tem a capacidade de auxiliar nesse processo.
Agora,
se quiser continuar a utilizar as expressões, pois afinal, a história é sua e
escreve como bem entender, tudo bem também. Contudo, tenha sempre em mente que
aquela expressão não acrescenta na sua história, na verdade, torna-a mais
comum, e, com isso, seu grau de dificuldade em criar algo que possa se destacar
nesse oceano de fics fica consideravelmente maior.
Até a
próxima!
http://ligadosbetas.blogspot.com.br/2013/08/erros-comuns-em-cenas-de-sexo-parte-13.html
http://ligadosbetas.blogspot.com.br/2013/10/erros-comuns-em-cenas-de-sexo-parte-2.html
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https://www.priberam.pt/
E o coque frouxo? A passadinha de sempre no Starbucks? Porque honestamente, já cheguei a conclusão que não existe mais nenhum tipo de penteado/cafeteria nesse mundão de fanfics *Risos*
ResponderExcluirGostei bastante, vi errinhos que eu cometia sem nem perceber ~oi orbes brilhante e correntes elétricas~ e, francamente, sobre as correntes eu nunca tinha parado para pensar de verdade. Quem em sã consciência ficaria feliz/ansioso para que isso acontecesse de novo? Olha, eu não.
Eu estou lendo artigo seguido de artigo e amando loucamente. Parabéns!
Obrigada pelo comentário! <3 Ainda bem que gostas do nosso blog! :D
ExcluirBeijos
Sobre o corrente elétrica, passa mais como uma metáfora, não um sentimento real, entende? É como se o toque daquele ser humano a deixasse num êxtase. Creio que sim, se tornou algo cansativo por constantemente ser usado em fanfic e todo esse processo banal. Mas acho que isso vale mais como interpretação de texto do próprio leitor, pela mensagem que o autor quis passar, afinal, metáforas existem para quê, não é?
ResponderExcluirBeijos, adoro o blog <3
Obrigada pelo comentário!
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