National Book Awards: O Discurso da Autora Ursula K. Le Guin

segunda-feira, 21 de setembro de 2015
National Book Awards: O Discurso da Autora Ursula K. Le Guin
Tradução por: Elyon Somniare

Saudações, juventude!
Hoje vamos deixar-vos com uma pequena tradução: o discurso da autora Ursula K. Le Guin, aquando o recebimento do prémio National Book Awards. Como as palavras delas têm mais conteúdo que as minhas, vamos lá!

“Obrigada, Neil [Neil Gaiman, quem anunciou o prémio], e os meus agradecimentos do fundo do coração aos atribuidores deste lindo prémio. A minha família, o meu agente e os meus editores sabem que o facto de eu estar aqui é tanto devido a eles como a mim, e que este lindo prémio é tanto deles como meu. E regozijo-me ao aceitá-lo por, e a partilhá-lo com, todos os autores que foram excluídos da literatura por tanto tempo, os meus companheiros, os autores de Fantasia e Ficção-Científica — escritores da imaginação, que durante os últimos cinquenta anos viram os lindos prémios serem atribuídos aos tão-chamados realistas.
Penso que tempos difíceis se aproximam, tempos em que quereremos as vozes de escritores que podem ver alternativas ao modo como vivemos agora e que conseguem ver através da nossa sociedade, acometida pelo medo e pelas suas tecnologias obsessivas, até outros modos de ser, e até mesmo imaginar alguns terrenos reais de esperança. Vamos precisar de escritores que se possam lembrar de liberdade. Poetas, visionários – os realistas de uma realidade maior.
Neste momento, julgo que precisamos de escritores que saibam a diferença entre a produção de mercado e a prática de uma arte. Desenvolver material escrito para se adequar a estratégias de vendas, em ordem a maximizar o lucro corporativo e o rendimento publicitário, não é exactamente a mesma coisa que publicação e autoria responsáveis.
No entanto, vejo departamentos de vendas a terem controlo sobre o factor editorial; vejo os meus próprios editores num pânico tonto de ignorância e cobiça, cobrando a bibliotecas públicas seis ou sete vezes mais por um ebook do que aquilo que cobram a um cliente. Vimos há pouco tempo um aproveitador tentar castigar um editor por desobediência, e escritores ameaçados por leis corporativas, e vejo muitos de nós, produtores que escrevemos e fazemos os livros, a aceitar isto. Deixamos que os exploradores de mercadoria nos vendam como desodorizante, nos digam o que publicar e o que escrever.
Os livros, sabem, não são apenas mercadoria. O objectivo do lucro está frequentemente em conflito com a aspiração à arte. Vivemos no capitalismo. Parece ser impossível escapar ao seu poder. Assim também parecia o poder divino dos reis. Todo o poder humano pode ser resistido e desafiado por seres humanos. Resistência e mudança começam frequentemente na arte, e frequentemente na nossa arte – a arte da palavra.
Tenho tido uma carreira longa e boa. Em boa companhia. Agora, no final dela, não desejo ver a literatura americana a ser traída. Nós que vivemos da escrita e da publicação queremos – e devemos exigir – a nossa justa parte dos proventos. Mas o nome do nosso lindo prémio não é lucro. É liberdade.
Obrigada.”

Le Guin abordou dois dos temas que mais são discutidos entre as comunidades de escritores e leitores, não apenas americanas, mas em geral: a resistência em encarar os géneros da Fantasia e da Ficção Científica como “literatura séria”, e o dilema da “arte vs lucro” que nos é trazido aquando a chegada — ou tentativa de — dos livros ao mercado. Julgo que a opinião da afamada escritora em um e outro assunto ficou bem clara nas suas (poucas) palavras. Qual é a vossa?

2 comentários:

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