Liga
dos Betas (LB):
Olá, Alice. Antes de mais, obrigada por teres aceitado esta
entrevista ao blog
da Liga, apesar de desejares manter uma certa reserva em relação a
ti mesma. A primeira pergunta tem exatamente a ver com isso: Alice
Álamo é um pseudónimo, correcto? Por que decidiste adoptar um?
Alice
Álamo (AA): Oi,
Liga! Eu que agradeço o carinho de vocês e a entrevista. Sim, Alice
Álamo é um pseudônimo. Eu pensei muito antes de tomar essa
decisão, para ser sincera. Apesar de querer muito o meu verdadeiro
nome no livro e quase não conseguir conter a vontade de dizer para
todo mundo que tinha escrito um, eu realmente notei que o pseudônimo
me daria mais liberdade para tratar de temas polêmicos sem ter que
me justificar para amigos ou familiares.
LB:
Esses
temas polémicos que são tratados no teu livro, Meu
Pequeno Demónio,
são yaoi e incesto, correcto? Já ficou evidente o que esperarias de
amigos e familiares caso soubessem, mas qual a recepção que esperas
ter do público em geral?
AA:
Sim,
os temas polêmicos do livro são o Yaoi e o Incesto entre irmãos.
Eu espero, acho, o que todo autor deseja: despertar o sentimento.
Curiosidade, incredulidade, aceitação, negação. Eu espero, por
meio de um romance, trazer uma reflexão ao leitor, fazer com que ele
ao menos pense nesses temas com uma visão diferente do senso comum.
Quanto ao que esperava dos meus amigos e parentes, fui totalmente
equivocada. Todos aceitaram muito bem a notícia e ficaram orgulhosos
de mim (se bem que ainda nenhum deles leu o livro ~risos~).
LB:
É das coisas boas de trazer os nossos trabalhos à luz do dia,
acabamos por nos surpreender com o apoio que recebemos. Recuando
agora um pouco às origens, por que começaste a escrever?
AA:
Totalmente
influenciada pela minha irmã. Minha irmã lia fanfics de Harry
Potter e eu sempre fiquei curiosa sobre isso. Comecei então a ler
fanfic. Quando ela escrevia os seus textos, eu sempre lia e acabei
querendo escrever também. Entretanto vi que não tinha nenhum
talento para fanfics de Harry Potter. Essa época coincidiu com a
estreia de Naruto na televisão, e eu me identifiquei com o fandom.
Acho que em 2008 eu lancei minha primeira fic de Naruto no site
NarutoImagensV3. Eu nem sabia da existência do Nyah ainda! (risos)
LB:
Ainda
te lembras da sensação de quando publicaste essa primeira fic de
Naruto? Como se compara com a sensação que tens hoje, a publicar as
tuas histórias no Nyah, e agora também o teu livro em mercado
editorial?
AA:
A sensação da primeira fanfic nunca se esquece, né? Era uma
história bobinha, mas que foi muito bem aceita. Eu lembro que o site
era pequeno, então todo mundo lia e comentava as fics de todo mundo.
Foi uma das fics mais divertidas de se escrever. Hoje a sensação é
diferente. Continua sendo uma maravilha escrever, receber comentários
e responder, interagir com os leitores sempre foi a parte que eu mais
gostei. Porém acho que as fanfics criaram uma importância maior, eu
levo mais tempo para desenvolver o enredo, me preocupo mais com o
psicológico das personagens. Coisas em que você não pensa muito na
sua primeira fanfic. O livro dá medo. Acho que essa é a sensação
mais forte quando se ingressa no mercado editorial. É medo de
recusarem, da editora mudar de ideia, de não conseguir uma capa boa,
de decepcionar os leitores, dentre outros! Mas ainda assim é
maravilhoso o sentimento de realização, de vitória.
LB:
Quase
parece que houve uma gradação de sentimentos à medida que
avançavas enquanto escritora. E como foi o processo de tornar a
fiction que tinhas publicada no Nyah num livro? Houve apoio da
editora, a Buriti, tanto nessa transformação, como mais tarde, com
o processo de publicação em si?
AA:
Acho que foi sim uma gradação. Gosto disso. A fic Meu
Pequeno Demônio
me chamou muito a atenção. Eu não tive a ideia de publicá-la como
livro até que o número de comentários, visualizações e
recomendações extrapolaram muito as minhas expectativas. Quando eu
percebi, a fic já tinha mais de 10.000 visualizações e umas nove
recomendações! Eu nunca achei que conseguiria tanto. Comentei com a
minha irmã sobre a ideia de publicar, e ela, que é uma pessoa super
crítica, adorou a ideia. Nisso, eu revisei a fic, alterei os nomes e
fiz pequenas modificações estruturais. Mandei para quatro editoras,
se eu não me engano. Mais uma vez, fiquei chocada com o resultado
quando três delas aceitaram. A Buriti foi a escolhida porque foi a
editora que me deu mais liberdade: pude usar o pseudônimo e escolher
eu mesma a capista. O processo de publicação foi simples e muito
bem feito. Assim que assinei o contrato, o texto passou por uma
revisão (a qual, pelo contrato, estava proibida de qualquer tipo de
censura ou alteração não autorizada por mim) e depois disso,
quando a capa feita pela capista Marina Ávila estava pronta, começou
a diagramação. O processo todo levou cerca de apenas três meses!
No começo de Janeiro, eu soube que o livro já entraria em
pré-venda.
LB:
Existe
alguma diferença significativa entre tu escritora-de-fics e tu
escritora-de-livros?
AA:
Acho que não. Muitos me aconselharam a alterar muitas coisas no
livro porque eram "aceitáveis só nas fanfictions", mas
ignorei todos (risos). Não acho que fanfics e livros sejam tão
diferentes. Já li fanfics melhores que muitos livros e não eram da
categoria "Originais". Creio que quem altera a própria
obra por isso está se censurando, querendo se enquadrar no que
imagina ser mais aceito pela sociedade. Como eu disse, quis
incomodar, e sei que, para os não acostumados com Yaoi, vai ser sim
um incômodo, o meu livro.
LB:
Focando-nos agora mais no processo de escrita, houve momentos
complicados durante a escrita de Meu
Pequeno Demónio?
Costumam ser gerais à tua escrita, ou prenderam-se com esta história
em específico?
AA:
Sim, houve dificuldades. Eu não imagino a escrita sem dificuldades.
Teve momentos em que eu simplesmente não sabia mais que rumo dar à
história e cheguei a ficar meses sem postar um novo capítulo.
Entretanto eu li uma entrevista, não me lembro do autor agora, em
que o escritor disse que nunca estava inspirado para escrever seus
livros. Adicionou ainda que dava mais valor aos capítulos que
escrevia contra sua vontade do que aos que escrevia inspirado, pois
dos capítulos movidos por surtos criativos ele não se lembrava
depois de uma ou duas semanas, mas daqueles em que perdera horas
tentando escrever ao menos mil palavras, desses ele se recordava e se
orgulhava de ter escrito. Adotei esse estilo! Em todas as minhas
histórias, eu tenho momentos de bloqueio. É algo muito comum para
mim, porém agora eu simplesmente continuo escrevendo até fechar o
capítulo.
LB:
E o processo de revisão? Preferes fazer tudo sozinha, ou costumas
recorrer a um beta ou a um revisor?
AA:
Depende muito. Eu reconheço, e muito, o trabalho de um beta e um
revisor. Eu gosto de recorrer aos betas para as fics one-shots. Para
as long-fics, eu sofro. Toda vez que precisei de um beta para fandom
Naruto, gênero Yaoi com Incesto, nunca achei alguém disponível.
Mas eu aprecio muito ter minhas fics betadas! Acho maravilhoso postar
um texto limpo, sabe? Apesar dos puxões de orelha da minha querida
Anne L, eu adorava quando ela betava minhas fics!
LB:
E a tua faceta como leitora? Gostas de ler fanfics?
AA:
Sou apaixonada. Meu pai sempre achou que fosse algo passageiro, mas
não consigo parar de lê-las. Eu considero um site de fanfics uma
escola de artes. Ele abre possibilidades, eu acho que nunca saberia
que podia escrever se eu não tivesse começado pelas fanfics. Além
disso, acho incrível como o ser humano pode criar tantas situações
e universos diferentes! Eu sempre me surpreendo lendo, vendo enredos
que eu nunca seria capaz de desenvolver, sabe? Sem contar nos mais
diferentes pontos de vista com os quais entramos em contato. Ler
fanfics para mim é sempre divertido e impressionante.
LB:
Chegou a vez da última pergunta: que conselho tens para aqueles que
pretendem tornar as suas fics em livro físico?
AA:
Não
pensem duas vezes. Sempre que essa ideia aparece na cabeça do autor,
ele se pergunta se a história está realmente boa para isso e tem
medo de ser rejeitado. O meu conselho é: tentem. Revisem a história,
veja uma editora que tenha uma linha editorial semelhante à da sua
história (isso realmente é importante) e arrisquem! É importante
também ser paciente, as editoras demoram para dar uma resposta, seja
positiva ou não, então esperem porque de fato vale a pena.
LB:
Mais uma vez, muito obrigada pelo tempo e paciência despendidos,
Alice. Esperamos que as vendas corram sobre rodas, e que os leitores
se sintam demonizados. ;)
A
resenha de Meu
Pequeno Demónio,
de Alice Álamo, será publicada na próxima Quinta-feira, aqui no
blog
da Liga. Caso desejem adquirir o romance, poderão fazê-lo no site
da editora, aqui.
Que legal, pretendo comprar :D
ResponderExcluirÉ sempre bom ver autoras de fanfics que conseguem publicar um livro, são verdadeiras inspirações!
Ah,eu li uma fanfic de Naruto da Alice e simplesmente me apaixonei. Tudo muito detalhado,explicado. Temas que eu sequer conhecia. Gosto muito do gênero Yaoi e não tenho problemas com incesto. Muitos homossexuais disseram: "Não escolhemos quem amamos" contra homofóbicos,então digo que parentes que se amam podem dizer o mesmo. Tenho sonhos de escrever um livro,mas sou muito nova para isso. Muito. E também tem a questão familiar,que pesa nesse sonho. Só queria expressar minha admiração e apreciação por Alice Álamo,e lhe dar os meus parabéns.
ResponderExcluirOlá!
ExcluirPassamos este comentário à Alice, ela ficou muito contente e agradecida por ele =D
Numa notinha mais pessoal, uma pessoa pode ser nova para publicar um livro, mas nunca para começar já a trabalhar na sua escrita com esse objectivo ;D
Abraço