Olá, pessoal! Tudo belezinha?
É com grande prazer que a Liga traz para
vocês mais uma novidade. Estamos dando início a um projeto no qual
faremos entrevistas e resenhas — se assim o(a) autor(a) permitir —
com aqueles escritores de fanfics que alcançaram a incrível façanha
de publicá-las como livro físico.
Para abrir o projeto, temos como convidado
o Goldfield, que agora está lançando o seu livro, “O Legado de
Avalon”. Muitos de vocês provavelmente já ouviram falar dele, mas
hoje saberão como ele fez para alcançar esse sucesso. Obrigada
novamente pela entrevista, Goldfield.
A resenha de “O Legado de Avalon” saíra
no dia 4 de dezembro. Fiquem ligados!
Se você, leitor do blog, tem alguma
pergunta que gostaria que fizéssemos na próxima entrevista, ou
conhece algum autor que publicou sua fanfic como livro físico,
deixe-nos saber.
Goldfield,
pseudônimo de Luiz Fabrício de
Oliveira Mendes (baseado em um
de seus personagens, o “superespião” Bruce Goldfield), nasceu em
Casa Branca – SP, no ano de 1988. Escreve desde os 12 anos de idade
(2001), produzindo contos, fanfics e noveletas. Já publicou
trabalhos em diversas antologias de literatura fantástica (de
editoras como Andross, Literata e Estronho). Formado em História
pela Unesp (2010), atualmente leciona em escolas públicas. Além da
escrita e da leitura, tem games, RPG, histórias em quadrinhos,
miniaturas colecionáveis e cosplay como outras de suas paixões.
Diversos de seus textos podem ser
encontrados na internet em sites como www.fanfiction.com.br e
www.fanfiction.net, onde também publica com o pseudônimo
“Goldfield”.
Liga dos Betas (LB):
Na sua biografia
você diz que escreve desde os doze anos de idade: qual foi essa
primeira história e por que quis escrevê-la? Também foi por volta
dessa altura — e com essa primeira fic — que começou a postar
online?
Goldfield (G):
Bem, antes de escrever, eu criava histórias na minha cabeça. Elas
geralmente tomavam a forma de filmes ou jogos de videogame (um
entretenimento com o qual convivo desde pequeno). Até imaginava as
fases, chefe e tudo mais. Até que em 2001, quando estava na sexta
série, meu pai deu a dica de eu começar a colocar minhas ideias no
papel.
Minha primeira história
veio em outubro daquele ano: um enredo de ação bastante baseado em
filmes de Hollywood (e bem clichê, por sinal) em que uma equipe de
elite do exército caçava Saddam Hussein no Iraque. Fui muito
influenciado pelos atentados de onze de setembro daquele ano. O mais
curioso é que essa história jamais foi escrita até o fim e ela
desapareceu do meu computador, provavelmente deletada por engano.
Não foi essa história
a primeira que postei online. Na verdade, escrevi por muito tempo
apenas deixando as histórias no PC, no máximo as enviava por
disquetes a alguns colegas de escola. A minha primeira história
online, por sinal minha primeira fanfic (antes já tinha escrito
vários originais, que não mostrava) foi "Ares-1 Vs. Nemesis: A
Batalha do Século", uma história baseada nos games da série
Resident Evil, que só comecei a postar em fóruns e sites em 2004,
ou seja, um tempo considerável após já começar a escrever.
LB: Você
já publicou diversos contos e agora um livro, já é bem experiente
nessa área. Como foi o processo de publicação? Foi difícil?
Demorado? Qual a diferença entre um e outro?
G:
Infelizmente publicar de forma impressa não é fácil e requer
bastante insistência e perseverança — embora seja um embate que
valha, e muito, a pena lutar.
Quando estive no
colegial, cheguei a publicar dois livros de contos em uma gráfica
local com tiragem de 100 exemplares cada um — ou seja, uma
publicação independente —, mas foram livros quase artesanais e
confesso que desde então eu aprendi e ganhei bastante experiência
na área.
A partir de 2009 comecei
a publicar contos em antologias literárias de literatura fantástica,
promovidas por editoras como Andross, Estronho e Literata, que abriam
antologias com temas diversificados (Idade Média, histórias
policiais, história alternativa, mitologia grega, etc.) e, após o
envio de textos pelos escritores, selecionavam os melhores para
compor o livro — sendo a publicação paga, em alguns casos, e
gratuita em outros. Atualmente ainda há diversas editoras que
realizam esse tipo de publicação e elas se mostram um bom meio de
introdução ao meio literário, para fazer colegas e contatos.
Desde 2009, ao longo
dessas publicações, vim revisando histórias antigas e criando
novas, até ter em mãos um livro que me satisfazia 100% quanto a
"ser publicável": "O Legado de Avalon", que
comecei a escrever no desafio NaNoWriMo (escritores de fics, se não
conhecem esse desafio, fica a dica: conheçam!) de 2012 concluí nos
primeiros meses de 2013. Minha intenção era lançar o livro por
editora, fosse por publicação gratuita ou paga – e aconteceu pelo
segundo caso (algo acessível desde que comecei a trabalhar como
professor) — eu, autor, realizando um investimento em parceria com
a Editora Buriti para publicar minha obra. Meu principal intuito com
o Legado é, além de contar uma história pela qual tenho muito
carinho desde o início de sua escrita, divulgar mais meu trabalho e
abrir caminho para mais publicações no futuro.
LB:
Você mencionou que começou
a trabalhar como professor de História, correto? De que modo essa
profissão influencia os seus escritos?
G:
Influencia de uma forma que
hoje acho ser quase impossível separar uma coisa da outra. Meu
fascínio por História, que me fez optar por essa carreira, é
tamanho que, atualmente, situo praticamente tudo o que escrevo em
algum contexto de épocas passadas — em alguns casos até
"brincando" com a História e criando realidades paralelas
(como em meu atual projeto "Os Guaranis", postado no
Nyah!). Além disso, como professor, possuo certa veia didática no
que escrevo, querendo ensinar uma ou duas coisinhas sobre períodos e
lugares passados a quem lê — claro, sem tornar algo maçante ou
prejudicando o fluir do enredo. Em "O Legado de Avalon",
que é mais voltado para um público infanto-juvenil, essa minha
intenção está mais forte e, em alguns pontos, os personagens
adolescentes até precisam usar conhecimentos de História para
desvendar alguns mistérios do enredo. E não preciso nem falar que
me divirto à beça ao escrever essas inserções.
LB:
Aproveitando que citou o
Nyah, qual você acha que é a maior diferença entre o
você–escritor–de–fanfics
e o você–autor–de–livro–físico?
O que mudou de lá para cá?
G:
Acho que, essencialmente,
ganhei experiência. Hoje olho meus escritos de quatro, cinco anos
atrás, e percebo o quanto evoluí em minha escrita — desde
vocabulário, passando por gramática, até a estruturação de
frases. Também noto como, com tudo isso, que fui e ainda estou
criando minha identidade como autor. Mas fora isso, creio que ainda
há muito em comum por trás dos meus textos: a vontade de contar uma
boa história, a empolgação quando o enredo avança da maneira que
me agrada, e a realização com o retorno dos leitores. Acho muito
importante um escritor nunca perder sua motivação artística para
se encaixar a moldes editoriais ou tendências mercadológicas,
correndo o risco de se perder naquilo que faz. O aprendizado serve
para que as asas de nossa imaginação fiquem mais estáveis, mas não
percam a emoção do voo.
LB:
Sobre o retorno dos leitores: antes de publicar suas histórias como
livro físico, era possível receber reviews e interagir com o leitor
pela internet, agora isso não é tão fácil. Qual é a sua opinião
sobre isso?
G:
Acho que não é tão difícil na verdade. Hoje a internet está
bastante difundida e é bem mais simples os leitores encontrarem e
terem contato com seus autores favoritos pelas redes sociais, como
Facebook, Twitter, Skoob e blogs. Na orelha interna de "O
Legado", por exemplo, incluí o link de minha página de autor
no Facebook com a intenção de já deixar um meio de contato para os
leitores. Acho que a publicação em livro na verdade amplia ao invés
de reduzir o escopo de leitores aos quais tenho acesso, já que meus
escritos deixam a redoma da internet e podem se difundir por praças,
escolas etc., atingindo mais pessoas. E há sempre a opção de me
encontrar online para conversar sobre a obra. Sem contar os livros já
publicados em "ebook" e outros formatos digitais que já
permitem um retorno ainda mais direto online.
LB:
Então você também utiliza a internet como um meio de divulgação
do seu trabalho? Quais são as estratégias que utiliza para divulgar
o livro e os contos? A editora costuma ajudar nessa parte?
G:
Sim, há ajuda sim. Além de divulgação tanto em minha página de
escritor quanto na página e perfil da Editora, os exemplares
encontram-se à venda no site da Editora. Também costumo fazer
divulgação em grupos do Facebook voltados à literatura e
escritores, no Skoob, avaliar parcerias com blogs (que podem render
ótimas divulgações e resenhas, se bem feitas), dentre outros
meios.
LB:
Ao publicar na internet, você teve medo de plágio ou já sofreu
algum? Como lidou com isso?
G:
Sempre tive medo, confesso. Já sofri algumas vezes com fanfics —
nunca com originais, felizmente. De início me importava muito quando
acontecia, brigando com o plagiador assim que descobria o ocorrido e
forçando-o a tirar o conteúdo do ar, ou dar créditos. Com o tempo
acabei ficando mais tranquilo nesse quesito quanto a fanfics, já que
elas não podem ser comercializadas e nem terem registro autoral
realizado — sendo que o plagiador acaba, de toda maneira,
divulgando meu trabalho na verdade. Além disso, posto minhas fics
numa gama de sites diferentes, e é muito difícil o indivíduo
colocar o trabalho em algum lugar em que já não esteja com meu
nome. Quando acontece, geralmente é desmascarado por algum leitor
que me conhece.
Quando o assunto é
originais, aí a questão é mais séria. Para evitar dores de
cabeça, costumo registrar tudo que escrevo na Biblioteca Nacional —
uma boa estratégia a qualquer escritor, mesmo que não pretenda
publicar sua história fora da internet de imediato. É simples,
barato e garante amparo legal em caso de problemas.
LB:
Sempre há momentos bons e
ruins, mas houve algum em que você realmente pensou em desistir?
G: Não,
acredito que nunca. Há mesmo momentos de grande desânimo, em que
achamos que nossa arte não vingará e que acabaremos condenados a
apenas meia dúzia de leitores lendo nossos escritos — mas então
vieram vitórias, ainda que pequenas, que me fizeram perseverar. E
continuam fazendo, como meu livro.
LB:
Sabemos que escreve, mas você gosta também de ler fanfics? Ou lê
apenas livros? Por quê?
G:
Leio ambos, porém já fui um mais assíduo leitor de fanfics do que
hoje em dia. O motivo é a falta de tempo: livros eu carrego comigo
na mochila e leio nas brechas do trabalho, assim como HQs e mangás,
mas as fanfics ainda me são restritas ao PC em casa, e geralmente o
acesso à noite durante a semana, quando estou cansado demais para
ter ânimo de ler online. Porém, sempre que posso e encontro alguma
história que realmente me interesse, leio e comento para dar apoio
ao autor, além de fazer críticas construtivas.
LB:
E como é o seu processo criativo? Você é o tipo de autor que
inventa tudo na hora ou que prefere ter tudo planejado antes de
escrever? Você tem algum ritual ou dificuldade na hora de passar
para o papel?
G: Sou
um pouco dos dois: tanto planejo quanto escrevo na hora. Tanto que,
às vezes, os próprios personagens me sabotam e, na "hora H",
sai no papel algo totalmente diferente do que planejei.
Meu processo criativo
envolve muito processo mental, com pitadas de observação do
cotidiano para dar verossimilhança aos enredos. Por exemplo, posso
estar escrevendo uma história de ficção científica com
super-heróis, mas terá sempre aquela cena X com o personagem no bar
ou na rua em que eu incluo uma adaptação de algo que aconteceu
comigo na realidade, como testemunhar uma briga de casal ou ouvir uma
conversa engraçada.
Ouço muita música para
me inspirar, tanto que em meu celular quase só há trilhas
orquestrais de filmes, jogos e animes — divididas em gêneros de
acordo com o tipo da história em que eu estiver me focando. Costumo
andar sozinho pelo quarto enquanto refino minhas ideias, até falo
sozinho (inclusive em inglês). Quanto a ambientes, costumo ter
muitas sacadas decisivas às tramas no banho ou andando de ônibus —
algo frequente, visto que trabalho em cidades vizinhas à minha.
Raramente faço mapas,
fluxogramas ou listas para não me perder, visto que não tenho
problemas em guardar esses detalhes das histórias em minha cabeça —
a não ser que o universo da trama tenha uma complexidade muito
grande. Quanto à sequência, geralmente tenho facilidade com inícios
e finais, o desenvolvimento do enredo exigindo mais — e sendo o que
mais muda em relação ao que planejo e o que efetivamente vai para o
papel.
LB:
E sobre a revisão, como
funciona? Você possui um beta reader, um revisor ou prefere fazer
tudo sozinho?
G:
No tocante a publicações online, confesso que pouquíssimas vezes
usei beta readers. Geralmente reviso sozinho, durante e após
escrever, embora seja um processo mais trabalhoso e exigente. Porém,
quanto a publicações impressas, prefiro ter a ajuda de terceiros.
LB:
Então, para finalizar, você tem algum conselho para aqueles autores
de fanfics que querem transformar suas histórias em livro físico?
G:
Primeiro, nunca
desistam. Continuem escrevendo sempre. Aceitem críticas. Deem
atenção ao que seus leitores disserem e procurem melhorar nos
pontos que eles apontarem. Leiam muito. Quem não lê não melhora
sua escrita por falta de referências. E não se prendam a só um
tipo de leitura: prezem pela variedade de gêneros e estilos, mesmo
que você se interesse em escrever um gênero e estilo só.
Procurem se informar a
respeito do meio literário, frequentem blogs, sigam escritores nas
redes sociais, enviem material para antologias (em muitas delas vocês
poderão publicar sem desembolsar um centavo), participem de
NaNoWriMos para aprenderem a criar hábito de escrita, pesquisem
editoras. Estudem, trabalhem e tentem guardar algum dinheiro para
auxiliar as publicações no início. E, acima de tudo, acreditem no
próprio potencial. Valorizem o que escrevem e lutem para que
consigam ser grandes autores. É só querer e se dedicar.
Histórico de publicações:
- “À Margem da Idade” (livro
independente) – 2004
- “Colombo-2035” (livro independente) –
2006
- Conto "Previsão" (Antologia "Dias
Contados", Andross Editora) – 2009
- Conto "Para
Sempre" (Antologia "Dimensões BR", Andross Editora) –
2009
- Conto "Justine" (Antologia "Jogos
Criminais", Andross Editora) – 2011
- Conto "Epifania"
(Antologia "Contos Cotidianos", Editora Regência) –
2011
-
Conto "Agoniste"
(Antologia "Olympus", Editora Literata) – 2011
- Conto “Belum Arammu” (Antologia em
e-book “Deuses”, Editora Virtual Infinitum Libris) – 2011
- Conto “Lucy in the Sky with Diamonds”
(Antologia em e-book “Psyvamp”, Editora Virtual Infinitum Libris)
– 2011
- Conto “Sanguineus Regium” (Antologia “História
Fantástica do Brasil – Inconfidência Mineira”, Editora
Estronho) – 2012
- Conto
“Cacciatori di Mostri”
(Antologia “História Fantástica do Brasil – Guerra dos
Farrapos”, Editora Estronho) – 2012
- Conto “Dádiva e Punição”
(Antologia “Angelus”, Editora Literata) – 2012
- Conto “Luísa” (Antologia “Sombras
Escrituras”, Editora Literata) – 2012
- Conto
“Lorem Ipsum” (Antologia “Sala de Cirurgia”, Editora
Literata) – 2014, ainda não
impresso
- Romance “O Legado de Avalon: O
Garoto, O Velho e a Espada” (Editora Buriti) – 2014
Sites em que publica histórias:
Oras, li o nome Goldfield e quase que o coração escapava da boca. Por preguiça pouco li, mas o que li garanto que não desaponta! A escrita dele é incrível, e eu me identifiquei muito com o processo criativo dele. Deu até inspiração pra continuar escrevendo e ter esperanças de uma publicação. Obrigada pela entrevista!! c:
ResponderExcluirDe nada, querida!
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