Clichês: Fuja de Mary Sue

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Por: Annye (Beta reader – Liga dos Betas)


Imagine o seguinte: há uma personagem que, pasmem, tem o mesmo nome da autora da fanfic. Além do nome, elas também dividem as mesmas características físicas, porém, com uma beleza/habilidade maximizada. Essa personagem está inserida no universo de seus personagens favoritos (ou em um universo criado pela autora), e torna-se peça chave para concluir o objetivo principal da história. Dentre as habilidades mais comuns da Srta. Mary Sue estão: magia ilimitada, ser filha de um deus e receber bênçãos sem fim, jogar arco e flecha e nunca errar o alvo, adquirir superpoderes sem mais nem menos, vencer um exército gigantesco usando apenas uma faca de cozinha e claro, assoviar e chupar cana ao mesmo tempo.

O exemplo acima pode parecer absurdo, entretanto, personagens assim são escritos por muitos autores, de forma que eles nem percebem. Antes das conclusões, iremos explorar mais o universo perfeitamente clichê de onde saem as Sues.


O que é Mary Sue?

A definição que mais se acha sites a fora é: “uma personagem tão perfeita que irrita”. Em melhores palavras, Mary Sue é nomenclatura atribuída por ficwritters a personagens principais que se destacam por sua extrema perfeição. Por perfeição é claro, temos a interpretação pessoal de cada autor, mas algumas generalidades sempre estão lá: uma menina muito bonita, inteligente, super simpática, que atraí as pessoas a sua volta e que com certeza será de extrema importância para o que estiver para acontecer na estória. O masculino da personagem chama-se Gary/Martin Stu. Nesse texto falarei mais no feminino, citando Mary, entretanto, absolutamente tudo se aplica igualmente a Gary Stus.



Quais são as características de uma Mary Sue/Gary Stu?



Como dito acima, o conceito que define essas personagens é a “perfeição”, e isso pode ser demonstrado de diversas formas, dependendo do autor e do fandom a que a estória pertence (sendo também diferente em fics originais). Ainda assim, vamos listar as características mais genéricas:


- Tem o mesmo nome ou características físicas do autor da fic; 
- Possui forças superiores que a deixa em vantagem para alcançar o objetivo principal da estória;
- Possui um passado ou uma linhagem desconhecida, que quando revelada, muda a vida não só da personagem, mas de todos que a cercam (de preferência, o local em que se passa a estória);
- Tem um nome pretensioso e cheio de referências – como Vitória, Milagre, Salvador, etc.; 
- O defeito da personagem acaba sendo uma característica positiva, por exemplo, beleza, inteligência ou carisma excessivo;
- O antagonista não luta por uma causa, e, sim, para destruir a personagem, motivado por ciúme.




Tipos de Mary Sues


Além das características gerais, temos arquétipos próprios para definir Sues:


- Mary-Sue Clássica: basicamente o arquétipo de mulher frágil, doce e delicada, que necessita desesperadamente de seu príncipe encantado para protegê-la. Costuma atrair todo núcleo masculino, apesar dela mesma não se considerar bonita. O enredo gira em torno dela e seus conflitos amorosos, geralmente, e se houver uma batalha, provavelmente ela não lutará (pois há quem o faça). 

- Warrior-Sue: essas personagens costumam ter um passado trágico, quase sempre eram filhas de reis/chefes de estado que foram depostos, e agora, tem de travar uma guerra para recuperar seu reino e restabelecer a ordem no local. Ah, claro, elas tem um grande distanciamento emocional, mas apesar disso, acabam achando seus próprios príncipes encantados. Importante ressaltar que no fim tudo dá certo, e apesar da impossibilidade, ela consegue atingir seu objetivo, sem perdas significativas. 

- Mage-Sue: ela pode ser uma bruxa, uma maga, uma deusa, uma louca, uma feiticeira... Enfim, ela tem poderes superiores, que irão garantir seu triunfo dentro do enredo. Algumas vezes, elas já sabem que possuí esses poderes, noutras o objetivo é justamente descobrir como ela os adquiriu. Porém todas as fics com esse tipo de Sue terá obrigatoriamente uma cena de treinamento de poderes. 

- Punk-Sue: bem comum nas fics atuais, essa personagem é a típica revoltada, protestadora, que não segue modinhas. Outro adjetivo bem utilizado para expressá-la é “não conformada” (com a vida, em geral). Costuma ser representada por uma menina de quinze anos, que já se considera madura suficiente (apesar de ainda estar no ensino médio e na casa dos pais) para mudar o mundo. Fisicamente, ela usará roupas “despojadas”, pois ela não se importa com moda, e provavelmente terá o cabelo de mais de uma cor, querendo mostrar seu estilo transgressor. Como uma boa Sue, no fim ela atinge seus objetivos, e de quebra, acha um garoto que aceita seu estilo, e vive feliz para sempre. 

- Misfit-Sue: ela é inteligente, porém desajustada socialmente. Uma nerd. Diferente das outras Sues, a estória não começa com ela absolutamente linda, entretanto, ela irá passar por um “makeover”, mostrando que ela já era linda e só precisava colocar isso para fora. Ah, ela vira um imã de homens. Importante dizer que esse tipo enquadra-se melhor ainda para Gary Stus. 



E qual o problema em escrever uma Mary Sue?



Perceberam acima, que pelo tipo de Mary Sue vocês já conseguem imaginar toda a estória em torno dela? Esse é o problema.

Em uma narrativa personagens são essenciais, porém, mais importante ainda é a estória para o personagem viver. No caso de autores que escrevem Sues, eles escolherem o melhor para a personagem, causando vários desvios no enredo (em geral deixando buracos, ou ignorando completamente a verossimilhança). 

Por isso, geralmente quando esse tipo de personagem é identificado em uma fic (e é possível fazê-lo logo no início), os leitores já se desanimam a ler, uma vez que o futuro fica bem previsível. 



Como fujo dessa "personagem"?


Primeira dica: o personagem deve ser criado para estória, não o contrário. Todo animal é guiado por ações e objetivos. Ter um personagem que você considera incrível e não ter uma estória para ele é deprimente, porém, se não há um conflito na vida dele, uma causa que o tire da inércia, não há um motivo para ele existir. 

Segunda dica: em hipótese alguma se coloque na estória. Quando a personagem tem muita proximidade conosco, é criado um “vínculo”. Se você pudesse escrever sua história, só aconteceriam coisas legais com você. Ninguém quer se prejudicar. E por isso mesmo, se você se coloca na estória, com certeza criará uma Sue.

Terceira dica: planeje. Quando paramos para escrever fichas de personagem ou o rumo do enredo, as chances de criar essa personagem são bem menores, uma vez que você já está pensando no rumo da estória. E sobre as fichas de personagens, temos a proposta de uma aqui no blog (link logo no fim do texto) adaptado pela Anne L, que particularmente acho perfeita. Fazendo a ficha, se o autor não pular nenhum item, ou então tentar “enganar” (colocando, como já foi citado, uma qualidade no lugar de um defeito), é bem difícil criar uma Mary Sue. 

Por fim, se ainda está em dúvida se sua personagem é ou não uma Mary Sue, não se desespere. Existem testes online para elucidar sua dúvida. Infelizmente, até a conclusão desse post não haviam testes em português. Mas deixarei um link do melhor teste que eu achei (em inglês). 

Links:
A personagem (2/2): proposta de ficha –


♥♦♣♠


Material Consultado:






12 comentários:

  1. Adorei este artigo :)
    Fiz o teste e... A minha personagem não é Mary Sue!!! Viva!!! :)

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  2. Muito útil esse artigo, me ajudou a escapar dos lugares-comuns. Fiz o teste e deu "suspeitosamente parecida com você", porém sem ser uma Mary Sue. Trabalharei o texto para eliminar tais suspeitas. kkk

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  3. Muito útil esse artigo, me ajudou a escapar dos lugares-comuns. Fiz o teste e deu "suspeitosamente parecida com você", porém sem ser uma Mary Sue. Trabalharei o texto para eliminar tais suspeitas. kkk

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  4. Amei o artigo, e já vou fazer o teste. Well, não acho que uma das minhas personagens seja uma Mary Sue (até porque ela não é A protagonista. Há vários na minha história). Na verdade, ela é uma psicopata, o que eu pretendo trabalhar, irônica, e o que eu gosto muito nela é que os defeitos dela é que a tornam legal e interessante. Eles dão a imagem, à princípio, de que ela é uma antagonista, porém não é. O que eu achei legal colocar na minha história é: nada de concentração e divisão entre mocinhos e vilões. Todos têm defeitos, e é necessário mostrar eles, afinal, ninguém pode ser completamente mal como não pode ser completamente bom, não é? Mais uma vez, adorei o artigo, também vai ser muito bom pra mais futuras histórias que pretendo criar :D

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    1. Não conheço o trabalho dela mas acho que foi só para dar imagem ao post.

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  6. Não concordo com esse post de todo pois mary sues são nada mais que personagens femininas poderosas.Muitas personagens famosas se analizadas não passam de gary stus, o batman por exemplo teve seus pais assassinados,é rico ,lufa contra deuses em nada mais que uma roupa de latex grudadinha e tem um vilão cujo unico objetivo e mata-lo (o coringa) e ainda sim é clamado e conhecido no mundo todo.Eu acredito que Mary sues são necessarias para qua as meninas e meninos conheçam figuras femininas poderosas que lutem com deuses e tenham passados ridiculamente trágicos.Além disso elas são uma valvula de escape , que mulher nunca quis ser importante, ter todas as atenções? A literatura é o unico lugar onde tudo é possivel

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    1. Gostei do seu comentário ... tem quase razão ,mas devemos lembrar que fics com Mary Sues são muito previsíveis,ou seja, a gente perde o interesse por causa que sabemos como vai acabar.

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    2. Respeito o teu ponto de vista, flor. E, quem disse que não se pode fazer uma boa Mary Sue? O problema é que quem escreve muitas vezes acaba por fazer a mesma coisa que outros, tornando a leitura de uma Mary Sue cansativa. Escrever uma Mary Sue não é fácil, pois ela pode fazer tudo e com facilidade, mas o autor tem que saber usar isso.

      Mas, na minha opinião, é muito mais giro ler algo que nos faça sentir compreendidas, em que a personagem também falhe, mas que continue com as suas vitórias.

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  7. Gostei do post, mas acredito que o problema não são as Mary's e sim que as fazem. Clichês não são ruins, posso fazer uma história clichê mas não posso colocar todos os clichês na mesma história. Moderação é a palavra chave pra tudo nesta vida.

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    1. Concordo. Como eu já disse acima uma Mary Sue é uma personagem capaz de fazer tudo e com muito facilidade, o autor tem que saber usar isso em seu favor e fugir do clichê! Toda a gente escreve clichê mesmo que sem querer, mas, como tu disseste, tem que saber moderar.

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