Por: Raven Hraesvelg
Perfil: https://fanfiction.com.br/u/334899/
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Olá, povo! Espero que estejam bem.
Hoje trago aqui algumas dicas — talvez — úteis sobre desenvolvimento de
personagens. Esse é um ponto que eu toco muito com os escritores que acompanho,
mas sempre percebo que é uma coisa que, ou desconhecem ou não sabem como lidar.
Primeiro vamos deixar uma coisa bem clara: o desenvolvimento dos personagens e
o desenvolvimento da história são coisas independentes. Um se apoia no outro e
um faz uso do outro, óbvio, mas são coisas diferentes e com objetivos
diferentes.
Agora, o que seria desenvolver um
personagem? Essa é fácil: desenvolver um personagem envolve trabalhar, ao decorrer
da história, a personalidade dele e ser capaz de demonstrá-la através da narrativa.
Chamamos de personalidade o conjunto de características
cognitivas, afetivas e volitivas que formam a construção pessoal de um
indivíduo. Está diretamente ligada à forma como interiorizamos nossos
sentimentos, pensamentos, valores e experiências. Também é importante
diferenciarmos personalidade de comportamento. Enquanto a primeira está ligada
às atitudes, ações e reações (pois relaciona-se à interiorização dos
sentimentos), o comportamento na verdade é a exteriorização daquilo que define
a nossa personalidade. É importante ter esses conceitos em mente, pois nos
ajudam a compreender melhor como nossos personagens funcionam (ou melhor, como deveriam funcionar).
O primeiro ponto que temos que ter
em mente ao desenvolver um personagem é saber que precisamos ter o quê
desenvolver. Não dá para fazer um bolo se não tivermos todos os ingredientes,
certo? Então o primeiro passo é você ter um personagem tridimensional. Como o
nome dá a entender, um personagem tridimensional é aquele que tem mais de uma
dimensão. Assim como um cubo desenhado num papel adquire profundidade apenas
quando se incluem as três dimensões a ele, para um personagem ser bem
desenvolvido ele precisa de três dimensões básicas.
·
Caracterize seu personagem
Esse é o passo que todo mundo faz na hora de criar uma
história. A etapa da caracterização (que já é assunto para outro post, pois
caracterizar um personagem é diferente de desenvolvê-lo) é mais básica e
acontece praticamente no mesmo momento da criação da história em si. Quando
você cria uma história, os personagens estão ali para servir a um objetivo, e
esse objetivo é o que caracteriza um personagem a princípio. Caracterizar um
personagem nada mais é do que pensar no que ele é. Ele é um herói corajoso? Um
vilão cruel? Uma guerreira rebelde? Ter esses pontos marcantes da personalidade
deles é a primeira dimensão de nosso personagem.
·
Pense na história do seu personagem
Nossa personalidade é moldada também pela nossa vivência,
então essa é a primeira coisa que a gente precisa ter em mente na hora de
representar um personagem. Mesmo que você não revele o passado do seu
personagem aos seus leitores, você ainda deve pensar sobre ele, porque é esse
passado que moldou o que ele é hoje e isso te traz um entendimento maior do seu
personagem. Ora, se você não conhece seu personagem, seus leitores também não
irão. Daí a importância de sempre se perguntar: por que o meu personagem é
assim? Utilizando algo bem recente, vamos tomar como exemplo o vilão do último
filme lançado da Marvel (sem spoilers grandes aqui, pode ler com
tranquilidade). O objetivo do vilão, Thanos, no filme, é destruir metade do
universo. Ok, até aí, nada novo sob o sol, apenas mais um vilão vivendo sua
vida vilanesca. Porém, há uma pequena cena onde ele conta sua motivação para
aquilo, onde ele conta sua história,
e então o objetivo dele ganha sentido, deixa de ser uma coisa vazia para ser
algo com um significado.
·
Todo mundo tem defeitos
Isso parece muito óbvio, mas muita gente não pensa nos
defeitos de seus personagens ao criá-los e acabam criando personagens sem
dimensões. Perfeição não existe na vida real, então quando você cria um
personagem perfeito está criando alguém superficial e vazio. Quanto mais real
um personagem for, mais os leitores conseguem se identificar ou, no mínimo,
entender o personagem, e isso é muito importante quando você pensa na história
como um todo, pois se as pessoas não se interessam pelo teu personagem, muito
menos se interessarão pela história que você tem a contar sobre ele. Além
disso, ao adicionar defeitos em teus personagens, você está dando a eles mais
singularidade. Vamos pensar naquele típico personagem herói das histórias de
fantasia: ele geralmente é bondoso, corajoso e altruísta. Apenas acabei de
descrever todos os protagonistas dos livros de fantasia. Mas o que acontece se
eu disser que esse mesmo herói é, também, uma pessoa indecisa? Ponha ele para
comandar um exército numa batalha e, pronto, todo mundo morre. Ou às vezes, ele
pode ser uma pessoa extremamente rancorosa ou vingativa. Ou alguém que não sabe
perder. Enfim, independente do caráter que você decidir dar ao seu personagem,
você estará dando a ele facetas e é isso o que cria a nossa terceira dimensão
da personalidade. É importante notar que, geralmente, os defeitos são o que
chamamos de “personalidade oculta”. Nossa tendência é de deixar apenas os
nossos melhores traços à mostra em um primeiro momento e, com o tempo,
revelamos nossos defeitos.
Certo,
agora já temos nosso personagem com uma personalidade e história, mas como
escrever e dar continuidade a isso?
1. Demonstrar: ao invés
de dizer que um personagem é simpático, demonstre isso através da narrativa
descrevendo como o personagem, por exemplo, dá bom dia para todos em seu local
de trabalho. Leve seus leitores a
deduzir os traços da personalidade de seu personagem através da narração do que
ele faz, fala, pensa, assim você não precisa contar. Na minha opinião, não tem coisa mais chata do que ler um
personagem listando suas qualidades como se fosse uma checklist de mercado. E o engraçado é que metade daquelas
qualidades citadas não aparece no texto, ou seja, o escritor ficou só no fala,
fala, e não demostra. É aquele ditado: ações falam mais do que palavras, então narre e descreva.
2. Consistência: se
você desenvolveu um personagem de determinada maneira, é de se esperar que ele
se comporte de acordo com sua personalidade e motivações. Quando você faz um
personagem se comportando de forma que não faz sentido, está criando um
personagem inconsistente. Um exemplo disso é quando aquele antagonista que
passou a história toda sendo um empecilho para os protagonistas resolve ajudar
simplesmente porque sim ou porque do nada brotou um traço de bondade nele. Há
uma grande diferença entre isso e entre ele resolver ajudar porque estava de
acordo com os interesses dele. Isso acontece muito com quem não tem um
personagem solidamente construído.
3. Mudança: esse é um fator
crucial. Nós somos todos mutáveis. Podemos mudar pouco ou muito em períodos
curtos ou longos, mas o fato é que nós mudamos. Isso não deve ser diferente com
os personagens. Seja pela ação do tempo ou de algum acontecimento, em alguma
hora teu personagem vai passar por uma mudança. O importante é que ela seja
coesa e coerente com os acontecimentos da história, e mais importante ainda, é
que ela aconteça. Se o teu personagem
começou a história do mesmo jeito que a terminou, então é um personagem
estagnado e sem desenvolvimento.
4. Relacionamentos: esse
também é assunto para outro post (inclusive temos artigos falando sobre
desenvolvimento de relacionamentos já, dê uma olhada!), mas é essencial
entender que, como seres sociais, as relações que temos também afetam nossa
formação. Desenvolver um personagem também envolve desenvolver seus
relacionamentos. Como você vai escrever sobre um personagem apaixonado se não
se focar na relação que ele tem com o parceiro? Se o personagem é alguém
romântico, por exemplo, desenvolver esse traço está intimamente conectado ao
relacionamento que ele tem ou terá.
É
claro que para escrever não há um passo-a-passo correto para seguir, mas só de
ponderar sobre esses pontos que abordei já te dá terreno a mais para trabalhar
na tua história e, ao meu ver, quanto mais conteúdo você tem para trabalhar, mais
completa tua história será. No mais, se você possui dificuldades com essas
questões e gostaria de alguém para te ajudar com isso, não deixe de entrar em
contato com um beta! <3
REFERÊNCIAS
JENKINS, J. The Ultimate Guide to Character Development: 10
Steps to Creating Memorable Heroes. Jerry
Jenkins, 2017. Disponível em <https://jerryjenkins.com/character-development/>.
Acesso em: 25 de abril de 2018.
SAMBUCHINO, C. The 9 Ingredients of Character Development. Writer’s Digest, 2013. Disponível em
<http://www.writersdigest.com/editor-blogs/guide-to-literary-agents/the-9-ingredients-of-character-development>.
Acesso em: 25 de abril de 2018.
MARKS, C.S. Five Traps and Tips for Character Development. Reader’s Digest. Disponível em <https://www.liferichpublishing.com/AuthorResources/Fiction/Five-Traps-and-Tips-for-Character-Development.aspx> Acesso
em: 25 de abril de 2018.
ACT Institute. O que são as teorias da personalidade. ACT Institute. Disponível em <http://actinstitute.org/blog/o-que-sao-as-teorias-da-personalidade/>.
Acesso em 09/05/2018.
CAMPOS, J. V. et al. Desenvolvimento
de Personagens: a psicologia arquetípica como ferramenta de criação e concepção
de personagens para uma série animada. Projetica UEL, v. 5, n. 1, 2014.
GERKE, J. Plot versus
Character: A Balanced Approach to Writing Great Fiction. Writer's Digest,
2010.
BELL, J. S. Write
Great Fiction: Plot & Structure. Writer’s Digest, 2004.
NANCY, K. Write Great
Fiction: Characters, Emotion & Viewpoint. Writer’s Digest, 2005.
Adorei!
ResponderExcluirAcho que sempre tive uma quedinha maior por essa parte da criação. É estranho pensar assim, mas através dos nossos personagens criamos vida, não é mesmo? E eles sempre deixam um pouco de si conosco. Criar um ser ficcional é como dar a luz; desenvolvê-lo é como acompanhar seu crescimento, desde as primeiras palavras, ida à escola, até os primeiros tombos e sofreres.
Todas as tuas dicas são importantes, principalmente sobre construir com consistência, com verdade. Não é só porque é uma história que precisa ser intragável pro leitor.
Mas acho que faltou uma que sempre faz a diferença, embora seja meio subjetiva: faça-os com amor. Converse com seus filhos, pergunte sobre como se sentem em determinada situação, que cheiros o olfato capta, que sons lhes encantam. Seja uma mãe amorosa até com aqueles que são criados com/para o ódio. Ria, chore, os abrace, entre na pele deles. Pode parecer coisa de doido (alô alô manicômio), mas uma coisa que me ajuda muito quando eu estou criando algum personagem é falar em voz alta. Literalmente conversar ou com o personagem ou através dele, pensando em como ele agiria em cenas diferentes.
Acho que empatia é a palavra certa (e um pézinho na insanidade, sempre).
Que artigão mais lindo! Tô in love. Parabéns de verdade♥️
Muito obrigada pelo teu comentário! Dás aí uma ótima dica! Ficamos muito felizes por teres gostado! ♥️
ExcluirGostei bastante, me deu algumas sacadas.
ResponderExcluirObrigado pelo artigo!
Obrigada pelo comentário! Ainda bem que gostaste!
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