Na sequência do concurso de Natal levado a cabo em parceria com o blog Manias de Escritos e a Sailor Editions (que pode ser relembrado aqui), seguem as resenhas devidas aos contos que alcançaram o segundo e o terceiro lugares. Muitos parabéns às vencedoras, Taynah Lima e Kaline Bogard, assim como à vencedora do primeiro lugar, Lady Morgana, cujo prémio já não contempla resenha, mas sim outras alegrias.
Fica também o aviso de spoilers nas resenhas.
Terceiro lugar: “54 Natais”, de Taynah Lima
(Resenha por Reepol)
Usando uma escrita suave e breve, Taynah Lima apresenta, em seu conto “54 Natais”, um dos temas chaves quando se trata dessa data comemorativa: a família.
A história em si gira em torno da vida de um jovem rapaz, Tom, que, aos seus treze anos, vê sua vida tomar um rumo completamente oposto, fazendo com que a sua concepção de Natal acabe se distorcendo. Perpassando por alguns momentos chaves em sua vida, o conto nos leva a perceber como as dificuldades enfrentadas enquanto ainda jovem alteram a vida adulta de Tom e como, futuramente, ele busca modificar essa realidade.
A história carrega um tom de romance, porém o foco não é exatamente este, se não sim a ideia de redenção que o Natal nos traz. O conteúdo vai para além do amor entre Tom e Laura, tomando proporções para se debater sobre o que significa família para cada um de nós e o quanto ela nos é verdadeiramente importante.
Entretanto, por debater pontos tão importantes, a história me deixou sedenta por mais. Sendo sucinta e elucidando poucos Natais — tendo até mesmo um salto muito longo entre um e outro ao final, o que me deixou querendo saber mais do desenrolar entre Tom e sua família — acabei achando que a parte após o ápice da história poderia ter sido mais trabalhada.
Ao fim, somente tenho a dizer que algumas pessoas podem achar o tema um tanto quanto clichê, porém como não escrever uma história dessa forma quando se trata do Natal e de passar a mensagem social e cultural que essa data carrega?
Taynah Lima fez, então, um bom trabalho no desenvolvimento de sua história, buscando tratar de um tema claro de forma consistente, com uma pitada de drama e romance. Parabéns pelo conto!
Segundo lugar: “Presente de Natal”, de Kaline Bogard
(Resenha por Luh Black)
Todo mundo cresceu ouvindo que ganharia presentes do Papai Noel se tivesse sido uma boa criança naquele ano, e isso sempre foi um fato alegre e esperançoso. Kaline Bogard conseguiu distorcer essa esperança em medo de forma adorável e intensa.
É véspera de Natal, e o significado pesado disso é presente na história desde o início. Os protagonistas, Red e Ares, dois jovens amigos de infância, carregam o peso daquele ser o último ano em que podem ou não receber o presente de Natal. A tensão sobre isso é explícita em toda a história, e demora um pouco até entendermos o porquê – mas assim que entendemos, uau.
A construção dos personagens é bem feita, mostrando o quanto são importantes um para o outro, e é fácil entender suas personalidades tanto quanto é fácil entender os costumes e a importância tensa do Natal para o povoado que ambienta a história. O que mais me chamou atenção, entretanto, foi o uso esperto que a autora fez das palavras. Até explicar qual o real significado do Natal para história, Kaline brinca com palavras leves e esperançosas, rodeando-as com uma aura escura. Nos faz pensar que o Natal ali não pode ser tão assustador – ou que é bem mais medonho do que imaginamos.
Quando Kaline explica porque o Natal é sim algo a ser temido, quando ela justifica a tensão e o medo que os protagonistas sentem, faz isso de modo magnífico. Aos olhos inocentes de Red, dá pra sentir seu medo, o desespero de que ele receba o presente de Natal, ou pior, que seu melhor amigo seja o escolhido. É fácil imaginá-lo encolhido em sua cama, esperando saber a resposta, esperando que aquela última noite de tensão finalmente termine – a narração da autora conseguiu passar para o leitor tudo o que o personagem estava sentindo. Não só nessa cena, mas durante toda a história, é fácil ficar tenso quando um de seus personagens está tenso, tanto quanto é fácil ficar aliviado.
A única parte da história que não consegui visualizar (ou ouvir?) foi a canção macabra que acompanha a chegada de Noel. Mas talvez essa tenha sido a intenção da autora – já que o próprio Red admitiu não saber que língua era aquela, talvez nós também não devêssemos conseguir imaginá-la de verdade. Ou então a canção ficou ali para que a imaginássemos no ritmo mais medonho que nossa consciência conseguisse. Numa fantasia de terror, tudo é possível.
A relação dos protagonistas é claramente algo que um dia vai virar mais do que amizade. A felicidade que os dois amigos sentem quando confirmam, finalmente, que poderão ter um futuro, é comovente – e egoísta, já que essa felicidade depende da tristeza de outros. Meio parecido com a nossa realidade, no final das contas.
Já recomendei essa leitura a alguns amigos, e vou continuar recomendando (menos para crianças, porque a história seria bem assustadora para elas). Essa foi, até agora, minha história de Natal preferida.
Olá!
ResponderExcluirQue linda resenha, fiquei super feliz em ver como conseguiram captar tudo o que eu quis passar com essa história! :D
E muito obrigada pelo concurso, foi um desafio e tanto!
Ainda bem que gostaste! :D
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