Nick: PedroDiAngelo
Introdução
“Enredo: sucessão de acontecimentos que constituem a ação, em uma produção literária (história, novela, conto etc.); entrecho, trama.”
Em outras palavras: o enredo é a alma de toda história. Seja naquele clichê adolescente, naquele conto repugnante (e lindo) de Edgar Alan Poe ou naquela história que alguém nos contou quando éramos crianças; em todos esses exemplos há a presença de um enredo (na maioria das vezes até mais de um).
É virtualmente impossível que alguém pense em uma ideia que já não tenha sido pensada. Logo, é impossível escrever algo que, em sua essência, já não tenha sido escrito. Se cai, então, em uma conhecida frase entre roteiristas: “Me dê o mesmo... só que diferente”.
A principal questão não é “pensar em algo novo”, mas “remodelar algo que já foi pensado”. Mesclar enredos, gêneros, personalidades, eventos que, normalmente, não são misturados. Normalmente o primeiro passo para isso é pensar em algo.
Pensando em uma ideia
A maioria das histórias começa com aquela ideia despretensiosa (ou genial) que vem em qualquer hora (muito comum vir debaixo do chuveiro, inclusive). Depois de chegar e conquistar nosso lado escritor, ela começa a se desenvolver, ganhar forma e, depois de algum trabalho, se torna um texto. Como garantir, entretanto, que tudo isso aconteça de uma forma que propicie a criação de uma história memorável, original, criativa e [anexe aqui um adjetivo de sua preferência]?
O primeiro passo é ter a ideia. Não são todos que tem uma mente criativa, nem há quem mantenha uma mente criativa ativa o tempo todo. Para a nossa sorte, uma pesquisa já comprovou que a criatividade se adquire com a prática, então, naturalmente, há truques que vão te ajudar a ter uma ideia supimpa.
O primeiro desses passos é se perguntar frequentemente “O que aconteceria se...”. Vale para tudo. Exemplos: “o que aconteceria se o céu fosse vermelho? O que aconteceria se eu ganhasse um milhão de reais? O que aconteceria se meu irmão mais novo fosse um alienígena? O que aconteceria se eu, nesse momento, caísse em um universo paralelo? O que aconteceria se eu tivesse uma capivara de estimação? ”. Não há nenhum tema tão ordinário que não possa render uma boa história, então comece a olhar de um jeito diferente para as coisas.
Outro método bastante funcional é mesclar gêneros que, normalmente, não se misturam. É assim que se escapa de clichês. Basta lembrar que Star Wars não deixa de ser um faroeste no espaço, então nada te impede de ter, por exemplo, uma guerra civil em uma cidade subaquática.
Desenvolvendo a ideia
A regra é bem clara para a maioria esmagadora dos casos: sem planejamento, a história está fadada ao fracasso. Há exceções (e um monte delas), mas hoje em dia é praticamente impossível encontrar alguma boa história feita ao acaso, com o escritor utilizando apenas a experiência como leitor para guiá-lo pelos atos, capítulos, plot twists e afins da narrativa.
Montar o enredo é o passo fundamental para que haja sucesso na construção de uma história bem-feita. É nesse contexto, também, que são definidos os rumos criativos de toda a narrativa. Você pode escolher entre inúmeras alternativas de criação ou simplesmente não escolher e escrever a torto e a direito [a decisão é sua, afinal]. O método que trago é um dos mais utilizados no meio editorial, ainda sem tradução para o português, por isso vou fazer uma referência e chama-lo de Método Massa Folhada. Oi? Não entendeu a referência? Certo, que tal Método Floco de Neve? Ainda não entendeu? Pode chama-lo de Método Árvore da Praça, então.
O que a massa folhada, o floco de neve e a árvore da praça têm em comum é algo bem simples: foram construídos com base em um sistema de etapas. Um pinheiro, por exemplo, nasce de uma pinha minúscula. Uma massa folhada chega a ter 1000 camadas e o floco de neve é uma estrutura muito delicada e composta de diversos filamentos de gelo. É exatamente assim que você tem que tratar sua ideia: como a semente de uma história.
Enumerei aqui 8 passos para o sucesso em escrever um roteiro digno de best-sellers. Aplique-os onde achar melhor; na sua fanfic despretensiosa ou naquele seu projeto secreto.
1. Defina sua história em uma frase. Simples assim, mas isso vai fazer toda a diferença. É esse o ponto inicial de sua história e a frase vai te servir como guia definitivo. Sobre ela: quanto menor, melhor; use em torno de 15 palavras. Para ter uma ideia de como é, veja exemplos na lista de best-sellers do The New York Times.
Repare nessa definição do livro See Me, do Nicholas Sparks: “Um casal apaixonado ameaçado por segredos do passado”.
2. Separe algum tempo e transforme essa sentença em um parágrafo completo. Esse parágrafo deve resumir a história, conter os desastres principais (em média 2 ou 3) e o final. Faça cada um desses conteúdos ficar em um período independente.
É preferível que você faça algo como: “Robert e Dana se encontram anos depois da faculdade, Dana era apaixonada por um Robert que deixou de existir [definição da história]. Dana descobre que Robert é procurado por assassinatos em todo o país [primeiro desastre]. Robert perde o controle emocional e se torna um risco para a vida de Dana [segundo desastre]. Robert é morto por Dana [fim]”.
Se você estiver planejando organizar seu texto por atos, o primeiro desastre é o fim do ato I, o segundo é o ponto médio do ato II (se não houver terceiro desastre, o segundo passa a ser o fim do ato II) e o terceiro é o fim do ato II.
3. Crie uma ficha preliminar para seus personagens. Após ter um parágrafo resumindo a parte fundamental de sua história, é hora de cuidar dos personagens. Personagens incomuns criam histórias incomuns, então, se estiver querendo fugir dos clichês, crie personagens com características que fogem ao senso comum, com personalidades extravagantes ou peculiares.
Essa primeira ficha deve conter: O nome do personagem, o resumo de sua vida em um período (parecido com a definição da história), a motivação do personagem (importante), o objetivo do personagem (importante), o conflito interno do personagem (importante também) e um parágrafo que conte sua história. Não se empolgue na criação do personagem (não ainda).
4. Expanda cara período (do passo 2) para um parágrafo completo. Volte naquele parágrafo e o torne maior. Talvez você sinta vontade de retornar aos passos anteriores e modificar um ou outro detalhe da história, se assim for: o faça.
É nesse período que sua história vai, realmente, ganhar vida. Dê mais detalhes às frases que você escreveu no passo 2, enriqueça os desastres e diga como a história termina. É hora de libertar a criatividade.
5. Escreva uma página de detalhes sobre os personagens principais. Complemente a ficha que você já havia montado; torne-a mais completa. Para personagens importantes, mas secundários: apenas meia página basta.
Crie uma história para seu personagem, narrando um pouco da vida dele até o início da narrativa. Não se esqueça da motivação e dos objetivos do personagem: é isso que vai manter os leitores grudados na história!
É provável que você queira voltar aos passos anteriores e fazer correções.
7. Expanda sua ficha de personagem intermediária para uma ficha completa. Nessa etapa tem que constar tudo o que deveria se saber sobre os personagens: onde nasceram, sotaque que possuem, visão religiosa, aparência, caráter, personalidade...
É de extrema importância que você defina como seu personagem vai estar quando a história acabar, pois eles vão (ou pelo menos devem) sofrer mudanças. Eles se tornaram mais caridosos? Menos humildes? Mais receosos? É hora de especificar tudo isso.
8. Com as fichas dos personagens e o enredo feito, crie uma planilha de cenas. Sim, uma planilha. Sério, posso sentir seu ar de “sério? Planilha?” daqui! Uma planilha é o meio mais confiável de se montar um catálogo de cenas, já que você pode ver a progressão da história e mudar cenas de lugar, se for o caso.
Escrevendo (finalmente)
Então chegou a última parte de sua tão esperada história! É hora de colocar a mão na massa e escrever. Talvez esse seja o processo mais longo de todos, mas não desanime.
“Então, eu já fiz tudo o que podia para que o enredo fique original e criativo?”
A resposta é: não. É justamente nessa hora (nem tanto nessa hora, essa dica vale para as outras fases do planejamento) que você pode tornar sua história única, mesmo se for um eterno clichê.
Aristóteles, certa vez, disse: “Toda história deverá ter início, meio e fim”. Não deixa de ser uma afirmação óbvia que eu, você, sua vó, minha vó, ..., sabem, mas há um detalhe: essas partes não devem, necessariamente, estar nessa ordem.
Quantas histórias possuem aquele clichê badboy x mocinha? E, dessas, quantas são contadas do fim para o início?
Retomando aquilo que disse lá no começo: não há mais história genuinamente original. Sua ideia, por mais mirabolante que seja, já foi pensada antes. O que vai fazer a diferença na sua narrativa é o fato de ter ou não algum diferencial, seja na narrativa ou nos personagens.
Só para deixar bem claro: a chave para uma história realmente original é reinventar; procure, em cada um dos passos descritos acima, mesclar enredos, perguntar-se “E se...”, anexar características incomuns aos personagens (que tal uma garota nerd lutadora de karatê?) e usar ordens de narração incomuns (seria possível começar a história pelo meio e terminar com o início?). Regra geral: não se imponha limites, nem regras.
Referências:
Eu tenho planos para uma história de fantasia original e acho que o grupo da Liga dos Betas me vai ajudar muito, apesar da trabalheira que dá seguir as vossas dicas. Espero sinceramente que isso me ajude a organizar as minhas ideias.
ResponderExcluirObrigada!
Boa sorte com a tua história!
ExcluirMuito obrigado! Essa dica ajudou e muito! Eu estou escrevendo minha primeira história, e vou publica-la. Eu estava escrevendo por escrever, o que vinha em minha mente eu fazia. Estava andando sem saber para onde ia. Agora sei, sei a história do começo ao fim. Posso trabalhar melhor agora. Tipo, um ligue os pontos. Agora posso ligar todos, pois sei onde estão. Antes eu só sabia onde estava o primeiro e o último. Muito obrigado!
ResponderExcluirDe nada! Ainda bem que ajudamos!
ExcluirBeijos
Eu não entendi a parte da planilha de cenas. Seria ótimo um exemplo dessa planilha :)
ResponderExcluirOlá! Infelizmente, eu, pessoalmente, não tenho nenhum exemplo, mas posso perguntar à autora, se quiseres. De qualquer maneira, aquilo que a autora se estava a referir era desenvolveres um planilha na qual descrevesses as cenas. O formato de planilha ajuda a ter uma visão mais ampla e contínua de tudo o que já tens, dado que, ao contrário de em texto corrido, as coisas podem aparecer lado a lado, daí a sugestão deste formato. Espero ter ajudado!
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