Renan
Barcellos é baiano, nascido em 91 e está fazendo faculdade de
Jornalismo mais na esperança de que isso vai ajudar na sua arte do
que por vontade de trabalhar na área. Escreve principalmente
Fantasia, mas gosta em igual medida de Ficção Científica (se não
mais) e às vezes escreve algo por fora desses gêneros. Sua vontade
é de escrever coisas realmente significativas, tem um problema com o
tamanho de suas obras; mais de um conto já se transformou em um
romance ainda inacabado.
Publicou
pouco, mas pretende publicar mais. Por enquanto foram só dois contos
na antologia Sinistro!
2,
o conto “O Último Dia de Bad Block”, na antologia Imaginários
5
e publicou também um livro chamado de A
Sorte do Perdedor,
através da editora Buriti. Alguns trabalhos podem ser encontrados no
blog “E Outros Cenários” (eoutroscenarios.wordpress.com) e no
seu perfil do wattpad (http://www.wattpad.com/user/RenanBarcellos)
Perfil
no Nyah: http://fanfiction.com.br/u/2981/
Liga
dos Betas (LB):
Antes de mais, muito obrigada por teres aceitado esta entrevista para
a Liga. “Antes de menos”, a pergunta de abertura: como começaste
a escrever e como se iniciou o processo de publicares os teus
escritos no Nyah?
Renan
Barcellos (RB): Eu
não me lembro muito bem, já devem ter uns oito anos que eu comecei
a escrever para o Nyah. Quando eu comecei a escrever fanfics, eram
fanfics sobre Resident Evil e no falecido Orkut tinha uma comunidade
chamada "Contos de Resident Evil" onde o pessoal postava o
que tinha escrito. Depois de começar a postar lá, em algum momento
fiquei sabendo do Nyah e "migrei" aos poucos para lá.
LB:
Sentiste grandes diferenças quando começaste também a publicar no
mercado editorial? A nível do processo, da recepção, de ti mesmo
enquanto escritor, entre outros?
RB:
Pra
falar a verdade, não muita. O que eu escrevia no Nyah não tinha
muito público, a maioria dos leitores eram amigos mesmo, e minhas
publicações no mercado são pequenas, de tiragem baixa, então não
houve realmente um "impacto". Mas já aconteceu de alguém
que eu não conhecia vir me perguntar se era eu o autor de A
Sorte do Perdedor,
ou se tinha participado da antologia Imaginários
5,
o que foi bem legal. Eu diria que o que mudou de lá pra cá foi meu
próprio "autoconhecimento" enquanto escritor, mas eu não
sou, digamos, "deslumbrado" pelas minhas publicações. Na
maior parte do tempo nem lembro delas.
LB:
E a faculdade de Jornalismo está a revelar-se a ajuda que esperavas?
RB:
Na verdade eu não esperava que fosse ajudar realmente, era só uma
esperança. Mas acabou trazendo uma ajuda sim, embora não tenha sido
exatamente a parte de Jornalismo. Não acho que as oficinas de
escrita tenham me ajudado a melhorar em questões literárias, por
exemplo. Mas o que aprendi sobre Teorias da Comunicação, Semiótica
e Estética tem sido muito interessante. Talvez não me façam
escrever melhor, mas acho que me ajudam a ser um escritor melhor e
entender mais sobre arte, literatura e o meio literário. Acho que
isso é importante. O jornalismo em si ajuda muito porque quem exerce
passa a conhecer um monte de coisas novas, conceitos, ideias,
lugares, acontecimentos, pessoas... Isso não vem tanto com a
faculdade, mas depois dela, trabalhando mesmo. E no momento eu ainda
estou trabalhando com computação.
LB:
Tanto n’A
Sorte do Perdedor
como nas fics que tens disponíveis no Nyah os protagonistas são
homens de língua afiada e mente rápida, com características
peculiares, mas que parecem não ser muito amados pela maioria das
pessoas que os rodeiam. Diria mesmo serem anti-heróis. Algum motivo
em particular para gostares de trabalhar com este tipo de
personagens?
RB:
Acho
que um dos principais motivos é que nunca gostei de brucutus. Não
cheguei nem a assistir o filme Mercenários.
Então as virtudes dos meus personagens acabam se voltando mais para
inteligência. Além disso, eu não curto muito o estereótipo do
herói bonzinho, mas também não gosto de personagens muito
arrogantes e prepotentes, embora eu tenha personagens dos dois tipos.
Em A
Sorte do Perdedor,
a personagem ser dessa forma foi extremamente proposital, a
personagem precisava ser assim para a história seguir em frente, ele
é exageradamente debochado e irritante. Em outras histórias, os
protagonistas são mais tridimensionais. Mas eu não acho que a
maioria dos meus protagonistas seja desse jeito. A maioria deles
realmente é meio espertinha, mas acho que poucos são difíceis de
se gostar, do ponto de vista das outras personagens.
LB:
Na tua biografia referes que a tua vontade é escrever coisas
realmente significativas. Poderias elaborar? Há algum relacionamento
com o teu “autoconhecimento” enquanto escritor?
RB:
Essa
é um pouco complicada, mas vou tentar. Assim, eu gosto das minhas
histórias, acho que (algumas) são divertidas, outras interessantes,
talvez algumas sejam emocionantes, não sei dizer, e, em geral, acho
que são bem escritas, ou pelo menos escritas tão bem quanto eu
poderia escrever na época que trabalhei nelas. Mas eu sinto vontade
de escrever algo que parecesse realmente belo (ou quem sabe belamente
grotesco, a depender da situação), que estivesse carregado de
poesia. Que falasse sobre o mundo, sobre os dramas dos seres humanos,
que, em geral, tivesse uma sensibilidade e realmente tocasse as
pessoas. Não acho que minha história seja o tipo que exprime
sentimentos. O que eu quero normalmente é apenas contar uma boa
história, na qual o leitor se aproxime da situação e dos
personagens, mas como um todo, acho que não passam nenhum
sentimento, em geral. Mas eu acho que tiveram coisas que eu escrevi
que eu consegui, ou pelo menos cheguei mais perto, dessa
"significância", que foi no conto “O Despertador” e na
noveleta A
Última Torre.
LB:
De certo modo é como se te desdobrasses em dois escritores a
quererem coisas diferentes, mas não necessariamente opostas.
Atrevo-me a dizer que vimos os teus objectivos, então fica a
questão: como é o processo de escrita que os torna possíveis?
Planeias ou vais inventando conforme escreves? Bloqueios criativos
são um problema?
RB:
Eu
tenho vários daqueles caderninhos pequenos, só com anotações de
histórias que eu ainda nem comecei a escrever. Tem um livro, que
pretendo escrever, que terá doze protagonistas (parece muito, mas a
estrutura permite isso, foi planejado), e eu estou fazendo um resumo
da história inteira do ponto de vista de cada um deles. Então, é,
eu planejo bastante. Mas de vez em quanto eu escrevo contos curtos em
que vou pensando tudo na hora. E tem também uma experiência que eu
faço que é escrever uma história longa colocando a primeira coisa
que vier em minha cabeça. Bloqueios criativos não são um problema
há muito tempo. Eu simplesmente não tenho eles há muito tempo (na
verdade, excesso de ideias é que é um problema para mim). Só que
eu me distraio fácil e às vezes perco o foco. Ou então paro algo
que estava trabalhando para trabalhar em outra coisa porque me chamou
mais a atenção.
LB:
E
em relação à revisão? Sabemos que utilizas beta-readers para
algumas das tuas histórias, mas como funciona a escolha desses
mesmos betas e o equilíbrio entre aquilo que todos eles dizem e
aquilo que tu próprio pensas?
RB:
Acho
que não tenho um método para escolher beta readers; três amigas
minhas, a Iara, a Juliana e a Rebeca, normalmente lêem as coisas que
escrevo, pelo menos as que eu consigo terminar. Às vezes peço para
outros amigos lerem também. Mas os betas normalmente me ajudam mais
com revisão e dizer como foi a experiência da leitura. Em se
tratando da história em si, personagens e estrutura, normalmente eu
converso sobre o assunto no grupo de escrita que eu participo, A
Taverna do Trapeixe. Agora, em questão do equilíbrio eu não sei
muito o que dizer. Não sei se tem um método que eu uso. A maioria
das coisas que apontam eu modifico, mesmo que não seja exatamente
para a sugestão que deram. Mas às vezes não acho apropriado
modificar, ou mesmo que esteja estranho, prefiro manter como já
estava. Varia muito.
LB:
Passando para a leitura, há alguma obra que tenhas como sendo uma
grande influência na tua escrita?
RB:
Definitivamente a minha maior influência foi O
Senhor dos Anéis,
que eu li aos doze anos. Eu li Harry
Potter
um ano antes de SdA, mas SdA me conquistou muito mais, provavelmente
porque eu jogava e lia coisas sobre RPG. Depois disso, creio que fui
muito influenciado pela série Torre
Negra
de Stephen King e as obras de Lovecraft. Mais ou menos quando entrei
na faculdade, em 2009, descobri os clássicos, e Os
Miseráveis
e Guerra
e Paz
me marcaram bastante. É engraçado que eu gosto de pensar em Ficção
Científica, e inclusive um dos contos que publiquei é de Ficção
Científica, mas não acho que tenha nenhum livro do gênero que
realmente tenha me marcado. O que é engraçado, já que é o gênero
que eu mais admiro. Já ia esquecendo, a leitura de histórias em
quadrinho me influenciou bastante também.
LB:
Alguma razão em particular para gostares tanto de Ficção
Científica enquanto leitor, mas não teres nenhuma obra em
específico desse género que te tenha influenciado enquanto autor?
RB:
Acho que é porque quando comecei a realmente ler Ficção Científica
eu já escrevia há certo tempo. Então, algumas obras de Ficção
Científica me impressionaram bastante, como Duna,
A
Máquina Diferencial
e Neuromancer,
mas não chegaram a afetar, de modo geral, a forma como eu escrevo.
Eu tenho histórias cyberpunk e steampunk, e Neuromancer
e A
Máquina Diferencial
são duas grandes referências do gênero, mas eu já tinha tido
contato com os gêneros em jogos, ou HQs ou RPGs, então não
exatamente me abriram os olhos para algo novo, embora sejam livros
muito bons.
LB:
E
enquanto leitor de fanfics? Que opinião tens dessa experiência?
RB:
Eu
acabei lendo bem poucas fanfics. Na maior parte das vezes só coisa
escrita por amigos mesmo, ou na comunidade Contos de Resident Evil.
No Nyah, acabava lendo mais histórias originais. Em geral, eu não
gostava muito dos fandons de alguns animes. Muitas vezes a história
era escrita de forma relapsa e sem muito esmero. Divertidas pra quem
gosta só de escrever baseado em algo que gosta e divertidas para
quem gosta de ler coisas do fandom. Mas eu preferia ler originais
mesmo.
LB:
Que
terias então a dizer sobre essas originais que leste no Nyah?
RB:
Ah,
em geral as originais eram muito boas, ou pelo menos tinham potencial
(quando não eram fanfics disfarçadas). E eu digo fanfic disfarçada
não só pelo tema ou por ser basicamente igual a alguma obra. Mas a
maioria dos fandoms tem seus tropes e seus vícios de linguagem. E
acho que muitas vezes o estilo do fandom pode acabar suplantando o
estilo do escritor. Claro que não acontece com todo mundo, mas acho
que acontece bastante. Às vezes eu lia uma original no Nyah e
conseguia adivinhar que fanfics o autor escrevia (quando escrevia).
Um exemplo rápido, na maioria das fanfics de Naruto, se referiam a
Naruto como "o loiro", Sasuke como "o moreno" e
Sakura como "a rosada". E já vi usarem esse modo de
diferenciar personagens em obras originais (inclusive com o "a
rosada"). O autor, óbvio, escrevia fanfic de Naruto. Isso que
estou mencionando não é SEMPRE ruim. Na verdade não é
necessariamente ruim, mas acho que é algo que precisa se ter
atenção. Lembro de uma vez que me passaram uma passagem de
Cinquenta
Tons de Cinza
e eu perguntei "Que fanfic é essa?", porque algo na
estrutura me fez pensar que era de uma fanfic.
LB:
Para
finalizar, há algum conselho que possas dar àqueles ficwritters que
desejem entrar no mundo editorial?
RB:
Em se tratando de escritores ainda novos, acho que é importante
escrever também histórias curtas. A maioria das pessoas quer
escrever um romance, ou uma trilogia, ou uma série maior do que
Wheel
of Time,
mas muito provavelmente não vai ter experiência para escrever algo
desse tamanho que fique realmente legal para ser publicado. Embora,
claro, isso seja apenas uma opinião baseada no que eu vi e vivi. Um
conselho valioso, e esse não é meu, mas de Neil Gaiman, é para que
quem escreve não só comece a escrever, mas também termine. Eu digo
isso porque eu escrevo há mais de oito anos e nem de longe terminei
tantas coisas quanto poderia. Tem histórias que eu deixei de lado
faltando 10% para terminar. E, afinal de contas, para conseguir ser
publicado é preciso ter uma história completa. Ninguém vai
publicar uma história incompleta (e em se tratando de autores
iniciantes, provavelmente também não vai publicar o primeiro livro
de uma série por concluir). Eu recomendaria que as pessoas não se
preocupassem em publicar, que se preocupassem em melhorar enquanto
escritoras, em entender os próprios processos e limitações e criar
algo que seja verdadeiramente "seu". Mas em se falando de
quem realmente deseja publicar, o início normalmente vem a partir de
contos ou histórias curtas em antologias que dificilmente vão dar o
retorno que gostariam. Mas ainda assim, é uma alegria publicar um
conto, mesmo que não seja uma graaaande publicação. E a cada conto
publicado, mesmo que seja pequeno, pode se fazer mais contatos, ter
mais destaque no meio literário e entender mais do ambiente. Eu, por
exemplo, conheço uma entrevistadora portuguesa que tinha planos
malignos de dominar as antologias brasileiras, lançando contos em
todas que conseguisse. Eu acho uma ideia interessante e viável.
LB:
Não
faço ideia de quem falas, ahah. Muito obrigada pelo tempo
disponibilizado e pela entrevista, que tenho a certeza será de
interesse para os leitores do blog!
Na
próxima Quinta-feira postaremos a resenha à noveleta A
Sorte do Perdedor,
de Renan Barcellos, publicada pela editora Buriti.
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