Resenhas - Desafio de férias do Nyah! (1/6)

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014


No fim de 2013, foi feito um desafio natalino no Nyah! Fanfiction. Como prometido, a Liga dos Betas fez uma resenha para cada história no top 10 (além das duas menções honrosas) e elas serão postadas duas a duas, a partir de hoje. Recomendamos que leiam e comentem em todas. As histórias são ótimas!



1º lugar — Gaunt, por Lorde Noah

Resenha por Elyon Somniare 

Neste conto de Fantasia, Lorde Noah apresenta ao leitor uma alternativa ao mundo que conhecemos, onde criaturas míticas como o Pai Natal, fadas, cavalos-voadores, Coelho da Páscoa, entre outros não são apenas histórias contadas às crianças, mas, sim, factos cuja existência é de conhecimento geral. Este conceito como worldbuilding pode ser dos mais utilizados, mas nem por isso perde os seus encantos, especialmente quando é bem moldado e trabalho. E, aqui, podemos considerar que foi. O autor não apenas soube utilizar os elementos mitológicos certos no momento certo, como os fez credíveis e manejou para misturar o real com o imaginário. Pegando num excerto como exemplo, é possível ver que em “Quando sentiu fome, Grant [o cavalo alado] pediu que [Gaunt, o menino] arrancasse um único fio de sua crina prateada e o comesse. Quando Gaunt o arrancou, o fio tornou-se róseo e dourado, e quando o engoliu sua fome e sede desapareceram” temos elementos directamente tirados de contos de fadas. Não apenas o cavalo alado em si, mas a própria viagem na garupa do mesmo, assim como a ideia de “um único fio de sua crina” servir de alimento. Simultaneamente, na frase seguinte temos um reflexo das preocupações e prioridades de uma realidade capitalista: “Por isso que os cavalos alados eram tão admirados e respeitados pela indústria alimentícia mundial.” Um elemento intercala-se com outro. Dá-lhe seguimento e transporta uma sensação de verossimilhança ao leitor.

Este worldbuilding, contudo, não se limita apenas a ambientar a história. Além de o fazer, também se encontra directamente relacionado com o enredo: invejosos do sucesso do Pai Natal com os seres humanos, muitas das outras criaturas começam a sabotar os feriados, até os próprios, com intenção de culpabilizar o dito. Como consequência, a Existência é afectada pelos constantes desequilíbrios, e os Anciões, representados no conto por Alathea, veem-se na iminência de provocar o apocalipse e recomeçar do zero. Gaunt é o menino de dez anos a quem é dada a missão de levar uma caixa-mistério até ao Polo Norte antes do dia 14 de Janeiro, quando o apocalipse acontecerá. Uma vez tendo as premissas básicas do enredo, o leitor acompanha Gaunt na sua viagem. É, portanto, um conto de quest. Estrutura-se em torno de uma viagem-missão, algo também típico não só de contos de fadas, como de outros géneros literários – épicos, por exemplo –, onde usualmente o herói é ajudado por personagens secundárias (no caso, criaturas mitológicas) durante as diferentes etapas, e que no fim se conclui com um crescimento pessoal do herói.

Em relação às personagens, começarei pelo protagonista. Gaunt peca por um factor: nada nele indica, quer explícita quer implicitamente, o porquê de ser ele o escolhido. Simplesmente foi, o que leva à questão “por que ele e não outro?” Tirando este detalhe, um que cada vez mais se torna recorrente em ficção especulativa, Gaunt encontra-se bem construído. A sua caracterização é essencialmente implícita, o leitor compreende-o pelos seus actos e pelos seus pensamentos, sendo uns e outros consistentes com as suas falas. Comporta-se como alguém mais maduro do que uma criança de dez anos, mas sem ultrapassar os limites credíveis a uma criança que seja, de facto, madura para a idade.

As restantes personagens são essencialmente personagens planas. Encontram-se a representar algo ou um grupo em específico – neste caso, um grupo específico de criaturas míticas. Não demonstram uma evolução, e os seus sentimentos são relevados para segundo plano, expostos apenas quando e se necessário justificar algum comportamento ou reacção. Não quer isto dizer que falham na construção: qualquer um que tenha prestado atenção às aulas de Português sabe que uma história necessita sempre de dois tipos de personagens, as planas e as redondas. O ponto fulcral é que umas e outras cumpram a sua função na história, enquanto distraem o leitor da “falta de sal” que essa mesma função pode parecer ter quando se encontra demasiado evidente que a personagem se encontra no texto especificamente para isso. Em “Gaunt”, as personagens cumprem as suas funções enquanto divertem o leitor. O pouco que é dito sobre elas é o suficiente para lhes dar forma e consistência, tornando-as apreciáveis para a leitura – o chamado likable, do Inglês to like, gostar.

Por fim, a narrativa. Nas notas finais, o autor alega que a história é toda narrada pela Anciã Alathea. Vários autores recorrem a esse sistema, contudo, isso não impede que o ponto de vista mude, assim como o tipo de narrador. Deste modo, o começo e o fim da história encontram-se narrados na primeira pessoa, num narrador homodiegético, personagem da história mas não protagonista, enquanto no desenvolvimento da história o narrador é na terceira pessoa, heterodiegético. Em comum em todas as partes, temos a omnisciência do narrador. Ele sabe tudo o que se passa, inclusive mais do que o protagonista.

Excluindo uma ou duas gralhas, a escrita está genericamente boa. O autor sabe equilibrar os vários elementos de um texto de ficção, alternando entre diálogos, descrições e narração. A informação é doseada e dada em boa altura, evitando-se os blocos de informação cujo efeito se realiza mais em aborrecer o leitor do que em o informar. Os vocábulos são diversificados, não sendo demasiado rebuscados, nem demasiado simplistas. Aquilo que é dito e aquilo que é demonstrado ao leitor sobre o enredo, worldbuilding e personagens encontra-se doseado, sem cair em nenhum dos extremos.


Concluindo, é uma leitura que se recomenda. 



2º lugar — Pole of the Dead, por Goldfield

Resenha por LindaLua

Uma história narrada pelo ponto de vista do símbolo natalino mais conhecido do mundo: Papai Noel. Em uma espécie de diário, ele relata a vontade de mudar os conceitos dessa data, transformando o caráter materialista em algo voltado aos sentimentos, à realização de sonhos e à felicidade interior de cada pedido feito. Com esse pensamento, o “bom velhinho” usou das doações que recebeu em dinheiro durante todo o ano para contratar uma equipe de cientistas que tinha como objetivo descobrir uma espécie de “elixir da vida” capaz de reviver células mortas, reatar pontes de neurônios, eliminar tumores malignos e várias outras enfermidades cuja ciência ainda não é capaz de curar. Na noite de Natal, percorreria todos os hospitais, presenteado os enfermos.

Porém, um incidente com um frasco que continha uma substância nomeada de “Projeto X-MAS” foi derrubado acidentalmente por um dos cientistas. A substância se espalhou matando duendes para depois fazê-los ressurgir como zumbis que invadiram a mansão, mesmo estando protegidas pelos duendes sãos. Dentro da casa, tudo havia sido tomado e o único protegido dentro de um armário velho, acovardado demais para lutar, era Papai Noel.

O socorro chegou apenas no dia do Natal através de uma duende, Varna, que sozinha, em posse de uma arma de guerra poderosa, aniquilou alguns zumbis e foi ao encontro do velhinho, para em seguida pedirem resgate a OTAN.

Os dias foram passando, o ano novo chegou e ambos aguardando o socorro chegando até mesmo a lutar contra as renas infectadas pelo vírus para manterem-se vivos.

Uma narrativa completamente diferente do universo natalino que estamos acostumados a ler. Uma trama que envolve um mundo paralelo à realidade dos contos de Natal onde podemos nos envolver em um enredo que, ao mesmo tempo que arrepia, nos deixa apreensivos para o seu desenrolar. O que no início é apenas uma simples ideia de salvar pessoas, reconstruir família e trazer um novo sentido a data, se torna uma cena de horror e devastação tanto para o personagem principal da história, Papai Noel, quanto para o leitor.

O autor usa de pontos fortes em sua história, não esquecendo o contexto adulto para o qual foi escrita. O “bom velhinho” se derretendo de desejos pela bela figura da duende que salvara sua vida não é algo comum. E o restante de seus pequenos ajudantes virando monstros prontos para acabar com sua vida? E as renas dóceis que se tornaram animais desfigurados prontos para matar?

Envolvente e cheia de mistérios o texto prende a atenção do leitor do seu inicio até o final, e a leitura se torna uma prazer inigualável. 
  


4 comentários:

  1. Que resenhas lindas. Eu não poderia ter feito melhor (humilde, beijos)
    As histórias me surpreenderam, essas duas primeiras então, fiquei super contente com o resultado.
    Obrigada pelo trabalho, muitas pessoas da Liga se comprometeram com o Desafio
    e isso fez a diferença. Espero as demais resenhas.
    Parabéns meninas.

    Ps.: Elyon Somniare, eu li todos os seus comentários e cai da cadeira mortíssima e ressuscitei depois rindo feliz.
    hehe eu adorei :X cê tem que ler uma fic minha véi. HAHAHAHHAHAHA

    Beijos.

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    1. Ui, alguns considerariam masoquismo! Outros considerariam capacidade em aceitar críticas. Qual deles o correcto? :p
      (Obrigada)

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  2. Essa Pole of the Dead me pareceu bem interessante. Vou ler.

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