Por: SayakaHarume
Saudações, jovens de todas as idades que acharam o caminho para este artigo! Hoje vamos falar de um assunto um tiquinho complicado à primeira vista, mas depois que se pega o jeito, você vai estar escrevendo praticamente no modo automático, juro. Já tivemos um artigo falando sobre Títulos de Nobreza e Pronomes de Tratamento, mas como eu sou obcecada por isso, resolvi expandir a explanação. Então, vamos lá?
Antes de passar para os títulos propriamente ditos, gostaria de falar um pouco sobre como eles eram adquiridos e/ou herdados. Essas leis mudavam com o passar dos anos e também variava dependendo da localização do reino. Como não pretendo fazer disso uma aula de história, vou me prender à realeza britânica e francesa da Alta Idade Média, de onde é mais comum os autores retirarem informações para criar a nobreza de seu novo mundo, além de serem mais simples. Se houver pedidos, posso fazer depois um outro artigo falando também sobre como era na Baixa Idade Média, mas acredito que não é estritamente necessário.
Alta
Idade Média (476 D.C ― 1000 D.C)
Nessa época, a nobreza era constituída de cinco graus gerais: Duque, Marquês, Conde, Visconde e Barão. Cada um tinha uma função dentro do reino e respondia ao Rei e à família real.
No Império Romano, esses títulos podiam ser revogados pelo Imperador a qualquer instante e seus portadores eram remunerados em dinheiro por meio dos impostos arrecadados pelo Império. Isso mudou durante o Império Carolíngio (que, para quem não é bom em história, foi o Império que tomou a Europa entre os anos 800 e 888), onde os títulos viraram hereditários, vitalícios e inseparáveis da propriedade feudal de um território. Ou seja, o título estava ligado àquele pedaço de terra.
Como o feudalismo estava se estabelecendo, não existia muito comércio, então a forma de recompensar alguém seria dando um feudo ao dito-cujo, junto com o título que o feudo levava. Quem recebia esse feudo se tornava um vassalo do superior, seu suserano. Era possível ser vassalo e suserano ao mesmo tempo. Um Duque poderia ceder um pequeno feudo a quem lhe prestara um serviço de grande valia, mas continuava sendo um vassalo de seu soberano.
Por exemplo, em Westeros, todas as grandes Casas são vassalas da Casa Baratheon, que é a atual portadora do trono de ferro, mas cada uma tem também seus vassalos. Entenderam?
Nessa época tranquila, quem recebia o título podia ficar com ele por toda a vida com tranquilidade, uma vez que a lei não permitia que ele o perdesse, nem as suas terras, a não ser se cometesse um crime grave ou não cumprisse suas obrigações para com seu suserano e as leis do reino.
Quanto à hereditariedade do título, quando o portador falecia, seu filho mais velho herdava tudo e ia até o suserano fazer o juramento de fidelidade. Mas e aí? E quando o falecido não tinha filho homem? Na Inglaterra, Itália, Península Ibérica e na maior parte da França, ia tudo para a filha mais velha. Embora ela pudesse usar o título, era algo apenas no papel, por que o controle de tudo iria para o marido, se ela fosse casada. Já em outros lugares, mulheres nunca herdavam. Na falta de um filho, o herdeiro seria um irmão do falecido, e, se este também estivesse morto, o título iria para o sobrinho. Se não houvesse filhos, irmãos ou sobrinhos, mas uma filha casada, o título iria direto para o neto.
Na França da Baixa Idade Média, as mulheres foram ainda mais excluídas. Para explicar esse método complexo, vou ilustrar com o seguinte exemplo: O Duque de Tangamandapio teve três filhas, e todas se casaram e lhe deram lindos netos. Tristemente, o Duque morreu sem ter um filho homem. Seus irmãos estavam mortos e nenhum deles teve filhos. Podia um dos netos do Duque herdar o título? Não. Podia o filho de uma irmã herdar o título? Não. A hereditariedade seguia uma linha masculina direta. Então quem herdava o título e o ducado? Ninguém. Voltava tudo pra mão do soberano. Isso tudo pra evitar ingleses de herdarem qualquer coisa durante a Guerra dos Cem anos e centralizar o controle dos feudos na mão do suserano.
Então vamos, enfim, para os títulos!
Posição/Título
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Saudação
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Função
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Imperador/Imperatriz
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Vossa
Majestade Imperial/ Vossa Majestade¹
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Soberano
de Império
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Rei/Rainha
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Vossa
Majestade/ Vossa Graça
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Soberano
de Reino
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Príncipe
Imperial/Princesa Imperial/ Príncipe Real/ Princesa Real/
Príncipe/ Princesa²
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Vossa
Alteza Imperial/ Vossa Alteza Real/ Vossa Alteza²
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Filho
e herdeiro do Imperador/Rei/ Senhor semi-independente do
Reino/Chefe de Estado de um Principado²
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Duque/Duquesa
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Senhor
Duque de Z/ Vossa Graça, o Duque³
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Governador
ou comandante militar de uma ou mais províncias.
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Marquês/Marquesa
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Vossa
Senhoria/ Senhor Marquês de Z/ Meu Lorde, Minha Lady
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Controla
territórios nas fronteiras estrategicamente importantes, que
podiam ser invadidas
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Conde/Condessa
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Vossa
Senhoria/ Senhor Conde de Z/ Meu Lorde, Minha Lady
|
Governador
de uma região menor do ducado/ Ministro, cortesão ou emissário
do Imperador/Rei
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Visconde/Viscondessa
(*)
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Vossa
Senhoria/ Senhor Visconde de Z/ Meu Lorde, Minha Lady
|
Braço
direito do Conde, e controlava o território na ausência deste, e
quando o Conde possuía mais de um condado, era comum estes serem
administrados pelos Viscondes
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Barão/Baronesa
(*)
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Senhor/Madame
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Geralmente
possuíam cargos políticos envolvendo fiscalização
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Senhor/Senhora
|
Vossa
Senhoria/ Senhor de Z
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Administradores
de pequenos territórios importantes
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Cavaleiro
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Sir
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Título
dado por suseranos a soldados/oficiais que tenham demonstrado
bravura no campo de batalha ou em torneios ou outra ocasião
pertinente
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Aristocratas
e homens ricos, mas que não possuíam título de nobreza
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Vossa
Senhoria/ Mestre
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Basicamente,
cumprir suas funções como vassalos e súditos do Rei
|
(*) Títulos que só surgiram na Baixa Idade Média, embora existam registros da origem deles ainda na Alta Idade Média.
Nota 1: Mas tia, como o Imperador e o Rei podem ser chamados só de ‘Vossa Majestade’? Meu pequeno gafanhoto, como em um Império não tem reis, o Imperador entre amigos era chamado só de ‘Vossa Majestade’, mas em eventos oficiais, era ‘Vossa Majestade Imperial’.
Nota 2: E você pode me perguntar, com toda a razão: tia, que confusão é essa na linha de Príncipe/Princesa? Esse título é dado para os herdeiros do soberano. Para diferenciar entre os herdeiros da coroa e os outros, os herdeiros da coroa recebem um nome a mais no título, se for Império ou Reino. Também pode ser Príncipe/Princesa Herdeiro(a), Príncipe/Princesa da Coroa. Só que esse título não é exclusivo de filhos do soberano, mas também de Chefes de Estado do Principado, que é um território, dentro do Reino ou Império que cresce tanto a ponto de funcionar quase totalmente independente do resto do Reino. Ainda segue as mesmas leis, o Rei ainda tem a soberania, mas deixa o barco correr livremente (desde que não queira a independência total). Então o Duque (esses territórios que cresciam tanto assim geralmente eram ducados) clamava o título de Príncipe, porque não podia clamar o de Rei.
Nota 3: Esse segundo não tem flexão para o feminino, já que a Duquesa só era assim chamada por ser a esposa do Duque. Segundo as leis vigentes, uma mulher não poderia administrar um ducado. Aqueles chatos...
Erros
Comuns
― Dirigir-se ao Rei ou ao Imperador como ‘Sua Majestade’. ‘Sua’ é usado só quando colega x está falando com colega y sobre o soberano. O mesmo ocorre nos outros casos. Quando se fala diretamente ao portador do título é ‘Vossa’, referindo-se a ele a uma terceira pessoa, usa-se ‘Sua’.
― Chamar os descendentes de um Duque ainda vivo também de Duque. Não é uma classe, é um título pessoal e intrasferível, como o CPF e o RG. Vale para os outros títulos também. Ah, e o filho de um Conde nem sempre é Visconde. Só se o pai resolver dar uma parte do condado para um filho mais novo. Ou mesmo pro mais velho, mas quando o Conde morrer, esse mesmo filho mais velho herda o título.
― Chamar um nobre de Lorde João ou uma nobre de Lady Maria. Lorde/Lady é sempre usado com o nome completo da pessoa ou apenas com o sobrenome. As princesas britânicas são exceção (Salve Lady Diana!). O mesmo vale para Senhor/Senhora.
― Chamar um cavaleiro de Sir Smith. Esse título é o contrário de Lorde/Lady, pois é usado com o primeiro nome, Sir João, ou com o nome completo, Sir João da Silva. O mesmo para Dama ou Dom (monarquia portuguesa/espanhola/brasileira).
― Usar Lorde para mulher que não seja a cantora Lorde (que piada horrível, eu sei). É sempre Lady, salvo em casos raríssimos, que eu sei que existem, mas não sei onde se escondem, porque são muito raros. Também não se pode usar Lorde para Imperador, Rei, Príncipe ou Duque.
― Confundir ‘nobre’ com o portador de um título de nobreza. Nobres eram pessoas bem nascidas e bem relacionadas, mas nem todas possuíam títulos.
― Agora, metendo o bedelho na construção do enredo, outro erro comum é fazer um impostor se passar por alguém com uma distinção mais alta, como um Duque, por exemplo, com facilidade. Seria como alguém tentar se passar por um governador. Faz sentido? Não, não faz.
― Chamar Rei por nome e sobrenome, quando isso nunca foi usado. Aliás, muitas famílias reais sequer tinham sobrenome, os filhos de reis e imperadores recebiam apenas o nome de batismo. Não pensamos muito nisso, mas... qual é o sobrenome de Sua Majestade Real, a Rainha Elizabeth II? Pois é, não tem. Você pode até me perguntar sobre a Casa Windsor, mas não é o sobrenome, é só a Casa da família real. Em Game of Thrones, série de livros que popularizou esse conceito, o Martin fez uma adaptação para seu próprio mundo. Se ele tivesse seguido a regra, os Baratheon (Casa que está no Trono de Ferro, apesar de só ter Lannister por lá) sempre seriam mencionados não como Robert Baratheon, ou Stannis Baratheon, mas Robert da Casa Baratheon, Stannis da Casa Baratheon, etc. Sinta-se livre para fazer adaptações na sua história de fantasia, mas se estiver escrevendo algo que se passa no nosso mundo, recomendo que siga a regrinha.
― Pensar na hierarquia dos títulos de nobreza como uma carreira, com promoções. Promoções são raras. Raramente aconteciam dentro da linha hereditária de uma família, e mais raramente ainda na vida de uma só pessoa.
Como toda a regra, tem suas exceções, e se existe algo que você queira mudar, é só bolar aquela explicação bem legal e lógica, dentro do costume montado na sua história.
Enfim, gente, foi isso! Espero que esse artigo lhes tenha sido útil e que ajude a escreverem suas fanfics históricas ou fantásticas!
Milhões de beijos e abraços e cupcakes!
Parabéns pelo post, muito esclarecedor, mas ainda sim fiquei com a dúvida de usar letra maiúscula ou minúscula quando vou escrever "rei" ou "rainha". Isso depende do contexto ou há uma regra clara?
ResponderExcluirObrigada!
Olá! Eu vou passar o teu comentário à autora do texto, pois eu não consigo responder à pergunta. Irei postar aqui a sua resposta assim que possível :)
ExcluirAqui vai a resposta da autora: "Até onde eu sei, não existe regra clara, então acredito que depende do contexto. Letra minúscula quando usado como substantivo, e quando acompanhar o nome do rei, ser escrito com letra maiúscula, por exemplo: Rei Robert. Desculpe não poder informar mais."
ExcluirEu sempre volto nesse texto para escrever minha fanfic, muito obrigada :3
ResponderExcluirUma pergunta: Um imperador, pode imperar sobre vários reis? Ou não pode haver um imperador comandando vários reis?
Olá! Fico muito contente que o post te ajude :)
ExcluirEu vou passar a tua pergunta à autora e, assim que tiver uma resposta, posto aqui :D
Segui aqui a resposta da autora: "O conceito de Império é justamente esse, uma união de vários reinos. Porém, até onde eu sei, não é muito comum usar o título de rei para quem controla esses reinos, porque quando invadidos, o Imperador destituía o Rei e colocava alguém de confiança, que poderia ser um Duque, um Grão-Duque, e então esse reino seria tratado como Principado. Relativamente independente, mas ainda respondendo ao Império e pagando impostos a ele. Espero ter ajudado, qualquer coisa, estamos aí o/"
ExcluirComo o imperaor Tibério e os filhos de Herodes, o Grande, reis figurativos.
ExcluirBom dia! A palavra "lorde" é, além de um título nobiliárquico, um pronome de tratamento? Teria algum pronome de tratamento para chamar os lordes, como Vossa Senhoria, talvez?
ResponderExcluirEu não sei a resposta, mas gostarias que passasse a tua pergunta para a autora? :)
ExcluirAmei sua explicação. Sou formada em História, mas nada disso é ensinado na universidade. Lemos sobre grandes líderes e nobres, mas, muitas vezes, não sabemos corretamente qual a função que lhe é atribuída socialmente através do título.
ResponderExcluirCertamente, seu texto será de grande auxílio durante a escrita de meu livro.
Muito obrigada! (:
Obrigada pelo comentário!
ExcluirAmei o artigo!
ResponderExcluirUma dúvida, no meio de frases, eu uso "Alteza" ou "Majestade" com letra maiúscula ou minuscula?
Exemplo:
"Por favor, Alteza, não faça isso."
Obrigada!
Olá! Palavras como "Alteza" e "Majestade" são usadas com letra maiúscula no meio de frases. Obrigada pela leitura!
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