Clube de leitura: 8ª rodada



"O grito soprou pelos raios dourados da madrugada, silencioso aos recantos do som, vigoroso aos sentidos internos cuja existência se julgava extinta, incógnita, desaparecida Os pêlos humanos arqueavam-se perante o horror do mesmo, pressentindo a dor que fechava consigo. A alma clamava misericórdia pela dor da criatura que o corpo acabara de chacinar."
Conto escrito em torno da chacina/libertação das três noivas do Conde Drácula, seguindo a percepção da terceira e última das criaturas.

Leituras:

Fábio Nunes - Albert RJ Laurent

Sempre me admiro quando os escritores conseguem nos fazer imergir em suas histórias. Foi o caso de Elyon Somniare em "A Terceira Noiva". Elyon conseguiu situar bem o leitor; enquanto lia, consegui visualizar muito bem o que ela descrevia, tanto fisicamente quanto psicologicamente. A narrativa, por mais que use palavras rebuscadíssimas e mesóclises (esse último, um estilo que eu particularmente odeio, mas que é totalmente justificável pelo fato de o português da autora ser de Portugal) não é cansativa. Ao contrário, é tensa, com palavras muito bem escolhidas, adjetivos e expressões que caíram como uma luva na história, considerando o contexto em que se passa. Na one-shot, acompanhamos os pensamentos da terceira noiva de Drácula enquanto ouve os gritos das outras sendo mortas por Van Helsing e, vou dizer, que momento tenso. Realmente, essa one-shot entrou para o meu seleto grupo de histórias favoritas. Eylon Somniare tem talento e ela me conquistou com sua narrativa. Excelente one-shot!


Iuri Alves

Sou suspeita para falar desse mundo maravilhoso que é o dos vampiros e seus personagens.

A escrita é maravilhosa, rica em detalhes, mas acho que ficaria muito melhor se ela fosse divida em mais partes. No primeiro momento tive a impressão de que a proposta foi colocar a história praticamente inteira em apenas um parágrafo!

É impossível negar que o enredo é promissor, faltou um desenvolvimento cronológico e mais extenso, a fim de proporcionar ao leitor a emoção e o clímax da história.


Jean Claude

A linguagem rebuscada é a primeira coisa que te recebe dentro do âmbito misterioso de “A Terceira Noiva”. O estilo de narração, assim como as palavras escolhidas, nos instiga a querer entrar mais no clima sombrio da one-shot, forçando nossa mente a querer entender o que se passa.

Os gritos seguidos representam a parte mais interessante do que se conta. Ocorre mais de um, porém não da mesma vítima. Nossa mente tenta trabalhar com essas distinções e tenta, da forma mais nítida possível, relacionar os diversos tipos de dores, apesar da fonte de tormento aparentar ser a mesma.

A história tem uma forma ideal de prosseguir e relatar seus acontecimentos. A narração em terceira pessoa e a ausência de diálogos nos transmite ainda mais a distância criada para esse perigo. Nós nos sentimos como se estivéssemos longe – talvez seguros – mas ainda assim, conseguimos sentir a preocupação, semelhante ao medo.

A one-shot possui foco e é bem objetivada. Além do clima sombrio e dos constantes martírios, temos a presença de personagens já conhecidos e o sangue necessário que faltava. O mais encantador, creio eu, foi o foco nas noivas, apesar de não citá-las diretamente. Todo o sentimento, a prosa poética e a linguagem envolvente foca-se nas noivas.

Em suma, a fanfic mostra que não é preciso muitos detalhes para se expressar, que não é necessário “aparecer” para se compreender. Em cada minuciosa palavra desse conto, esconde-se uma sensação, seja ela do narrador, dos personagens ou do próprio leitor.


Maira Zamproni Pereira – Rain

O peso da imobilidade. Os sentidos em alerta. A sensação pior de qualquer pesadelo: estar consciente, enquanto trancado dentro de si, enquanto o perigo fatal e inevitável se aproxima.

Eis a agonia. Eis o medo. Palavras que não precisam de preâmbulos para instigar a sensação basal do terror instintivo a que, no entanto, não conseguimos resistir quando ele se instala em nós através da catarse que a ficção permite.

E enquanto esperamos Van Helsing se aproximar da tumba onde repousa a terceira noiva de Drácula, enquanto sentimos os fios de sua não-vida serem desconectados um a um à medida que as duas outras perecem, é essa a sensação que se instala na base de nossa espinha e sobe, aos poucos, até o arrepio na nuca que antecede o desfecho ao mesmo tempo implacável e ternamente piedoso.

A linguagem consistente com a obra fundadora de Bram Stoker, bem como a aura de mistério que instiga muitos leitores sobre a verdadeira natureza e origem daquelas mulheres vampiras, são os outros ingredientes que fazem de A Terceira Noiva uma ótima fanfic.


The Escapist

Neste conto, baseado no universo ficcional de Drácula, de Bran Stroker, a autora leva-nos a acompanhar os momentos finais das três noivas do temido Conde, a partir das percepções da terceira — e desafortunada — criatura.

A história é fantástica em todos os seus aspectos. Elyon é uma escritora brilhante que sabe conduzir a trama de forma a prender o leitor da primeira à última palavra. Tudo nesse conto é bem arranjado, o vocabulário escolhido à risca torna a leitura um exercício agradável e prazeroso, apesar do tema em questão não ser propriamente feliz.

Há, na verdade, algo de agoniante na história. Ora, o tema central são os últimos momentos da “sobrevida” das noivas vampiras. Inicialmente, é de imaginar-se que, uma vez privadas de sua humanidade, tais criaturas não temessem mais a morte, uma vez que havia uma promessa velada de imortalidade. Porém, nos instantes finais de sua vida, percebemos que ainda há nela resquícios de sentimentos fundamentalmente humanos: medo e arrependimento — “O pecado daquilo em que se tornara ser-lhe-ia perdoado, pois na consciência súbita com que a segunda morte a agraciava, sabia-o: tornava-se, novamente, numa criatura do Senhor”. 

É, eu suma, uma leitura altamente recomendada.


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