Fantasia Histórica

quinta-feira, 11 de agosto de 2016


Por: Ana Mesquita


Fantasia histórica ou — como prefiro chamar — ficção histórica é um gênero literário que vem ganhando cada vez mais espaço nas estantes dos leitores. Mas já aparece há algum tempo em vários filmes, principalmente aqueles que tratam de guerras. Nesse artigo, irei falar sobre o gênero focando-me em três pontos: o que ele é de fato; qual a diferença entre essa literatura e a literatura épica e como escrever uma ficção histórica.

Primeiro, precisamos estabelecer que a ficção histórica não é necessariamente um relato histórico. De uma forma concisa, podemos descrever como sendo um gênero que mistura eventos importantes para a humanidade com ficção. Um belo exemplo de autor do gênero é o Bernard Cornwell. Ele já fez livros ambientados durante a Guerra dos Cem Anos, as Guerras Napoleônicas e até mesmo a Grã-Bretanha durante os séculos IX e X.

Os livros dele seguem uma preciosa fórmula para qualquer autor do gênero, e vamos falar mais pronfundamente sobre ela mais abaixo. Primeiro é importante ressaltar uma diferença fundamental entre ficções históricas e fantasia épicas.

Apesar de ambos os gêneros resultarem em um leitura bem semelhante, o processo de escrita é um tanto quanto diferente. Para começar, autores épicos têm muito mais liberdade de criação, afinal, eles criam seu próprio mundo, os próprios personagens influentes e decidem o destino deles. Na ficção histórica você não tem essa oportunidade. O ambiente é determinado pelo fator histórico assim como o desfecho geral de sua história. O que, na opinião de Cornwell, não tira a importância de todo o trajeto, e eu concordo com ele.

Agora que estabelecemos as limitações da ficção histórica, vamos ao que é possível criar dentro desse tipo de narrativa:

“Eu sempre penso em um romance histórico como tendo duas histórias — a grande história e a pequena — e o escritor as inverte.”

Esse é um trecho de uma resposta do Cornwell durante uma entrevista entre ele e o George Martin, que é sensacional — por isso, vou deixar o link no final do artigo. Mas voltando a essa frase: ela basicamente explica o que é feito em uma ficção histórica: você pega um grande fato, pesquisa sobre ele, encontra as brechas que a histórica deixa de contar por falta de fontes e então, você cria uma história paralela que se encaixe nessa brecha. 

Soa simples, não é? Vamos pegar, por exemplo, o plot de um dos livros do Cornwell: O Arqueiro, que faz parte da trilogia A Busca do Graal, ambientando na Guerra de Cem entre a França e a Inglaterra:

Fatos conhecidos sobre a Guerra:

“Iniciada em 1337, a Guerra dos Cem Anos foi deflagrada quando o trono francês esteve carente de um herdeiro direto. Aproveitando da situação, o rei britânico Eduardo III, neto do monarca francês Felipe, O Belo (1285 – 1314), reivindicou o direito de unificar as coroas inglesa e francesa. Dessa forma, a Inglaterra incrementaria seus domínios e colocaria um conjunto de prósperas cidades comerciais sob o seu domínio político, principalmente da região de Flandres.”

História criada por Cornwell:

“Aos 18 anos apenas, Thomas vê o pai morrer em seus braços após um ataque-surpresa à aldeia de Hookton. Um lugar simples que escondia um grande segredo: a lança usada por São Jorge para matar o dragão, uma das maiores relíquias da cristandade. Em busca de vingança contra um homem conhecido apenas como Arlequim, o rapaz, um arqueiro habilidoso, se junta ao exército inglês em campanha na França, onde se envolve em batalhas e aventuras que, sem perceber, lançam-no na busca do lendário Santo Graal.”


Como podemos perceber, Cornwell não está narrando uma história sobre a realeza, ou os fatos propriamente ditos. Quero dizer, até vemos Eduardo III e outras figuras importante, e muito do que está no livro realmente aconteceu, o que é de fato um atrativo interessante, mas esse não é o foco. Na verdade, ele está contando a história de Thomas, um garoto fictício, usando como plano de fundo o eventos histórico. 

E assim, ele tem sua liberdade de criação, apesar de limitada. O que nos leva a regra: quanto mais conhecimento nós possuímos sobre aquele evento, menor irá ser a liberdade de criação do autor.

Essa manipulação dos fatos é a essência da criação da ficção histórica, e, apesar dos exemplos que eu dei estarem focados em guerras, você pode construir romances e outros tipos de aventuras também. O segredo estar em escolher algum momento histórico que desperte curiosidade, pesquisar MUITO sobre ele, e de preferência criar a sua narrativa com base nisso.

Uma pequena observação:

Como todo autor, você também tem liberdade poética dentro de sua história. A alteração que alguns detalhes é permitida, mas claro, desde que você avise o que é real ou não. E lembre-se: alterar muitos detalhes, ou detalhes importantes pode tirar toda a graça da ficção histórica, então se for fazer isso, tome bastante cuidado, certo?



Referências:

Entrevista entre Bernard Cornwell e George Martin:
http://www.gameofthronesbr.com/2012/01/grrm-entrevista-bernard-cornwell.html
Informações sobre Guerra dos Cem e “O Arqueiro”:
http://brasilescola.uol.com.br/historiag/guerra-cem-anos.htm

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