7 Verdades Difíceis de Engolir Sobre a Escrita

segunda-feira, 9 de julho de 2018
Por: Edgar Varenberg


Todo escritor tem suas próprias motivações e aptidões, escrevendo aquilo que mais o agrada, seja porque admira algum fandom ou porque sonha em trabalhar suas histórias originais. De área ampla, a literatura traz conosco muitas aventuras e dificuldades; há quem diga que escrever é fácil, embora não seja. Entretanto, há algumas características da literatura que muitas vezes não percebemos, ou não enxergamos em seu total funcionamento; por isso, este post falará sete verdades difíceis de engolir sobre escrever.
Obs: o post é de cunho reflexivo e te convida a enxergar outros pontos de vista além do seu, portanto, não tratem como verdade absoluta.

1 – A literatura é uma ciência como qualquer outra e precisa ser estudada.
Como assim, Tio Edgar? Simples. Quando uma pessoa quer desenhar, ela vai lá, pratica bastante, estuda métodos, traços, um monte de coisa até se aperfeiçoar; quando uma pessoa quer fazer música, ela estuda os acordes, a teoria, até conseguir compor o que deseja e, assim, executar. A literatura não é diferente. Ser escritor não é só saber escrever, a literatura é composta, também, de material que pode ser estudado, desde recursos até como usar a gramática a seu favor.
Então isso significa que eu tenho que estudar Letras para escrever? Claro que não. Qualquer um pode estudar o básico da literatura no conforto do seu lar, entender suas teorias principais, entender por que a literatura é o que é hoje. E para que serve isso? Quando temos mais consciência das coisas que fazemos, acabamos por executá-las com maior qualidade.
E onde eu posso estudar sobre isso? Estamos aí para isso, né non? O próprio blog da Liga dos Betas é repleto de artigos sobre o assunto. Olhe também nos nossos sites parceiros!

2 – Bem-aventurados são aqueles que mais leem do que escrevem.
A prática ajuda a melhorar o desempenho? Ajuda, com certeza. Contudo, nada ajuda mais do que uma boa dose de leitura. Mas por quê? Bom, imagine um cenário em que o escritor vive 100% da prática. Ele escreve todo dia, planeja suas histórias diariamente, está sempre publicando algo novo, mas não busca ler. O problema disso é que ele só vai evoluir dentro da própria perspectiva dele, dentro do mundo dos enredos dele, dentro da própria capacidade, e o conhecimento não funciona assim. É muito importante que estejamos sempre em atividade de leitura, conhecendo outros estilos narrativos, novos jeitos de dizer alguma coisa, formas inéditas de se explorar tudo aquilo que já existe.
Mas se ler e escrever são importantes, então o adequado não seria equilibrar e investir em 50% de cada? Depende. Como eu disse acima, a prática da escrita abrange um universo muito pequeno, limitado a apenas a sua produção; a literatura é um ambiente gigantesco, tão grande quanto a própria existência. A partir do momento em que você está praticando a escrita, está deixando de praticar a leitura, então será que a balança pesa realmente igual?
Algo em torno de 30% de prática escrita e 70% de prática de leitura parece muito mais produtivo. Primeiro a gente visita os lugares e depois a gente fala sobre eles, certo? Se você lê pouco, experimente colocar mais peso nesse lado da balança e veja se sente alguma diferença.

3 – Existe liberdade na escrita.
Quem nunca presenciou aquela treta clássica: escrever para o público ou fazer algo mais profundo e intelectual rico culturalmente reencarnação de Machado de Assis? Isso com certeza rende muito assunto, não é? A literatura, como arte, sempre abrange mais e mais patamares com o passar da sua própria existência; ela não evolui (muito menos involui), apenas toma formas diferentes sem apagar o histórico daquilo que já formou em tempos passados.
Basicamente, hoje as coisas estão tão bem difundidas que já é possível enxergar diferentes objetivos para diferentes tipos de texto. Por um lado, aqueles baseados em best-sellers, histórias com roteirização comum, que atingem um grande público, tratam temas populares; elas são vistas como literatura de mercado, ou seja, é para vender e popularizar mesmo, não é para analisar e estudar a nível acadêmico.
Enquanto isso, aqueles tipos de textos mais elaborados estruturalmente, muitas vezes com leituras difíceis e significados obscuros, aqueles que se aproximam do que conhecemos como literatura clássica; eles têm outros objetivos, eles buscam experimentação, o uso aprofundado de recursos literários e a sua prática, ou seja, é para análise, para interpretação, muitas vezes são estudadas no meio acadêmico, desmembradas e contribuem para o material de estudo da área. Portanto, não costuma ser popular.
O que eu quero dizer com isso tudo? São coisas diferentes, com objetivos diferentes, e compará-las é perder tempo.

4 – A originalidade não existe.
Antes que me taquem as pedras, deem uma chance! Mas Tio Edgar, minhas histórias são super originais, eu dei um trabalho imenso para desenvolvê-las... Calma! Afinal, o que seria a originalidade não existir? A literatura é antiga e gasta. Pelo menos no campo das ideias, tudo que já teve que ser explorado já foi explorado, e tudo que existe já existe. YUKE? Quando dizemos que a originalidade não existe, estamos incorporando o ideal de que não existem donos de um determinado objeto.
A sua história pode parecer a coisa mais revolucionária do mundo, mas ela carrega pedaços de outras coisas. Isso porque o nosso cérebro coleta informações o tempo inteiro, até mesmo quando achamos que não. Seja um filme que você viu há anos, uma conversa que ocorreu no seu lado e você “não prestou atenção”, essas informações sempre são associadas pela nossa mente e, graças a isso, somos capazes de passar pelo processo criativo (a propósito, há um tempo, escrevi um artigo aqui sobre como funciona o processo criativo, passa lá para entender melhor).
Ou seja, não fique triste porque sua ideia não é original (e nunca será), mas fique feliz por você ter a oportunidade de contá-la do seu jeito!

5 – Não sabemos sintetizar as coisas.
Temos uma tendência perigosa a sermos prolixos! A gente quer falar e falar, pega o embalo e, apesar de acharmos que produzimos muito conteúdo sobre alguma coisa, nós simplesmente escrevemos uma frase imensa sobre algo que poderia simplesmente ter sido encurtada e, assim, originado uma sentença muito mais simples e até mais clara. Percebeu como a frase anterior é desnecessariamente longa?
Às vezes temos uma meta de palavras a cumprir e essa pode ser a sua maior inimiga. É muito comum encontrar textos, por exemplo, em que frases inteiras podem ser descartadas, até mesmo parágrafos. Mas por que isso acontece? Bom, estamos contando uma história e, naturalmente, acabamos arrastando nossos elementos discursivos para a escrita. É claro que numa conversa pessoal é muito mais legal se estender, tentar entonações diferentes, até enrolar o amigo para fazer aquele suspense bacana, mas a escrita não funciona assim.
É importante se desvencilhar da quantidade de palavras e focar na fluidez dela. E menos é mais, menos é sempre mais. Vou propor um desafio: peguem a história mais antiga de vocês e releiam, experimentem cortar aquilo que vocês acham desnecessário, ou seja, que não alteraria em nada na história. Feito isso, comparem com a história atual de vocês. Essa tendência é bem difícil de corrigir, muito mesmo, TODOS cometemos isso. Por isso é muito importante estarmos sempre compartilhando nossos textos com os outros, ou mesmo ter um beta-reader.

6 – Pare de inventar desculpas.
Se você discordou de algum item até então, você provavelmente está inventando desculpas. Mas Tio Edgar, você mesmo disse para não levarmos como verdade absoluta, você está sendo incoerente. Calma, não é disso que eu estou falando. O que eu quero dizer é que muitas vezes não nos permitimos pensar em questões como essas que estão sendo apresentadas no post, partindo de um pressuposto de que essas coisas não afetam a escrita.
Quando nos fechamos a algo inédito ou adverso, tendemos a inventar desculpas para não interagir com aquele tipo de informação. Basicamente, é permitido discordar, mas é muito importante que primeiro se experencie para depois discordar. Muitas vezes, por exemplo, falei sobre o item 1 para algumas pessoas e fui respondido com coisas do tipo “mas eu só escrevo por hobbie”, “estudar é para quem faz letras, eu não preciso dessa complicação toda”, entre outros. Ou quando falo do item 4 e as pessoas insistem em dizer que elas possuem, sim, uma ideia totalmente original que só existe na cabeça delas e o mundo inteiro nunca presenciou. É muito perigoso não só para a escrita, mas para a convivência em sociedade, a falta de interação com certas camadas do conhecimento.
Permita-se!

7 – A busca pelo bom texto leva a lugar nenhum.
Pergunte a qualquer formado em literatura o que é um “bom texto” e veja eles se perderem numa crise existencial profunda. O bom texto existe? Existe. Ele é tateável? Não. Não adianta, é muito difícil estabelecer parâmetros exatos para a constituição de um bom texto ou o que é preciso fazer para alcançar qualidade de escrita. Não dá, dedicar-se inteiramente a isso vai te levar a lugar nenhum.
Textos são dinâmicos e são a essência das ciências humanas. Temos jeitos diferentes de ler, um mesmo texto pode ser lido de formas diferentes pela mesma pessoa, inclusive. Não tem fórmula mágica. E como saber se estamos indo bem? Interagindo, lendo e escrevendo; basicamente, sendo uma sociedade. A literatura é como um comportamento, é algo que vive sofrendo influências externas, mas nunca deixa de ser aquilo que a compõe internamente.
Pense menos na perfeição e mais na experimentação. Experimente e tire suas conclusões de suas experiências. E compartilhe!

Novamente, não são verdades universais, talvez sequer sejam verdades, mas é muito importante abrirmos nossa cabeça para as mais diversas discussões. Reflita, critique; a literatura está aí para tornar o ser humano um carrasco da palavra.

2 comentários:

O blog da Liga é um espaço para ajudar os escritores iniciantes a colocarem suas ideias no papel da melhor maneira possível.



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