Deixando interessante uma história narrada por lembranças

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Por: Helen Corrêa
(https://fanfiction.com.br/u/484171/)

Hello, leitoras e leitores do blog! Depois de um tempinho sem escrever para o blog, volto com um tema tirado do banco de sugestões.
Creio que a primeira coisa que precisamos definir aqui é que, se estamos falando sobre uma história que possui “lembranças”, estamos falando nada mais nada menos que sobre os famosos “flashbacks”, não é mesmo?
Eu, particularmente, sou uma pessoa que adora ler histórias que possuem flashbacks. Não sei ao certo o porquê, mas deve ser pelo ar de mistério que a história possui enquanto tais cenas do passado não são reveladas. E esse geralmente é um dos principais motivos pelos quais os escritores fazem uso desse recurso. Contudo, há que se ter cuidado com a utilização dessa ferramenta, pois, se não usada pelos motivos certos, pode ser um grande tiro que sairá pela culatra.
Primeiramente, vamos relembrar aqui as principais formas pelas quais podemos narrar um flashback dentro da nossa história:

1. Uma simples menção do narrador em alguma parte da história, sobre algum evento que ocorreu na vida do personagem, mas sem que haja uma dramatização;
2. Uma cena dramatizada, ou seja, é como se a história realmente retrocedesse, e pudéssemos enxergar “em tempo real” o que aconteceu dentro da história no passado;
3. O próprio personagem narrando um fato sobre o passado.

Agora, sim, podemos partir para os conselhos do artigo de hoje.

Como já foi dito anteriormente, o flashback é uma ferramenta muito interessante para revelar mistérios e montar os “quebra-cabeças” que são postos no enredo de uma história. Talvez por isso mesmo ele seja muito utilizado por diversos autores. Contudo, embora seja uma ferramenta muito utilizada, nem sempre ela tem uma relevância que seja justificável ou plausível para a história. Isso significa que muitas pessoas simplesmente colocam uma lembrança dentro da história que acaba não significando nada relevante dentro do enredo. Ou pior, a pessoa coloca uma lembrança que revela coisas precipitadamente e mata o resto do enredo, bem como a vontade do leitor em continuar a leitura, que acabará se tornando ou repetitiva ou entediante.
Com isso, o que precisamos ter em mente ao colocar um flashback dentro da história?

1. O seu personagem tem que possuir um passado interessante.
Isso é o básico de toda a narrativa de lembranças. Se o seu personagem não tiver algum segredo que valha a pena vir à tona, se ele não vivenciou nada de interessante, por que retirar essa lembrança das cinzas e ressuscitá-la para dentro do seu enredo? Isso não faz sentido nenhum, não é mesmo? Por exemplo: Se eu pedisse a você que detalhasse todos os dias que você vivenciou desde janeiro até agora, você saberia me dizer? Mas é claro que não! O nosso cérebro descarta os momentos corriqueiros pelos quais passamos, simplesmente porque iria sobrecarregar a nossa memória e não iria ter relevância nenhuma em nossa vida! Nós lembramos das coisas que para nós são importantes, ou que nos impactaram de alguma forma: um evento no qual fomos, um dia sensacional, um dia muito péssimo, etc. Da mesma forma deveria funcionar a narrativa de uma história — se não possui relevância nenhuma para o personagem e, consequente, para o leitor, descarte. Não é necessário colocar um flashback na história só porque parece ser uma ferramenta legal ou que todo mundo usa.

2. O passado deve mover o enredo da história.
Bem, além de contar uma lembrança relevante na vida do personagem, a revelação desse tal passado deve, também, ter um impacto importante dentro do enredo. Se o personagem lembrar desse passado que ele viveu, isso fará com que ele tome uma atitude que será crucial na história? Ou, se o narrador mostrar uma cena do passado para o leitor, isso revelará segredos importantes que ele ainda não entendeu, e que ele precisa saber para entender o que está se passando no presente? Se a resposta for “sim”, muito bem, revelar este passado será útil na sua história. Caso contrário, há grandes chances de que ele não seja de muita utilidade para você, seus personagens e seus leitores.

Quando um flashback é mal colocado dentro de uma história, três características podem ser notadas:
  • A primeira é que o flashback não irá oferecer novas informações o suficiente para o leitor. Você já leu alguma história na qual a lembrança do passado levantava mais perguntas do que respostas? Ruim, né? Se isso também está acontecendo dentro da sua história, você está fazendo algo não muito bacana, acredite.
  •  É normal que, a princípio, alguns flashbacks levantem algumas perguntas na mente dos leitores. O problema é quando eles não respondem questão nenhuma e, de quebra, ainda levantam muitas outras! Assim sendo, um flashback deveria evitar linguagem muito metafórica ou cenas muito vagas, pois isso acaba freando o desenvolvimento do enredo, enquanto devia estar fazendo-o andar.
  • A segunda característica de um flashback mal-usado é quando ele destrói completamente os subtextos da história. Já deixamos bem claro aqui que flashback bom é aquele que traz informações relevantes para o leitor. Contudo, se você coloca um flashback extremamente detalhado já no início da história, todo o ar de mistério, suspense e/ou curiosidade que o enredo causa vai direto para o espaço! Você não pode “entregar o ouro” logo de cara para o autor, entende? Você deve mantê-lo envolvido na leitura do começo ao fim, dessa forma, caso seus flashbacks ofereçam revelações chaves, talvez seja melhor dar uma segurada neles e deixá-los para a parte final do seu enredo.
  • A última característica é quando ele muda completamente a ênfase da história de lugar. Você quer dar ênfase no passado do seu personagem ou no presente dele? E se você quer dar tanta ênfase no passado dele, por que, então, já não pensar em escrever uma prequela de uma vez por todas? Assim, cuidado para não os usar em exagero.

Ditas todas essas coisas, chegamos à conclusão de que, para que uma história que possui a narrativa de uma ou várias lembranças se mantenha interessante, é necessário saber usar os flashbacks com parcimônia. Não o use para narrar coisas cotidianas que não causarão emoção ou impacto nenhum ao leitor ou à vida do seu próprio personagem. Não o use caso ele seja mais importante até mesmo que o tempo atual da sua narrativa. Não o use cedo demais, revelando coisas que deveriam ser contadas mais para o final da história.

Embora os flashbacks geralmente revelem um elemento chave na composição do enredo, um trauma do personagem ou algo do tipo, isso não quer dizer que ele sempre tenha que ser algo ruim. O flashback também pode revelar coisas boas, contudo, lembre-se da premissa: essa lembrança vai causar alguma emoção significativa na mente do leitor? Ela vai causar alguma empatia? Se a resposta for não, provavelmente é melhor deixar o passado para lá.
À vista de todas essas coisas, posso dizer que por hoje é só, crianças. Quando estiverem escrevendo as histórias de vocês, “conheçam” o passado de seus personagens com antecedência. Imaginem cenas importantes que contenham revelações que deixarão seus leitores de boca aberta, chocados, emocionados... Imaginem um flashback como se ele fosse uma boa fofoca, o famoso “bapho”: se causar algum tipo de impacto, é porque realmente é bom. Se não, melhor focar apenas no presente, afinal, reza a lenda que quem vive de passado é o museu, rs.

Referência:
https://www.helpingwritersbecomeauthors.com/reason-story-flashbacks/

2 comentários:

  1. Não estava procurando esse tipo de artigo para a minha fic mas como toda matéria da Liga dos Betas ele é de extrema utilidade, pode até não ser para mim no momento, mas nunca se sabe quando vai ser necessário um flashback. Ótimo artigo! Parabéns!

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